14 dezembro, 2022

A AZIA DO RONALDO

A AZIA DE RONALDO


Não percebo nada de futebol e sou voz crítica, porque o futebol não é um desporto, mas um grande negócio mundial. É o evento que mais massas movimenta e mais “massa”. A maioria dos seres humanos entusiasma-se a ver 22 jogadores a correr atrás da bola e consideram ser sempre um desafio diferente. Não possuo essa sensibilidade, não troco ciclismo, por futebol, muito menos atletismo.

O mundo todo, quer lá saber do Qatar, dos direitos humanos, da política, dos problemas sociais, das alterações climáticas, da Lisboa inundada, da prestação da casa que vai aumentar, das preocupações da ONU, as dívidas que se vão acumulando, os sem-abrigo, os esfomeados do mundo, a escravidão portuguesa, a guerra da Ucrânia, … o futebol papa tudo. Escolho a hora do futebol para ir ao supermercado, isto diz tudo sobre o que penso sobre esta matéria.

Hoje escrevo sobre o Cristiano Ronaldo, o terramoto desta semana, e a carita aziada com que tem aparecido na televisão, alimentando toda a jornaleiragem. Parecem abutres sobre a presa.

Valorizo o Cristiano, assim como o Fernando Gomes, Eusébio, Pelé, Jardel, Zinédine Zidane… porque os grandes atletas, são feitos de muita determinação, esforço, privações, trabalho diário, sacrifício, mantendo sempre o foco em ser melhor em cada dia; mesmo assim, admiro muito mais os atletas que mexem pouco na “massa”.

Cristiano é o atleta por excelência, e ainda mais o admiro, considerando a sua origem humilde e as suas ações altruístas e beneméritas do presente.

Registo que nos últimos dias, ele não tem sabido gerir a sua imagem. Ainda não percebo, o que o Ronaldo não percebe. Quer jogar até aos 66 anos?

Estou brutalmente desapontada. Admiro e aplaudo aqueles que se retiram no auge da carreira. Não precisando de dinheiro, o caso do Cristiano, não percebo o que ele não percebe. Estando no mundo do futebol ainda não percebeu, que mesmo estando em boa forma e sendo um extraordinário atleta, o seu prazo de validade esgotou-se. Não percebeu que no mundo futebolreiro do dinheiro, há estratégias para valorizar cada jogador, que passa por deixá-los jogar em jogos importantes. Naquelas cabeças só tilintam euros. O Cristiano, por muito que gostemos dele, é já um jogador sem futuro, é preciso deixar jogar os mais novos, que irão produzir dinheiro a médio prazo. O Cristiano parece que se esqueceu, que no seu percurso, para ele brilhar, alguém ficou no banco. O arzinho de menino contrariado que não sabe digerir um não do selecionador e não sabe gerir a sua frustração, decepcionou-me. O miúdo é transparente e pensei que fosse mais inteligente. É inútil disfarçar, deitar areia para olhos dos que viram o Ronaldo altivo a sair sozinho do campo, deixando os companheiros a festejar, apenas porque ele quer ser sempre a estrela da festa. Ainda não percebeu que tem o seu lugar no futebol, mas o mundo não para, também se ganham jogos sem ele. É ingratidão? Não. Ele tem o seu lugar, mas a vida não para.

É muito digno e inteligente saber quando se deve parar.  Less is more!

Havendo oportunidade todos se deviam retirar no topo da curva ascendente do sucesso, é que depois é sempre a descer. Afinal, tanto dinheiro e ninguém lhe ensinou isso? Ninguém o aconselhou a gerir a sua imagem e a escolher o momento da saída, ou ele é teimoso e acha que é imortal? E a família? Ui!

Fernando Santos diz, que a equipa está unida, e deixem o Cristiano em paz, que ele não merece. Claro que não merece, ninguém lhe retira o mérito, mas poderia evitar as imagens `no banco de suplentes e as duas saídas, a altivez da primeira e o choro perante a derrota com Marrocos.

Está na hora de retirar-se e como se viu já passou da hora. Já não consegue controlar as emoções e agora é sempre a piorar. Ele está em boa forma, mas os outros também estão.

Há profissões que podem trabalhar e ter destaque até aos oitenta, até morrer – Eduardo Lourenço, Siza Vieira, Manuel de Oliveira…  Há outras de grande desgaste, que se fazem em grupo, que não se compadecem com a idade. Gostei da Simone de Oliveira, desgostei da Eunice Munóz, poderia ter-se resguardado na fase final da vida…

Pelé, um dos jogadores mais elogiados da história, frequentemente classificado como o melhor jogador de sempre, jogou pela última vez na selecção brasileira, com 31 anos e recusou em 1974. O Cristiano que siga o modelo. Não se esqueceu da sua origem humilde, muito bem, mas esqueceu-se como se fazem jogadores de futebol, como é o mundo do futebol que o tornou bilhardário. Uma palavra errada, uma entrevista infeliz, um plano de pormenor da sua azia, podem desconstruir a imagem que demorou tanto tempo a construir. É cruel? É. É o mundo que o converteu num campeão, numa estrela internacional e que ele deveria conhecer melhor.

NVR, 14| 12| 2022


3 comentários:

Rui Esteves disse...

Kompensan

Anónimo disse...

Eu escolho o futebol e nao o Ronaldo. Porquê o futebol? E dos poucos programas em que o meu polegar nao está a dedilhar o comando ( uma invenção brilhante) da tv, para nao ver as aberrações políticas que por lá passam, pelas greves e grevinhas, pelas guerras e guerrinhas, pelos ladroes e vigaristas julgados e a serem julgados, para não ver o palavreado da maioria dos programas que expremidos não dão sumo nenhum.
Prefiro ver arte. arte dos jogadores que fintam, que marcam, qur defendem.
Bendito opio do povo que nos livra dos malabaristas dos midia.
Has-ta la vista.

anabelaquelhas disse...

Se o mundo do futebol se resumisse ao rectângulo...
Has-ta