18 outubro, 2023

DOURO JAZZ

 


DOURO JAZZ

Durante uma semana kafkiana, submersa na ausência da cidadania, que espero sempre de retorno à minha, e revivendo velhos fantasmas que julguei, ingenuamente, que já teriam desaparecido, desmofizando certas instituições, utilizei o Jazz como relaxante e terapia do retorno à vida saudável. Este ano tive oportunidade de assistir a cinco espectáculos do Douro Jazz. Foi bom, carreguei “baterias” para um ano. Destaque para Gume, Orquestra de Jazz do Douro e Tord Gustavsen Trio.  

Gosto cada vez mais de Jazz, porém, não é o meu estilo preferido de música. Eu sou mais da turma melosa dos Blues, e do desconcertante Rock and Roll, mesmo assim, reconheço que ao envelhecer vou dando mais espaço ao Jazz (sem abusar). O Jazz exige amadurecimento e desprendimento. É preciso encontrar o ponto de equilíbrio em algo que parece caótico e desordenado, é preciso sentir uma nova perspectiva do mundo, relativizar as contradições deste e deixar-nos conduzir pela aquela onda sem barco, nem maré, capaz de abrir todas as nossas janelas para novos horizontes musicais e emocionais.

O Jazz é o tipo de música mais livre que eu conheço, e não quer saber quem gosta ou não gosta – atravessa o tempo simplesmente. O Jazz é para se aprender a gostar, apreciar o improviso e encontrar-lhe encanto e rebeldia, mesmo assim teria preferido ouvir o contrabaixo de William Parker, apenasmente. Sozinho é que ele brilharia!

Quando estou com uma boa telha, os Blues confortam a minha tristeza e alimentam o meu mal-estar. O Jazz, desvaloriza, e provoca uma boa conversa comigo mesma, e segreda-me ao ouvido, que há muito mundo à minha espera. Semicerro o olhar e encontro por vezes o fio condutor que me leva às minhas afro-raízes.  

Aqueles estudos, sempre duvidosos que lemos na net, dizem que a preferência musical revela a personalidade da pessoa, e que os interesses musicais podem ir mudando consoante o passar do tempo, coordenados com a alteração da nossa personalidade.

Greenberg, após alguma investigação, criou uma tipificação entre música e personalidades e ao fim de dois parágrafos de leitura, percebi que é como nos signos: dá sempre certo, porque algumas palavras são enganadoras, especialmente quando atravessam mares emocionais de águas profundas. Retive apenas o que me interessa e se identifica comigo, indivídua do signo Peixes, que já não suporta a conversa do Moedas sobre o 25 de Novembro e se indigna com a falta de rigor e discernimento de Cravinho, que sempre considerei, neste ultimo “barraco” "sobre a “matança descontrolada” de palestinianos em Gaza. Então, retive que os arquitectos oscilam entre a Clássica e o Heavy Metal (intervalo mais abrangente penso que não existe), os advogados ficam mais na World Music, os executivos e empresários no Hip Hop e o Jazz fica para os comandantes não se sabendo do quê. Isto são estudos “rigorosos e científicos” de 2015 e espera-se que em 8 anos, a análise dos resultados se tenha alterado, porque não dispenso o meu Kuduro em situações de euforia e os meus Blues quando preciso de mimo.

Publicado em NVR 18|10|2023

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