Um "privilégio", quando
deveria ser um "direito
“Reduzir propinas?
Seria “regressivo” porque “colocaríamos a sociedade a pagar ensino dos que
tiveram privilégio de o frequentar” – Ministro da Educação Fernando Alexandre
Apesar de andar nisto
há muitos anos, continuo a ser uma grande ingénua. Sou absolutamente contra
directores, grandes agrupamentos, um sistema de avaliação que obedece a cotas,
cargas horárias pesadas tanto de alunos como de professores, burocracia
excessiva e formação continua pouco exigente com os temas, no Ensino Básico e Secundário.
Quando vi este ministro,
que em menos de um mês a trabalhar, já estava a resolver problemas, expondo-se
o menos possível à comunicação social, pensei temos Ministro. É desta vez que a
Educação vai levar a volta de que tanto precisa em todos os níveis de ensino. Não me interessa de que partido é, interessa
que tenha coragem para por tudo no lugar, reconhecer erros, fazer recuos e
aproveitar apenas as boas experiências.
Eu sei que a Educação é
um dossier muito difícil e é preciso “tê-los no sítio” (desculpem a expressão)
para fazer reformas.
Tive esperança que
devolvesse aos profs o seu papel de ensinar e educar e fosse-lhe retirada, a
faceta tão em voga, de animador cultural.
Afinal não! Nem chegou
lá, nem irá chegar.
Na semana passada o
Ministro utilizou o pior argumento que se poderia utilizar relativamente à Educação.
Até poderia justificar que é preciso dinheiro, poderia elencar uma série de
reformas a realizar no ensino superior, poderia dizer que para haver dinheiro
para a guerra, vai faltar dinheiro noutro sítio…
O Ministro apresentou a
pior justificação possível.
Ter acesso ao ensino superior não deveria ser
um privilégio, mas sim um direito. O aumento das propinas em concreto é até um
pouco ridículo, 13€, mas cada um sabe de si. Apresentar esta narrativa é que
não, pois cola-o de imediato contra uma sociedade com oportunidades para todos.
A demagogia apresentada
é completamente ilógica. Com essa narrativa eu não teria que pagar as
auto-estradas realizadas no território que não utilizo, não teria que
contribuir para a educação se não tivesse filhos, não teria que contribuir para
a justiça se nunca utilizei os seus serviços, etc, etc..
Sr. Ministro, que
narrativa infeliz e ausente de inteligência! É mesmo isto que o senhor pensa?
Ia tão bem!
Os senhores professores
que deram a victória a este partido, muita atenção a este desgoverno! Votar à
direita abre, por vezes, perspectivas inesperadas para o subdesenvolvimento.
O ensino superior deve
ser a porta de entrada para oportunidades, não um privilégio reservado para
alguns que têm carteira mais recheada. Portugal não pode continuar a desperdiçar talento porque
estudar se tornou um luxo numa sociedade que pretende ser democrática.
O financiamento da
educação deve vir dos impostos, pois o benefício social é claro — formar
profissionais qualificados traz vantagens para toda a sociedade que se pretende
cada vez mais democrática, mais justa e mais livre.
O Sr. Ministro deve
empenhar-se mais e descobrir onde pode economizar, mas é difícil, porque a Educação
será sempre “gastadora”.
O ensino superior, não
sendo obrigatório, deve e tem de ser acessível para quem o queira frequentar,
tenha mérito para o atingir e sem olharmos para a conta bancária. É um
compromisso de toda a sociedade.
“Para melhor está bem,
está bem, para pior já basta assim”.
Publicado em NVR 10|09|2025
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