Quando era pequenita punha o meu sapato de verniz junto ao fogão de lenha.
Quem trazia as prendas era o Menino Jesus e eu descobria-as na manhã de Natal.
SAUDADE É UMA PALAVRA PEQUENA
Quando era pequenita punha o meu sapato de verniz junto ao fogão de lenha.
Quem trazia as prendas era o Menino Jesus e eu descobria-as na manhã de Natal.
SAUDADE É UMA PALAVRA PEQUENA
Estamos perto do Natal
e a minha atenção centrou-se na maternidade. Após investigar, decidi partilhar
conhecimento, que neste momento da política portuguesa, sempre é bom saber.
Abordo a amamentação,
parte integrante da maternidade, que já todos sabem que é saudável e
aconselhável, mas há algo mais.
Esta capacidade do
corpo da mãe de amamentar leva-nos a um dos fenómenos mais fascinantes da
biologia humana, frequentemente chamado ciclo de feedback da amamentação.
Quando o bebé mama,
cria-se um vácuo que faz com que uma pequena quantidade da saliva do bebé
retroceda para o interior dos canais lactíferos do mamilo da mãe – sabiam
disto?
Os receptores no tecido
mamário analisam a saliva em busca de agentes infecciosos. Se o bebé estiver a
incubar uma constipação ou infecção, o sistema imunitário da mãe detecta esses
sinais químicos antes mesmo de o bebé apresentar os primeiros sintomas e age rapidamente
como uma fábrica de anticorpos especiais para o seu bebé.
O sistema linfático da
mãe produz glóbulos brancos e anticorpos específicos para combater aquele vírus
ou bactéria específico. Os anticorpos entram na corrente sanguínea da mãe,
passam para as glândulas mamárias e são entregues ao bebé na mamada seguinte
através do leite.
Estes anticorpos
revestem as mucosas do trato digestivo e respiratório do bebé, impedindo que a
infeção se agrave.
O leite materno pode
até mudar de cor refletindo o aumento maciço de leucócitos (glóbulos brancos).
Em alguns casos, a concentração de glóbulos brancos no leite materno pode subir
para níveis semelhantes aos de uma infecção activa no próprio corpo, tudo para
proteger o bebé.
Bebés amamentados
tendem a recuperar mais depressa de viroses.
Muitas vezes, a mãe
fica doente, mas o bebé não apresenta sintomas, porque já recebeu os anticorpos
preventivos através do leite.
Não existe nenhum
substituto artificial, comprado na farmácia ou na secção de leite infantil do
supermercado, capaz de replicar esta resposta imunitária personalizada em tempo
real e tão eficaz.
Sabemos também que, a
composição altera-se radicalmente nos primeiros dias e meses para acompanhar o
desenvolvimento do sistema digestivo e imunitário. O colostro produzido nos
primeiros dias funciona como a "primeira vacina". A partir do 5.º
dia, o leite altera-se para proporcionar um crescimento rápido ao bebé.
A composição do leite até
muda do início para o fim de cada sessão. No início mais fluido e rico em água
e lactose, serve para matar a sede e hidratar o bebé e depois é mais rico em
gordura, sendo essencial para a saciedade e ganho de peso saudável.
As potencialidades do
corpo humano são admiráveis, o resto perguntem aos biólogos.
Publicado em NVR 24|12|2025
São seis da tarde o trânsito de Natal já se faz notar. A luz
natural já não dá para ler. A noite tropical aparece na abóbada celeste, e eu
na minha varanda vejo as luzinhas dos barcos ao largo do porto de Luanda.
Chega uma carta de terra fria já a desejar felicidades para
o Natal. Ainda faltam 4 dias, de concurso de montras, ruas cheias de luz e as
montras vestidas para o concurso da melhor montra deste Natal.
A mãe lembra o frio e a neve, a lareira, mas eu prefiro
mesmo este calor húmido que respiro e me cobre a pele, e o som de fundo, som
urbano feito de muitas pessoas atarefadas a regressar a casa a pé e de carro.
Estou de férias, arrumo livros e cadernos na estante, e retiro todos os
“Patinhas” que tenho em atraso, para aproveitar todo o tempo livre das férias e
ler. Sim as férias também tem tempo ocupado e tempo livre.
