10 setembro, 2025

Um "privilégio", quando deveria ser um direito

 


Um "privilégio", quando deveria ser um "direito

 

“Reduzir propinas? Seria “regressivo” porque “colocaríamos a sociedade a pagar ensino dos que tiveram privilégio de o frequentar” – Ministro da Educação Fernando Alexandre

Apesar de andar nisto há muitos anos, continuo a ser uma grande ingénua. Sou absolutamente contra directores, grandes agrupamentos, um sistema de avaliação que obedece a cotas, cargas horárias pesadas tanto de alunos como de professores, burocracia excessiva e formação continua pouco exigente com os temas, no Ensino Básico e Secundário.

Quando vi este ministro, que em menos de um mês a trabalhar, já estava a resolver problemas, expondo-se o menos possível à comunicação social, pensei temos Ministro. É desta vez que a Educação vai levar a volta de que tanto precisa em todos os níveis de ensino.  Não me interessa de que partido é, interessa que tenha coragem para por tudo no lugar, reconhecer erros, fazer recuos e aproveitar apenas as boas experiências.

Eu sei que a Educação é um dossier muito difícil e é preciso “tê-los no sítio” (desculpem a expressão) para fazer reformas.

Tive esperança que devolvesse aos profs o seu papel de ensinar e educar e fosse-lhe retirada, a faceta tão em voga, de animador cultural.

Afinal não! Nem chegou lá, nem irá chegar.

Na semana passada o Ministro utilizou o pior argumento que se poderia utilizar relativamente à Educação. Até poderia justificar que é preciso dinheiro, poderia elencar uma série de reformas a realizar no ensino superior, poderia dizer que para haver dinheiro para a guerra, vai faltar dinheiro noutro sítio…

O Ministro apresentou a pior justificação possível.

 Ter acesso ao ensino superior não deveria ser um privilégio, mas sim um direito. O aumento das propinas em concreto é até um pouco ridículo, 13€, mas cada um sabe de si. Apresentar esta narrativa é que não, pois cola-o de imediato contra uma sociedade com oportunidades para todos.

A demagogia apresentada é completamente ilógica. Com essa narrativa eu não teria que pagar as auto-estradas realizadas no território que não utilizo, não teria que contribuir para a educação se não tivesse filhos, não teria que contribuir para a justiça se nunca utilizei os seus serviços, etc, etc..

Sr. Ministro, que narrativa infeliz e ausente de inteligência! É mesmo isto que o senhor pensa? Ia tão bem!

Os senhores professores que deram a victória a este partido, muita atenção a este desgoverno! Votar à direita abre, por vezes, perspectivas inesperadas para o subdesenvolvimento.

O ensino superior deve ser a porta de entrada para oportunidades, não um privilégio reservado para alguns que têm carteira mais recheada. Portugal não pode continuar a desperdiçar talento porque estudar se tornou um luxo numa sociedade que pretende ser democrática.

O financiamento da educação deve vir dos impostos, pois o benefício social é claro — formar profissionais qualificados traz vantagens para toda a sociedade que se pretende cada vez mais democrática, mais justa e mais livre.

O Sr. Ministro deve empenhar-se mais e descobrir onde pode economizar, mas é difícil, porque a Educação será sempre “gastadora”.

O ensino superior, não sendo obrigatório, deve e tem de ser acessível para quem o queira frequentar, tenha mérito para o atingir e sem olharmos para a conta bancária. É um compromisso de toda a sociedade.

“Para melhor está bem, está bem, para pior já basta assim”.

Publicado em NVR 10|09|2025

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