28 agosto, 2024

Ainda existem amores de Verão?

 

Ainda existem amores de Verão?

Ainda existem amores de Verão? Amores que aconteciam durante o Verão, nas férias junto ao mar e com prazo de validade curto, eram bálsamos para a alma. Romances leves, frescos e descompromissados, que tinham efeito galopante e avassalador, por terem mais coração e hormonas, do que racionalidade e pensamento.

Viver o momento, dançar em tons de pele bronzeada, aquelas músicas românticas que só se dançavam com o amor de Verão… isso ainda existe? Mergulhar de mão dada, furar as ondas, jogar ao king com os amigos e partilhar a sanduíche do lanche, eram a estrutura destes amores. Na areia desenhavam-se corações gigantes entrelaçados, tão efémeros como o tempo das vagas e das marés. Ia-se ao cinema, se o local o permitisse, e os únicos que viam o filme eram os mais novos, ou aqueles que tinham escapado ao Cupido. A luz apagava-se e os dedos entrelaçavam-se no desespero da pressa que só existia nesses amores.

O conteúdo das conversas era a espuma de dias de sol, mar e areia - conteúdo de encantamento e sedução pura, sem continuidade e sem responsabilidade, no intervalo de tempo de um poema.

Ainda existem amores de Verão?

Parece coisa de filme, o que se passava naquele intervalo de tempo, o Verão. A liberdade do corpo e da mente, condicionada o resto do ano, devido ao stress e fadiga, revelava-se nos dias quentes, que expunha muita pele bronzeada e viçosa, com as hormonas aos pulos, a saltar à corda e onde o coração acelerava e a respiração nos tramava. As escolhas e as emoções criadas, certamente teriam pouca probabilidade de ocorrer noutra situação, apesar de romântico, intenso e muitas vezes amor recíproco, porém, efémero por natureza.

Suspender a monotonia do quotidiano, interromper rotinas e autorizar-se a fazer nada, tudo no Verão parecia contribuir para reencontrar o gosto e a disponibilidade para estar com os outros, deixar fluir emoções, culminando com o sentimento por alguém especial. 

Amores que terminavam na última noite de praia, à volta de uma pequena fogueira, com o bardo de serviço a dedilhar uma viola, onde se trocavam os derradeiros beijos fogosos e húmidos, e os últimos amassos, para ao amanhecer, uns irem para Norte e outros para Sul, com a promessa de enviar uma carta ou um postal, que ninguém acreditava acontecer. Amores inesquecíveis, mas como diz o ditado, “longe da vista, longe do coração”. A distância geográfica complicava a continuidade, com a incerteza, a impaciência da espera de um sinal do outro que tardava em chegar, porque depois do Verão chegava o trabalho, a responsabilidade e a maturidade.

Mesmo que a maioria dos romances de Verão não dure, a verdade é que me emocionam e não nos devemos privar deles, até porque nos permitem aprender a conhecer e a experimentar outras características que desconhecíamos em nós: a doçura, a espontaneidade, a impulsividade e a ingenuidade.

Ainda existem amores de Verão?

Publicado em NVR, 28/08/2024


2 comentários:

Anónimo disse...

Um sufoco bom este texto .Mas esta kota escreve bué. Não, nao creio que já hajam tempos e amores assim, como no tempo do kaparanda .Agora as coisas acontecem ao ritmo do dedilhar pela net, " é bom? Não foi!'

Anabela Quelhas disse...

EHEHEH rapidez cibernética, mesmo assim estes amores eram bons.