"MUDANÇA DE IDADE" - Mia Couto
https://vocaroo.com/17spMNKJVrI2
Voz: Anabela Quelhas
file:///E:/radio/audio/161%20-%20Mudan%C3%A7a%20de%20idade%20-%20Mia%20Couto.mp3
A
CRUELDADE DO SER HUMANO
A
maioria dos policias não são violentos, nem perigosos, não são racistas, mas os
que são, devem ser severamente castigados. O discurso de ódio contra os imigrantes
favorece a motivação para o mal e a banalização do mesmo, favorecendo situações
dúbias para a dignidade humana.
Sinto
uma profunda indignação perante os actos de exploração e escravatura, neste
caso dos imigrantes, um sentimento partilhado por muitos, face à gravidade dos
acontecimentos ocorridos aqui em Portugal. A situação expõe uma "crueldade
do ser humano", que choca a consciência pública. E quem são os autores?
Portugueses, nascidos e criados aqui.
A
discussão pública e as reportagens de investigação têm precisamente como objectivo
impedir o branqueamento destas situações, atirando luz sobre as falhas e os
crimes cometidos, inclusive por elementos das forças de segurança, que deveriam
proteger os cidadãos.
A banalização
do Mal, a passividade ou a normalização de condições de vida desumanas e de
exploração em herdades e comunidades rurais (como no Alentejo e Setúbal) é um
aspeto vergonhoso que tem sido sublinhado pelos comentadores e jornalistas que acompanham
o caso. Como é possível ninguém se ter apercebido de nada? Como? Desta vez,
foram os imigrantes, amanhã serão os nossos vizinhos, depois os nossos amigos e
família e, finalmente, seremos nós. Que vergonha!
Os
detalhes são escabrosos e sempre têm pontos semelhantes, a outras situações,
que ocorrem noutros lugares, até noutros tempos.
Retirar
documentos de pessoas frágeis, em território estranho, impor o medo e a
dependência extrema, fazem parte da velha técnica. A vulnerabilidade destas
pessoas torna-as alvos fáceis para redes criminosas, permaneçam legal ou
ilegalmente no território.
A
Justiça tem agora a responsabilidade de aplicar castigos severos e rápidos, que
sirvam de exemplo para não se repetirem. Receio que tudo seja esquecido daqui a
umas semanas.
Estes
casos trágicos servem como um alerta para a sociedade portuguesa sobre a
necessidade de vigilância constante, solidariedade e de políticas eficazes que
garantam a integração e a protecção de todos os residentes no país,
independentemente da sua origem.
Parece
que os proprietários das herdades não são os arguidos principais nos processos
de tráfico humano, embora a situação varie. O esquema frequentemente envolve
empresas de subcontratação ou angariadores de mão-de-obra que servem de
intermediários. Estes gerem diretamente os trabalhadores, ficando responsáveis
pelo seu alojamento (muitas vezes em condições degradantes), transporte e
pagamento.
Até
que ponto os proprietários das terras, que contratam os serviços destas
empresas intermediárias, podem não ter responsabilidades? Então nem sequer têm
curiosidade de falar com os trabalhadores para ver se tudo corre bem, se lhe
pagam e principalmente o que fazem agentes da GNR dentro da sua propriedade?
Isto será uma negligência conveniente da parte de quem tem grande interesse
económico nos seus bens? Como se costuma dizer, parece-me que a procissão ainda
vai no adro.
Não
sei quantas horas trabalham, o testemunho de uma trabalhadora (pareceu-me ser
mulher, não consegui ver de novo) dizia até um pouco conformada, que recebia 80
euros por mês, mas que vivia num alojamento com água e luz, como se isso fosse
algo a valorizar nesta barbárie.
Em
pleno século XXI, estou triste.
Publicado em NVR 03|12|2025
Acabei de ler. Se eu fosse realizadora de cinema, este livro daria um bom filme, sem ter que imaginar muita coisa. Um tema e uma ruralidade espantosos.
CONTRADIÇÕES MARADAS
A política
de alguns partidos está ansiosa, há muitos anos, para alterar a lei da greve. Por
que será?
O
direito à greve, é um direito fundamental dos trabalhadores, consagrado na
Constituição Portuguesa, artigo 57.º (1976), e sofreu alterações em 1982 coma a
AD, 1989 e 1997 com Cavaco Silva. O que se esperava com Montenegro? Tão
previsível!
A
greve é o direito dos trabalhadores paralisarem a sua actividade laboral, de
forma pacífica, para defender os seus interesses profissionais e sociais. Isso
significa que os trabalhadores têm o direito de decidir não trabalhar, sem
sofrer represálias ou sanções, para pressionar os empregadores ou o governo a
atender às suas reivindicações, como melhorias salariais, condições de
trabalho, etc.
