11 junho, 2025

O sermão de Santo António aos peixes

 


O sermão de Santo António aos peixes

 

O sermão de Sto. António aos peixes, é mais conhecido na sua repercussão na acção do Padre António Vieira contra a desumanidade com que os colonos portugueses tratavam os índios, no Brasil do século XVII, do que na sua versão original, com o António de verdade do século XIII.

O sermão é uma alegoria onde a história dos peixes é usada para transmitir uma mensagem sobre a conduta humana, criticando os vícios e exaltando as virtudes. Adequa-se a todos os tempos, é intemporal, mas exige, raciocínio e pensamento crítico por parte dos ouvintes sobre o tema: a variedade enorme de peixes que existem, o que fazem para se comerem mutuamente e a sua ambição de poder, atitude aplicável ao ser humano que ambiciona o poder e é corrompido por ele.

Frei António era um orador eloquente e distinto que viveu no século XIII, e considerava a humildade como a virtude mais importante.

Em 1223, estava António em Rimini (Itália), cidade conhecida como berço das heresias, sobretudo dos Cátaros que desafiavam a autoridade da Igreja Católica, perante uma multidão de hereges que não davam crédito às suas palavras proferidas com o objectivo de trazê-los à “luz da verdade”. A presença de António incomodava-os, ao que estes respondiam com palavras ríspidas, desconsiderando as suas pregações. Desapontado, dirigiu-se à foz do Rio Marechia e suplicou a Deus por inspiração divina. Aproximou-se da água e começou a chamar os peixes.

“Ó peixes, meus irmãos, vinde vós ouvir a palavra do Senhor, já que os infiéis fazem dela pouco caso!”

E logo se reuniram diante de António imensos peixes, grandes e pequenos, de várias espécies. E todos eles punham a cabeça para fora d’água, respeitando-se e ficaram a ouvi-lo, atentamente. [os cépticos devem perceber que na vontade de Deus tudo pode acontecer]

Foi um grande espanto ver os peixes grandes nadarem com os mais pequenos, e os pequenos sem medo, nem perigo, passarem sob as barbatanas dos maiores em segurança, resultando um grande auditório organizado, com os peixes a tomarem o seu lugar para assistir à pregação, ficando quietos sem fazer barulho; e os peixes pequeninos chegavam-se ao orador como se ele fosse o seu protector.

“… meus irmãos peixes, vós deveis agradecer ao vosso Criador por vos ter dado um elemento tão nobre no qual viver… água salgada. Deus deu-vos muitos abrigos contra as tempestades e alimento para viver.”

“…Deus deu-vos a sua benção. No grande dilúvio Deus preservou somente a vós, sem dano ou prejuízo… Vós fostes a comida do Rei eterno, Cristo Jesus, antes da Ressurreição e, de novo, depois dela,… quando nosso Senhor… comeu peixe na praia com os seus apóstolos. Por todos esses favores, vós deveis louvar e bendizer a Deus que vos concedeu tantos benefícios.”

Benedetto (um dos hereges) confuso não sabia para onde olhar e o que pensar. A multidão influenciável ia chegando ao local constatando o milagre e tirando as suas conclusões.

“Bendito seja o Deus eterno, pois peixes da água honram-no mais do que pessoas que negam a sua doutrina. Os animais irracionais escutam mais prontamente a palavra de Deus do que a humanidade sem fé.”

As pessoas prostraram-se com humildade aos pés do Santo, buscando a sua orientação e ensinamentos. O servo de Deus, ao tomar a palavra, pregou de forma tão excelente e convincente que conseguiu converter ao catolicismo, os hereges presentes, além de fortalecer a fé daqueles que já eram fiéis. Após a sua pregação, despediu-se de todos com alegria e uma bênção, deixando uma impressão duradoura de fé e esperança na comunidade.

“… minha boa gente e meus queridos peixes, obrigado por ouvirem com o coração. Voltem agora em paz para casa.”(adaptação)

As águas movimentaram-se e borbulharam. Quando Benedetto enxugou os olhos e conseguiu ver de novo, a superfície da água estava coberta de círculos resultantes do mergulho dos peixes sob as ondas.

