09 janeiro, 2010

Não me conformo



Há coisas que aceleram a minha gastrite com uma rapidez galopante.
Revolto-me.
Não me conformo.
Sempre que chegam os dias frios, a comunicação social dá visibilidade aos sem abrigo e ao metro das grandes cidades,que faz o favor de não encerrar as suas portas, para acolher os sem abrigo nas noites mais geladas.
Isto para mim revolve-me as tripas!
Cruzo-me com eles nas ruas, nos caixotes do lixo, nos sítios que sobram quando a noite avança.
Conheço alguns, sei que são todos diferentes.
Sei que se esconde por trás da aparência maltrapilha e por vezes nojenta grandes dramas pessoais ligados a esta vida madrasta, que não soube aproveitar o que há de melhor em cada um deles. Alguns vivem situações familiares graves, acompanhados com contabilidades muitos negativas dos afectos. Alguns vivem os sintomas agudos das doenças mentais, consequências de surtos de loucura permanente. Alguns vivem a pobreza, a ausência de bens.... Muitos vivem ainda uma espécie de dignidade que lhes resta antes do colapso final determinado pela paragem da vida.
Os sem abrigo estão no fim da linha da estrutura social e da degradação humana.


Queiramos ou não, são o produto "menor" da sociedade em que vivemos e somos todos responsáveis por eles. Vão surgindo alguns apoios e acções de solidariedade para os ajudar, quando a situação dramática que vivem diariamente ainda se torna mais dramática.
A minha gastrite aumenta quando penso como é relativamente fácil arranjar algumas soluções que iriam tirar a maior parte destas pessoas da rua. Constroem-se estádios superhipermegamercados, shopings, centro culturais ..... e não vejo plataformas de abrigo temporário para os sem abrigo, onde se assegure condições mínimas higiene, o depósito dos seus parcos bem, onde tenham um colchão para dormir.... e onde se centre o trabalho de equipas especializadas e adaptadas para apoiar estas pessoas omitidas, esquecidas, de corpo maltratado e de alma a sangrar, que bateram no fundo do poço e lá permanecem irremediavelmente.
Há sites na internet.
O portal do cidadão fornece algumas informações para os sem abrigo, como se fosse possível que eles tivessem acesso ou se interessassem em navegar na net.
Há equipas de rua, há voluntários, há até algumas organizações que tem feito um trabalho meritório....mas não chega!
Sei que cada é um caso, e um caso difícil e complexo, mas não me conformo com esta miséria sem solução à vista.

Segundo a AMI, há 4 grandes grupos
a) Sem Abrigo
. Pessoas que vivem na rua
. Pessoas que vivem em alojamentos de emergência

b) Sem Alojamento
. Lares de alojamento provisórios – fase de inserção
. Lares de mulheres
. Alojamento para Imigrantes
. Pessoas que saíram de hospitais ou estabelecimentos prisionais
. Alojamento assistidos / acompanhado

c) Habitação Precária
. Habitação temporária / precária – casa de amigos, familiares, sem arrendamento, ocupação ilegal
. Pessoas à beira do despejo
. Vítimas de violência doméstica

d) Habitação Inadequada
. Pessoas que vivem em estruturas provisórias, inadequadas às normas sociais – exemplo: caravana
. Pessoas em alojamento indigno – exemplo: barraca
. Sobrepopulação

Esta população apresenta estas características:
- 89% está desempregada
- 28% tem formação profissional
- 92% tem familiares vivos, mas apenas 37% se relaciona com eles
- 39% não tem médico de família
- 7% tem HIV
- 28% consome substância activas
- 43% tem filhos
.....
No 2010 ano europeu de combate à pobreza e à exclusão social, Portugal gastará mais de 700 mil euros e as autoridades prometem mobilizar a sociedade civil para o seu combate.


Dá para rir ou seja, dá para chorar!
O estádio do Águeda parece que custa qualquer coisa como 80.000 € de manutenção anual.
O estádio do Leiria parece que custou uma soma de 90 milhões de euros e a sua manutenção custa cerca d e 5.000 euros dias (será que li bem?)
Façam lá as contas... por isso a minha gastrite tem uma forte tendência a virar uma ulcera crónica.
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2 comentários:

Pena disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
são branca disse...

Só 2010 é ano de combate à pobreza e à exclusão social. E depois? Vão voltar a pôr gente mediática a servir-lhes uma ceia de limpeza de consciências na véspera de Natal e a abrir-lhes as portas do metro quando o Inverno apertar? Como se só então a fome e o frio apertassem. Como se a fome e o frio não fossem sintomas dum mal maior que é urgente tratar.
Mas eles nem votam, não pagam impostos nem estendem o cartão à porta de quem deviam ...