Ué, se é o melhor da nossa vida!!!
Tempo ocupado na praia, na discoteca bonzão, na matiné do
Estúdio, na Dama preta pedido na gelataria, e até no jogo do King com os
amigos, para além da pequena farra de garagem, a dançar sheik e slows do Percy Sledge.
Essas são tarefas sagradas e inventado pretexto quase todos os dias. Haja
imaginação! às vezes já não sobra nada para inventar, mas sempre tem algo no
fundo da arrecadação da imaginação, motivo para comemorar sem os pais nos
xingarem. São muitas cabeças a pensar. São os aniversários festejados 3 vezes
por ano, é o Nando que vai amanhã para o Huambo, é a Isabel sanguita que pintou
a garagem, é o Tó Mané que tirou o gesso do braço, é o Lito que comprou mota
nova, é que sobra rissóis e croquetes do almoço e dá para fazer uma pequena
farra em vez do Jantar…
Nos intervalos surge o tempo livre, que tento que seja
sempre reduzido, mas sempre dá para ler banda desenhada, as revistas que chegam
lá a casa, saborear as castanhas de caju assadas, jogar as damas sem
adversário, andar de patins e correr pelo mangal atrás das mangas madurinhas, e
agora olhar as luzes coloridas do Natal.
Entre o tempo ocupado e o tempo livre, sobra a saudade no
futuro.
"Ensaios de
escrita, um projecto sempre adiado” Anabela Quelhas
A arquitectura é uma arte
que deve expressar a cultura e conhecimento da época em que é construída.
No tecido urbano
histórico ou antigo, em alguns casos, poucos, faz sentido intervir arquitectónicamente
por semelhança, utilizando a colagem ou o “pastiche” - obra que imita ou se
inspira em estilos, formas e elementos de épocas anteriores, criando algo novo,
mas com fortes referências ao passado.
Devemos considerar que
também existe a integração por ruptura – a obra nova não tenta imitar ou
mimetizar o contexto existente, mas afirma-se como uma peça distinta e
contrastante, criando um diálogo visual através do contraste, não da harmonia
superficial, unindo elementos de diferentes épocas ou estilos, mas deixando
claro que são entidades separadas e contemporâneas.
Em todas as cidades, o
ideal é que estas fossem pensadas com critério e lógica realistas, para que os
parques de estacionamento, fossem invisíveis, pois são parentes pobres da forma
e função das cidades antigas, mas de grande utilidade. Desperdiçou-se a
oportunidade de ampliar o parque subterrâneo da Av. Carvalho Araújo, receia-se
a construção de um parque subterrâneo ao longo da avenida 1.º de Maio, e por
fim aparece este parque que constitui uma intervenção difícil e muito susceptível
à critica. Do lado esquerdo existe o Antigo Seminário e do outro um edifício
vulgar da “arquitectura a metro” dos anos 60/70, que naquela época, e
infelizmente parece ter sido aceite pacificamente, apesar de ter em frente duas
peças arquitectónicas do Estado Novo, belíssimas.
O Antigo Seminário com
menos de 100 anos, segue um desenho clássico aplicado a grandes edifícios,
utilizando um grande pátio interior, para organização da planta, assume
timidamente alguns apontamentos de neogótico nos seus alçados, nunca
ultrapassando o limite da sobriedade, talvez se identifique nas franjas do
Ecleticismo. Nessa época o movimento da arquitectura moderna já começava a ter
expressão no Mundo e até já tinha ocorrido o primeiro CIAM (Congresso
Internacional da Arquitectura Moderna 1928), mas ainda não se praticava em Vila
Real.
O autor do projecto do
estacionamento, optou por utilizar uma linguagem contemporânea, não ofuscando o
edifício do Antigo Seminário, através de uma volumetria cubista básica, que faz
a transição entre as construções adjacentes, assumindo uma integração por
ruptura, e bem, sem fazer grande espalhafato, mas assumindo a diferença de uma
forma quanto a mim, bastante tímida e cautelosa. Teve ainda a preocupação de
criar alçados onde predomina uma certa “transparência”, tentanto não subtrair
importância ao edifício do lado esquerdo e à sua História.
