30 abril, 2025

26 abril, 2025

MOBIUS


 Realização: Luc Riolon

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Gathering supercars

 Manhã cheia de sol e animação. Serviu para refrescar os olhos e ensurdecer os ouvidos, lembrando que este carrinho laranjinha Lamborghini continua a fazer estragos no meu coração.














24 abril, 2025

O que seduz os saudosistas e aqueles que já nasceram após a revolução?





Lembro que antes do 25 de Abril eramos um país de remediados, frustrados e infelizes.

As classes socias dividiam-se assim: os pobres, os remediados, que eram um pouquinho menos pobres e os ricos.

Havia fome, analfabetismo e uma esperança de vida curta. A maioria das aldeias não possuía água, nem electricidade. O esgoto era uma estrumeira. O Porto e em Lisboa tinham ilhas e bairros de lata onde vivia muita gente pobre.

A escolaridade obrigatória era até a 4ª classe para os rapazes e 3ª classe para as raparigas. A ignorância e o obscurantismo tinham muito sucesso. Mas se não fossem à escola também não havia problema, porque um povo analfabeto e ignorante é mais fácil de governar. A pedagogia era a da palmatória, ou aprendes a bem ou a mal.

Havia crianças com pai incógnito. Havia crianças e adultos descalços na rua. Havia crianças com passaporte directo para o céu.

Centros de saúde e médicos de família ainda não tinham sido inventados.

Não existiam subsídios, nem férias.

Ninguém ia de férias para as Maldivas, para o Mediterrâneo e muito menos para a Tailandia. Os remediados iam até à Póvoa de Varzim, porque o médico aconselhava por causa do iodo.

As mulheres casavam para obedecer aos maridos e apanhar se fosse o caso.

Ai sexo antes do casamento! As mulheres que perdiam a virgindade antes do casamento, perdiam-se também no mundo, porque eram consideradas prostitutas. O rapaz atrevido ainda levava nas bentas, dos irmãos ou do pai.

Pílula e planeamento familiar eram quase inexistentes. Epidural? Ainda não tinha sido inventada, até porque sofrer no parto, fazia parte do processo. Aborto? Sim clandestino, sem higiene e morria-se sem culpados.

Quem não ia à missa, ou não cumpria com os rituais, era um pouco marginalizado na sociedade.

Os homens faziam serviço militar e iam para a guerra. Alguns regressavam dentro de um caixão (supunha-se, porém, numa guerra ninguém andava a recolher cadáveres). Os que não queriam ir para a guerra, eram desertores e tinham de fugir do país e nunca mais voltar.

Televisão, telefone e rádio era só para alguns.

Racismo? Sim. Ciganos? Eram população nómada, que pedia de terra em terra, sem direitos.

Das frutas tropicais só se conhecia a banana e o ananás, que se vendiam a preço exorbitante.

Festas… Que festas? Festivais? Quantos? A festa era uma vez por ano e religiosa.

Nesse tempo não havia homossexuais, toxicodependentes, nem trans disto e daquilo. Havia raquíticos, aleijados, histéricas, prostitutas, maricas, pedintes e malucos.

Ir ao cabeleireiro… talvez uma vez por ano. Manicure… nem existia.  

Quem andava no ballet, na natação ou no karatê? Meia dúzia, filhos dos ricos.

Morria-se cedo e sobrevivia-se cheio de carências. Alguns para estudar tinham que ir para seminário. O conhecimento estava vedado à maioria das pessoas pela pobreza. Ter um filho a estudar na escola secundária era um luxo.

Lavava-se a roupa no rio, e utilizavam os animais para ajudar nas tarefas de carga. Passava-se a ferro com um ferro com brasas. E frigorifico? Naaa!

O aquecimento central era uma braseira ou uma fogueira, e uma botija de água quente dentro da cama.

Operários e lavradores não tinham carro, quando muito tinham uma bicicleta ou uma motoreta.

Quando existia um desarranjo intestinal, não havia Ultralevur, levavas com a cânula de um irrigador naquele sítio. O penico era um objecto com muita saída, se não quisesses ir ao monte.

Éramos um povo muito conformado com a miséria, porque quem reclamasse era espancado, torturado, preso e com frequência desterrado.  Todos acreditavam, que para o bem ou para o mal, era a vontade de Deus.

E quem não estava bem, tinha que se mudar, de forma clandestina e arriscada, passando a salto a fronteira de Espanha, sujeito a ser morto ou preso, sem regresso.

