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Realizador: Jacques Tati
A festa "O
Paraíso" ("Festa del Paradiso"), que muitos desconhecem, está
ligada à suposta invenção do guardanapo, acessório importantíssimo que hoje, se
coloca em todas as mesas onde se fazem refeições.
Antes não era assim,
na Idade Média as pessoas não usavam talheres para comer. Os alimentos eram
levados à boca com as mãos e a sujidade ou a gordura, que ficava nos dedos, era
limpa na toalha da mesa ou nas próprias roupas.
Mesmo os mais cultos, ricos
e nobres, tinham esta postura, por vezes um pouco mais rebuscada, em vez de
limparem as mãos à toalha de mesa, ou à roupa, permitiam a permanência de
animais nas áreas de comer, especialmente, cães, gatos e coelhos, para que os
convivas limpassem as mãos nos seus pêlos. Uma nojice! No século XIII, surge a
ideia de deixar pedaços de pano suspensos da parede para que a precária higiene
fosse feita, mas sem grande sucesso.
Assim se compreende as
grandes operações de higienização das toalhas de linho após os banquetes, pois
elas deveriam ficar imundas, sendo necessário, muita água a ferver, sabão,
cinza, barrela e cora para eliminar toda aquela porcalhotice.
A festa ”O Paraíso” foi
um evento grandioso realizado a 13 de janeiro de 1490, em Milão, na corte de
Ludovico, para o casamento de Isabel de Aragão e Gian Galeazzo Sforza. A
celebração, ocorreu no Castelo Sforzesco, e foi Leonardo da Vinci, mestre de cerimónias
do duque de Milão, que organizou e decorou a famosa festa. A festa incluiu uma
preocupação decorativa com os guardanapos individuais, substituindo coelhos
(vivos) adornados com fitas presas às cadeiras dos convidados, para estes
poderem limpar as mãos cheias de gordura nas costas dos animais, o que ele
achava muito pouco próprio desses tempos. Decidiu então mudar esse hábito e
colocar um pano individual para cada um dos convidados.
O ponto alto da festa,
uma festa muitas vezes imitada e nunca igualada, foi o espectáculo oferecido a
Isabel, que era muito jovem, que continha
algo inovador para a época - uma encenação com dança, música, jogos de
luz e fumo, e uma grande máquina com várias engrenagens que proporcionavam
movimento em cima do palco conjugado com personagens mitológicas, Apolo,
Júpiter e Mercúrio, até surgir um cavalo mecânico, alusão à enorme estátua
equestre que Leonardo tanto desejava ter como encomenda para decorar um mausoléu
– coisas da vida de artista, sempre dependente de quem detém o poder.
Voltando aos
guardanapos, a decepção foi grande para Leonardo, porque os guardanapos não
foram utilizados devidamente. Segundo Pietro Alemanni, «Ninguém sabia como
utilizá-lo nem o que fazer com ele. Alguns dispuseram-se a sentar-se em cima
dele. Outros serviram-se dele para assoarem o nariz. Outros usavam-no como um
jogo. Outros ainda embrulhavam neles as iguarias que escondiam nos seus bolsos
e bolsas. E, quando acabada a refeição a toalha de mesa ficava suja como nas
ocasiões anteriores, o mestre Leonardo desabafou-me o seu desespero em relação
ao insucesso da sua invenção».
O uso do guardanapo
individual demorou a ser aceite. Só uns séculos mais tarde se converte num
elemento de uso imprescindível nas boas maneiras às mesas, em todas as classes
sociais do mundo ocidental.
Publicado em NVR 08|10|2025
"A VERDADE" - António Ramos Rosa
file:///E:/radio/audio/137%20-%20a%20verdade%20-%20antonio%20ramos%20rosa.mp3
Sou arquitecta
de formação e profissão e em paralelo fui professora. Inicialmente enveredei
pelo ensino para melhorar a minha condição financeira, em início de carreira de
arquitecta dava jeito mais uns escudos, passado uma semana, decidi que não
seria só uma experiência, porque enriquecia a minha polivalência, e assim
durante muitos anos tive duas profissões, conseguindo dar o melhor nas duas.
Profissionalizei-me para melhor entender o processo educativo.
Como
arquitecta realizava o exercício da composição diariamente, que acho essencial,
e a arquitectura abria-me a porta para o mundo. Como professora realizava todas
as experiências plásticas que só é possível realizar na Escola, e eram para mim
momentos de descontração e de enriquecimento criativo. Com os alunos abria
portas para o interior de cada um deles, para eles poderem sair da caverna e a
gostar deles e do mundo.
Foram anos de
carreira de grande potencial. Ensinei sobretudo o gosto pela arte e o
entusiasmo em realizar trabalhos artísticas, que melhoravam a auto-estima dos
alunos. Passei por 7 escolas, e em todas deixei marca, com convites para
voltar. Os trabalhos dos alunos estavam sempre expostos, e mesmo aqueles de menor
qualidade, arranjava um jeito de o valorizar para estimular o aluno a fazer
melhor.
A carreira dos
professores tem sido pouco valorizada, tanto em remuneração como em
dignificação pública, mas devo salientar duas vertentes muito positivas:
Concursos nacionais de lista única e haver uma renovação anual. Em cada ano
pode-se ter alunos diferentes, colegas diferentes e até uma escola diferente,
isso para mim é muito estimulante. Poder realizar práticas diferentes todos os
anos, tiram qualquer resquício de monotonia que me afecta negativamente. Nunca
quis saber quem eram os novos alunos e o seu aproveitamento escolar anterior.
As artes visuais, que leccionei, foram sempre uma plataforma de renascimento,
de renovação e de novas oportunidades.
