Senti o telemóvel a tocar!
Eram 4,00 horas da madrugada, ainda nem tinha começado o dia.
Este foi o primeiro dos vários sintomas de grande stress dos últimos anos, em tempo de
férias.
Dormia superficialmente, logicamente estava a sonhar e não tinha conseguido desligar toda a rede de circuitos tecidos ao longo do jurássico. Dormia,
sonhava e acordava dormindo e sonhando.
Virei as costas ao mundo, pensei em como é difícil desligar e con
venci-me que iria dormir de novo.
Escutei a música das ondas do mar e senti a brisa fresca a empurrar suavemente as cortinas transparentes, misturando o atrito da seda, grávido de vento..
Poderia desligar o telemóvel… mas não uso relógio há muit
os anos… e ele nem sequer tocou…mas…. Tento conciliar o dormir, mas o suposto toque, fechou a porta do meu sono.
Revi as características do perfil dum stressado, tentando auto-convencer-me que estaria tudo sob controle (pura ilusão):
Responsabilidade – quente
Ambição – frio
Liderança – quente
Responder em simultâneo a várias situações – a ferver
Exigência – quente
Ansiedade - quente
Perfeccionismo - caliente
Pontualidade – a ferver
Competitividade - morno
Tempo – boa gestão, tépido
Dificuldade em desligar – escladante
Realizei um gráfico mental atendendo aos conceitos artesianos e à disposição ortogonal, visualizando a predominância do vermelho sinónimo de quente e de alarme, sobre o frio inexistente, no meu adorável azul.
Desliguei o tecnicolor do pensamento e embrulhei-me
em supostos s
onhos em que gostaria de entrar naquela hora tardia – ementa tropical sempre. Fiquei à porta, presa aos eixos das abcissas, colada ao eixo das ordenadas e afastando-me da verdadeira função de DORMIR. Nem a visão de terras ocres, e cacimbos húmidos me deixaram entrar num repousante sono.
Tentei organizar alguma desordem nos pensamentos, segundo uma estrutura de prioridades: os que serenam e os que agitam.. passei para segundo plano os que agitam. Pensei em quem queria pensar. Pensei com carinho, porque queria pensar e escutei mais uma vez o mar… e pensei. As horas escoaram-se após cada ciclo sessenta
minutos deste fait di
vers, ausente de palavras sonantes e rico em palavras imaginadas.
Dei várias voltas na cama, naquela ansiedade do cobre, descobre… pensei no antes, no depois, no faz de conta, no que poderia ser e não foi, no futuro e no condicional, pensei na Corimba e nas musicas que nunca chegaram ao seu devido destino e destrincei cada variante da ausência de sono articulada com as possíveis palpitações do meu velho telemóvel.
Pedi um pacote de sono com pouco açúcar.
Pedi uma cabeça vazia perdida
de s
ono
Pedi aromas de espera para a minha paciência.
Pedi tempo de mim e de brisas do mar.
Pedi o resto da madrugada.
Pedi para não pe(r)d(i) (e )r
Perdi o sono!
Ensaios de escrita – um projecto sempre adiado
(A. Quelhas)
2 comentários:
e encontraste-te?
Estimada e Preciosa Amiga:
Um maravilhoso e fabuloso texto com a tua assinatura de ouro puro.
Fantástico.
Parabéns sinceros.
Os teus sentimentos são notáveis em relação a ti, ao mundo, à vida.
Abraço amigo ao teu talento e a ti pela tua gigantesca forma de o sentir.
Com respeito, estima e consideração pela tua mágica e sublime atitudes de estar na vida.
pena
Adorei.
A tua sensível escrita fascina e encanta. É ímpar.
Bem-Hajas, prodigiosa amiga por quem nutro grandiosa significação de pureza e beleza imensas.
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