02 agosto, 2011

Senti o telemóvel a tocar



Senti o telemóvel a tocar!

Eram 4,00 horas da madrugada, ainda nem tinha começado o dia.

Este foi o primeiro dos vários sintomas de grande stress dos últimos anos, em tempo de

férias.

Dormia superficialmente, logicamente estava a sonhar e não tinha conseguido desligar toda a rede de circuitos tecidos ao longo do jurássico. Dormia,

sonhava e acordava dormindo e sonhando.

Virei as costas ao mundo, pensei em como é difícil desligar e con

venci-me que iria dormir de novo.

Escutei a música das ondas do mar e senti a brisa fresca a empurrar suavemente as cortinas transparentes, misturando o atrito da seda, grávido de vento..

Poderia desligar o telemóvel… mas não uso relógio há muit

os anos… e ele nem sequer tocou…mas…. Tento conciliar o dormir, mas o suposto toque, fechou a porta do meu sono.

Revi as características do perfil dum stressado, tentando auto-convencer-me que estaria tudo sob controle (pura ilusão):

Responsabilidade – quente

Ambição – frio

Liderança – quente

Responder em simultâneo a várias situações – a ferver

Exigência – quente

Ansiedade - quente

Perfeccionismo - caliente

Pontualidade – a ferver

Competitividade - morno

Tempo – boa gestão, tépido

Dificuldade em desligar – escladante

Realizei um gráfico mental atendendo aos conceitos artesianos e à disposição ortogonal, visualizando a predominância do vermelho sinónimo de quente e de alarme, sobre o frio inexistente, no meu adorável azul.

Desliguei o tecnicolor do pensamento e embrulhei-me

em supostos s

onhos em que gostaria de entrar naquela hora tardia – ementa tropical sempre. Fiquei à porta, presa aos eixos das abcissas, colada ao eixo das ordenadas e afastando-me da verdadeira função de DORMIR. Nem a visão de terras ocres, e cacimbos húmidos me deixaram entrar num repousante sono.

Tentei organizar alguma desordem nos pensamentos, segundo uma estrutura de prioridades: os que serenam e os que agitam.. passei para segundo plano os que agitam. Pensei em quem queria pensar. Pensei com carinho, porque queria pensar e escutei mais uma vez o mar… e pensei. As horas escoaram-se após cada ciclo sessenta

minutos deste fait di

vers, ausente de palavras sonantes e rico em palavras imaginadas.

Dei várias voltas na cama, naquela ansiedade do cobre, descobre… pensei no antes, no depois, no faz de conta, no que poderia ser e não foi, no futuro e no condicional, pensei na Corimba e nas musicas que nunca chegaram ao seu devido destino e destrincei cada variante da ausência de sono articulada com as possíveis palpitações do meu velho telemóvel.

Pedi um pacote de sono com pouco açúcar.

Pedi uma cabeça vazia perdida

de s

ono

Pedi aromas de espera para a minha paciência.

Pedi tempo de mim e de brisas do mar.

Pedi o resto da madrugada.

Pedi para não pe(r)d(i) (e )r

Perdi o sono!


Ensaios de escrita – um projecto sempre adiado

(A. Quelhas)


2 comentários:

joe zigoto disse...

e encontraste-te?

O Nosso Mundo da Imaginação disse...

Estimada e Preciosa Amiga:
Um maravilhoso e fabuloso texto com a tua assinatura de ouro puro.
Fantástico.
Parabéns sinceros.
Os teus sentimentos são notáveis em relação a ti, ao mundo, à vida.
Abraço amigo ao teu talento e a ti pela tua gigantesca forma de o sentir.
Com respeito, estima e consideração pela tua mágica e sublime atitudes de estar na vida.

pena

Adorei.
A tua sensível escrita fascina e encanta. É ímpar.
Bem-Hajas, prodigiosa amiga por quem nutro grandiosa significação de pureza e beleza imensas.