Quem possuía um maior conhecimento e aspirava a uma vida melhor, tinha que fechar a boca.

Os artigos dos jornais e os livros eram censurados facilitando assim a ignorância e o conformismo.

Nas ex-colónias as facetas da vida eram um pouco diferentes e talvez mais complexas, mas só o facto de não existir inverno já ajudava a malta. Haveria aparentemente mais liberdade e melhor qualidade de vida, se tinhas a sorte de não viver num musseque, caso contrário, vira o disco e toca o mesmo.

Será isto o que seduz os saudosistas e aqueles que vão na conversa dos primeiros?

ALGUÉM DUVIDA QUE HOJE, TODOS VIVEMOS MELHOR?

AQ

O 25 DE ABRIL NUNCA SE ADIA


 O Luís deveria trabalhar todos os dias, mas ele vai adiando.

O 25 de Abril nunca se adia!
Saudações de cravo na mão.

23 abril, 2025

Agostinho da Silva, um poeta à solta

 

Agostinho da Silva, um poeta à solta

“Não há liberdade minha, se os outros a não têm.”

Apesar de me considerar uma pessoa atenta, o meu primeiro contacto com Agostinho da Silva foi através da televisão - no programa “Conversas Vadias”, transmitido pela RTP1 em 1990, quando ele já tinha 84 anos. O nome do programa era apelativo e inspirador e de imediato captou a minha atenção. Este programa estruturava-se numa simples entrevista a Agostinho da Silva, realizada por várias personalidades a saber, Maria Elisa, Adelino Gomes, Joaquim Letria, Alice Cruz, Baptista Bastos, Herman José, Miguel Esteves Cardoso, Manuel António Pina, Joaquim Vieira, Maria Isabel Barreno, Cáceres Monteiro e Fernando Alves. Totalizaram treze entrevistas. Estas sessões televisivas tornaram-se imediatamente populares, devido à actualidade daquilo que partilhava esta singular figura e do seu pensamento.

Quem era o estranho individuo que todos queriam entrevistar e só eram seleccionados entrevistadores de gabarito, personalidades conhecidas do meio artístico, literário e académico, nacional, que só eles já despertariam o interesse aos telespectadores?

George Agostinho Baptista da Silva, nasceu na freguesia de Bonfim, na cidade do Porto a 13 de Fevereiro de 1906, foi um filósofo, pedagogo, poeta e ensaísta português. Apontado como um dos grandes pensadores portugueses do século XX, conhecido pelas suas reflexões sobre a educação, a liberdade e a identidade cultural.

Realizou um percurso académico notável e excepcional, Agostinho da Silva concluiu a licenciatura em Filologia Clássica, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com 22 anos e o doutoramento com 23, ambos com 20 valores. Esteve em Paris como bolseiro onde, desenvolveu estudos na Sorbonne e no Collège de France. Foi colaborador da revista Seara Nova até 1938, conferindo-lhe um “péssimo currículo” para trabalhar no ensino superior, durante o Estado Novo; foi professor no ensino secundário em Aveiro, até ao ano de 1935, altura em que foi demitido do ensino oficial por se recusar a assinar a Lei Cabral, que obrigava todos os funcionários públicos a declararem por escrito, que não participavam em organizações secretas (e como tal subversivas). No mesmo ano, conseguiu uma bolsa do Ministério das Relações Exteriores de Espanha e foi estudar para o Centro de Estudos Históricos de Madrid. Em 1936 regressou a Portugal por estar eminente a Guerra Civil Espanhola.

Foi preso pela polícia política em 1943, ficando 18 dias no Aljube e obrigado a residência fixa. Em 1944, Agostinho da Silva imigrou para a América do Sul, naturalizou-se brasileiro em 1959 e regressou a Portugal em 1969 após a doença e morte de Salazar e a sua substituição por Marcelo Caetano. Desde essa data, já aposentado como professor universitário no Brasil, continuou a dedicar-se à escrita e dirigia paralelamente o Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade Técnica de Lisboa e desenvolvia consultadoria do actual Instituto Camões. Em 1992 retomou a nacionalidade portuguesa e faleceu a 4 de Abril 1994.