Quando a arquitectura
se assume em ruptura, deveria valer, por si só, como obra de arte de referência
no mundo da arquitectura, ousada e original, capaz de criar o desejo de ser
vista e revisitada.
Neste caso,
infelizmente, nunca ninguém virá a Vila Real de propósito para ver o edifício
de estacionamento, porque não se distinguem elementos capazes e mobilizadores.
Nem a ideia dos alçados, que referi, criarem transparências, é inovadora (existe
em várias cidades). Num primeiro olhar, esta intervenção nem é excelente, nem é
fraquinha – talvez possua encantos escondidos. Não me indigna, nem me encanta,
eu teria sido mais ousada e irreverente, para provocar “o ver de novo”, o amor
ou o ódio, e nunca a indiferença, e certamente aproveitaria a cobertura,
abrindo-a aos utentes.
A História da
Arquitectura é este o caminho que nos indica. Vejam as grandes catedrais que
unem vários estilos no mesmo edifício. Queriam o quê? Um parque de
estacionamento com “cara” de Seminário, ou com um “lifting” que o aproximasse
do modesto Hotel Miraneve?
Publicado em NVR 17|12|2025
Voz: João Carlos Carranca
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OS DIREITOS HUMANOS
Os direitos humanos
representam a base para uma convivência justa, equilibrada e pacífica em
qualquer lugar no mundo, mas a sua implementação global enfrenta grandes desafios,
evidenciados em conflitos actuais, formas modernas de escravatura e crises
humanitárias que afectam especialmente mulheres e crianças. A luta contínua por
estes direitos reflecte o legado de figuras como Nelson Mandela, um símbolo
global de resistência e reconciliação.
Nelson Mandela dedicou
a sua vida à luta contra o apartheid na África do Sul, um sistema
institucionalizado de segregação racial e discriminação. A sua resistência, que
resultou em 27 anos de prisão, transformou-o num ícone global da liberdade,
igualdade e democracia. O seu legado serve como uma mensagem poderosa contra o
medo, a hipocrisia, o cinismo e a injustiça, e lembra que a luta por um mundo
mais justo exige perseverança e o reconhecimento da dignidade inerente a todos
os seres humanos.
A ganância pelo poder e
pelo dinheiro, entravam todo este processo de evolução e dignificação do
Homem. Houve tantas conquistas ao logo
do século XX, e agora no século XXI, penso que estamos a retroceder.
As guerras na Faixa de
Gaza e na Ucrânia são exemplos contemporâneos de violações massivas dos
direitos humanos. Com ou sem razão, as mulheres e crianças são as principais
vítimas. Em vez de se trabalhar para a paz, trabalha-se para a guerra.
Estes cenários
demonstram uma falha colectiva em proteger e garantir os direitos básicos à
vida, segurança e saúde, tanto para civis como para militares.
Somemos a isto as novas
escravaturas, milhões de pessoas ainda vivem em condições de escravatura,
incluindo tráfico humano, trabalho forçado e servidão por dívida. Mulheres e
crianças são particularmente vulneráveis a estas práticas, frequentemente
exploradas em redes de tráfico sexual ou em indústrias de trabalho abusivas. A
existência continuada destas atrocidades sublinha a necessidade urgente de uma
acção global para erradicar todas as formas de escravatura moderna.
A fome e a violência
estão interligadas, perpetuando ciclos de pobreza e instabilidade. A violência,
seja em tempos de guerra ou em contextos de crime organizado, impede o
desenvolvimento sustentável e o acesso a recursos básicos. A fome global é
frequentemente uma consequência directa de conflitos e desigualdades, afectando
sobretudo os mais vulneráveis. A comunidade internacional, através de
organizações como a ONU e a UNICEF, continua a lutar para fornecer assistência
humanitária e defender os direitos das crianças em situações de conflito armado.
A mensagem de Nelson
Mandela de que a justiça e a igualdade são alcançáveis através da luta e da
persistência permanece actual. No entanto, os conflitos mundiais, a pré-disposição
para apoiar a guerra, a persistência da escravatura moderna e a fome global
revelam que a Declaração Universal dos Direitos Humanos está longe de ser uma
realidade para todos. O 10 de Dezembro tem de ser pensamento de todos, em todos
os dias.
