07 junho, 2017

…daria uma exposição para o mundo

…daria uma exposição para o mundo  

            A visita à exposição “ A cidade global” que decorre no Museu Soares dos Reis no Porto, despertou a minha curiosidade para a pintura que deu origem a toda a ideia da exposição.
            Trata-se da pintura adquirida por Dante Gabriel Rossetti, dividida em 2 partes, representando uma rua renascentista, supostamente a Rua Nova dos Mercadores, localizada na Lisboa manuelina dos séculos XV e XVI e que já levantou dúvidas sobre a sua autenticidade alimentando uma polémica que parece não ter fim.
            A história oficial é que esta(s) pintura(s) terá sido descoberta pelas  historiadoras inglesas, Kate Lowe e Anne Marie Jordan Gschwend numa mansão do século XIX, em Oxford  cujo proprietário era o conhecido William Morris, com quem trabalhou Rossetti.
            Quanto à “Rua Nova dos Mercadores”, está dividida em dois painéis, é propriedade da Society of Antiquaries of London e deu origem a esta exposição, "A Cidade Global", que exibe cerca de 250 obras da época, entre mobiliário, pintura, tapeçaria, livros, esculturas em marfim, manuscritos, animais embalsamados e outros objectos em uso na época. É interessante a ideia de nos transportarem a cinco séculos atrás, através das obras expostas, porém descodifica pouco a pintura referida sobre a Rua Nova dos Mercadores – o vídeo exibido, sabe a pouco.
            A representação expressa imensos pormenores sobre aquela Lisboa que era um grande centro europeu e falta uma análise detalhada da pintura de uma rua onde passava o mundo através dos produtos vendidos, a mais rica da europa naquela época. Falta a história da construção da rua, a explicação sobre a grade que divide a área dos cambista, a característica dos edifícios com 3 ou 4 pisos, as colunas duplas, a concentração de comerciantes de todas as partes do mundo, os produtos exóticos vendidos e os modelos de negócio, a sua organização, a ocupação dos espaços que se adivinha no desenho dos edifícios (apesar da referência à Casa de Guiné e da Índia), o elevado número de escravos, o que transportavam, o traje dos portugueses e de outras pessoas com diferentes origens, as pedras de bezoar, etc..
            Unir a informação contida nesta(s) pintura(s) à informação escrita existente sobre essa época, daria uma exposição para o mundo, uma exposição também global, a partir novamente de Portugal, tal como aquela rua, justificando o nome da exposição. Infelizmente temos apenas um “cheirinho”-  uma exposição com informação insuficiente, gerando pelo menos aos visitantes, a curiosidade que levará a investigar posteriormente. As pinturas originais não as vi e a mega ampliação que fizeram das mesmas, está colocada ao longo de uma comunicação horizontal da exposição e não possui espaço suficiente para se realizar uma leitura global da mesma.
            Gostei de ver o rinoceronte embalsamado que pertencia a D. Sebastião. Percebi à posteriori que não era o mesmo que foi oferecido a D. Manuel e que talvez tenha sido a fonte de informação para o desenho de Albrecht Dürer –primeiro rinoceronte vivo que esteve na Europa desde o Império Romano.

            Esqueci de relatar que o único elemento informativo existente na entrada e na loja do museu, é um calhamaço escrito pelas historiadoras, de custo avultado, que pesa cerca de 3 kg, o que desmotiva qualquer um - Irão sobrar no final.
Publicado em NVR - 7/06/2017

2 comentários:

Ana André disse...

Gostei de ler o que escreveste. Fiquei curiosa, mas dificilmente irei ver essa exposição. Grata pelas informações.

António de Jesus disse...


Esreve patente no MNAA até há poucos dias. Muito interessante e significativa.