19 outubro, 2022

PASSADIÇOS

 


Passadiços

Não me apetece escrever sobre o Putin, porque já vi o filme todo, nem me apetece escrever sobre Marcelo, porque já me enjoa a sua retórica, abordo esta semana um tema que vai desagradar a muita gente, mas é obrigatório que o faça, porque nem sempre a maioria tem razão.

Passadiços e pontes suspensas são o que está a dar.  Enche o olho e agrada. Uma moda que não engulo. Parece epidemia contagiosa, que rapidamente se disseminou… num país que anda há 50 anos para se decidir sobre o novo aeroporto de Lisboa, os passadiços, parece fogo sobre restolho, rapidamente se ultrapassam problemas de morfologia, propriedade, legislação para a conservação da natureza, ideologia ecológica… num piscar de olhos, aparece um passadiço!

Já lhe chamam a eco-parolice do momento, que serve apenas o lazer daqueles que não gostam de andar pela montanha, mas gostam de “passadar”. Faz-me lembrar as crianças que não gostam de sopa, mas se for passada… Lá vão eles nos sábados e domingos de manhã, convencidos que estão em comunhão com a natureza e esquecem-se das árvores abatidas, da desmatificação da Amazónia, do impacto que estas estruturas têm na paisagem e nos eco-sistemas. Alerto que não basta serem de madeira para estarem bem.

Aquela ideia que os passadiços permitem a observação da natureza em estado puro, é uma grande falácia. Então só se olha para o lado? Não se olha para trás e para a frente? Os passadiços apenas permitem ver a intervenção agressiva do homem sobre a natureza, que avança pelos territórios alterando-os profundamente. Nasceu este paradoxo que a maioria parece não entender. O silêncio, a paz e organização natural e harmoniosa de certos refúgios da natureza foram absolutamente invadidos e destruídos.

O primeiro passadiço construído em Portugal serviu para proteger as dunas, na Reserva Natural das Dunas de São Jacinto, em Aveiro, na década de 80. Os de hoje só tem a finalidade lúdica e que se lixe o resto e quem grita é o ambiente, a economia e meia dúzia que remam contra a maré, como eu.

Os passadiços do Vale do Mondego custaram à Câmara Municipal da Guarda 2.733.710,94€. Aqui parece que ficou mais em conta, custaram 400.000€, mas não esqueçam, um passadiço exige reparações e uma manutenção permanente. Se economicamente é rentável para toda uma região, não sei, mas questiono-me:

-  Quantas árvores são necessárias abater para fazer um passadiço?

Gostei de uma frase da autoria dos Caminheiros da Gardunha publicada no Papa Léguas: [Em suma, e salvo algumas boas excepções, propor percursos em passadiços como percursos de valorização e promoção da natureza é como criar uma linha de refeições prontas ultra-congeladas com o rótulo de “comida caseira da avó”]

Depois venham-me com o degelo, o aquecimento global, a poluição dos mares e as palmas para a Breda.

Se querem a minha humilde opinião, as escarpas do Corgo ficaram todas danificadas! Vejam as várias fotos que existem na internet, acham aquilo bonito? As escarpas estão completamente fanicadas, perderam o aspecto agreste, selvagem e vestiram-lhe uma cinta… sei lá, um ligueiro

Publicado em NVR 19/10/2022

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