ANTECIPANDO
Rua da Praia 790, Sebolido, Penafiel
O sermão de Santo António aos peixes
O sermão de Sto.
António aos peixes, é mais conhecido na sua repercussão na acção do Padre
António Vieira contra a desumanidade com que os colonos portugueses tratavam os
índios, no Brasil do século XVII, do que na sua versão original, com o António
de verdade do século XIII.
O sermão é uma alegoria
onde a história dos peixes é usada para transmitir uma mensagem sobre a conduta
humana, criticando os vícios e exaltando as virtudes. Adequa-se a todos os
tempos, é intemporal, mas exige, raciocínio e pensamento crítico por parte dos
ouvintes sobre o tema: a variedade enorme de peixes que existem, o que fazem
para se comerem mutuamente e a sua ambição de poder, atitude aplicável ao ser
humano que ambiciona o poder e é corrompido por ele.
Frei António era um
orador eloquente e distinto que viveu no século XIII, e considerava a humildade
como a virtude mais importante.
Em 1223, estava António
em Rimini (Itália), cidade conhecida como berço das heresias, sobretudo dos Cátaros
que desafiavam a autoridade da Igreja Católica, perante uma multidão de hereges
que não davam crédito às suas palavras proferidas com o objectivo de trazê-los
à “luz da verdade”. A presença de António incomodava-os, ao que estes
respondiam com palavras ríspidas, desconsiderando as suas pregações. Desapontado,
dirigiu-se à foz do Rio Marechia e suplicou a Deus por inspiração divina. Aproximou-se
da água e começou a chamar os peixes.
“Ó peixes, meus
irmãos, vinde vós ouvir a palavra do Senhor, já que os infiéis fazem dela pouco
caso!”
E logo se reuniram
diante de António imensos peixes, grandes e pequenos, de várias espécies. E
todos eles punham a cabeça para fora d’água, respeitando-se e ficaram a
ouvi-lo, atentamente. [os
cépticos devem perceber que na vontade de Deus tudo pode acontecer]
Foi um grande espanto
ver os peixes grandes nadarem com os mais pequenos, e os pequenos sem medo, nem
perigo, passarem sob as barbatanas dos maiores em segurança, resultando um
grande auditório organizado, com os peixes a tomarem o seu lugar para assistir
à pregação, ficando quietos sem fazer barulho; e os peixes pequeninos chegavam-se
ao orador como se ele fosse o seu protector.
“… meus irmãos
peixes, vós deveis agradecer ao vosso Criador por vos ter dado um elemento tão
nobre no qual viver… água salgada. Deus deu-vos muitos abrigos contra as
tempestades e alimento para viver.”
“…Deus deu-vos a sua benção. No grande dilúvio Deus preservou somente a vós, sem dano ou prejuízo… Vós fostes a comida do Rei eterno, Cristo Jesus, antes da Ressurreição e, de novo, depois dela,… quando nosso Senhor… comeu peixe na praia com os seus apóstolos. Por todos esses favores, vós deveis louvar e bendizer a Deus que vos concedeu tantos benefícios.”
Benedetto (um dos
hereges) confuso não sabia para onde olhar e o que pensar. A multidão
influenciável ia chegando ao local constatando o milagre e tirando as suas
conclusões.
“Bendito seja o Deus
eterno, pois peixes da água honram-no mais do que pessoas que negam a sua
doutrina. Os animais irracionais escutam mais prontamente a palavra de Deus do
que a humanidade sem fé.”
As pessoas prostraram-se
com humildade aos pés do Santo, buscando a sua orientação e ensinamentos. O
servo de Deus, ao tomar a palavra, pregou de forma tão excelente e convincente
que conseguiu converter ao catolicismo, os hereges presentes, além de
fortalecer a fé daqueles que já eram fiéis. Após a sua pregação, despediu-se de
todos com alegria e uma bênção, deixando uma impressão duradoura de fé e
esperança na comunidade.
“… minha boa gente e
meus queridos peixes, obrigado por ouvirem com o coração. Voltem agora em paz
para casa.”(adaptação)
As águas
movimentaram-se e borbulharam. Quando Benedetto enxugou os olhos e conseguiu
ver de novo, a superfície da água estava coberta de círculos resultantes do
mergulho dos peixes sob as ondas.
