Sou arquitecta
de formação e profissão e em paralelo fui professora. Inicialmente enveredei
pelo ensino para melhorar a minha condição financeira, em início de carreira de
arquitecta dava jeito mais uns escudos, passado uma semana, decidi que não
seria só uma experiência, porque enriquecia a minha polivalência, e assim
durante muitos anos tive duas profissões, conseguindo dar o melhor nas duas.
Profissionalizei-me para melhor entender o processo educativo.
Como
arquitecta realizava o exercício da composição diariamente, que acho essencial,
e a arquitectura abria-me a porta para o mundo. Como professora realizava todas
as experiências plásticas que só é possível realizar na Escola, e eram para mim
momentos de descontração e de enriquecimento criativo. Com os alunos abria
portas para o interior de cada um deles, para eles poderem sair da caverna e a
gostar deles e do mundo.
Foram anos de
carreira de grande potencial. Ensinei sobretudo o gosto pela arte e o
entusiasmo em realizar trabalhos artísticas, que melhoravam a auto-estima dos
alunos. Passei por 7 escolas, e em todas deixei marca, com convites para
voltar. Os trabalhos dos alunos estavam sempre expostos, e mesmo aqueles de menor
qualidade, arranjava um jeito de o valorizar para estimular o aluno a fazer
melhor.
A carreira dos
professores tem sido pouco valorizada, tanto em remuneração como em
dignificação pública, mas devo salientar duas vertentes muito positivas:
Concursos nacionais de lista única e haver uma renovação anual. Em cada ano
pode-se ter alunos diferentes, colegas diferentes e até uma escola diferente,
isso para mim é muito estimulante. Poder realizar práticas diferentes todos os
anos, tiram qualquer resquício de monotonia que me afecta negativamente. Nunca
quis saber quem eram os novos alunos e o seu aproveitamento escolar anterior.
As artes visuais, que leccionei, foram sempre uma plataforma de renascimento,
de renovação e de novas oportunidades.
Lembrar, que os
professores precisam de pausas - mais dias de férias e menos horas de trabalho.
Ninguém consegue estar todos os dias, operacional, cativante, criativo e colocar-se
ao nível de cada aluno (por vezes são mais de 100 alunos/dia), se não tiver
pausas de tranquilidade e renovação. Os professores com mais de 60 anos estão exaustos,
a sua carreira é longa e desgastante e funcionaram como almofada a todas as
reformas tresloucadas que cada ministro quis impor.
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