Será que vale tudo, Anita?
No dia 12, a Assembleia
da República discutiu restrições a professores brasileiros para leccionar em
escolas de Portugal. Será que perante o cenário actual das escolas portuguesas,
onde faltam professores, vale tudo?
Para além da formação
destes profissionais, e as suas habilitações, que para mim, são apenas um
acerto da legislação, há uma questão de fundo, que todos revelam inibição em
apresentar e discutir.
O CHEGA foi o único
partido que se posicionou contra, mas as suas alegações estão distantes do
essencial, e assim posso opinar sem que ninguém me pretenda associar a esse
partido.
O que considero
pertinente, ninguém refere.
O que aqui está
verdadeiramente em causa é a Língua Portuguesa.
Qualquer matemático, de
qualquer nacionalidade, poderá explicar o Teorema de Pitágoras, mas explicando
em Língua Portuguesa, a alunos jovens, com a sua formação ainda frágil, é
diferente, reforça o conhecimento da Língua.
Vou apenas recordar,
quando era jovem, era penalizada por ler banda desenhada brasileira, porque se
receava que afectaria a minha aprendizagem do Português de Portugal. Afectou,
mas afectou pouco, porque sempre tive professores sem “sotaque”, formados nas
Universidades Portuguesas e porque lia outros livros escritos em Português de
Portugal. Enquanto docente, sempre tive
que favorecer a aprendizagem da Língua Portuguesa apesar de leccionar Artes
Visuais. Falar e escrever correctamente a Língua Portuguesa, conhecer a cultura
portuguesa, constituíam exigências intrínsecas à docência e… admirem-se, houve
até um ministro que considerava que todos os professores eram professores de
Língua Portuguesa, sendo obrigatório apontar os erros verbais e de escrita dos
seus alunos e tomar nota nas avaliações. Onde ficaram estes ideais? Meteram-se na
gaveta, apenas porque agora dá jeito e estão à rasca pela falta de professores?
Os professores
brasileiros, apenas estão preocupados em sair do Brasil e arranjar emprego aqui
em Portugal – nada contra. Há brasileiros, muito dinâmicos e activos, aqui em
Portugal, que organizam petições, moldam opiniões e até se indignam e reclamam,
sobre a organização da nossa sociedade e sobre os nossos costumes, de forma tão
invasiva, que levam alguns portugueses a perder a cabeça e a reagir, questionando
porque não fazem isso no Brasil (na terra deles).
A qualidade da Escola Portuguesa
não lhes diz respeito, porque esta dinâmica serve apenas interesses meramente
laborais, articulados com a emigração. A qualidade da Escola Portuguesa, e a
sua estratégia pedagógica a curto e a longo prazo, é algo muito complexo e
importante, diz respeito em primeiro lugar a quem sabe - ministério da educação
e professores – depois a grupos que lhes estão ligados, alunos e pais, que se
devem remeter ao seu papel. Não convém “dar tiros nos pés”, caso contrário, “a
casa” vai definitivamente abaixo. Querem mais professores? Oiçam os professores
mais velhos, que eles apontarão soluções.
Tivemos um acordo
ortográfico. Será que não chega? A sociedade portuguesa quer os filhos a dizer:
“qui legau, eu vou com você! A genti vai procurando o papai nu ónibus. Mamãe
nois vai demorá? estou precisando ir no banhêro!”
Nas salas de aula, será
assim:
O professor de Matemática:
- Oi tudu beim? Como vai você? Podem
arrumá seu celulá, e vão prestandu atenção ná tela? U tiorema dji Pitágoras diz qui u quadrádu dá
hipotenusa é igual à somá dus quadrádus dus catétus. Nóis pode utilizá esse
teorema prá ir facilitando u cálculo dá diagonau dje um quadrádu e altura dje
um triângulu equiláteuo. Topam du jeitjinhu que eu estou falandu?
O professor de Educação Física
- Oi tudo legau? Tem genti qui ainda
está precisando ir no banhêro? Galera vamus começá a aula. Atenção, o esporte é
muito saudável, viu? Todos estão usandu
ténis? Estamos indo práa a pistá do atletismo, ao lado dá grama, tá? Está
chovendo? Na aula anterior quem foi goleiro? Tire dáí esses trecu, por favor!
O diretor de turma:
-Não conheçu seus pais, e esta moça é
quem mesmo? Mostre-me sua carteira dji identidadji. Veio dji treim? Aleijou-se?
Está precisando dji um esparadrapu?
- Quem foi dando cantadas às moças,
hoje di manhã?
- Seu Valter, não está nem aí para
nada, né! Tendji nada, qui papo é essi di provas na geladêra?! Não foi eu qui
djisse. Aja páciência! Mi poupe, depois eu tjiaviso. Foi muita briga prá poco
ziriguidum.
O professor de História ou outro
qualquer que use terno:
- Vão abrindo àu apostilás sobre u
planejamentu realizadu na aulá anteriô Num joguem fora a questão dá aula qui
foi já checada, né?. Usem u grampeadorrr prá juntá as folhá. Comu assim?
- Pois não? Estão escutando? Quem foi
Seu Marquês di Pombau?
- Fiquem ligados nu Classroom, vou
dar mais umás dicá pra ocês. Tira eu perto de ti. Qui treim é esse ná sua mesa?
Ocê num está enxergandu, nãu? Si eu diz, está dizidu! Etá Vige Mariá!
Será que vale mesmo tudo?
Publicado em NVR- 18|12|2024
Sem comentários:
Enviar um comentário