O
direito à greve é um instrumento importante para os trabalhadores negociarem
com os empregadores e é protegido pela lei, desde que seja exercido de forma
pacífica e respeitando os limites legais.
Mesmo
assim, José Sócrates em 2009, não resistiu em definir os serviços mínimos, já
que não conseguiu gerir alguns conflitos laborais:
·
Serviços de saúde e assistência médica
·
Serviços de segurança pública
·
Serviços de abastecimento de água e energia
·
Serviços de comunicações
· Serviços de transporte aéreo
· Outros serviços considerados
essenciais para a segurança e bem-estar da população
Os
quatro primeiros já bastavam e compreensíveis, os dois últimos abriram portas
para alguns políticos aguçarem os dentes.
Agora Luís
Montenegro, propôs alargar os serviços mínimos a mais sectores, incluindo
creches, lares, abastecimento alimentar e serviços de segurança privada de bens
ou equipamentos essenciais, como parte do pacote laboral.
E eu
questiono-me mais uma vez, sobre o que é uma greve? É só para encher os
noticiários, descontar os dias de greve aos trabalhadores, e autorizar
manifestações de rua?
Qual é
o resultado se a sociedade não for lesada de alguma forma? Estamos com crises
de identidade ou a olhar cada um para o seu umbigo? Já não sabemos onde se
posiciona o fiel da balança?
Já não
bastam os trabalhadores com contractos precários hesitarem em fazer greve, com
receio de represálias? E aqueles que trabalham clandestinamente?
E
quais são as reivindicações dos trabalhadores, que os fazem declarar greve:
· Melhores salários
· Melhores condições de trabalho
· Redução da carga horária
· Estabilidade no emprego
· Direitos laborais
· Outras questões específicas do sector
ou empresa.
A
greve é um meio dos trabalhadores fazerem ouvir a sua voz e lutarem pelos seus
direitos e interesses. Se os governos definem serviços mínimos muito amplos, o
impacto da greve é reduzido, quantos mais serviços essenciais continuam a
funcionar, menor é a pressão sobre os empregadores ou o governo.
Exige-se
reflexão e saber de que lado nos posicionamos.
Salve-se
quem puder? E onde fica a dignidade e o respeito pelo ser humano e as suas
condições de vida?
Publicado em NVR 19|11|2025
PLAZA MAIOR - SALAMANCA
Para apreciar pela primeira vez, em noites frias e com muita luz, em boa companhia.
Sugestões já sugeridas neste jornal
Numa tentativa de
melhoria rápida de alguns pontos negros da cidade, para haver algum
desbloqueamento do trânsito em horas de ponta, é necessário reflectir sobre
certas situações, para melhorar significativamente a urbanidade dos Vila-Realenses.
É sempre bom reconhecer falhas, rever conceitos sobre o funcionamento urbano e criar
novas soluções, que resolvam problemas das pessoas. Numa cidade feliz é urgente ter
cidadãos felizes, sem filas de trânsito e que os automóveis não encham as ruas.
1 - Após o Domingo de eleições, os
bancos de granito localizados no acesso ao Hospital da Luz foram removidos. Não
sei para onde foram, espero que não voltem para o mesmo sítio, já que
condicionavam o acesso automóvel, ao Hospital da Luz.
2 –A Avenida da Europa exige a
deslocação de uma paragem de autocarro e localização de pequena rotunda, para
não se duplicar o trânsito e facilitar a saída da Escola Diogo Cão.
3 – O mesmo problema na saída da Escola
Morgado de Mateus, na ligação com a Rua Nossa Senhora dos Prazeres.
4 – Gosto do Pioledo com 2 sentidos,
porém há que resolver a circulação dos automóveis, que descem a Rua D. Dinis e
pretendem virar à esquerda, evitando dar a volta ao Mercado.
5 – O conhecido cruzamento do
sinaleiro, não precisa de obras futuristas descabidas para esta cidade.
Necessita apenas de um novo acesso à ponte, contornando o edifício da
marisqueira Amadeos, para que a ponte funcione nos dois sentidos, sem sinais
luminosos. Sugeri esta solução há muitos anos, aqui neste jornal. Esta seria uma obra um pouco mais complexa e
deveria ser a oportunidade para renovar a Av. 1.º de Maio, alargando o passeio
marginal, transformando-o num grande passeio público, cobertura de um
estacionamento inferior de dois pisos, capaz de resolver alguns problemas: paragem
segura para autocarros de turistas, que se dirigem ao museu ou ao centro
histórico, animação do comércio da Av. 1.º de Maio, apoio ao Centro de Saúde e
requalificar aquela vertente do Corgo, que apresenta algumas construções
clandestinas, que degradam a paisagem, e atrofiam o caminho pedestre que vai
até à parte inferior da ponte metálica. Um grande estacionamento, arquitectonicamente
integrado na margem direita do Corgo, resolveria o acesso que todos querem ao
centro da cidade. A ideia não é nova, já houve um projecto, mas desconheço-o. Um
estacionamento não tem que ser um mamarracho, pode ser discreto e muito útil. Veja-se
o exemplo da Cidade Histórica de Toledo, Património Mundial da UNESCO como resolveram a proximidade ao centro
histórico com um grande estacionamento numa das suas vertentes, perfeitamente
integrado na volumetria da cidade. Esse grande passeio público que proponho, poderia
ser polivalente: zona de permanência virada para o rio, aproximando-o da cota
alta, com um alinhamento de diversos MUPIS, para divulgação cultural, e
funcionaria como o grande ponto de contacto dos visitantes com a cidade, com
acolhimento cultural e paisagístico único, sem criar conflito com o trânsito
diário da cidade.
