Passadiços
Não me apetece escrever
sobre o Putin, porque já vi o filme todo, nem me apetece escrever sobre
Marcelo, porque já me enjoa a sua retórica, abordo esta semana um tema que vai
desagradar a muita gente, mas é obrigatório que o faça, porque nem sempre a
maioria tem razão.
Passadiços e pontes
suspensas são o que está a dar. Enche o
olho e agrada. Uma moda que não engulo. Parece epidemia contagiosa, que
rapidamente se disseminou… num país que anda há 50 anos para se decidir sobre o
novo aeroporto de Lisboa, os passadiços, parece fogo sobre restolho,
rapidamente se ultrapassam problemas de morfologia, propriedade, legislação
para a conservação da natureza, ideologia ecológica… num piscar de olhos,
aparece um passadiço!
Já lhe chamam a eco-parolice
do momento, que serve apenas o lazer daqueles que não gostam de andar pela
montanha, mas gostam de “passadar”. Faz-me lembrar as crianças que não gostam
de sopa, mas se for passada… Lá vão eles nos sábados e domingos de manhã,
convencidos que estão em comunhão com a natureza e esquecem-se das árvores
abatidas, da desmatificação da Amazónia, do impacto que estas estruturas têm na
paisagem e nos eco-sistemas. Alerto que não basta serem de madeira para estarem
bem.
Aquela ideia que os
passadiços permitem a observação da natureza em estado puro, é uma grande falácia.
Então só se olha para o lado? Não se olha para trás e para a frente? Os
passadiços apenas permitem ver a intervenção agressiva do homem sobre a
natureza, que avança pelos territórios alterando-os profundamente. Nasceu este
paradoxo que a maioria parece não entender. O silêncio, a paz e organização
natural e harmoniosa de certos refúgios da natureza foram absolutamente
invadidos e destruídos.
O primeiro passadiço
construído em Portugal serviu para proteger as dunas, na Reserva Natural das
Dunas de São Jacinto, em Aveiro, na década de 80. Os de hoje só tem a
finalidade lúdica e que se lixe o resto e quem grita é o ambiente, a economia e
meia dúzia que remam contra a maré, como eu.
Os passadiços do Vale
do Mondego custaram à Câmara Municipal da Guarda 2.733.710,94€. Aqui parece que ficou mais em conta, custaram
400.000€, mas não esqueçam, um passadiço exige reparações e uma manutenção
permanente. Se economicamente é rentável para toda uma região, não sei, mas
questiono-me:
-
Quantas árvores são necessárias abater para fazer um passadiço?
Gostei de uma frase da
autoria dos Caminheiros da Gardunha publicada no Papa Léguas: [Em suma, e
salvo algumas boas excepções, propor percursos em passadiços como percursos de
valorização e promoção da natureza é como criar uma linha de refeições prontas
ultra-congeladas com o rótulo de “comida caseira da avó”]
Depois venham-me com o
degelo, o aquecimento global, a poluição dos mares e as palmas para a Breda.
Se querem a minha
humilde opinião, as escarpas do Corgo ficaram todas danificadas! Vejam as
várias fotos que existem na internet, acham aquilo bonito? As escarpas estão
completamente fanicadas, perderam o aspecto agreste, selvagem e vestiram-lhe
uma cinta… sei lá, um ligueiro
Publicado em NVR 19/10/2022
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