18 maio, 2022

À TUA PROCURA


 

“À tua procura” , Maria da Graça Rios Vilela

              Em “À tua procura” há sempre o eu e o outro.

              “Acaso tu vês o que vejo?”

              São palavras maduras, inquietas e sábias numa constante procura do outro lado, de uma outra linguagem e de uma outra realidade.

              “As palavras constroem-se.

                                                        ...juntam-se.

                                                                       ... trabalham-se.

                                                                                                   .... adoçam.

                                                                                                                               ...”

              A autora sabe e emite prazer na escolha de cada palavra suscitando o seu interior, os afectos, as paixões e o contraponto sempre presente, o outro, porém, sempre discreto e oculto. Entendo esta poesia, gosto dela, porque a poesia é arte de dizer os afectos, sempre num enquadramento discreto e nunca totalmente perceptível, pois é daí que se gera a sedução e o encantamento que se poderão transformar em arte. Há formas de dizer e formas de escrever. A estética da grafia, também aqui está presente, as pausas transformadas em espaço vazio, valoriza cada poema e converte-se em fio condutor para o onírico e facilita a empatia com o leitor, obrigando-o a parar e reflectir sobre a sua própria intimidade..

              Ser poeta ou poetisa é encontrar sentido onde ele provavelmente não é visível, ou não existe. É desconstruir a realidade para que se perceba o que se sente e emociona, é o caminho que vai dar ao seu mundo interior e poderá sugerir os caminhos dos outros, por vezes cheios de barreiras e preconceitos.

              “Tu és como o tempo... sem vento... com vento...”

              “À tua procura” é também o espaço do desencontro, de resiliência em continuar a procurar, que se pode resumir num olhar, num entardecer, num renascer.

Anabela Quelhas

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