Esta história do catolicismo é uma metáfora utilizada, quer por religiosos, quer por ateus, para criticar a ignorância e a indiferença dos homens diante da verdade. A comparação entre o comportamento dos peixes e o dos humanos serve para alertar sobre as consequências do orgulho e da desumanidade em diferentes contextos históricos.

Padre António Vieira aludiu a este sermão e através da história dos peixes, demonstrou os vícios dos homens, como a ambição, a violência, arrogância e a falta de respeito, em contraste com as virtudes dos peixes, como a sua submissão e a organização, convidando à reflexão sobre a natureza humana, a fé, a virtude e ao combate às más acções através do entendimento e do respeito mútuo. A sua utilização por Vieira reforça o seu poder de crítica social e moral, tornando-o uma ferramenta de transformação e consciência coletiva, ainda hoje urgente e actual.

Publicado em NVR. 11|06|2025 

Imagem: Jorge de Faria Moreira

"MOTIVO" - Cecília Meireles



Voz: João Carlos Carranca

DIOGO PIÇARRA



 

09 junho, 2025

De crisálida a borboleta

 


              Há vinte e quatro horas, eu era uma adolescente alegre, despreocupada, feliz e hoje transformo-me numa mulher. Despi a adolescência em Luanda, pouco antes de entrar no Aeroporto Craveiro Lopes, com destino a Lisboa, já sem esperança de regresso breve. Abandono essa fase de transição da vida e adquiro competências rápidas para aceder à maturidade social.

              Entro na idade adulta, tal como uma crisálida que se transforma em borboleta, da noite para o dia, encurtando preguiças, dúvidas juvenis, inseguranças, rebeldias e acelerando a autonomia, a tentativa de um maior discernimento e responsabilidade da maturidade.

              É nesse estado do meu desenvolvimento holístico que entro no avião, desconhecendo onde me levará esta metamorfose activa que levo comigo.

              Tento resistir ao choro. Não entendo esta retirada precipitada, desconheço razões que justifiquem a determinação do pai em sair e não voltar a Luanda, após as férias. Despedi-me da minha cidade, contrariada, receando nunca mais ver os meus amigos. Nasci e vivi em Luanda os últimos anos. Sete anos, os melhores anos da minha vida, com o desabrochar da minha personalidade, da minha rebeldia, o desenho das minhas convicções e valores, numa cidade encantada, cheia de contradições e de assimetrias, mas motivadora, exuberante, apostada em crescer e em desenvolver o potencial de um território.

              Após a ceia servida a bordo, já passa da meia-noite, os pais tentam dormir. Fingimos dormir. De olhos fechados, penso em tudo que se passou nestas últimas vinte quatro horas e a despedida inesperada da cidade de Luanda, determinada pelo pai, mês e meio após a Revolução dos Cravos[1]. Luanda parecia serena e tranquila, reinava a paz em todas as ruas, porém, o pai considerou que retirar a família para a Metrópole, agora, é a decisão mais sensata e assertiva.              

              Fingimos dormir. Sim, fingimos. Como alguém poderá dormir vivendo este trambolhão impensado? Ao contrário das outras viagens de avião, não me interessa em que lugares viajamos, se vou ou não à janela, nem presto atenção a ninguém. Faço um balanço da minha vida e das inseguranças que me invadem nestas últimas horas, de olhos fechados tento controlar a minha respiração, tornando-a aparentemente regular, cadenciada e serena. Sinto que parte da minha vida foi amputada sem eu perceber as razões, e esta ferida marcar-me-á para a vida. Não me matará, mas irá moer-me toda a vida sem escolher hora ou local.