Esta história do
catolicismo é uma metáfora utilizada, quer por religiosos, quer por ateus, para
criticar a ignorância e a indiferença dos homens diante da verdade. A comparação entre o comportamento
dos peixes e o dos humanos serve para alertar sobre as consequências do orgulho
e da desumanidade em diferentes contextos históricos.
Padre António Vieira aludiu a este sermão e através da história dos peixes, demonstrou os vícios dos homens, como a ambição, a violência, arrogância e a falta de respeito, em contraste com as virtudes dos peixes, como a sua submissão e a organização, convidando à reflexão sobre a natureza humana, a fé, a virtude e ao combate às más acções através do entendimento e do respeito mútuo. A sua utilização por Vieira reforça o seu poder de crítica social e moral, tornando-o uma ferramenta de transformação e consciência coletiva, ainda hoje urgente e actual.
Publicado em NVR. 11|06|2025
Imagem: Jorge de Faria Moreira
Há vinte e quatro horas, eu era uma adolescente alegre, despreocupada, feliz e hoje transformo-me numa mulher. Despi a adolescência em Luanda, pouco antes de entrar no Aeroporto Craveiro Lopes, com destino a Lisboa, já sem esperança de regresso breve. Abandono essa fase de transição da vida e adquiro competências rápidas para aceder à maturidade social.
Entro
na idade adulta, tal como uma crisálida que se transforma em borboleta, da
noite para o dia, encurtando preguiças, dúvidas juvenis, inseguranças,
rebeldias e acelerando a autonomia, a tentativa de um maior discernimento e responsabilidade da maturidade.
É
nesse estado do meu desenvolvimento holístico que entro no avião, desconhecendo
onde me levará esta metamorfose activa que levo comigo.
Tento
resistir ao choro. Não entendo esta retirada precipitada, desconheço razões que
justifiquem a determinação do pai em sair e não voltar a Luanda, após as
férias. Despedi-me da minha cidade, contrariada, receando nunca mais ver os
meus amigos. Nasci e vivi em Luanda os últimos anos. Sete anos, os melhores
anos da minha vida, com o desabrochar da minha personalidade, da minha
rebeldia, o desenho das minhas convicções e valores, numa cidade encantada,
cheia de contradições e de assimetrias, mas motivadora, exuberante, apostada em
crescer e em desenvolver o potencial de um território.
Após
a ceia servida a bordo, já passa da meia-noite, os pais tentam dormir. Fingimos
dormir. De olhos fechados, penso em tudo que se passou nestas últimas vinte quatro
horas e a despedida inesperada da cidade de Luanda, determinada pelo pai, mês e
meio após a Revolução dos Cravos[1].
Luanda parecia serena e tranquila, reinava a paz em todas as ruas, porém, o pai
considerou que retirar a família para a Metrópole, agora, é a decisão mais
sensata e assertiva.
Fingimos
dormir. Sim, fingimos. Como alguém poderá dormir vivendo este trambolhão
impensado? Ao contrário das outras viagens de avião, não me interessa em que
lugares viajamos, se vou ou não à janela, nem presto atenção a ninguém. Faço um
balanço da minha vida e das inseguranças que me invadem nestas últimas horas,
de olhos fechados tento controlar a minha respiração, tornando-a aparentemente
regular, cadenciada e serena. Sinto que parte da minha vida foi amputada sem eu
perceber as razões, e esta ferida marcar-me-á para a vida. Não me matará, mas
irá moer-me toda a vida sem escolher hora ou local.
Não
consigo projectar-me no futuro, prever o que acontecerá em Setembro, quando se
iniciar um novo ano lectivo, e como me irei organizar. A caminho do aeroporto,
o meu pai deu indicações precisas à minha irmã que ficou em Luanda, para ir ao liceu,
obter o meu certificado de habilitações do 6º ano / 1º ano do Curso Complementar
e enviar com urgência para a Metrópole.
Vou
dormitando por cansaço, encostada ao braço do pai, ou melhor dizendo, o sono
tropeça em mim ao longo da noite. A minha cabeça parece um labirinto de ideias
e situações que me empurram para este amadurecimento repentino e prematuro, que
se traduz anatomicamente, num brutal nó na garganta. Apesar de contrariada, ainda
no interior do avião, decido não pressionar os pais com o regresso a Luanda.
Esta mudança repentina na nossa vida, deve ser ainda mais penosa e complexa
para eles, que já têm cinquenta anos e grandes responsabilidades. Aguardarei
serenamente, tentarei não criar conflitos, fingirei até algum entusiasmo para
que não se preocupem comigo. Terei de aprender a digerir tudo sozinha. Serei
uma óptima aluna para fazer o meu curso rapidamente, se o pai conseguir
suportar as despesas, confio que sim.
