27 agosto, 2025

O FOGO RISCA VIOLENTO


 

O fogo risca violento

 

O fogo risca violento

a palavra calor-ardente.

Na Serra do Alvão

as rochas, sábias e frias,

aquele mar de pedras

que nos preenche a alma

e a identidade,

testemunham a cinza,

e não perdoam,

a irresponsabilidade humana.

O vento incendiário.

ora lento, ora tresloucado,

desenhou poucos mapas de fuga,

enquanto o céu, sem fôlego,

se encobriu de fuligem e silêncio.

A tela da natureza foi manchada

por mão diabólica,

animais em fuga

aves perdidas,

sem pouso,

insectos insanos e despejados do chão

que lateja sob cada passo.

A voz do desespero,

ecoa!

O ar, irrespirável,

corta o dia pela raiz,

como uma lâmina afiada

na carne da nossa existência.

Tragédia transmontana,

de sonhos moribundos

enredados na fumaça,

num céu que se desvanece.

E as pedras?

As pedras…

o nosso mar de pedras?!

É um gigante de silêncio,

indignado, consternado

enraivecido, possesso

perdendo-se

em perguntas que vagueiam sem resposta

entre a vida e a cinza.

 

Autora: Ana d’Or

Publicado em NVR 27|08|2025

Sem comentários: