07 dezembro, 2022

Desacelerar a doença de Alzheimer

 Desacelerar a doença de Alzheimer


Lecanemab é o nome laboratorial da esperança de cura da demência, a luz ao fundo do túnel, ansiado por todos. Qualquer pessoa pode desenvolver este tipo de demência e os números são alarmantes. A nível mundial, a demência afeta 1 em cada 80 mulheres, com idades compreendidas entre os 65 e 69 anos. Nos homens a proporção é maior, 1 em cada 60. Acima dos 85 anos, esta demência afecta aproximadamente 1 em cada 4 pessoas, independentemente do género.

Todos conhecemos alguém que padece desta maldita doença sem cura. Ter a doença de Alzheimer é morrer em vida, é um passaporte de morte lenta enquadrado nas doenças degenerativas, é despir a “alma” sem ter consciência disso, é mergulhar num mutismo incompreensível, é parar e estagnar a dinâmica no olhar, é perder sucessivamente capacidades motoras e cognitivas, referências, racionalidade, memória e afectos… É estar sempre a perder.  É perder-se na casa onde sempre viveu, é não reconhecer a família, é ter a memória bloqueada e os outros, os cuidadores, nada saberem sobre o que se passa com o paciente… será que se emociona, sem exteriorizar, será que reconhece sem reagir?

É uma doença que afecta o paciente e quem o rodeia, porque é um caminho em que nada se entende e tudo de mau é difícil de antecipar e impossível de resolver. É uma das coisas mais cruéis a que podemos  assistir, ver um familiar ou amigo a perder a sua personalidade e não podermos fazer nada para contrariar, a não ser presenciar e rodear o demente de carinho, mesmo que ele nos rejeite. Por vezes exteriorizam medo, como se fossem ameaçados, acuados… talvez não referenciem nada à sua volta e provavelmente isso lhes transmite insegurança. Estão perdidos de si mesmos. Ser cuidador ou familiar é altamente desgastante e marca para o resto da vida. Para quem não sabe, existe uma associação de apoio a doentes e famílias com uma linha de apoio 963 604 626.

Há notícias que referem que entramos numa nova era da medicina, com a possibilidade de retardar ou desacelerar a doença de Alzheimer, através de um novo medicamento. Será verdade ou será uma dose elevada de optimismo dos cientistas?

Os fabricantes afirmam que o medicamento lecanemab retardou o declínio da memória e da agilidade mental em 27% em pacientes com Alzheimer leve. Lecanemab não é uma cura, mas podendo retardar a progressão da doença de Alzheimer, seria uma mudança a considerar. Os efeitos secundários são frequentes e graves, o que não confere fiabilidade a este medicamento. Foi dado um primeiro passo que todos querem que resulte, com optimismo e cautela ainda há muito que investigar e testar. São cerca de 30 milhões, em todo o mundo, que têm Alzheimer, número que deve dobrar até 2050. É assustador.

Se quiser saber mais sobre o tema, irá enredar-se em números percentagens, linguagem científica que nada mais acrescentará ao que já sabe e descrições de um mundo invisível dedicado à ciência, essencial para as descobertas científicas, mas que não esclarecem o comum dos mortais.

Pretendemos “apenas” um fármaco para salvar estas pessoas.

Publicado em NVR 97/12/2022

1 comentário:

fernando disse...

Tu passate por essa experiência... beijinho