Lembrar, que os
professores precisam de pausas - mais dias de férias e menos horas de trabalho.
Ninguém consegue estar todos os dias, operacional, cativante, criativo e colocar-se
ao nível de cada aluno (por vezes são mais de 100 alunos/dia), se não tiver
pausas de tranquilidade e renovação. Os professores com mais de 60 anos estão exaustos,
a sua carreira é longa e desgastante e funcionaram como almofada a todas as
reformas tresloucadas que cada ministro quis impor.
~
Analise da obra "Naus" de António Lobo Antunes - Marina Rocha
Analise da obra "Ano da morte de Ricardo Reis - Adelaide Jordão
INVERTE O
DISCURSO
Aproximam-se eleições e
é necessário ter a memória fresca, pensamento ginasticado e sobretudo manter a
lucidez. Nestes últimos dias de campanha, vai valer tudo. A demagogia para
convencer os mais despreparados e incautos estará ao rubro.
O ser humano é um ser
por natureza insatisfeito e isso faz evoluir a Humanidade, porém é preciso
saber para onde e como.
A comunicação social e
as redes sociais passam constantemente a ideia que todos são corruptos,
ladrões, criminosos, mal-formados e oportunistas. Raramente dão destaque aos
honestos, aos criativos, aos bem-pensantes, porque são a maioria e não dão
canal. Pare para pensar.
Hoje vivemos muito
melhor do que há 50 anos! Se vivemos melhor, é necessário inverter este
discurso. A democracia é um ideal que se tenta atingir e talvez nunca
chegaremos ao final do caminho, porque este tem muitos obstáculos, e o maior
obstáculo são aqueles que tentam derrubá-la.
Vivemos 50 anos sem
guerra! Temos direito a opinião, a formar organizações políticas e até partidos,
e a votar. Temos o direito de saber que há corrupção e a apontar o dedo. Era
assim, antes? Não, nem sabíamos o que se passava no país, eramos uma população
ignorante – então, mudamos para melhor.
Antes do 25 de abril de
1974, o sistema de reformas em Portugal era limitado e não abrangia todos os
cidadãos.
Há 50 anos quantos
serviços de saúde existiam em Vila Real? Um pequeno e velho hospital, cedido
pela Santa Casa da Misericórdia, duas pequenas clínicas, a Delegação de Saúde e
o Serviço de Assistência à Tuberculose, onde íamos tratar das vacinas quando
íamos para o antigo Ultramar. Quantos médicos havia com consultório? Meia
dúzia. Hoje temos um grande Hospital Distrital, onde não vou mais vezes, porque
tem listas de espera, mas quando tenho um problema muito grave é para onde vou.
Temos três centros de saúde com médicos de família, dois hospitais privados, diversos
pontos de enfermagem, de fisioterapia e de meios de diagnóstico por imagem.
Precisamos melhorar? Sim. Mas estamos incomparavelmente melhor. Temos o INEM, quando
a dor no peito aperta, para quem telefonamos? Para os hospitais privados? Para
o comentador do sofá? Para o político que prometeu “mundos e fundos”?
A esperança de vida
aumentou e a mortalidade infantil reduziu-se. Foi por quê? Temos lares para a
terceira idade, infantários, pontos de apoio para os toxicodependentes,
unidades de planeamento familiar, pavilhões desportivos, espaços para
desenvolver o turismo e muito património conservado. Tínhamos isto há 50 anos? CLARO
QUE NÃO! Temos centros de cidade vazios, porque se apostou na construção de
centros comerciais. E quem não utiliza os referidos centros comerciais, atire a
primeira pedra.
O Rendimento Mínimo
provoca alergias a muita gente, porque meia dúzia de oportunistas, fazem
erradamente bitola para todos. Paga o justo pelo pecador, mas ajuda muitas
famílias.
Há desafios a superar
para garantir uma justiça mais eficaz e acessível a todos. Portugal está
considerado o 33º país menos corrupto do mundo, em 135 países, mesmo assim é um
lugar que não gera orgulho.
A escolaridade é gratuita
até ao 12º ano.
Vila Real, uma cidade
pequena tem uma oferta cultural, nunca vista anteriormente. Quando a Amália
vinha a Vila Real, a malta até saia à rua a aplaudi-la – sinal de atraso e
escassez.
Há 50 anos demorávamos
quatro horas para ir ao Porto, hoje bastam cinquenta minutos e a maioria das
cidades têm acesso por auto-estrada ou via rápida.
Há falta de dinheiro? Sim
e não! As grandes obras públicas estão dependentes de candidaturas a fundos
europeus, mas existe na nossa sociedade uma economia paralela, atrevida,
descontrolada e gigantesca que é urgente travar.
A emigração não é
incompatível com a democracia.
Há falta de habitação,
sim. No pós Abril, as pessoas organizaram-se em cooperativas/associações que
tentavam resolver diversos problemas junto às populações, ligados à habitação,
à agricultura e até à cultura e educação. Sabem o que aconteceu? Ergueu-se uma
contestação sombria contra estas estruturas, porque diziam que eram comunistas,
o “bicho papão”. A maioria das casas em Portugal agora tem água canalizada,
instalações sanitárias, esgotos e eletricidade, com apenas 2% das habitações
sem esses serviços básicos. Em 2020, 75% dos residentes em Portugal viviam em
habitações próprias.
Podes fazer greve,
participar em manifestações, até podes ser facho e ignorante, e não pagas para
votar. Pensa, reflecte e inverte o discurso. Valoriza as conquistas de
Abril e o país fantástico onde vives, porque muitos querem vir para cá.
Publicado em NVR 01|10|2025