A reportagem de Ana Leal sobre o alojamento de imigrantes, transmitido
pela televisão, chocou muita gente.
As más condições de habitabilidade viam-se. Baratas, ratos e percevejos
passeavam se por todo o lado, paredes com humidades de anos... Melhor será nem
pensar no cheiro. Foi fácil perceber várias situações eventualmente ilegais...
Ou nem tanto.
O negócio de subarrendamento não é ilegal desde que seja do
conhecimento do senhorio. Uma igreja supostamente evangelista subarrenda
espaços, com água, luz, internet e mobiliário, degradados e sujos.
Um suposto bispo deu a cara no debate televisivo e não se mostrou
minimamente incomodado com as questões colocadas pela jornalista e outros
interlocutores visivelmente revoltados com a situação e ainda apelava às suas
acções de verdadeira compaixão pelos pobres inquilinos. Estava acompanhado pelo
seu advogado, que não interveio, mas que certamente dá o suporte legal a tudo
que nos cheira a abuso e exploração. Pareceu-me que se apresentaram caminhos
esconsos que resultam de leis mal pensadas, proporcionando um mercado de
alojamento com condições desumanas denunciadas em várias reportagens. Bom
trabalho de investigação da jornalista Ana Leal, que nos tem aberto portas
muito complicadas da sociedade portuguesa, e que depois ficam escancaradas, sem
o seguimento que todos deveriam conhecer como solução.
Finalizada a reportagem, e repensadas as questões legais de
arrendamento, ficou a questão: se estes pobres coitados não estivessem ali
alojados, onde estariam?
O que fez PS e PSD para alojar esta gente? Se não estivessem ali,
estariam onde? Na rua ou em sítios ainda piores?
Nem se sabe quantos são e onde vivem.
A Câmara Municipal de Lisboa sublinha que todas as pessoas retiradas
destes espaços serão encaminhadas para uma habitação digna.
Sim? Para onde? Quando?
Algo está profundamente mal e só conhecemos a ponta do icebergue. Por
quê não informam sobre todas as vertentes dos problemas e soluções?
Publicado em NVR 23|07|2025
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