14 fevereiro, 2024

Partilhando Pessoa

 


Partilhando Pessoa

Escrevi o meu texto desta semana e perdi-o nas gravações apressadas e ensonadas, no final de uma noite a chocar a gripe. Pastas e arquivos revirados, não o encontrei. Texto dedicado às matrafonas do Carnaval, que encantam todos os que pretendem valorizar as tradições do Carnaval das gentes de Portugal, tentando contrariar escolas de samba e afins, que surgem muito ridículos no nosso território, de clima frio e quase 900 anos de História e Tradição, que se amplia para além da nacionalidade.

Não há nada que chegue a um careto e uma boa matrafona, de mamas grandes, maquilhagem exagerada que contrasta com barbas e bigodes, permitindo aos homens inverter a sua personalidade durante o Carnaval, expressa através da “feminilidade” de umas pernas musculosas a usar meias de vidro pretas, com costura perna abaixo, rematando com uns sapatos ou sandálias maiores do que o número 42, onde lhe caibam os pés.

Tive preguiça em reescrever e regressei às minhas leituras.

Decidi partilhar Pessoa, num poema que refere uma máscara, a sua, sobre a antiga e sempre atual questão «Quem sou eu?», tão familiar a este poeta:

“Aquela falsa e triste semelhança

Entre quem julgo ser e quem eu sou.

Sou a máscara que volve a ser criança,

Mas reconheço, adulto, aonde estou,

Isto não é o Carnaval, nem eu.

Tenho vontade de dormir, e ando.

Ironia e metafísica se misturam, num outro poema de Campos:

Estou morto, de tédio também

Eu bato, a rir, com a cabeça nos astros

Como se desse com ela num arco de brincadeira

Estendido, no carnaval, de um lado ao outro do corredor,

Irei vestido de astros; com o sol por chapéu de coco

No grande Carnaval do espaço entre Deus e a vida.”

 

E adiciono mais este dedicado à vida:

“A vida é uma tremenda bebedeira.

Eu nunca tiro dela outra impressão.

Passo nas ruas, tenho a sensação

De um carnaval cheio de cor e poeira…”

3 comentários:

Adilía Martins disse...

Também tenho saudades das matrafonas, dos carnavais com entrudos a correr atrás das meninas para lhes deitar farinha. Não me agradam os carnavais abrasileirados, nem perco tempo a vê-los.

Adília Martins disse...

Em constantim ainda é tudo tradicional, os entrudos correm abaixo e acima a abanar as campainhas e a assustar as pessoas. Lamento que depois arranquem sinais de trânsito, deitem cinza nos carros que passam e não respeitem os mais velhos. Concluindo o carnaval é só pra eles porque os mais velhos não se atrevem a sair de casa.

Anabela Quelhas disse...

Parece-me que vai aumentando a valorização da nossa cultura. Fico feliz.