Publicado NVR 10|12|2025
Festejo as mudanças, as grandes mudanças, o momento em que somos empurrados para a frente sem medo de mudar, de alterar percursos traçados já gastos e rotos pela rotina podre da vida. A mudança é sinal da nossa real capacidade de inovar e seguir o sonho. Cada dia tem valido a pena.
1ª intervenção - Mara Minhava.
2ª intervenção - Hilário Néry Oliveira
3ª intervenção - Hermínio Botelho
4ª intervenção - Anabela Quelhas (autora)
25 poemas ilustrados VILA REAL
Intervenção de Anabela Quelhas
Há uma frase que está no prefácio que
diz isto sobre mim: Uma mulher de sorte, pois não consegue ter um minuto de
aborrecimento. Isto é o que o meu amigo Hilário pensa sobre mim, e é
verdade
O prof Hilário conhece-me há muitos
anos e em diversos contextos, e de facto é isso mesmo que me caracteriza, quando
não tenho o que fazer invento. Nunca espero que aconteça, esforço-me para fazer
acontecer.
Há muito que faço muitas parcerias
culturais não lucrativas, todos os dias, ou escrevo, ou desenho, ou pinto, ou
crio algo no mundo digital. Quando isso não acontece tenho a sensação que o
tempo passou por mim, sem eu passar pelo tempo, ou vice-versa não sei. Fica-me
um sabor um pouco amargo, de um dia desaproveitado, mal terminado. Interrogo-me,
o que é que eu fiz? Nada! Não sei se será uma qualidade minha, é seguramente um
estado desassossegado e ansioso permanente, nem sempre agradável, mas que nunca pretendo perder
e por vezes dá frutos positivos.
A obra que se apresenta aqui hoje, é
mais um atrevimento meu, que me fez sair da minha zona de conforto.
Escrevo poesia desde os 13 anos, mas
isso não me dá créditos nessa área. Antes a poesia era o ombro amigo que
acolhia as minhas grandes tragédias amorosas de adolescente, quando eu chorava
baba e ranho e pensava que o meu mundo iria acabar ali perante os meus enganos
e desenganos. Em vez de me fechar dentro de um "armário" escrevia poesia em que "paixão" rimava com "coração".
Com a maturidade e lendo alguns dos
nossos poetas, fui descobrindo outras facetas da poesia, que esta poderia
expressar outras emoções mais interessantes e mais universais, tanto no
sofrimento como na alegria. Para mim a poesia é algo que se constrói rapidamente sem aviso, tem
origem numa palavra ou uma imagem, ou um momento. Não tem hora. Eu que adoro estudar
cidades, de repente descobro algo que me emociona pela beleza, pela logica,
pela desconstrução social e vira poema rápido, belo de dizer mesmo que irreflectido.
A poesia foi acontecendo assim:
O primeiro livro que tive A História
da Carochinha, estava escrito em versos, foi assim que adormeci muitas noites
com a minha mãe a ler para mim.
Com 9 anos proporcionou-se ver e ouvir
David Mourão Ferreira, a declamar. Não percebi quase nada, porque era evento
não publico, de final de tarde para adultos, vivia-se a época Marcelista, e sei
que fui com os meus pais a convite do Prof Dr, Nuno Grande, em Luanda e para
mim foi uma seca, era pequena e eu tentava vê-lo no espaço entre fatos e
vestidos de cerimónia das pessoas sentadas. Mesmo assim, olhando para as
expressões dos adultos, os seus rostos inicialmente surpreendidos, depois
sérios e preocupados, as salvas de palmas entre cada poema, percebi que havia
ali uma magia nas palavras capaz de despertar fortes emoções nos adultos e sempre
reservei esse momento na minha memória.
O que fazia David Mourão Ferreira em
Angola em 1969, não sei e já não tenho a quem perguntar.