O que temos agora? Um museu sem
espaço para acolher um autocarro. Os autocarros ou param no estacionamento do
Hotel Miracorgo, ou param no meio da Av. 1.º de Maio, sem segurança e complicando
o trânsito.
6 – Finalmente peço um sinal, a
colocar no acesso ao restaurante Panorâmico da UTAD, informando os
automobilistas que a partir de certo ponto, a rua tem 2 sentidos.
Nesta cidade criou-se
um mau-estar ao falar-se de automóveis, pois realizou-se toda uma reorganização
a favor dos peões, e muito bem. Agora é necessário resolver os pontos de
conflito, ou seja, alguns problemas que daí resultaram, próprios de cidades desta
dimensão.
Publicado NVR, 12|11|2025
Banda desenhada
Hoje tenho a tarde por
minha conta.
Tarde chuvosa, as
folhas acentuam a alopecia das árvores, uma poltrona em espaço aquecido, a hora
mudou, uns blues de musiquinha de fundo e um livro do Asterix à minha espera:
“Asterix na Lusitânia”.
Entrei para o mundo da
leitura pela porta da BD e é sempre bom voltar.
Investi muitas horas a
ler BD, sou daquelas que colocava a revista de BD no meio dos livros escolares
e fingia estudar, quando a minha mãe espreitava para vigiar o que eu andava a
fazer.
Mais tarde como professora
de Artes Visuais, explorei muito essa área com os meus alunos. Parecia
motivante, os alunos aderiam muito bem a estas actividades, mas rapidamente
descobriam que é uma das formas de comunicação mais difíceis. É considerada a 8.ª
arte. O resultado é brutal, porém o processo construtivo é extremamente
complexo.
É necessário conhecer
toda a linguagem própria da BD, ter uma narrativa interessante e apelativa,
dividi-la por partes, criar um guião ou um roteiro, articular as partes com
desenhos, criar diversas pranchas (páginaa), organizar tiras e vinhetas, com
geometria e regras de composição já interiorizadas.
De seguida é necessário
fazer diversos esboços para serem seleccionadas as personagens que entram na narrativa,
para se desenhar no interior de dada vinheta; inventar os planos, os cenários, planear
os espaços para os cartuxos, as legendas, e os balões. Decidir se há narrador
ou não…
Tudo deve estar
perfeitamente em sintonia, o texto e a imagem sofrem constantes avaliações,
correcções ou adaptações. Depois tem de haver a habilidade de desenhar cada
personagem com o mesmo rosto, corpo e vestuário nas diversas vinhetas. É
necessário escrever o texto alinhado na horizontal e integrado à forma de cada
balão, desenhar onomatopeias e signos cinéticos, que dão som e movimento à
narrativa, prendendo a atenção do leitor.
Depois de tudo vem a
cor, com uma simbologia própria capaz de gerar emoções, e contrariar a
monotonia de cada tira ou prancha.
Finalmente é preciso o
leitor ler, gostar, criar empatia imediata e ultrapassar o gostar; é necessário
criar um vínculo com o leitor, para que volte, leia outra vez e entusiasme os
amigos a ler também. O leitor não se pode cansar a ler BD, se isso acontecer
ele abandonará o livro e não voltará mais.
A BD nasceu por volta
dos anos 30 do século passado, inicialmente impressa depois digital. Pode ser
uma simples tira, uma página inteira, uma revista ou um livro. Inicialmente,
quando tudo era desenhado manualmente, envolvia sempre grandes equipas para concretizar
tão grande empreitada. A tecnologia simplificou muitas tarefas. Se um livro é
difícil de executar, uma BD é muito mais difícil.
A BD é uma das maiores
artes de comunicar. Contam histórias de forma visual e emocional, criando uma
conexão forte com os leitores. A ilustração oferece uma experiência visual
única, há diversos géneros e personagens inesquecíveis e integram aquilo a que
se chama a cultura popular.
