12 setembro, 2015

O RÚSTICO AVEC



O RÚSTICO AVEC

            Nas duas últimas décadas, as cidades e as aldeias portuguesas foram inundadas por exemplares da arquitectura “catalogada” como “arquitectura rústica”. Ressalvo, não é um estilo, é uma técnica de construção.

            O que é o rústico? O rústico aplicado à construção e mais especificamente às paredes, traduz-se numa ausência de acabamento e de “arte”, aparentando aspecto grosseiro, rude, sem grandes detalhes construtivos e apuramento no acabamento.

            O senso comum associa este aspecto visual à ruralidade, ao romantismo do sentimento campestre, influenciado por vezes na importação de modelos de outros países e na linha do “country” da decoração de interiores, retirando-lhe as componentes, histórica e científica, da situação portuguesa.

            Cada época tem uma forma de construir, articulada com o conhecimento científico, os materiais da região, as ferramentas disponíveis, a capacidade económica do proprietário, articulando-se com as regras de bem construir, aplicadas sabiamente pelos mestres pedreiros que existiam antes destes dias baralhados que vivemos nas últimas décadas, de uma globalização nem sempre inteligente.

            A arte de bem construir de um pedreiro, orienta-se por regras bem definidas e consta de um saber acumulado ao longo de muitos anos, com conhecimento passado de geração em geração, de mestre para aprendiz, com muitos dias e anos de prática e de muitos calos nas mãos.

            Pelas atrocidades que vejo no meio envolvente, eu diria que, actualmente, pedreiros,  já há poucos. Trolhas sim, pedreiros não!

            Não vou mais derivar por aí. Registo apenas que ao observar certas obras de recuperação e restauro nesta fase da regeneração urbana de algumas cidades, vejo maus exemplos, que muita gente aplaude sem sentido, manifestando apenas uma ignorância arquitectónica exuberante.

O rústico avec!!!!

       Enuncio uma regra simples que desconstrói o aplauso de muitos, nesta região granítica e telúrica, carente de bons pedreiros. O rústico que é para manter rústico, ocorre sempre que as molduras de vãos do edifício não são peças especialmente talhadas, aparelhadas e tratadas, assumindo rudeza similar ao resto da construção e localizam-se no mesmo plano. Num edifício em que existem panos de parede rudes, mas existem também molduras de vãos, talhadas e trabalhadas, quer dizer que o aparelho rusticado é para cobrir com outro material (reboco e pintura, azulejo, aqui no Norte) e as peças bem desenhadas e bem talhadas, são apenas essas que devem ficar à vista (molduras, cunhais, rodapés, cornijas, platibandas e elementos decorativos) e normalmente destacam-se, porque se situam num plano ligeiramente exterior (são salientes). Como toda as regras, esta também tem excepções.

            Fácil e simples! Os edifícios barrocos são autênticas “bíblias” da construção, e nós temos muitos onde aprender.

            Olhem as paredes da nossa cidade e constatem os disparates que por aí se têm cometido. Mas nada está perdido, logo que a razoabilidade inunde as consciências, estas situações são possíveis de reverter. Abstenho-me de mencionar aqui os casos mais escandalosos, para evitar constrangimentos. Vejam com olhos de ver e descubram.
Publicado em NVR - 8/09/2015

2 comentários:

Anónimo disse...

O Rústico AVEC!!!! sempre acutilante. como gosto que sejas assim!
Beijinho
Zé T.

André Vasques disse...

tanto erro que vemos por aí