Chegamos
a Lisboa, sem grandes conversas, uma viagem inundada por mutismo e pessimismo.
Esta viagem não se reveste de alegria nem de entusiasmo, como todas as
anteriores, em que eu exteriorizava por excesso, a minha adolescência divertida
e irónica. A minha metamorfose despe-se de amigos e conhecidos, recheando-me de
um grande vazio existencial e revolta, sem saber o que será o meu futuro e o da
minha família e o que faço ao passado. Parece-me que dispo uma túnica leve e
fresca e visto uma camisa-de-forças, contendo-me, apertando-me e sufocando-me. Não
me foi dado poder de decidir sobre ficar ou partir, porque apenas tenho dezasseis
anos e não sou autónoma.
Em
Lisboa, não vejo militares nas ruas, nem cravos nas mãos das pessoas, como eu
imaginava, vejo cerejas, lá estão elas na rua a vender, tudo parece normal, com
mais animação transpirada em frases escritas em paredes, apelando à Revolução
de Abril. O entusiasmo de algumas pessoas contrasta com o nosso constrangimento,
a nossa contenção, os nossos sucessivos nós na garganta. Os táxis continuam a
cheirar a combustível, a estofo mal lavado e o rosário continua pendurado no
espelho retrovisor, a oscilar a cruz durante a viagem. Lisboa continua
movimentada e parece-me iluminada já pela luz do Verão. Oiço uma carrinha com
um megafone a percorrer as ruas perto do aeroporto, emitindo uma canção que
apela à revolução e anuncia um comício.
In "De cereja em cereja beijo o verão"
09|06|1974
LOCOROTONDO, na região de Puglia, Itália, é uma cidade de planta antiga e histórica, caracterizada pelas suas ruas estreitas e arquitetura medieval. A sua origem remonta ao ano 1000, e o nome "Locorotondo" significa "lugar redondo", referindo-se à forma arredondada da cidade, que antigamente era cercada por muralhas. Tem uma planta antiga característica e circular, com o seu centro histórico construído em anéis concêntricos.
A cidade surgiu como uma aldeia vinculada ao mosteiro beneditino de Santo Estêvão e é visível a influência grega.
A origem das bonecas remonta à Antiguidade, sendo encontradas no Egito Antigo, por volta de 2000 a.C., executadas em madeira, barro ou outros materiais. Inicialmente, não tinham a função de brinquedo como as conhecemos hoje, eram objectos fúnebres encontradas em túmulos, sugerindo a crença que numa vida após a morte as crianças poderiam brincar ou então era uma suposta representação da criança falecida. Elas também eram dedicadas a deuses, como Afrodite, em rituais que pediam sorte no amor.
Na Idade Média, a Igreja Católica passou a
considerar as bonecas como objectos ligados à feitiçaria, o que levou a
perseguições e queimadas de bonecas e das suas proprietárias.
A partir do século XVIII, com o desenvolvimento
da indústria, as bonecas começaram a ser produzidas em larga escala e a
popularizar-se como brinquedos infantis.
Actualmente os bebés Reborn são “bonecos
extremamente realistas, feitos para parecerem bebés verdadeiros (reborn =
renascido). Eles são criados com detalhes minuciosos, como pele, cabelos, unhas
e até veias, utilizando materiais específicos que proporcionam uma aparência
natural e uma sensação semelhante à de um bebé real ao toque.” (IA)
A sua representação é cuidadosa e detalhada.
Para além do rosto fofinho, temos o corpo representado de forma realista que
impressiona e assusta.
A tecnologia bebé Reborn deu um salto gigante.
O processo de fabrico é altamente tecnológico, com scanarização de rostos reais
para gerar moldes hiper-realistas, contando com a impressão 3D. O uso da
tecnologia bebé Reborn reduz tempo de produção e garante modelos mais
consistentes, concluídos depois com pintura digital que simulam tons de pele,
luminosidade, vasos sanguíneos, manchas e micro-detalhes, recorrendo a diversos
softwares e à inteligência artificial. como assistente de criação.
Hoje existem comunidades, tutoriais on line,
com webinars, workshops, grupos de Facebook, fóruns e canais de Telegram recheados
de informação sobre esta recente loucura dos bonecos com detalhes tão realistas
que chegam a enganar os olhos mais treinados.
