A desorganização do
Planeta Terra
É com surpresa,
consternação e receio, que temos acompanhado a tragédia de Valência. Após
alguns dias, o balanço é assustador, assim como as imagens, que tivemos
oportunidade de ver, quase em directo. Mais de 212 pessoas morreram e imensas
pessoas continuam desaparecidas, perdidas em toneladas de lamas, dejectos e
tudo o que aquelas chuvas repentinas alagaram e arrastaram consigo, automóveis,
árvores, pequenas estruturas e uma ponte.
O Planeta Terra tem
enviado avisos, cada vez mais frequentes para vários sítios e países; nada está
bem neste planeta, que entrou em fase de desorganização progressiva.
Arriscando mais uma
vez a ser politicamente incorrecta ou pouco assertiva, para alguns leitores, na
minha modesta opinião, não se influência o comportamento dum planeta com a
nossa atitude activa e preocupada sobre a separação de lixos domésticos. Ajuda
apenas, mas nada resolve. Mais uma vez vieram a terreiro alguns radicais, que
atribuem as culpas à minha geração dos anos 60 e 70 e lembrando como são
importantes as manifestações dos ambientalistas que atiram tinta para todo o
lado. Enfim!
É demasiado evidente e
todos temos consciência, que estes episódios dramáticos estão directamente
ligados com as alterações climáticas – aumento de temperatura, seca, chuvas
torrenciais, tufões e mais o que se verá, tudo é consequência de um planeta em
desequilíbrio e que já é muito difícil contrariar.
Contestar é a forma
mais fácil de divulgar esta preocupação, que afinal é de todos, difícil é alterar
práticas e estilos de vida. Ninguém quer regredir para o modelo de sociedade
rural do século XIX. Todos queremos o nosso banho de manhã, ter água
canalizada, despachar detritos pelas redes sanitárias, viver numa casa
confortável, de Verão refrescada com ar condicionado, e no Inverno aquecida e
com piso radiante. É isto que todos querem e os nossos jovens, que atiram tinta
danificando património, também querem e não passam sem o seu telemóvel com rede
5G. Todos queremos ir ao supermercado e comprar carne, peixe, pão, legumes,
numa embalagem de plástico higienizada. E todos nós ambicionamos fazer férias,
embarcando num voo de avião até um paraíso tropical. Depois separamos lixo,
alguns têm painéis solares e carros eléctricos, reciclamos alguns bens
domésticos, vendemos roupa para uma segunda mão e ficamos de consciência
tranquila, sim, porque pouco mais conseguimos fazer.
O problema é muito
mais complexo e consta de uma progressão tresloucada das economias mundiais,
desde a revolução industrial, e da transformação do próprio planeta, das suas
regiões, com características próprias, e que o Homem foi alterando em seu benefício,
especialmente a ocupação indevida do território. Não são só as ocupações dos
cursos de água, activos ou inactivos, pela construção urbana acelerada.
Poucos alertam para a
mudança nas plantações de produtos. Nunca se viu plantações de kiwis em
Trás-os-Montes, abacates, bananas e outros frutos tropicais no Algarve.
Agricultores e ambientalistas dividem-se quanto a esta questão – o uso indevido
dos solos nas culturas de regadio, a substituir as culturas de sequeiro. E como
os átomos não se vêem, seguimos em frente e só quando se transformam em
tragédia é que levamos com os átomos da desgraça na cabeça.
Foquei apenas uma
situação neste nosso país pequenino, mas de facto a acção galopante do Homem
verifica-se em todo o mundo. Refiro-me à construção de grandes cidades nos
países árabes, que têm transformado o deserto em oásis gigantescos de luxo e de
conquista à natureza. Pouca informação aqui chega sobre as ilhas artificiais,
que proliferam pelo mundo, a agricultura efectuada nos desertos (Califórnia,
Austrália, Arábia Saudita, Israel), florestação ou revegetação de desertos,
alterações na fauna autóctone, dessalinização da água do mar para criar
reservas de água, onde nunca as houve, controlando o ambiente e proporcionando
uma agricultura “sustentável” (palavra perigosíssima que alivia consciências). E que me dizem à semeadura de nuvens, que
inventaram para chover no deserto? - Emirados
Árabes, Omã e Arábia Saudita.
O Planeta Terra está
farto deste monstro chamado Homem. A Terra permite-nos viver cá, mas é como um
senhorio rigoroso, temos que zelar pela conservação, não podemos fazer obras,
nem mudar os móveis de sítio.
Publicado em Notícias de Vila Real 6/11/2024