Este Agostinho da Silva que conheci pela televisão apresentava-se ancião activo, vestido com simplicidade e informal, tal como era o seu discurso fluído, mas que emanava profundo conhecimento erudito sobre o Homem e a sociedade. Ouvi-lo era desafiante, multidimensional, surpreendente e transformava sempre algo em nós – hoje dir-se-ia que era um grande “influencer”. A sua personalidade manifestava-se polifacetada, ousada, acutilante, perspicaz e desconcertante, por isso atraia ouvintes de todas as idades. Apresentava uma retórica argumentativa, sabiamente alimentada pela perspicácia e por uma fina ironia, que inquietava, desafiava e mobiliza para a mudança.

A entrevista, considerada mais impactante e memorável, é a conversa com Adelino Gomes, sobre a Liberdade e o Destino, que acabei de rever e motivou-me para a escrita deste texto, porque continua surpreendente e interessante o seu pensamento sobre a liberdade, Camões, Padre António Vieira... As entrevistas podem se visionadas na RTP arquivos e todos deveriam conhecer ou rever.

Uma das suas principais contribuições filosóficas é a ideia de que a educação deve ser um processo de libertação e auto-conhecimento, enfatizando a importância do desenvolvimento integral do ser humano. Ele acreditava que a verdadeira sabedoria vem da experiência e do diálogo, e não apenas da acumulação de conhecimentos académicos. Ao nível da Educação, na sua essência, a obra científica e magistral de Agostinho da Silva assenta numa mesma matriz conceptual e alinha por um mesmo sentido: o do compromisso com a vida, com a humanidade e com a pessoa.

A vida de boémio, que levou no Brasil, muito contribuiu para que descuidasse as suas responsabilidades parentais, e o levasse a ter filhos que acabaram por ficar registados no bilhete de identidade com pai incógnito.

Curiosamente a sua segunda companheira, Judith Cortesão era filha de outra figura ilustre da literatura, Jaime Cortesão. Desta relação resultaram 8 filhos, dois deles adoptados.

Sobre a sua obra já não teremos tempo para a ler toda, pela dificuldade da recolha e pela extensão da mesma. Publicou mais de duzentos títulos em Portugal e no Brasil e centenas de Cadernos de Divulgação Cultural. A sua filosofia saiu do universo dos livros, dos ensaios e dos grandes eixos culturais e proliferou em palavras, conversas, debates, reflexões e dissertações, enriquecendo de forma activa, presente e dialogante, a lusofonia. Vejam ou revejam as “Conversas Vadias”.

Faz parte da memória de muitos, esta frase: “o homem não nasce para trabalhar, nasce para criar, para ser o tal poeta à solta". Hoje gostaria de poder ouvir Agostinho da Silva a dissertar sobre a Educação/ Internet e sobre esta Guerra, que está a pôr a Europa confusa e disruptiva.

Publicado em NVR 23|04|2025

"ESTÓRIAS NO MAÇADOIRO" - Anabela Quelhas

Hoje Dia do Livro apetece-me partilhar que tenho mais um livro na tipografia, apoiado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, Instituto Público – Norte Pontual e União das Freguesias de S. Tomé de Castelo/Justes.

Um livro construído por 99 histórias que reforçam a identidade de um sítio.





 

"E DEPOIS DO ADEUS" - José Niza



Poema cantado por Paulo de Carvalho

Voz: Anabela Quelhas



21 abril, 2025

"OS VAMPIROS" - Zeca Afonso



Voz: Anabela Quelhas


Poema cantado

https://www.youtube.com/watch?v=RiU0_cR-oUI


à espera do verão


 Não espero por Godot
Espero pelo verão, ansiando pela primavera, descartando o inverno e desprezando o outono. 

Quero dias ensolarados e noites amenas, com ou sem lua. Desejo mar a enrolar na areia, e aquele por do sol inesquecível, que vira poema.

Jacuzi é bom, mas não é a mesma coisa...

19 abril, 2025

17 abril, 2025

MULHERES DE ABRIL


 Realização - Henrique Oliveira   

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16 abril, 2025

Comemorando Abril

 Comemorando Abril

Em processo de seleccionar poemas para o programa de rádio “De poeta e de louco todos temos um pouco” que passa na rádio Universidade FM, lembrei a música de Chico Buarque da Holanda, TANTO MAR, que todos conhecerão certamente.