Quero aqui deixar
homenagem a todos os autores que animaram a minha geração, e são muitos, desde
os livrinhos de cowbois à Disney, e deixando a indicação para os mais novos
leitores, Tintins, Mafaldas e Asterix são imperdíveis.
Publicado em NVR, 05/11/2025
Voz: Anabela Quelhas
file:///E:/radio/audio/149%20-%20onde%20vais%20-%20barbara%20bandeiraa.mp3
Música: Carminho
https://www.youtube.com/watch?v=gIP1hwTJOvs
A política está complicada.
Palestina | Israel - um
acordo frágil, já ninguém acredita em nenhum dos lados, nem em Trump. Nós,
ocidentais, não percebemos nada sobre este assunto milenar sem solução
satisfatória para as partes.
É urgente a paz!
Trump é vaidoso,
gostaria mesmo de um Nobel da Paz, mas penso que terá de se portar bem, durante
algum tempo. Génio diplomático? Será? A caneta que assina documentos é daquelas,
cinco ponto zero, adequada a míopes, e ele gostaria muito de a usar em Oslo.
[A propósito de Nobel,
Lobo Antunes, mais uma vez ficou para trás – falta-lhe uma Pilar.]
Temos uma pausa, temos
um cessar-fogo precário, mas não vislumbro nenhum acordo de paz. Espero estar
enganada. O que haverá após um nó cego, a guerra, o caos, o inferno? O que vem
aí? Não faço ideia. Talvez seja o fim do mundo; o recomeço com a fisga, a
pedrada, o arco e a flecha é uma probabilidade.
Agora nós!
Favaios sai vencedor e
muito bem, visivelmente mais bem preparado do que os outros, mas com pouco
destaque nos orgãos de informação nacionais. Portugal continua a ser Lisboa e
Porto e se querem que eu seja franca, às vezes até penso que se vive melhor
assim – pensamento geriátrico que me ataca as articulações no início do Outono.
Digeridas as
autárquicas apresentam-se os preparativos para as presidenciais. A sociedade
movimenta-se.
Sinto-me perplexa,
confusa, por vezes ponho em causa a minha própria lógica. Não aprecio nenhum dos candidatos, por
diversos motivos. Acho que vou deixar de ter leitores e espero que não me
insultem na rua. Considero que nenhum tem perfil de líder carismático, capaz de
seduzir multidões, com boas estratégias e bons projectos enquadrados nos
poderes presidenciais. Aguardo que me façam mudar de ideias, não conheço nenhum
pessoalmente, nem fora do rectângulo do meu computador.
Li num semanário:
Homens de meia-idade
estão com o almirante.
Marques Mendes
conquista as mulheres. (acrescento: não sei por quê)
Seguro é o preferido
dos mais jovens e dos mais velhos.
O Outro, digo eu, uma
incógnita.
Já me vejo a comer
sapos e a engoli-los numa segunda volta, quiçá numa primeira, rematando com
embalagem de kompensan-S durante todo o mandato.
O que me inquieta, e
traz-me preocupada, é que aprecio mais Rui Rio e Rui Moreira como mandatários
de diferentes candidatos, do que os próprios candidatos. Isto não é normal!
Isto é uma inversão das circunstâncias. Nunca me aconteceu, estou a ficar com
síndroma presidencial, ou insensibilidade a argumentários dejá vu, ou
visão raios X Blimunda do século XXI.
Ainda faltam 3 meses,
será melhor marcar consulta no psiquiatra, para meditar do divã e fazer uma
regressão, para melhorar o meu auto-conhecimento? Juro que gostaria de dar o
peito às balas por um candidato, mandar imprimir uma t-shirt com o rosto de um
deles, distribuir panfletos, acenar com bandeirinhas e até inventar umas
palavras de ordem para gritar nalguma manif. Mas não dá, estou desmotivada.
Manuel João Vieira de
novo?
Para ampliar a minha desolação,
Raquel Varela é dis(des)pensada (pedida) e pretendiam substituí-la pelo
influencer Gonçalo Sousa, amuado daquele partido que faço questão de não
escrever nunca o nome, com
pensamento altamente corrosivo sobre vários assuntos, auto-titulado macho
tóxico.
Venha o Almirante e os
kompensans!
Vou mazé ouvir o
organista Przemyslaw Kapitula – uma das coisas muito boas desta cidade, que
poucos usufruem, porque não querem. E depois vou jantar, num sítio onde se possa
cear por volta das 23h, que ainda não sei onde será. Há pouco por onde
escolher, para além do famigerado hambúrguer. Lá se vai o glamour de uma
ceia, após um concerto, em boa companhia.
Publicado em NVR 22|10|2025
Voz: Anabela Quelhas
file:///E:/radio/audio/142%20-%20Nini%20nos%20meus%20quinze%20anos-%20Paulo%20de%20Carvalho.mp3
Música: https://www.youtube.com/watch?v=BwMxjSuQtT0