10 janeiro, 2024

A literacia financeira nas escolas


 

A literacia financeira nas escolas

Li apenas as letras gordas do Expresso e sem querer copiar, volto a um tema já muito debatido, “Quanto mais ignorantes forem os nossos jovens, menos capazes serão para descodificarem a linguagem de quem lhes papagueia os números.” O artigo “Taxa Ungender” é de João Duque e pareceu-me que focava o tema da literacia financeira em contexto escolar proposta pela IL.

Convém esclarecer que os alunos têm uma disciplina denominada “Cidadania” para onde são vertidos vários temas importantes, entre os quais a Literacia Financeira e Educação para o Consumo. Todos os níveis de ensino possuem um Referencial de Educação Financeira, portanto a IL não inventou nada de novo. Existe até um Plano Nacional de Formação Financeira.

Por favor, não inventem mais!

As escolas e os professores, são bombardeados diariamente com projectos e propostas de toda a espécie, que acabam por desgastar toda a classe docente e desviar o foco essencial das aprendizagens básicas muito mais importantes.

A Escola não se pode queixar, da falta de múltiplas ideias “geniais”, que a ela são atribuídas, por quem não percebe nada de ensino e até pelos gabinetes daqueles seres pensantes iglantónicos do Ministério de Educação de Lisboa, que nunca estiveram numa sala de aula. Retórica não falta, propostas, referenciais e planos também não. Tudo é muito bonito, planear para os outros, mas quem está no “terreno” é que sabe. Quando terminará este delírio?

O referencial mencionado atrás propõe para o Pré-escolar, que as crianças distingam o necessário, do supérfluo, distingam despesas de rendimentos, meios de pagamento e objectivos da poupança – vejam o ridículo da situação! No pré-escolar, algumas crianças (recuso-me a chamar-lhes alunos) ainda usam chupeta, querem colo da educadora, têm apenas o vocabulário “materno”, ainda têm dificuldade em socializar, não adquiriram as palavras mágicas da ética do relacionamento com os outros e querem e devem brincar.

No 1.º ciclo adicionam-se os conceitos de “risco” e “incerteza”, compreender a funcionalidade de contas bancárias, empréstimos, sistemas financeiros, seguros e poupanças. Estes alunos se souberem fazer as 4 operações e a tabuada, ler e interpretar, já é uma sorte! Pais e professores deveriam focar-se nisso, pois são as ferramentas básicas para poderem evoluir noutras aprendizagens e para poderem adquirir sentido crítico acerca dos estímulos exteriores.

Claro que há temas importantes mas, uns são mais importantes do que os outros, não devemos meter tudo na mesma “panela”.

Na verdade, parece que queremos crianças e jovens com a literacia financeira que os tornará capazes de utilizar a caixa multibanco, para levantar o mísero ordenado mínimo, quando trabalharem, ou o subsídio de desemprego, mas se lhe disserem que 6X5 é igual a 28…. se não tiverem a máquina de calcular, irão aceitar. Se não souberem que “Não, vou ter dinheiro” é diferente de “Não vou ter dinheiro”, para que lhes serve a literacia financeira e mais todos esses projectos acéfalos que invadem a Escola?

Disse!!!

Já perdi a paciência e felizmente sei ver o princípio, o meio e o fim destas propostas.

Reforcem o ensino das artes, para reduzir a agressividade das crianças. Afastem um pouco os pais das escolas e atribuam-lhes responsabilidade na educação dos filhos. Deixem a escola manter o seu foco que é ensinar o que é adequado a cada nível de ensino. Os professores são profissionais com formação. Adicionem a Filosofia desde o 1.º ciclo, para aprenderem a pensar e a ginasticar o pensamento. Sejam mais ambiciosos, exijam conhecimento, rigor e responsabilidade. Valorizem a importância da escola e dos professores.

Isso, na verdade, não interessa, porque rapidamente os jovens deixariam de ser ignorantes e acordariam de forma crítica para a política, a economia e a sociedade.

Publicado em NVR 19/01/2024

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