19 julho, 1990

Túmulo de Agaménon

Portal dos leões de Micenas
Túmulo de AgaménonNão sabia que o iria visitar, nem nunca tinha visto nenhuma foto deste túmulo.
Foi uma grande surpresa.
A aproximação ao sítio pareceu-me estranha, pouco tratada… diria mesmo quase tudo abandonado, uma cidade em ruínas, muralhas enormes, pedras soltas desorganizadas e depois a entrada para a cidade, um vão geométrico, encimado por uma escultura que dizem ser a mais antiga da Europa - portal dos leões de Micenas. O portal data de 1250 aC
Afinal Agaménon, o da máscara fúnebre em ouro, foi 1º rei de Micenas, relacionado com Helena, Páris, deusa Arthemis, Áquiles, Cassandra, no tempo do mundo antigo onde o real se confunde com a mitologia, e que para nós, seres do final do século vinte se torna difícil entender, e visualizar o emaranhado de relações nesse mundo.
Nikolas se esforçou, garanto.
Mas eu sou má seguidora de guia turístico. Dirijo a cada momento a minha atenção para aquilo que mais me interessa, e esqueço…. Está bem!!!! ignoro mesmo o planeamento feito por Nikolas, ou oiço apenas o que mais me interessa.
Agaménon terá sido rei da cidade e líder na guerra contra os troianos.
Esta tumba será a maior das nove tumbas descobertas na região.
A porta mede 5,4 metros de altura. A câmara funerária tem cerca de 14 metros de altura e de diâmetro. A sensação é de magnitude, grandiosidade e mistério.


……… (chamaram-me para eu mostrar as filmagens de hoje,… perdi o fio da escrita)
…………………………………

Achei que aquele momento de hoje de manhã, seria um momento especial na minha vida, reflecti sobre a possibilidade ser 1ª e última vez, que entraria naquela tumba. Fiquei arrepiada, comecei a fazer contas de somar, desde a antiguidade, somando séculos, uns atrás dos outros, num desfiar mágico, daqueles que acontecem quando estamos sob pressão ou a experimentar um estado de grande ansiedade.
Estes dias tem sido férteis em cronologias e cálculos rápidos de 100 em 100 anos.
Parei no exterior, no caminho de acesso e respirei fundo, ciclópicamente, mesmo! E voltei a focar e fazer o controle de brancos da máquina de filmar, preparando tudo para o grande momento.
Entrei. Entrei por um vão, rematado por um triângulo isósceles, vazado, perfeitamente geométrico.
A tumba é um sítio escuro, como convém, em que a claridade entra apenas pelo tal vão que utilizei como entrada. Passei de uma claridade feroz, das onze da manha do mês de Julho, sol ardente e entrei para o escuro que ficou mais escuro ainda.
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Demorei uns minutos para me adaptar á pouca luminosidade.
Cheirava a fechado a mofo de tumba, apesar de ser um espaço vazio e não restar absolutamente nada do tal Agaménon (ingenuidade minha em pensar…).
Câmara circular e afunilada para cima ou seja um cone funerário de grandes dimensões – uma escala grandiosa, espaço sem qualquer ornamento, sóbrio, oco, mas poderoso!
À escala de um rei!
Quem vê de fora, repara que por cima do vão tem uma pequena elevação do terreno tipo pequena colina, pensa-se num relevo natural e é exactamente a cobertura da tumba que abriga em toda a sua altura o interior da tumba cónica. Foi aqui que foi encontrada a conhecida máscara mortuária em folha de Ouro, que está no principal museu daqui de Atenas. Jóias também.
Sítio pouco visitado, esquecido talvez, mas genuinamente antigo, e que passará a ser inesquecível para mim. Amadureci e cresci. Talvez o sitio mais emblemático de toda a Grécia. Espero rever a história dentro de dias, pois não me preparei para explorar isso.
Permaneci em silêncio e tentei abstrair-me dos outros visitantes, embrenhar-me de antiguidade. A sensação
é de magnitude, grandiosidade e mistério de um vazio que leva a caminhos simbólicos, distantes mas presentes.
Interior
(diário de viagem)

1 comentário:

Pena disse...

Simpática Amiga Anabela:
Um Diário de viajem como só tu sabes narrar.
Muito belo e lindamente expresso.
Gostei muito, com sinceridade.
Deu-me a sensação misteriosa, mas bem real do teu ser e estar em presença contemplativa do "Túmulo de Agaménon".
Excelente!

Beijinhos

pena