              Não consigo projectar-me no futuro, prever o que acontecerá em Setembro, quando se iniciar um novo ano lectivo, e como me irei organizar. A caminho do aeroporto, o meu pai deu indicações precisas à minha irmã que ficou em Luanda, para ir ao liceu, obter o meu certificado de habilitações do 6º ano / 1º ano do Curso Complementar e enviar com urgência para a Metrópole.

              Vou dormitando por cansaço, encostada ao braço do pai, ou melhor dizendo, o sono tropeça em mim ao longo da noite. A minha cabeça parece um labirinto de ideias e situações que me empurram para este amadurecimento repentino e prematuro, que se traduz anatomicamente, num brutal nó na garganta. Apesar de contrariada, ainda no interior do avião, decido não pressionar os pais com o regresso a Luanda. Esta mudança repentina na nossa vida, deve ser ainda mais penosa e complexa para eles, que já têm cinquenta anos e grandes responsabilidades. Aguardarei serenamente, tentarei não criar conflitos, fingirei até algum entusiasmo para que não se preocupem comigo. Terei de aprender a digerir tudo sozinha. Serei uma óptima aluna para fazer o meu curso rapidamente, se o pai conseguir suportar as despesas, confio que sim.

              Chegamos a Lisboa, sem grandes conversas, uma viagem inundada por mutismo e pessimismo. Esta viagem não se reveste de alegria nem de entusiasmo, como todas as anteriores, em que eu exteriorizava por excesso, a minha adolescência divertida e irónica. A minha metamorfose despe-se de amigos e conhecidos, recheando-me de um grande vazio existencial e revolta, sem saber o que será o meu futuro e o da minha família e o que faço ao passado. Parece-me que dispo uma túnica leve e fresca e visto uma camisa-de-forças, contendo-me, apertando-me e sufocando-me. Não me foi dado poder de decidir sobre ficar ou partir, porque apenas tenho dezasseis anos e não sou autónoma.

              Em Lisboa, não vejo militares nas ruas, nem cravos nas mãos das pessoas, como eu imaginava, vejo cerejas, lá estão elas na rua a vender, tudo parece normal, com mais animação transpirada em frases escritas em paredes, apelando à Revolução de Abril. O entusiasmo de algumas pessoas contrasta com o nosso constrangimento, a nossa contenção, os nossos sucessivos nós na garganta. Os táxis continuam a cheirar a combustível, a estofo mal lavado e o rosário continua pendurado no espelho retrovisor, a oscilar a cruz durante a viagem. Lisboa continua movimentada e parece-me iluminada já pela luz do Verão. Oiço uma carrinha com um megafone a percorrer as ruas perto do aeroporto, emitindo uma canção que apela à revolução e anuncia um comício.

In "De cereja em cereja beijo o verão"

09|06|1974



[1] O silêncio do kisanji, segundo livro desta trilogia.

"LUSÍADAS" - Luís Vaz de Camões

 



Voz: Anabela Quelhas







08 junho, 2025

LOCOROTONDO

 



LOCOROTONDO, na região de Puglia, Itália, é uma cidade de planta antiga e histórica, caracterizada pelas suas ruas estreitas e arquitetura medieval. A sua origem remonta ao ano 1000, e o nome "Locorotondo" significa "lugar redondo", referindo-se à forma arredondada da cidade, que antigamente era cercada por muralhas. Tem uma planta antiga característica e circular, com o seu centro histórico construído em anéis concêntricos.

A cidade surgiu como uma aldeia vinculada ao mosteiro beneditino de Santo Estêvão e é visível a influência grega. 


04 junho, 2025

Livros Pop-up

Hoje estive no Karranca às quartas com os livros Pop-up.

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BEBÉS REBORN

    A origem das bonecas remonta à Antiguidade, sendo encontradas no Egito Antigo, por volta de 2000 a.C., executadas em madeira, barro ou outros materiais. Inicialmente, não tinham a função de brinquedo como as conhecemos hoje, eram objectos fúnebres encontradas em túmulos, sugerindo a crença que numa vida após a morte as crianças poderiam brincar ou então era uma suposta representação da criança falecida. Elas também eram dedicadas a deuses, como Afrodite, em rituais que pediam sorte no amor.

