06 junho, 2015

GÉNESIS


GÉNESIS

            Já vou na terceira oportunidade de apreciar ao vivo e a preto e branco, fotografias da autoria de Sebastião Salgado. Desta vez foi na Cordoaria em Lisboa.

            É uma gigantesca exposição, com 245 fotografias de grande formato, que já foi vista por cerca de 2 milhões de pessoas desde 2013, em vários pontos do mundo. Está organizada em 5 partes, “ Amazónia e Pantanal”, Espaços a Norte”, “Sul do Planeta”, “África” e “Santuários”.

            O grande tema “Génesis” (do grego Γένεσις, "origem", "nascimento", "criação") abre-nos janelas para a origem do planeta terra, tão mal estimado pelos nossos contemporâneos – uns porque pertencem a países desenvolvidos e industrializados, outros porque pertencem aos países em vias de desenvolvimento… mas, todos pecam.

            O seu autor referenciou-a como uma “história de amor ao planeta”, que expressa uma década do seu trabalho, mostrando-nos através do seu olhar, as situações mais primitivas que ainda hoje sobrevivem a este nosso mundo louco e idiota. Todas as fotografias formam um registo de grande valor, para nós que vivemos agora e para as gerações que se seguem, pois são um testemunho real dos recantos do mundo não explorados e não corrompidos pelo Homem civilizado, pelos seus negócios e pelo capital que tudo adultera. 

            Imagino que são fotografias obtidas em locais de difícil acesso, depois de dias e dias (meses?) cheios de privações, de obstáculos, de suor e de desânimo, que só uma grande determinação como a de Sebastião Salgado,  em partilhar connosco realidades tão distantes e tão estranhas, consegue transformar estas expedições tão singulares, em sucesso.

            Percorri a exposição de forma desorganizada, como tenho o hábito de fazer, devido a uma certa impaciência em percorrer o caminho dos outros. Permaneci mais tempo, vendo e revendo as fotografias de África, pois é por ali que mais me identifico. Colhi fotografias de fotografias, para poder rever e escrever sobre elas.

            A minha fotografia preferida foi obtida no sul Sudão, em 2006. Foca um acampamento de gado em Amak, com múltiplas transparências de cinzentos, resultantes de diversas fumaças que se destinam a afugentar insectos. Bovinos magros de grandes armaduras, com ar pacífico, entremeados com os seus guardadores que controlam e cuidam da manada, aliviando todo o acampamento de insectos que martirizam todos, a certas horas do dia e da noite. È um belo registo fotográfico e esta é a foto talvez mais popular.

            Mas há outras que mereceram a minha atenção. A investida do elefante que chama à atenção para a dizimação dos elefantes que alimentam o negócio ilícito do marfim (Zâmbia), as mulheres da tribo Mursi e Surma, últimas do mundo a usar discos nos lábios (Etiópia)…

            Todas as fotografias têm uma mensagem implícita, induzindo-nos para a preservação do planeta azul, assinada por este grande fotógrafo ambiental, acrescida de várias histórias paralelas que cada visitante poderá imaginar sobre, toda a equipa que apoiou o fotógrafo, tornando possível segundos de cliques invulgares em sítios recônditos do planeta, onde não passa o comboio, não há aeroportos, não existem navios, e os jeeps ficam a muitos quilómetros de distância, justificando-se verdadeiras peripécias, que são deduzíveis e circunstanciadas pelo raciocínio de cada um.

            Não vos maço com mais descrições. Não percam, a exposição estará em Lisboa até Agosto. Preparem-se para a fila a certas horas. Esta é a exposição que deveria por o mundo a pensar.

Podem consultar:

http://www.terraesplendida.com/genesis/ TE_GENESIS_INFO_CM-JF.pdf
Publicado em NVR
 

 

2 comentários:

Anónimo disse...

Ana, Lembraste quando conhecemos Sebastião?
Que situação!!! eu completamente desorientado perante a simplicidade dele.
Temos de repetir.
Bjs
A. M.

João Vieira disse...

Também vi, beijinho Ana