Faz talvez ... anos
Ainda não se falava do tal de buraco de ozono, já ele fazia
das suas lá na banda.
Progenitor Quelhas, usando e abusando de cautelas não se
atrevia com ele, fazendo-nos a cabeça num oito, quando nós só queríamos mesmo,
muito bronze.
Gozávamos as delicias do mar na ilha, mesmo junto à
barracuda, agarrando o sol com a imaginação e ele ficava em casa.
Brincávamos dentro de duas brutais camaras de ar de camião
nas manhãs de domingo na Corimba, fazendo o sol rir, como só ele sabe, e ele
ficava na esplanada à sombra, lendo o jornal até ao limite das 11 horas.
Boiávamos nas águas paradas da baía, mais parecia mar morto,
fazendo o sol bocejar e ele desconhecia que estávamos lá.
Aventurávamos nas ondas das calemas da Restinga, fazendo
perigar até o sol e a ele nem lhe passava pela imaginação.
Lhe adivinhava, com
rosto fechado umas horas depois, quando o queimado do sol avermelhava sobre o
nariz, dando-nos aquele ar saudável que rapidamente dourava a nossa pele
tropical.
Um dia se aventurou a fazer picnic lá para as praias de
Belas, debaixo de um cajueiro se não me falha a minha memória de botânica
tropical, ou de um velho embonda, já nem sei.
Levou tenda!
Tenda com forma de prisma triangular, amarela e azul, que
nunca ninguém usava, para não perder nenhum dos raios eficaz na pintura solar
tropical.
Vestiu calções, e ficou debaixo da tenda aberta, lendo A
Provincia de Angola” e destilando suor, salteando água com Cuca e Cuca com água.
Nós, fazendo trinta por uma linha na água.
Agua morna, água tépida, daquela que nada arrepia ao mergulhar.
Água que nos acaricia e nos acolhe muitas horas e nos faz soltar gargalhadas como se fossem borboletas, até ao sol se por, em tons vibrantes de laranja, mesmo ao nosso lado.
Agua morna, água tépida, daquela que nada arrepia ao mergulhar.
Água que nos acaricia e nos acolhe muitas horas e nos faz soltar gargalhadas como se fossem borboletas, até ao sol se por, em tons vibrantes de laranja, mesmo ao nosso lado.
Sol da manhã, sol do meio dia, sol do entardecer, com musicalidades diferentes das ondas que
visitam a areia naquela cadencia fresca e ritmada… shuá….. shuáááá… shuá...
Ele distante e com calor dentro de uma tenda azul e amarela.
Vira pagina, vira dum lado, vira do outro, até páginas de precisa-se, aluga-se e vende-se ele leu.
Leu a necrologia.
Leu a LoLa.
Releu as noticias importantes. Mudou para o livro que andava a ler, romance de 8cm de altura que custava a segurar na mão.
Vira pagina, vira dum lado, vira do outro, até páginas de precisa-se, aluga-se e vende-se ele leu.
Leu a necrologia.
Leu a LoLa.
Releu as noticias importantes. Mudou para o livro que andava a ler, romance de 8cm de altura que custava a segurar na mão.
Nós, abraçando as pequenas vagas, e andando, andando quase
até ao Mussúlo, sempre com pé. De quando em vez, um gritava,
- atenção à alforreca!!! Umas vezes verdade, outra só para destabilizar. De costas de bruços, guerra d’água…. Dar palmadas na agua só para xingar.
- atenção à alforreca!!! Umas vezes verdade, outra só para destabilizar. De costas de bruços, guerra d’água…. Dar palmadas na agua só para xingar.
- Não te armes que
levas, depois vem-me pedir o Patinhas que levas com ele na tromba!!!!
- Pópilas, Xê minha,
não zanga não, que faz ruga ná tésta!!!
-Te atreve, então!!! Queres mais o que? A kianda te leva no
mar, e fico a rir!
Shaaaaapppp!
- Vais levar, mana atrevida, te pego e te dou um pirolito!
- Só quero ver, tens de comer muita ginguba!
Almoço de prato na mão, sentados na areia.
Alguém enterrou todas as ervilhas da salada de atum na areia
fina e branca, demonstrando por A+B o agrado pelo primeiro prato. (Lena quem
foi?!)
Passou o almoço, passou o lanche, nos vestimos para vir
embora e mais um mergulho mesmo com o vestido encharcado a agarrar ao corpo
para despedir e manter o sorriso aberto e feliz de diversos lábios. Uma ultima
corrida de pega pega à volta do ultimo coqueiro.
- Me vão molhar os estofos do carro e encher de areia! Não
chegou de brincadeira? Se portem bem, senão vos deixo cá!
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Um desconforto lhe chegou lentamente aos pés, até chegar à
noite, já em casa. Um ardor, uma quentura com a forma de meias vermelhas
desenhadas, enquanto lia o jornal com os pés de fora.
Moral da estória: O sol quando nasce é para todos. Mais
vermelho menos vermelho.
In Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado, Anabela Quelhas
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