E para que servem? Como primeiro destino está a
parte lúdica das crianças, depois os coleccionadores e finalmente a parte mais
estranha, são utilizados para fins terapêuticos.
Algumas pessoas usam esses bonecos como
companhia, especialmente aquelas que passaram por perdas, problemas emocionais
ou que têm dificuldades em se relacionar com bebés reais - esta é a parte
considerada por mim, como terapia obscura da saúde mental.
Dizem que: “existem programas terapêuticos,
onde os bebés Reborn ajudam crianças com necessidades especiais, idosos ou
pessoas com transtornos emocionais, a desenvolver empatia, cuidado e rotina. Para
muitas pessoas, os bebés Reborn podem desempenhar um papel importante na saúde
emocional e mental. Eles podem ajudar a aliviar a ansiedade, a solidão e a
tristeza, proporcionando uma sensação de conexão e cuidado. Para alguns, cuidar
do boneco é uma forma de expressar o desejo de maternidade ou paternidade, ou
de manter viva a memória de um bebé perdido. “
Até que ponto é uma terapia e não uma paranóia?
As questões emocionais não resolvidas, com rigor, como o luto ou solidão, não
devem ser tratadas no divã dos psiquiatras e psicólogos? Inquieta-me a
tentativa de preencher vazios afectivos com o que nunca poderá ser humano.
Vivemos tempos em que a fronteira entre
fantasia e realidade está cada vez mais diluída, nem sempre de forma saudável.
Quanto a mim, sobre este tema só aproveito o
processo de produção, de investimento financeiro gigantesco, que deveria ser
destinado para resolver problemas estéticos de mutilados por doença, trauma ou
amputação, que necessitam de próteses realistas, confortáveis e adaptadas.
ANTECIPANDO
Rua Capitão Jaime Pinto, nº6 - S. Martinho do Porto
Perder a democracia no voto[i]
Pare de arranjar
justificações viáveis e aceitáveis para esta derrota da esquerda!
A esquerda saiu
derrotada nestas eleições! O PS perdeu cerca de 400 mil votos, o PCP perdeu 22
mil votos, o Bloco perdeu cerca de 150 mil votos.
Previsível, mas nem
tanto. Todos nós
portugueses temos pelo menos um emigrante e um perseguido político na família do
tempo da outra senhora, reconhecemos que todos deveriam estudar, todos
recorremos ao hospital público quando a saúde desanda, todos conhecemos alguém
que algum dia viveu numa pobreza extrema, todos reconhecemos a importância da
lei e dos tribunais, e defendemos direitos iguais para todos, porém a
democracia funciona assim, ganha e manda quem tem mais votos.
A esquerda há muitos
anos que prefere a desunião, em vez de unir forças para construir um Portugal
melhor. Olham para o próprio umbigo, divididos nos seus egos e considerando que
são os maiores e únicos, em vez de se unirem em princípios comuns ou próximos,
e converter fraqueza em força para entender o que se passa em Portugal e no
resto do mundo. Cada um pretende ter um partido só para si, feito à sua medida,
evidenciando uma profunda ausência de responsabilidade e embarca num processo
utópico que deu mau resultado: este resultado. Claro que a diversidade
enriquece, mas vivemos tempos em que a democracia pode estar em risco, assim
como a Constituição da República, o estado social, a escola, a saúde e urge não
perder tempo.
Juntando toda a
esquerda, nestas eleições, não as ganhariam, mesmo assim, nem tudo são números
visíveis. Os pequenos partidos que não conseguem eleger deputados, desperdiçam
votos ou embarcam no voto útil. Os que desperdiçam voto, pertencem aquele grupo
de eternos sonhadores, que acreditam que um dia será possível. Os que fazem
voto útil, vivem numa frustração infinita, entalados entre o dever e o escolher
o mal menor. E como sabemos, o que não é “regado” não dá frutos e seca.
A esquerda tem vindo a secundarizar
os direitos de quem trabalha e das suas causas essenciais, que são a estrutura
tradicional da esquerda: a defesa dos mais fracos e desfavorecidos, procurando
uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais solidária. A estratégia de
vir para a rua reclamar e fazer greve, ou enterrar a cabeça na areia e empolgar
questões mais secundárias, em certos contextos, já não resulta. É preciso reinventar
e criar uma nova unidade e ter votos para estar na Assembleia da República e
depois tomar decisões.
