Sonhos que se desconfiguram e se desintegram na ressonância
de alerta de um despertador diariamente odiado. Voltas em sons murmurados por lençóis
frescos e engomados no dia anterior… fruáaa fruáaa . Nasce a tentativa de
esquecer o som do relógio só por mais uns minutos, que me permita por em ordem
a desarrumação sonhada, numa lógica fabricada no meu inconsciente. Estendo a
mão para o vazio de um ninguém permanente, que me acolhe no abraço sempre
desejado, durante o tempo que o meu pensamento permite.
Não disfarço esta rebeldia da arte de pensar
Olho em plano rasante sobre uma cidade adormecida, que desperta caso
a caso, casa a casa, com os raios de sol indiscretos que entram pelas vidraças
sem pedir licença, criando ângulos agudos de luminosidades ténues da madrugada
de cada um. Apanho com as mãos, os cabelos longos que livremente se espalham por
mim acolhendo-me suavemente, restando como prova que se vive diferente em cada
dia.
Retomo questões, repesco incertezas, procuro mediar conflitos e gerar equilíbrios. Sorrio.
Que atitude tomaria o mundo se deixássemos de pensar?
In “Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado” Anabela
Quelhas
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