INVERTE O
DISCURSO
Aproximam-se eleições e
é necessário ter a memória fresca, pensamento ginasticado e sobretudo manter a
lucidez. Nestes últimos dias de campanha, vai valer tudo. A demagogia para
convencer os mais despreparados e incautos estará ao rubro.
O ser humano é um ser
por natureza insatisfeito e isso faz evoluir a Humanidade, porém é preciso
saber para onde e como.
A comunicação social e
as redes sociais passam constantemente a ideia que todos são corruptos,
ladrões, criminosos, mal-formados e oportunistas. Raramente dão destaque aos
honestos, aos criativos, aos bem-pensantes, porque são a maioria e não dão
canal. Pare para pensar.
Hoje vivemos muito
melhor do que há 50 anos! Se vivemos melhor, é necessário inverter este
discurso. A democracia é um ideal que se tenta atingir e talvez nunca
chegaremos ao final do caminho, porque este tem muitos obstáculos, e o maior
obstáculo são aqueles que tentam derrubá-la.
Vivemos 50 anos sem
guerra! Temos direito a opinião, a formar organizações políticas e até partidos,
e a votar. Temos o direito de saber que há corrupção e a apontar o dedo. Era
assim, antes? Não, nem sabíamos o que se passava no país, eramos uma população
ignorante – então, mudamos para melhor.
Antes do 25 de abril de
1974, o sistema de reformas em Portugal era limitado e não abrangia todos os
cidadãos.
Há 50 anos quantos
serviços de saúde existiam em Vila Real? Um pequeno e velho hospital, cedido
pela Santa Casa da Misericórdia, duas pequenas clínicas, a Delegação de Saúde e
o Serviço de Assistência à Tuberculose, onde íamos tratar das vacinas quando
íamos para o antigo Ultramar. Quantos médicos havia com consultório? Meia
dúzia. Hoje temos um grande Hospital Distrital, onde não vou mais vezes, porque
tem listas de espera, mas quando tenho um problema muito grave é para onde vou.
Temos três centros de saúde com médicos de família, dois hospitais privados, diversos
pontos de enfermagem, de fisioterapia e de meios de diagnóstico por imagem.
Precisamos melhorar? Sim. Mas estamos incomparavelmente melhor. Temos o INEM, quando
a dor no peito aperta, para quem telefonamos? Para os hospitais privados? Para
o comentador do sofá? Para o político que prometeu “mundos e fundos”?
A esperança de vida
aumentou e a mortalidade infantil reduziu-se. Foi por quê? Temos lares para a
terceira idade, infantários, pontos de apoio para os toxicodependentes,
unidades de planeamento familiar, pavilhões desportivos, espaços para
desenvolver o turismo e muito património conservado. Tínhamos isto há 50 anos? CLARO
QUE NÃO! Temos centros de cidade vazios, porque se apostou na construção de
centros comerciais. E quem não utiliza os referidos centros comerciais, atire a
primeira pedra.
O Rendimento Mínimo
provoca alergias a muita gente, porque meia dúzia de oportunistas, fazem
erradamente bitola para todos. Paga o justo pelo pecador, mas ajuda muitas
famílias.
Há desafios a superar
para garantir uma justiça mais eficaz e acessível a todos. Portugal está
considerado o 33º país menos corrupto do mundo, em 135 países, mesmo assim é um
lugar que não gera orgulho.
A escolaridade é gratuita
até ao 12º ano.
Vila Real, uma cidade
pequena tem uma oferta cultural, nunca vista anteriormente. Quando a Amália
vinha a Vila Real, a malta até saia à rua a aplaudi-la – sinal de atraso e
escassez.
Há 50 anos demorávamos
quatro horas para ir ao Porto, hoje bastam cinquenta minutos e a maioria das
cidades têm acesso por auto-estrada ou via rápida.
Há falta de dinheiro? Sim
e não! As grandes obras públicas estão dependentes de candidaturas a fundos
europeus, mas existe na nossa sociedade uma economia paralela, atrevida,
descontrolada e gigantesca que é urgente travar.
A emigração não é
incompatível com a democracia.
Há falta de habitação,
sim. No pós Abril, as pessoas organizaram-se em cooperativas/associações que
tentavam resolver diversos problemas junto às populações, ligados à habitação,
à agricultura e até à cultura e educação. Sabem o que aconteceu? Ergueu-se uma
contestação sombria contra estas estruturas, porque diziam que eram comunistas,
o “bicho papão”. A maioria das casas em Portugal agora tem água canalizada,
instalações sanitárias, esgotos e eletricidade, com apenas 2% das habitações
sem esses serviços básicos. Em 2020, 75% dos residentes em Portugal viviam em
habitações próprias.
Podes fazer greve,
participar em manifestações, até podes ser facho e ignorante, e não pagas para
votar. Pensa, reflecte e inverte o discurso. Valoriza as conquistas de
Abril e o país fantástico onde vives, porque muitos querem vir para cá.
Publicado em NVR 01|10|2025
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