Na Idade Média, a Igreja Católica passou a considerar as bonecas como objectos ligados à feitiçaria, o que levou a perseguições e queimadas de bonecas e das suas proprietárias.

A partir do século XVIII, com o desenvolvimento da indústria, as bonecas começaram a ser produzidas em larga escala e a popularizar-se como brinquedos infantis.

Actualmente os bebés Reborn são “bonecos extremamente realistas, feitos para parecerem bebés verdadeiros (reborn = renascido). Eles são criados com detalhes minuciosos, como pele, cabelos, unhas e até veias, utilizando materiais específicos que proporcionam uma aparência natural e uma sensação semelhante à de um bebé real ao toque.” (IA)

A sua representação é cuidadosa e detalhada. Para além do rosto fofinho, temos o corpo representado de forma realista que impressiona e assusta.

A tecnologia bebé Reborn deu um salto gigante. O processo de fabrico é altamente tecnológico, com scanarização de rostos reais para gerar moldes hiper-realistas, contando com a impressão 3D. O uso da tecnologia bebé Reborn reduz tempo de produção e garante modelos mais consistentes, concluídos depois com pintura digital que simulam tons de pele, luminosidade, vasos sanguíneos, manchas e micro-detalhes, recorrendo a diversos softwares e à inteligência artificial. como assistente de criação.

Hoje existem comunidades, tutoriais on line, com webinars, workshops, grupos de Facebook, fóruns e canais de Telegram recheados de informação sobre esta recente loucura dos bonecos com detalhes tão realistas que chegam a enganar os olhos mais treinados.

E para que servem? Como primeiro destino está a parte lúdica das crianças, depois os coleccionadores e finalmente a parte mais estranha, são utilizados para fins terapêuticos.

Algumas pessoas usam esses bonecos como companhia, especialmente aquelas que passaram por perdas, problemas emocionais ou que têm dificuldades em se relacionar com bebés reais - esta é a parte considerada por mim, como terapia obscura da saúde mental.

Dizem que: “existem programas terapêuticos, onde os bebés Reborn ajudam crianças com necessidades especiais, idosos ou pessoas com transtornos emocionais, a desenvolver empatia, cuidado e rotina. Para muitas pessoas, os bebés Reborn podem desempenhar um papel importante na saúde emocional e mental. Eles podem ajudar a aliviar a ansiedade, a solidão e a tristeza, proporcionando uma sensação de conexão e cuidado. Para alguns, cuidar do boneco é uma forma de expressar o desejo de maternidade ou paternidade, ou de manter viva a memória de um bebé perdido. “

Até que ponto é uma terapia e não uma paranóia? As questões emocionais não resolvidas, com rigor, como o luto ou solidão, não devem ser tratadas no divã dos psiquiatras e psicólogos? Inquieta-me a tentativa de preencher vazios afectivos com o que nunca poderá ser humano.

Vivemos tempos em que a fronteira entre fantasia e realidade está cada vez mais diluída, nem sempre de forma saudável.

Quanto a mim, sobre este tema só aproveito o processo de produção, de investimento financeiro gigantesco, que deveria ser destinado para resolver problemas estéticos de mutilados por doença, trauma ou amputação, que necessitam de próteses realistas, confortáveis e adaptadas.  

 Publicado em NVR 04|06|2025

" MORRER DE AMOR É ASSIM" - Joaquim Pessoa


Voz: Joaquim Pessoa

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01 junho, 2025

Storytellers Palace










ANTECIPANDO

Rua Capitão Jaime Pinto, nº6 - S. Martinho do Porto 


 

"PANÓIAS, UM LEMBRETE PODEROSO"

 


"PAISAGENS LITERÁRIAS" coletânea.