Estas eleições foram
construídas mais pela “desescolha” do que pela escolha. Foi um verdadeiro
cartão vermelho aos governantes, desde o centrão até à esquerda radical. Perder
a democracia no voto, é algo estranho e muito grave. É um murro no estômago.
Os partidos da esquerda
sofrem todos de um complexo da liberdade, que os tolhe, escolhendo deixar andar,
em vez de resolver problemas. Evitam apoiar reformas, sempre preocupados com os
“coitadinhos”. A boa intenção de estar sempre do lado dos mais fracos,
tolda-lhes a racionalidade, para fazerem reformas que podem resolver grande
parte dos problemas deste país. Uns são sempre do contra, porque não gostam do
PCP, outros inflexíveis porque se focam em causas complexas, válidas, mas que
envolvem minorias e ainda outros, que se fiam que tendo maiorias conseguem
acertar rotas cegas neste país desgovernado, sem apoio dos outros. Está na hora
de unir e cortar caminho com uma oposição forte, unida, séria, racional,
criativa e estratega. Não interessa quem tem mais militantes, interessa unir
recursos e estratégias.
Temos uma escola pública
desgovernada, que é mais escola de pais do que de alunos e professores, temos
hospitais privados a serem pagos para fazer serviço publico, temos uma justiça
demorada, com fugas de informação, temos falta de habitação atribuindo-se
culpas, erradamente, aos investidores privados, temos necessidade de mão-de-obra
dos emigrantes, mas não queremos estabelecer regras para os receber, temos
privatizações selvagens e depois panicamos com simples apagão, temos os
policias que não podem agir perante a desordem, temos quem roube no supermercado
e vai “dentro”, em oposição aos Ricardos Salgados da vida, que continuam
impunes, temos os nossos filhos que emigram, e saltitam de lugar em lugar sem
possibilidade de formar uma família, temos muitos reformados com reformas
miseráveis, temos aqueles que abandonam os pais, ignoram os filhos, mas andam
com o cachorrinho ao colo, temos os problemas de identidade, que querem trocar
de sexo, temos a violência doméstica em que pouco se protege as vítimas, temos
também os jovens que acham que o dinheiro cai do céu sem esforço e cujos ideais
são passar férias e ir a concertos, temos os ambientalistas que não dispensam o
seu banho diário, o conforto no lar e o seu carrinho à porta, temos um bando de
críticos de sofá que fogem aos impostos e se colam a tudo que seja benesse
individual, temos aqueles que censuram o rendimento mínimo, em vez de odiar o
oportunismo, temos falhas na legislação
para resolver problemas, temos uma comunicação social paupérrima que privilegia
a notícia com impacto, tanto pela positiva como pela negativa, dando canal à
alarvidade e â bizarrice, esquecendo-se dos princípios e dos valores da
sociedade, temos o grande partido do abstencionismo com 36% de irresponsáveis e
temos um partido sôfrego para absorver todas as problemáticas, que surgem num
país democrático, para atrair e manipular eleitores, como se eles tivessem
formulas mágicas para resolver todas elas, e que põem todo o país em sobressalto.
Começa-se a desenhar o
medo na liberdade de expressão.
Os portugueses querem
viver melhor e têm esse direito! E a bitola deve ser sempre ambiciosa, mas não
ambicionemos o paraíso, nem sociedades perfeitas, porque isso é utopia.
Não chore pelo leite
derramado, nem
avalie os que votaram à direita como burros e idiotas, quando muito são influenciáveis
na sua esperança inata de viver melhor, esquecendo-se, a maioria, que os seus
interesses de classe média ou de classe mais desprotegida, nunca serão
defendidos por partidos de direita. A direita sempre defendeu o capital, ponto!
Não cruzem os braços,
estabeleçam uniões entre os partidos que defendem causas sérias e justas, para
podermos votar neles em todo o país. Não podemos desperdiçar votos! Só há esta
saída. Desta vez a AD ainda assegurou a maioria, na próxima pode não
conseguir.
Somos um país
considerado pobre, que não pode permitir deslizes financeiros ou maus
investimentos, que descredibilizem a democracia; é urgente rigor sem
desumanizar a sociedade.
Vivemos 51 anos de
democracia e liberdade, com muitos problemas, mas parece que ainda não
inventaram nada melhor, assim sendo, não cruzem os braços. Perder a democracia
no voto, é que não! Porque depois virá o silêncio, o medo e a escuridão.
