01 outubro, 2025

INVERTE O DISCURSO

 


INVERTE O DISCURSO

Aproximam-se eleições e é necessário ter a memória fresca, pensamento ginasticado e sobretudo manter a lucidez. Nestes últimos dias de campanha, vai valer tudo. A demagogia para convencer os mais despreparados e incautos estará ao rubro.

O ser humano é um ser por natureza insatisfeito e isso faz evoluir a Humanidade, porém é preciso saber para onde e como.

A comunicação social e as redes sociais passam constantemente a ideia que todos são corruptos, ladrões, criminosos, mal-formados e oportunistas. Raramente dão destaque aos honestos, aos criativos, aos bem-pensantes, porque são a maioria e não dão canal. Pare para pensar.

Hoje vivemos muito melhor do que há 50 anos! Se vivemos melhor, é necessário inverter este discurso. A democracia é um ideal que se tenta atingir e talvez nunca chegaremos ao final do caminho, porque este tem muitos obstáculos, e o maior obstáculo são aqueles que tentam derrubá-la.

Vivemos 50 anos sem guerra! Temos direito a opinião, a formar organizações políticas e até partidos, e a votar. Temos o direito de saber que há corrupção e a apontar o dedo. Era assim, antes? Não, nem sabíamos o que se passava no país, eramos uma população ignorante – então, mudamos para melhor.

Antes do 25 de abril de 1974, o sistema de reformas em Portugal era limitado e não abrangia todos os cidadãos.

Há 50 anos quantos serviços de saúde existiam em Vila Real? Um pequeno e velho hospital, cedido pela Santa Casa da Misericórdia, duas pequenas clínicas, a Delegação de Saúde e o Serviço de Assistência à Tuberculose, onde íamos tratar das vacinas quando íamos para o antigo Ultramar. Quantos médicos havia com consultório? Meia dúzia. Hoje temos um grande Hospital Distrital, onde não vou mais vezes, porque tem listas de espera, mas quando tenho um problema muito grave é para onde vou. Temos três centros de saúde com médicos de família, dois hospitais privados, diversos pontos de enfermagem, de fisioterapia e de meios de diagnóstico por imagem. Precisamos melhorar? Sim. Mas estamos incomparavelmente melhor. Temos o INEM, quando a dor no peito aperta, para quem telefonamos? Para os hospitais privados? Para o comentador do sofá? Para o político que prometeu “mundos e fundos”?

A esperança de vida aumentou e a mortalidade infantil reduziu-se. Foi por quê? Temos lares para a terceira idade, infantários, pontos de apoio para os toxicodependentes, unidades de planeamento familiar, pavilhões desportivos, espaços para desenvolver o turismo e muito património conservado. Tínhamos isto há 50 anos? CLARO QUE NÃO! Temos centros de cidade vazios, porque se apostou na construção de centros comerciais. E quem não utiliza os referidos centros comerciais, atire a primeira pedra.

O Rendimento Mínimo provoca alergias a muita gente, porque meia dúzia de oportunistas, fazem erradamente bitola para todos. Paga o justo pelo pecador, mas ajuda muitas famílias.

Há desafios a superar para garantir uma justiça mais eficaz e acessível a todos. Portugal está considerado o 33º país menos corrupto do mundo, em 135 países, mesmo assim é um lugar que não gera orgulho.

A escolaridade é gratuita até ao 12º ano.

Vila Real, uma cidade pequena tem uma oferta cultural, nunca vista anteriormente. Quando a Amália vinha a Vila Real, a malta até saia à rua a aplaudi-la – sinal de atraso e escassez.

Há 50 anos demorávamos quatro horas para ir ao Porto, hoje bastam cinquenta minutos e a maioria das cidades têm acesso por auto-estrada ou via rápida.

Há falta de dinheiro? Sim e não! As grandes obras públicas estão dependentes de candidaturas a fundos europeus, mas existe na nossa sociedade uma economia paralela, atrevida, descontrolada e gigantesca que é urgente travar.

A emigração não é incompatível com a democracia.

Há falta de habitação, sim. No pós Abril, as pessoas organizaram-se em cooperativas/associações que tentavam resolver diversos problemas junto às populações, ligados à habitação, à agricultura e até à cultura e educação. Sabem o que aconteceu? Ergueu-se uma contestação sombria contra estas estruturas, porque diziam que eram comunistas, o “bicho papão”. A maioria das casas em Portugal agora tem água canalizada, instalações sanitárias, esgotos e eletricidade, com apenas 2% das habitações sem esses serviços básicos. Em 2020, 75% dos residentes em Portugal viviam em habitações próprias.

Podes fazer greve, participar em manifestações, até podes ser facho e ignorante, e não pagas para votar. Pensa, reflecte e inverte o discurso. Valoriza as conquistas de Abril e o país fantástico onde vives, porque muitos querem vir para cá.

Publicado em NVR 01|10|2025

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