27 dezembro, 2012

Entardeci nos aromas da canela



Entardeci nos aromas da canela, pensando e escrevendo sobre o mundo mal arrumado, dividido por anos, ciclos e eras, numa desarrumação imitando a organização.
Anoiteci pensando mais do mesmo. 
Ao caminhar numa luta diária contra os excessos, e sapatilhando milhares de quadrados de betonilha esquartejada, vou pensando naquilo que os outros pensam e penso também pensamentos que me parecem originais, colocando listas infindáveis de perguntas que apresentarei um dia ao Grande Arquitecto, para que este me possibilite a leitura duma qualquer memória justificativa sobre o mundo, e neste caso, o nosso mundo mal arrumado.
Manual de instruções também serve ou uma qualquer acta de registo da era da criação ou do estudo prévio da mesma.
O mundo mal arrumado é que nem a minha gaveta das meias, onde meias pretas se misturam com verdes, vermelhas, azuis, de verão, de inverno e de mais ou menos que não sei muito bem, numa iliteracia geográfica e multicolor, sem qualquer plano de loteamento. O mundo está assim.,,, como a minha gaveta das meias. Dá-me o que pensar!!!!
O mundo atirou-me para Humaitá numa esperança de ultima tentativa de eu sossegar e não mais pensar nos sonhos que nunca consegui cumprir…. Para eu abandonar o pensamento dos outros e os muitos porquês registados ao longo dos anos e tranquilizar, marinando numa chávena de chá de geocidreira.
- Ficas aí, para não te armares em esperta!
Derradeiramente falando foi arrumação infeliz, sem GPS, colocando tudo longe, mesmo os amigos mais próximos. Paradoxo: o longe e o perto num contexto de desterro voluntário à força. Arrumação mal arrumada e subjectiva que me cansa ao sair e na volta a Humaitá.
Para que serve viver longe de tudo? Para que serve viver numa aspiração permanente de encontrar a placa de sáída, sonhando permanentemente com uma arrumação bem sucedida de tempo e espaço que nem vitruvio, que sabia o que ficava no umbigo e nas pontas dos braços e pernas, sem ter q fazer perguntas? Tu vais para aqui e aquele para acolá, numa operação fazendo a betonilha esquartejada corar de tanta humilhação desorganizativa.
Quem se gosta deveria estar sempre por perto, quem não tem nada connosco, poderia ficar longe mesmo. Tem que ficar perto e dizer estou aqui, tem que ficar longe e dizer, já esqueci.
O mundo desarruma-se sozinho. Não fazemos nada e ele contorce-se, ganha espaço, desenrola-se sozinho, colocando tudo numa desorganização aleatória, mas que pensando bem, parece esquema organizado, mas ao contrário. Atira para Humaitá quem deveria estar nos antípodas da mesma. Ninguém pergunta se gosta ou não. Ninguém pergunta da nossa vontade, ou tira informações com o GPS. Quando acordo estou em Humaitá e tu estás a quilómetros de distancia, sem possibilidade de percorrermos o mesmo caminho, porque a geografia separa o que deveria estar próximo.
Nas arrumações é necessário um critério para que tudo fique no seu lugar. Num mundo mal arrumado não existe critério: Dizem que não existe mulher feia, mas mal arrumada. De facto todo o nosso planeta é belo, por vezes nos parece feio, quando a letra não bate com a careta.
E ela não bate mesmo!!!!! E ainda ri por cima, como uma assinatura de despacho final.
Porque vives numa cidade e não vives na outra. Porque vives num país e não vives noutro? Porque falas uma língua e não falas noutra? Porque Humaitá?
Porque fazes tanta pergunta?
(in Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado, A. Quelhas)

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