Este
espetáculo nasce de uma indagação quase detectivesca sobre o mistério do
lendário diretor de cinema Alfred Hitchcock e sua esposa Alma Reville. Um
mistério múltiplo que envolve ambos... Será que a personagem pública que ele
próprio criou correspondia ao Alfred íntimo? Porque é que uma mulher tão
brilhante como editora, argumentista e cineasta permaneceu à sombra do grande
Hitch?
Um cenário
repleto de momentos fascinantes em que acontecimentos biográficos se misturam
com a ficção dos lendários filmes de Hitchcock, mas que também são de Alma, não
esqueçamos. As quatro mãos do casal podem ser vistas numa união criativa e
emocional verdadeiramente surpreendente para a época.
Esta união
continua a ter eco nos nossos dias na transgressão de muitas regras e
convenções no que diz respeito ao tratamento de temas que continuam a ser os
nossos: a violência contra as mulheres, a hipocrisia da sociedade, as faces
menos suspeitas do mal, os falsos culpados, os limites do erotismo na sua
representação, a ansiedade do nosso tempo, a manipulação e os jogos de poder na
criação artística.
Em “A Alma
do Senhor Hitchcock” os intérpretes desdobram-se numa será miríade de
diferentes personagens, onde as imagens e a gestualidade vão desde o humor ao
inquietante, passando por um cuidadoso toque poético, em que o fílmico, o real
e o sonhado se misturam sem solução de continuidade.
Encenação:
Luis Blat
Interpretação:
Ángel Fragua e Catarina Caetano
Interpretação
musical: Edmundo Pires
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O Dia do Autor
Português comemora-se anualmente a 22 de Maio. Este dia dá destaque ou alerta
para a importância dos autores portugueses nas diferentes áreas, destacando a
sua importância no desenvolvimento da cultura e no equilíbrio das comunidades.
Sem autores não há
cultura, porém
vivemos numa sociedade materialista, que não valoriza ou não atribui crédito
suficiente aos autores. A importância destes, centra-se na capacidade
individual ou colectiva de criar algo que acrescenta à cultura de uma
sociedade, mexendo com o pensamento de muitos e accionando o desenvolvimento
social, político, artístico, científico, filosófico, humanista e histórico. A intelectualidade
da humanidade é o resultado da acção temporal dos autores, daqueles que possuem
competências para repensar, alterar e melhorar tudo o que os rodeia, atendendo
ao conhecimento prévio, às circunstâncias e à criatividade que transportam sempre
com eles.
É a habilidade de
pensar “fora da caixa”, de encontrar soluções únicas para problemas, e de
expressar-se de forma original que fazem a diferença entre autores e não
autores. Esta capacidade para “fazer” não é um dom inato, mas sim uma
habilidade que pode ser desenvolvida e aprimorada com prática, estudo, empenho
e exposição a diferentes estímulos.
A escrita é
provavelmente a forma mais simples e rápida de agir, de fazer, permite que as
informações sejam registadas e preservadas ao longo do tempo, possibilitando também
o acesso a conhecimentos do passado. A escrita é uma ferramenta essencial para
a comunicação humana, que tem sido fundamental para o desenvolvimento da
cultura e da sociedade ao longo da História, abordando e registando também as
outras formas de “saber fazer”, artísticas e cientificas, que abrem novas
perspectivas ao mundo.
O dia 22 de Maio assinala
igualmente o aniversário da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) e, este ano,
o seu primeiro centenário. Para quem não sabe, a SPA é uma cooperativa de responsabilidade
limitada, fundada em 1925 para a Gestão do Direito de Autor, nos termos da
legislação em vigor.
Isto diz-lhe alguma
coisa? Direitos…, plágio…, cópias…, apoderar-se daquilo que não lhe pertence?
Sim, quem é autor possui
os seus direitos que nem sempre são respeitados, ou seja, não se pode copiar
aquilo que outros criaram. Direito de autor, também chamado copyright, confere
aos titulares de criações intelectuais do domínio literário, científico e
artístico, o direito exclusivo de dispor da sua obra e utilizá-la, ou autorizar
a sua utilização por parte de terceiros, total ou parcialmente. Mesmo quando
uma obra é do interesse de uma comunidade, nunca se pode romper o fio de
ligação ao seu autor.
“O seu a
seu dono”
Publicado em NVR, 21|05|2025