Estou na página 66 com o meu texto "Panóias, um lembrete poderoso"

30 maio, 2025

"UM POETA" - Mário Henrique Leiria



Voz: Anabela Quelhas

"POEMA DA AUTO-ESTRADA" - António Gedeão



Voz: Anabela Quelhas

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Perder a democracia no voto

 

Perder a democracia no voto[i]  


Pare de arranjar justificações viáveis e aceitáveis para esta derrota da esquerda! 

A esquerda saiu derrotada nestas eleições! O PS perdeu cerca de 400 mil votos, o PCP perdeu 22 mil votos, o Bloco perdeu cerca de 150 mil votos.

Previsível, mas nem tanto. Todos nós portugueses temos pelo menos um emigrante e um perseguido político na família do tempo da outra senhora, reconhecemos que todos deveriam estudar, todos recorremos ao hospital público quando a saúde desanda, todos conhecemos alguém que algum dia viveu numa pobreza extrema, todos reconhecemos a importância da lei e dos tribunais, e defendemos direitos iguais para todos, porém a democracia funciona assim, ganha e manda quem tem mais votos.

A esquerda há muitos anos que prefere a desunião, em vez de unir forças para construir um Portugal melhor. Olham para o próprio umbigo, divididos nos seus egos e considerando que são os maiores e únicos, em vez de se unirem em princípios comuns ou próximos, e converter fraqueza em força para entender o que se passa em Portugal e no resto do mundo. Cada um pretende ter um partido só para si, feito à sua medida, evidenciando uma profunda ausência de responsabilidade e embarca num processo utópico que deu mau resultado: este resultado. Claro que a diversidade enriquece, mas vivemos tempos em que a democracia pode estar em risco, assim como a Constituição da República, o estado social, a escola, a saúde e urge não perder tempo.

Juntando toda a esquerda, nestas eleições, não as ganhariam, mesmo assim, nem tudo são números visíveis. Os pequenos partidos que não conseguem eleger deputados, desperdiçam votos ou embarcam no voto útil. Os que desperdiçam voto, pertencem aquele grupo de eternos sonhadores, que acreditam que um dia será possível. Os que fazem voto útil, vivem numa frustração infinita, entalados entre o dever e o escolher o mal menor. E como sabemos, o que não é “regado” não dá frutos e seca.

A esquerda tem vindo a secundarizar os direitos de quem trabalha e das suas causas essenciais, que são a estrutura tradicional da esquerda: a defesa dos mais fracos e desfavorecidos, procurando uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais solidária. A estratégia de vir para a rua reclamar e fazer greve, ou enterrar a cabeça na areia e empolgar questões mais secundárias, em certos contextos, já não resulta. É preciso reinventar e criar uma nova unidade e ter votos para estar na Assembleia da República e depois tomar decisões.

Estas eleições foram construídas mais pela “desescolha” do que pela escolha. Foi um verdadeiro cartão vermelho aos governantes, desde o centrão até à esquerda radical. Perder a democracia no voto, é algo estranho e muito grave. É um murro no estômago.

Os partidos da esquerda sofrem todos de um complexo da liberdade, que os tolhe, escolhendo deixar andar, em vez de resolver problemas. Evitam apoiar reformas, sempre preocupados com os “coitadinhos”. A boa intenção de estar sempre do lado dos mais fracos, tolda-lhes a racionalidade, para fazerem reformas que podem resolver grande parte dos problemas deste país. Uns são sempre do contra, porque não gostam do PCP, outros inflexíveis porque se focam em causas complexas, válidas, mas que envolvem minorias e ainda outros, que se fiam que tendo maiorias conseguem acertar rotas cegas neste país desgovernado, sem apoio dos outros. Está na hora de unir e cortar caminho com uma oposição forte, unida, séria, racional, criativa e estratega. Não interessa quem tem mais militantes, interessa unir recursos e estratégias.