Um dia, na adolescência, um colega,
meteu no meu bolso à saída do liceu, um papel rasgado de um caderno que dizia:
“Morena, morena
Dos olhos castanhos,
Quem te deu morena,
Encantos tamanhos?”
pensei que fosse ele o autor, apesar
dos meus olhos não serem bem castanhos, mas fiquei feliz e emocionada, só depois
descobri que foi Julio Dinis o autor, mas valeu a pena, o encantamento juvenil…
Ao longo do tempo a poesia passeou-se
ao meu lado, sem ter o meu foco, porque andava ocupada ou distraída com outras
coisas. Apenas me apercebia que não conseguia ler poesia sem ser em Português.
É uma limitação que mantenho até hoje.
Em 2012, aconteceu algo marcante
neste meu mundo: Eu já mulher madura, tive oportunidade de ver uma grande exposição
itinerante, que esteve na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, sobre
Fernando Pessoa, "Fernando Pessoa: Plural como o Universo",
curiosamente organizada pelo Brasil pela Fundação Roberto Marinho. Essa
exposição combinava a imagem, a poesia, o espaço, a luz, a sombra, a penumbra e
a cor, por forma a despertar emoções - uma exposição única, fabulosa e
imprevista recorrendo à tecnologia e a interatividade e que foi determinante
para mim e para o meu entendimento sobre esta arte literária.
Saí de lá uma pessoa diferente
percebendo que a poesia pode ter uma força gigantesca, multifacetada e
universal. Passei a escrever poesia e associar-lhe uma imagem – desenho ou
fotografia e até agora é a forma mais fácil de expressar o meu sentido poético/estético,
neste momento sinto estes elementos inseparáveis.
Essa exposição tinha um catálogo, que
fiz questão de adquirir, e é até hoje o meu livro preferido. É um autêntico manual
de artes gráficas aplicadas à poesia, muito inspirador. Talvez seja difícil
adquiri-lo, porque esgotou, quem tem, tem, quem não tem, talvez nunca terá. Para
mim é uma verdadeira relíquia de saber das palavras e da imagem.
Em Novembro de 2024 criei um programa
de poesia na Radio Universidade FM, DE
POETA E DE LOUCO TODOS TEMOS UM POUCO, que é um canal aberto para partilhar poesia
lusófona 3X por semana, e obviamente, decorreu um ano com a poesia muito
próxima de mim.
Este ano 2025, comecei por escrever
um texto no jornal NVR, em janeiro de 25, sobre a estátua de Vila Real. E em ano
de centenário decidi fazer uma lista daquilo que distingue esta cidade das
outras, lembrei de alguns poemas urbanos sem destino, alguns desenhos sem
moldura, misturei tudo. e surgiu este projecto, que se conclui hoje aqui. São 25
poemas escritos ou organizados no ano 25, com 25 páginas ilustradas. A
ilustração foi realizada a partir de cerca de 130 desenhos. Foi uma azáfama.
Cada poema, cada desenho, pode ser lido e sentido de formas diferentes, e cada leitor terá a sua interpretação interligada com o seu mundo interior e a sua visão do mundo.
A delicadeza de uma estátua
representada, apenas por linhas, desenhar o centro histórico, as varandas, a
adufa, o coreto, os anónimos… foi uma experiencia que me enriqueceu e, enfim,
encontrei todos os motivos para partilhar este projecto. É raro encontrar um livro de poesia com um
design gráfico, que saia do conceito tradicional. Páginas sempre brancas ou
amareladas com o texto escrito em letra Times New Roman, cor negra, margens
largas, folhas em branco, espaços vazios. E poucos arriscam algo mais.
Lembrei-me do catálogo de Pessoa Plural
como o Universo e senti que ainda não era capaz de criar algo semelhante, porque
exige uma equipa de trabalho digital, bons programas de edição de imagem, uma
tipografia em sintonia e muito muito tempo. Ainda não foi desta, talvez um dia chegue lá. Mesmo assim, criei algo diferente, talvez
tenha o negro em excesso, talvez pressione o leitor a ler tudo de uma vez… fiz
uma consulta prévia aos meus amigos sobre desenho a preto ou a branco e não
houve um consenso, e como sempre eu consulto e faço o que me agrada. Uns irão amar,
outros irão detestar, mas acreditem eu não consigo fazer mais do mesmo, só
porque sim, detesto a indiferença e gosto de arriscar.
