18 dezembro, 2024

SERÁ QUE VALE TUDO, ANITA?

 


Será que vale tudo, Anita? 

No dia 12, a Assembleia da República discutiu restrições a professores brasileiros para leccionar em escolas de Portugal. Será que perante o cenário actual das escolas portuguesas, onde faltam professores, vale tudo?

Para além da formação destes profissionais, e as suas habilitações, que para mim, são apenas um acerto da legislação, há uma questão de fundo, que todos revelam inibição em apresentar e discutir.

O CHEGA foi o único partido que se posicionou contra, mas as suas alegações estão distantes do essencial, e assim posso opinar sem que ninguém me pretenda associar a esse partido.

O que considero pertinente, ninguém refere.

O que aqui está verdadeiramente em causa é a Língua Portuguesa.

Qualquer matemático, de qualquer nacionalidade, poderá explicar o Teorema de Pitágoras, mas explicando em Língua Portuguesa, a alunos jovens, com a sua formação ainda frágil, é diferente, reforça o conhecimento da Língua.

Vou apenas recordar, quando era jovem, era penalizada por ler banda desenhada brasileira, porque se receava que afectaria a minha aprendizagem do Português de Portugal. Afectou, mas afectou pouco, porque sempre tive professores sem “sotaque”, formados nas Universidades Portuguesas e porque lia outros livros escritos em Português de Portugal.  Enquanto docente, sempre tive que favorecer a aprendizagem da Língua Portuguesa apesar de leccionar Artes Visuais. Falar e escrever correctamente a Língua Portuguesa, conhecer a cultura portuguesa, constituíam exigências intrínsecas à docência e… admirem-se, houve até um ministro que considerava que todos os professores eram professores de Língua Portuguesa, sendo obrigatório apontar os erros verbais e de escrita dos seus alunos e tomar nota nas avaliações.  Onde ficaram estes ideais? Meteram-se na gaveta, apenas porque agora dá jeito e estão à rasca pela falta de professores?

Os professores brasileiros, apenas estão preocupados em sair do Brasil e arranjar emprego aqui em Portugal – nada contra. Há brasileiros, muito dinâmicos e activos, aqui em Portugal, que organizam petições, moldam opiniões e até se indignam e reclamam, sobre a organização da nossa sociedade e sobre os nossos costumes, de forma tão invasiva, que levam alguns portugueses a perder a cabeça e a reagir, questionando porque não fazem isso no Brasil (na terra deles).

A qualidade da Escola Portuguesa não lhes diz respeito, porque esta dinâmica serve apenas interesses meramente laborais, articulados com a emigração. A qualidade da Escola Portuguesa, e a sua estratégia pedagógica a curto e a longo prazo, é algo muito complexo e importante, diz respeito em primeiro lugar a quem sabe - ministério da educação e professores – depois a grupos que lhes estão ligados, alunos e pais, que se devem remeter ao seu papel. Não convém “dar tiros nos pés”, caso contrário, “a casa” vai definitivamente abaixo. Querem mais professores? Oiçam os professores mais velhos, que eles apontarão soluções.

Tivemos um acordo ortográfico. Será que não chega? A sociedade portuguesa quer os filhos a dizer: “qui legau, eu vou com você! A genti vai procurando o papai nu ónibus. Mamãe nois vai demorá? estou precisando ir no banhêro!”

Nas salas de aula, será assim:

O professor de Matemática:

- Oi tudu beim? Como vai você? Podem arrumá seu celulá, e vão prestandu atenção ná tela?  U tiorema dji Pitágoras diz qui u quadrádu dá hipotenusa é igual à somá dus quadrádus dus catétus. Nóis pode utilizá esse teorema prá ir facilitando u cálculo dá diagonau dje um quadrádu e altura dje um triângulu equiláteuo. Topam du jeitjinhu que eu estou falandu?

O professor de Educação Física

- Oi tudo legau? Tem genti qui ainda está precisando ir no banhêro? Galera vamus começá a aula. Atenção, o esporte é muito saudável, viu?  Todos estão usandu ténis? Estamos indo práa a pistá do atletismo, ao lado dá grama, tá? Está chovendo? Na aula anterior quem foi goleiro? Tire dáí esses trecu, por favor!

O diretor de turma:

-Não conheçu seus pais, e esta moça é quem mesmo? Mostre-me sua carteira dji identidadji. Veio dji treim? Aleijou-se? Está precisando dji um esparadrapu?

- Quem foi dando cantadas às moças, hoje di manhã? 

- Seu Valter, não está nem aí para nada, né! Tendji nada, qui papo é essi di provas na geladêra?! Não foi eu qui djisse. Aja páciência! Mi poupe, depois eu tjiaviso. Foi muita briga prá poco ziriguidum.

O professor de História ou outro qualquer que use terno:

- Vão abrindo àu apostilás sobre u planejamentu realizadu na aulá anteriô Num joguem fora a questão dá aula qui foi já checada, né?. Usem u grampeadorrr prá juntá as folhá. Comu assim?

- Pois não? Estão escutando? Quem foi Seu Marquês di Pombau?

- Fiquem ligados nu Classroom, vou dar mais umás dicá pra ocês. Tira eu perto de ti. Qui treim é esse ná sua mesa? Ocê num está enxergandu, nãu? Si eu diz, está dizidu! Etá Vige Mariá!

Será que vale mesmo tudo?

Publicado em NVR- 18|12|2024

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