DE POETA E DE LOUCO TODOS TEMOS UM POUCO
A poesia sempre me
acompanhou ao longo da vida, como escape de emoções. É uma arte singular, que
me emociona e diverte quando a leio, mas quando a escrevo é uma necessidade
urgente de escoar sentimentos normalmente de tristeza e de dor, funcionando
como um bálsamo para o meu interior.
A poesia em mim não
surge como uma tarefa que realizo regularmente a uma determinada hora. A poesia
surge como desabafo, em rajada, mal ou bem, estabelece ligação ao meu interior
- coisa rápida e destemperada. Chegou a hora de fazer algo mais do que comprar livros de poesia, lê-los,
ou então alinhavar versos sem rima em pequenos papelinhos, que aparecem na
minha carteira, escritos nos lugares mais inoportunos.
Em ano de comemoração
de Camões, decidi planear um momento de poesia na rádio, com o objectivo de ler
e partilhar poesia com os ouvintes, e em simultâneo motivar as pessoas a ler
poesia em voz alta, e libertarem-se do complexo de que não sabem declamar.
Eu também não sei
declamar, mas sou “atrevida e louca”. Leio o melhor possível e aos poucos vou desenhando
e construindo a minha leitura mais comunicativa e expressiva.
Apresentei esse
projecto à Radio Universidade FM, e o seu diretor, Luís Mendonça, rapidamente
viabilizou o pedido, e o momento poético está no ar desde o dia 25 de Novembro
de 2024, 2ª, 4ª e 6ª, depois das 10h e depois das 13h, eu diria que quase
colado pontualmente nesse horário.
Solicitei à equipa da Rádio
um jingle de apresentação, com som de fundo urbano, pessoas a falar de
forma desorganizada, e pretendo felicitá-la porque fizeram exactamente o que eu
imaginava, testemunhando o seu profissionalismo, acrescido com a voz
inconfundível de Mila Brigas. Penso que
ficou perfeito. Assim, no horário indicado, quem sintoniza Universidade FM,
escuta um poema aleatório, proferido em 2 ou 3 minutos, devidamente
identificado, que tenta promover a literacia poética de todos e despertar o
gosto pela beleza das palavras e pelas emoções que elas transmitem.
Envolve uma organização
muito simples e tudo tem corrido bem, graças às novas tecnologias.
Como a Rádio ainda não
criou compactos para ouvir em diferido, tenho divulgado nas redes sociais e no
meu blogue pessoal “Estirador sem Rima” https://estiradorsemrima.blogspot.com na etiqueta Universidade FM.
A Rádio ainda não fez
uma análise do impacto destes breves minutos, porém, tenho um retorno positivo
dos meus amigos virtuais e a garantia dada pelos contadores de visitas, que
aquilo que publico tem 2 ou 3 dezenas de leitores/ouvintes, alguns localizados
fora de Portugal, nos países lusófonos, acrescidos daqueles que ouvem
directamente da rádio.
A contabilidade que
conduz ao sucesso será um caminho lento, mas seguro, e o que me interessa é que
a magia da poesia se tenha conectado com a vida de alguém, tenha despertado
curiosidade, e tudo o resto é uma mais-valia.
Entretanto, a poesia, em
menos de 2 meses, conseguiu cativar Graça Vilela, João Carlos Carranca, Martim
Carvalho, Manuela Vaz de Carvalho e Rosa Canelas, para a vocalização, dando voz
à poesia, e as suas primeiras gravações já passaram na rádio e continuarão a
ser convidados a colaborar, tornando o momento de poesia cada vez mais rico e
diversificado. Quem pensa que a poesia é uma seca, perceberá que afinal não é e
até pode escutar música associada.
Com a Rádio
Universidade FM, a poesia é universal e é um canal aberto para quem ousar ler e
gravar em “sintonia” lusófona – entre em contacto através de email: hexaaq@gmail.com
“De poeta de louco
todos temos um pouco”
inaugurou com “Poema aos homens constipados” de António Lobo Antunes e
seguiram-se mais 24 poemas de autores diferentes, todos lusófonos, e
conhecidos, a maioria contemporâneos. É interessante constatar que a nossa
cultura é extremamente valiosa na vertente poética, merece maior divulgação e
deve constituir orgulho na nossa identidade. E afinal dizer poemas, é ousado, possível
e motivador.
Publicado 22|01|2025 em NVR
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