Temos uma escola pública desgovernada, que é mais escola de pais do que de alunos e professores, temos hospitais privados a serem pagos para fazer serviço publico, temos uma justiça demorada, com fugas de informação, temos falta de habitação atribuindo-se culpas, erradamente, aos investidores privados, temos necessidade de mão-de-obra dos emigrantes, mas não queremos estabelecer regras para os receber, temos privatizações selvagens e depois panicamos com simples apagão, temos os policias que não podem agir perante a desordem, temos quem roube no supermercado e vai “dentro”, em oposição aos Ricardos Salgados da vida, que continuam impunes, temos os nossos filhos que emigram, e saltitam de lugar em lugar sem possibilidade de formar uma família, temos muitos reformados com reformas miseráveis, temos aqueles que abandonam os pais, ignoram os filhos, mas andam com o cachorrinho ao colo, temos os problemas de identidade, que querem trocar de sexo, temos a violência doméstica em que pouco se protege as vítimas, temos também os jovens que acham que o dinheiro cai do céu sem esforço e cujos ideais são passar férias e ir a concertos, temos os ambientalistas que não dispensam o seu banho diário, o conforto no lar e o seu carrinho à porta, temos um bando de críticos de sofá que fogem aos impostos e se colam a tudo que seja benesse individual, temos aqueles que censuram o rendimento mínimo, em vez de odiar o oportunismo,  temos falhas na legislação para resolver problemas, temos uma comunicação social paupérrima que privilegia a notícia com impacto, tanto pela positiva como pela negativa, dando canal à alarvidade e â bizarrice, esquecendo-se dos princípios e dos valores da sociedade, temos o grande partido do abstencionismo com 36% de irresponsáveis e temos um partido sôfrego para absorver todas as problemáticas, que surgem num país democrático, para atrair e manipular eleitores, como se eles tivessem formulas mágicas para resolver todas elas, e que põem todo o país em sobressalto.

Começa-se a desenhar o medo na liberdade de expressão.

Os portugueses querem viver melhor e têm esse direito! E a bitola deve ser sempre ambiciosa, mas não ambicionemos o paraíso, nem sociedades perfeitas, porque isso é utopia.

Não chore pelo leite derramado, nem avalie os que votaram à direita como burros e idiotas, quando muito são influenciáveis na sua esperança inata de viver melhor, esquecendo-se, a maioria, que os seus interesses de classe média ou de classe mais desprotegida, nunca serão defendidos por partidos de direita. A direita sempre defendeu o capital, ponto!

Não cruzem os braços, estabeleçam uniões entre os partidos que defendem causas sérias e justas, para podermos votar neles em todo o país. Não podemos desperdiçar votos! Só há esta saída. Desta vez a AD ainda assegurou a maioria, na próxima pode não conseguir. 

Somos um país considerado pobre, que não pode permitir deslizes financeiros ou maus investimentos, que descredibilizem a democracia; é urgente rigor sem desumanizar a sociedade.

Vivemos 51 anos de democracia e liberdade, com muitos problemas, mas parece que ainda não inventaram nada melhor, assim sendo, não cruzem os braços. Perder a democracia no voto, é que não! Porque depois virá o silêncio, o medo e a escuridão.



[i] Apanhei na internet.

Publicado em NVR 28|05|2025

25 maio, 2025

A UMA HORA INCERTA

Realização: Carlos Saboga

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O TEMPO DO CÃO


 

23 maio, 2025

A ALMA DO SR. HITCHCOCK


 "A ALMA DO SR. HITCHCOCK"

Este espetáculo nasce de uma indagação quase detectivesca sobre o mistério do lendário diretor de cinema Alfred Hitchcock e sua esposa Alma Reville. Um mistério múltiplo que envolve ambos... Será que a personagem pública que ele próprio criou correspondia ao Alfred íntimo? Porque é que uma mulher tão brilhante como editora, argumentista e cineasta permaneceu à sombra do grande Hitch?

Um cenário repleto de momentos fascinantes em que acontecimentos biográficos se misturam com a ficção dos lendários filmes de Hitchcock, mas que também são de Alma, não esqueçamos. As quatro mãos do casal podem ser vistas numa união criativa e emocional verdadeiramente surpreendente para a época.

