Não sei quem olhava quem, resguardada pelo painel veneziano
e sentada na cadeiras frescas tropicais, azuis, verdes e laranja. As tiras de
madeira horizontais filtravam o sol escaldante, deixando apenas passar a brisa
forçada por 8 andares acima da linha de terra. Por vezes esse filtro de luz,
calor e olhares projectavam linhas de geometria paralela feitas de sombra e de
luz no chão e paredes da varanda, no meu rosto, nos meus cabelos dando a ilusão
de frescura mas assegurando sempre as coordenadas do lugar de terra ocre e
quente.
Os olhares libertavam-se das palavras escritas, estendiam-se e cruzavam-se entre um e outro lado, dum canal feito de espaço, algures levitando muito acima do asfalto negro atravessado continuamente de automóveis apressados ou não. 36m acima do solo não existiam regras de trânsito, não existiam prioridades, não existiam limites nos ângulos de visão, não existiam passeios nem esplanadas. Dali eu alcançava o mar. Dali eu viajava até à lua. Dali eu dividia a cidade do mato. Dali eu esquadrinhava quase toda a minha cidade num voo rasante a tudo que queria ou imaginava querer. Dali eu tecia ilusões do nascer ao por do sol, mergulhava na escuridão que não era após as 6 da tarde. Dali eu crescia languidamente para o mundo.
Ao lado da minha cadeira havia sempre vários livros, revistas e um copo de coca-cola. Romances, westerns, os patinhas, a notícias e a província de angola acumulavam-se para satisfazer várias vontades de leitura, em frente um pequeno banco para apoiar os pés, convertia a cadeira, numa longa cadeira onde apetecia ler, observar e espreguiçar. Atrás, o rádio que em surdina, me embalava nas músicas que nunca soube para quem eram, e coordenava ritmos com o bater do meu jovem coração.
Quando a noite caía, ligava um pequeno candeeiro dirigido para o que lia: Quando queria permanecer quieta, pensativa e em silencio, desligava tudo, até o mundo e olhava em frente, desconseguindo adivinhar o futuro, mas apostando que ele existiria pacientemente à minha espera.
In “Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado” Anabela Quelhas
Os olhares libertavam-se das palavras escritas, estendiam-se e cruzavam-se entre um e outro lado, dum canal feito de espaço, algures levitando muito acima do asfalto negro atravessado continuamente de automóveis apressados ou não. 36m acima do solo não existiam regras de trânsito, não existiam prioridades, não existiam limites nos ângulos de visão, não existiam passeios nem esplanadas. Dali eu alcançava o mar. Dali eu viajava até à lua. Dali eu dividia a cidade do mato. Dali eu esquadrinhava quase toda a minha cidade num voo rasante a tudo que queria ou imaginava querer. Dali eu tecia ilusões do nascer ao por do sol, mergulhava na escuridão que não era após as 6 da tarde. Dali eu crescia languidamente para o mundo.
Ao lado da minha cadeira havia sempre vários livros, revistas e um copo de coca-cola. Romances, westerns, os patinhas, a notícias e a província de angola acumulavam-se para satisfazer várias vontades de leitura, em frente um pequeno banco para apoiar os pés, convertia a cadeira, numa longa cadeira onde apetecia ler, observar e espreguiçar. Atrás, o rádio que em surdina, me embalava nas músicas que nunca soube para quem eram, e coordenava ritmos com o bater do meu jovem coração.
Quando a noite caía, ligava um pequeno candeeiro dirigido para o que lia: Quando queria permanecer quieta, pensativa e em silencio, desligava tudo, até o mundo e olhava em frente, desconseguindo adivinhar o futuro, mas apostando que ele existiria pacientemente à minha espera.
In “Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado” Anabela Quelhas
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