O fogo risca violento
O fogo risca violento
a palavra calor-ardente.
Na Serra do Alvão
as rochas, sábias e frias,
aquele mar de pedras
que nos preenche a alma
e a identidade,
testemunham a cinza,
e não perdoam,
a irresponsabilidade humana.
O vento incendiário.
ora lento, ora tresloucado,
desenhou poucos mapas de fuga,
enquanto o céu, sem fôlego,
se encobriu de fuligem e silêncio.
A tela da natureza foi manchada
por mão diabólica,
animais em fuga
aves perdidas,
sem pouso,
insectos insanos e despejados do chão
que lateja sob cada passo.
A voz do desespero,
ecoa!
O ar, irrespirável,
corta o dia pela raiz,
como uma lâmina afiada
na carne da nossa existência.
Tragédia transmontana,
de sonhos moribundos
enredados na fumaça,
num céu que se desvanece.
E as pedras?
As pedras…
o nosso mar de pedras?!
É um gigante de silêncio,
indignado, consternado
enraivecido, possesso
perdendo-se
em perguntas que vagueiam sem resposta
entre a vida e a cinza.
Autora: Ana d’Or
Publicado em NVR 27|08|2025
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