Entre suor e lágrimas e vontade adiar
este projecto, porque em todo o acto criativo temos 90% de transpiração e 10%
de inspiração, partilhei este projecto com a Sra Vereadora Dra Mara Minhava, ela mostrou
interesse e surgiu a hipótese do apoio financeiro da CM, em ano de centenário; o número 25, segurou-me e pensei, esta é
a oportunidade de devo abraçar, neste projecto. O mês de Setembro foi esgotante
para concluir desenhos, construir maquetes do livro, pensar em todos os
detalhes e felizmente, quando tive este acidente, estava tudo tratado, só
faltava a parte da tipografia. Consegui concluir o projecto, que une palavras,
imagem e tenta despertar no leitor, vontade de saber mais, conhecer o nosso
património e formar identidade. Acreditem que nada aparece por acaso, tudo foi
estudado no mínimo detalhe.
Talvez fosse bonito eu divagar e
comparar-me à obra dos grandes poetas, mas não essa a minha intenção, nem
pretensão e seria completamente descabido. Sou influenciada por tudo o que leio
e vejo, e daí resulta uma "tempestade de ideias", que tento trabalhar
interiormente e de seguida verto suavemente para o papel, em prosa, em poesia,
em desenho, em pintura, em arquitectura…. Claro que tenho poetas preferidos
Fernando Pessoa, Ary dos Santos, Vinicius de Morais, António Gedeão, Viriato da
Cruz, António Jacinto, Sophia… mas não sigo nenhum deles.
Agradeço aos meus dois convidados, a
sua presença e as suas palavras davam para escrever mais um livro. Como sabem, nem sempre vivi em Trás-os-Montes,
apesar de toda a minha família ser transmontana, não nasci cá, nunca pertenço
por inteiro a um lugar, e foi o prof Hilário, que há quase 35 anos me
apresentou muitos lugares esquecidos, fora de Vila Real, onde viviam os nossos
alunos e o seu património; foi ele que me ajudou a construir um outro sentimento
de pertença a estes lugares, que eu não tinha e que me induziu a encontrar uma
parte das minhas raízes. Por isso para mim fez todo o sentido convida-lo para
escrever o prefácio e estar aqui hoje. Só podia ser ele.
Sobre o Dr. Hermínio, eu sou uma pessoa
reconhecida, Como sabem nunca levei ninguém comigo para apresentar os meus
livros anteriores, para elaborar grandes apreciações literárias que por vezes
as obras não o merecem, a maioria dos presentes sabe disso, porém o Dr Hermínio
como anfitrião do CCRVT fez sempre questão de apresentar os meus livros, de uma
forma muito presente, lucida, rigorosa, profunda e ligada aos seus conteúdos,
que me surpreendeu e me encheu de orgulho, por isso o convidei também.
Agradeço aos autores dos comentários
â obra, António e Ana Paula Fortuna, o poeta César Afonso, ao nosso embaixador
Seixas da Costa e a duas poetisas, Graça Vilela e Odete Costa Ferreira, Vice-presidente
da Academia de Letras de Trás-os-Montes, que não hesitaram em colaborar.
Sobre a Sra Vereadora Mara Minhava era
obrigatória a sua presença na mesa para sublinhar a ligação ao centenário da
cidade, este ano terá sido em termos culturais o auge do seu desempenho como
Vereadora da Cultura e facilitou esta publicação e também a utilização desta
sala. Sinto-me muito agradecida, e certamente esta obra terá interesse para a comunidade de Vila Real.
Estou muito grata a todos os
presentes, colegas, amigos ao Sr. Presidente Alexandre Favaios, que sempre arranja
um tempinho para me apoiar, e concluo assim mais um desafio. Espero que guardem
este livro num lugar especial, dentro do vosso coração, porque de facto é raro
haver um livro ilustrado pelo autor. Que estes desenhos se tornem inspiradores
para outros caminhos estéticos e culturais. Que seja também motivo para passear
o livro pela cidade e descobrir certos sítios através das minhas palavras
poéticas.
Agradeço à minha família que está
sempre comigo na partilha dos meus actos criativos.
Finalmente, quero deixar esta mensagem, que esteve sempre presente na selecção de poemas e lugares, aquilo que nos valoriza é aquilo que nos distingue dos outros e que cria a nossa identidade.