Esta união continua a ter eco nos nossos dias na transgressão de muitas regras e convenções no que diz respeito ao tratamento de temas que continuam a ser os nossos: a violência contra as mulheres, a hipocrisia da sociedade, as faces menos suspeitas do mal, os falsos culpados, os limites do erotismo na sua representação, a ansiedade do nosso tempo, a manipulação e os jogos de poder na criação artística.

Em “A Alma do Senhor Hitchcock” os intérpretes desdobram-se numa será miríade de diferentes personagens, onde as imagens e a gestualidade vão desde o humor ao inquietante, passando por um cuidadoso toque poético, em que o fílmico, o real e o sonhado se misturam sem solução de continuidade.

 

Encenação: Luis Blat

Interpretação: Ángel Fragua e Catarina Caetano

Interpretação musical: Edmundo Pires

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SEBASTIÃO SALGADO

 


SEBASTIÃO SALGADO (1944-2025)
ver:

https://estiradorsemrima.blogspot.com/2015/05/genesis.html

https://estiradorsemrima.blogspot.com/2015/06/genesis.html


"DEFEITO DE FABRICO" - António Pires Cabral



Voz: Anabela Quelhas

22 maio, 2025

21 maio, 2025

SEM AUTORES NÃO HÁ CULTURA


 SEM AUTORES NÃO HÁ CULTURA

 

O Dia do Autor Português comemora-se anualmente a 22 de Maio. Este dia dá destaque ou alerta para a importância dos autores portugueses nas diferentes áreas, destacando a sua importância no desenvolvimento da cultura e no equilíbrio das comunidades.

Sem autores não há cultura, porém vivemos numa sociedade materialista, que não valoriza ou não atribui crédito suficiente aos autores. A importância destes, centra-se na capacidade individual ou colectiva de criar algo que acrescenta à cultura de uma sociedade, mexendo com o pensamento de muitos e accionando o desenvolvimento social, político, artístico, científico, filosófico, humanista e histórico. A intelectualidade da humanidade é o resultado da acção temporal dos autores, daqueles que possuem competências para repensar, alterar e melhorar tudo o que os rodeia, atendendo ao conhecimento prévio, às circunstâncias e à criatividade que transportam sempre com eles.

É a habilidade de pensar “fora da caixa”, de encontrar soluções únicas para problemas, e de expressar-se de forma original que fazem a diferença entre autores e não autores. Esta capacidade para “fazer” não é um dom inato, mas sim uma habilidade que pode ser desenvolvida e aprimorada com prática, estudo, empenho e exposição a diferentes estímulos.

A escrita é provavelmente a forma mais simples e rápida de agir, de fazer, permite que as informações sejam registadas e preservadas ao longo do tempo, possibilitando também o acesso a conhecimentos do passado. A escrita é uma ferramenta essencial para a comunicação humana, que tem sido fundamental para o desenvolvimento da cultura e da sociedade ao longo da História, abordando e registando também as outras formas de “saber fazer”, artísticas e cientificas, que abrem novas perspectivas ao mundo.

O dia 22 de Maio assinala igualmente o aniversário da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) e, este ano, o seu primeiro centenário. Para quem não sabe, a SPA é uma cooperativa de responsabilidade limitada, fundada em 1925 para a Gestão do Direito de Autor, nos termos da legislação em vigor.

Isto diz-lhe alguma coisa? Direitos…, plágio…, cópias…, apoderar-se daquilo que não lhe pertence?

Sim, quem é autor possui os seus direitos que nem sempre são respeitados, ou seja, não se pode copiar aquilo que outros criaram. Direito de autor, também chamado copyright, confere aos titulares de criações intelectuais do domínio literário, científico e artístico, o direito exclusivo de dispor da sua obra e utilizá-la, ou autorizar a sua utilização por parte de terceiros, total ou parcialmente. Mesmo quando uma obra é do interesse de uma comunidade, nunca se pode romper o fio de ligação ao seu autor.   

                                     “O seu a seu dono”

Publicado em NVR, 21|05|2025