“Sofrer de distância, é talvez das enfermidades que mais
padeço. Alguém me diagnosticou, mas não soube medicar, apesar da vasta experiência.
Aliás salvo erro inclui-se na mesma maleita incurável desde os tempos que são
tempos de distância. Falta o cheiro de terra vermelha, falta o olhar daquele céu,
falta a linha do horizonte a nos cegar, falta o cacimbo e os mangais, falta
ritmo de batuque para adormecer, falta a falta de tudo e mais a falta dos sábados
intermináveis de nada fazer e tudo abarcar. Ausências, distancias… qual milongo
pode curar tamanha sintomatologia? Te falei de reincarnação… reincarnação no mesmo
lugar da Lua é que eu quero, outras nem pensar. Quero brincar na areia, quero
corimbar, quero ver-te da minha janela estendida em malhas de crescer sem
parar. Quero repousar à sombra de jacarandás e sonhar que sou uma onça pintada,
que sou uma palanca negra, que sou uma formiga salélé…, sei lá, o que mais
sempre habitou nas imaginações que sofrem de distância.
Sofro de distância. Olho o olhar do outro lado do espelho e
vejo como sofro.”
In Ensaios de escrita
um projecto sempre adiado, Anabela
Quelhas
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