Os ecos da revolução de abril de 1974 em Portugal chegaram de várias formas à música brasileira - um olhar, à distância, sobre os ecos que lhe chegavam de um país em transformação. A música "Tanto Mar", de Chico Buarque, realmente é um marco importante na música brasileira e reflecte as complexidades das relações entre o Brasil e Portugal durante um período conturbado da história. Curiosamente esta canção, possui duas versões, captura as esperanças e as frustrações de um momento de transição tanto em Portugal como no Brasil.

A 1.ª versão é inspirada na Revolução dos Cravos e está datada de 1975. O Brasil ainda vivia o regime de ditadura militar, a letra expressa uma saudação ao novo regime democrático que emergia em Portugal após o 25 de abril de 1974, mediante uma revolução pacífica que derrubou um regime ditatorial de longa data. Para os brasileiros, que viviam sob a repressão da ditadura militar, essa letra ressoava como um eco de liberdade e esperança, também para eles.

              A letra, inteligentemente escrita, mas muito simples, reflecte o desejo de liberdade compartilhado. É por esse motivo que, no Brasil, a letra desta música foi censurada.

A 2.ª versão data de 1978, a letra desta versão reflete uma mudança de tom. Aqui, Chico Buarque faz uma crítica subtil ao desenrolar dos eventos em Portugal, especialmente após o 25 de Novembro de 1975, quando a revolução começou a perder força e a instabilidade política se acentuou. Essa nova versão é marcada por um cepticismo e uma percepção de que a democracia ainda era jovem e frágil e que os desafios continuavam.

É interessante compararmos a letra. Aqui em Portugal a maioria conhece apenas a 1.ª versão. Assim lado a lado poderemos verificar que foram dois momentos muito diferentes prevalecendo o primeiro como a grande mudança.

A comparação entre as duas letras revela não apenas a evolução do contexto político em Portugal, mas também ilustra como a música pode ser um testemunho das esperanças e desilusões de um povo. Enquanto a primeira versão é um brinde à liberdade e à possibilidade de um futuro melhor, a segunda revisita a realidade de que a luta pela democracia é complexa e repleta de desafios.

Essas “nuances” são fundamentais para entender a relação entre a música e a história, especialmente em momentos de transformação social e política. 


Publicado em NVR 16/04/2025

"O SER ESPIRITUAL" - Teixeira de Pascoaes



Voz: Rosa Canelas


15 abril, 2025

AMADOR


 Realização: James Hawes

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13 abril, 2025

Hoje é dia do beijo

Hoje é dia do beijo

Ninguém quer ouvir que beija mal.

Como sabemos que beijamos bem?

Como podemos ter a certeza?

Normalmente, a pessoa que está sendo beijada mal sofrerá em silêncio, com medo de ferir os sentimentos do outro.

Se o beijo for bom, certamente será eterno e levar-me-á até Cassiopeia. Será recordado e comparado em muitas situações e com muitos outros, saindo sempre vencedor.

Cada um saberá secretamente de quem recebeu o melhor beijo do mundo. 

Segundo O'Neil é a força sem fim de duas bocas.



11 abril, 2025

«Quis saber quem sou»


 INESQUECÍVEL

«Quis saber quem sou» foi exatamente a primeira frase de pendor revolucionário do início da democracia em Portugal, ouvida ainda a 24 de abril de 1974, às 22 horas e 55 minutos, nas ondas dos Emissores Associados. O primeiro verso da canção “E Depois do Adeus”, pleno de questionamento individual e coletivo, cantado por Paulo de Carvalho, marca o momento histórico do arranque da revolução, tornando o que era pouco mais do que uma canção de amor, num símbolo da liberdade.

A meio caminho entre o concerto e a peça de teatro, “Quis saber quem sou — um concerto teatral” pretende revisitar as canções da revolução, as palavras de ordem, as cantigas que são armas, mas também as histórias pessoais das gerações que fizeram o 25 de Abril, trazendo para o palco jovens atores/cantores, escolhidos numa audição a nível nacional, e colocando nas suas vozes e nos seus corpos de hoje, e do futuro, a memória das palavras da liberdade.

Concepção, texto e encenação: Pedro Penim


"ANDAR NÃO ME CUSTA NADA" - Natália Correia


 

"ANDAR NÃO ME CUSTA NADA" - Natália Correia

Voz: João Carlos Carranca

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10 abril, 2025

NOTAS DE ESPERANÇA - concerto

 


 O MEU PREFERIDO JOHANN SEBASTIAN BACH.

70 minutos num concerto de órgão de tubos. É um privilégio na minha vida que usufruo todos os meses.