PARCERIA
26 março, 2025
AMARELO TANGO - Nicolau Santos
PARCERIA
PAPA-MUSEUS
“Papa-museus”
Alguma vez se sentiu
cansado e frustrado depois visitar um museu?
Quem não?
Se é um “papa-museus”
como eu, percebe certamente a que me refiro. Querer ver tudo em pouco tempo,
rentabilizando ao máximo as visitas, exige boa condição física e intelectual, mas
encerra com essa sensação.
Há pequenos museus e há
museus megalómanos, e alguns ainda têm a própria arquitectura do espaço, que
acrescenta obrigatóriamente muito interesse e atenção.
O Museu do Louvre em Paris, é o museu mais
visitado do mundo. A relevância arquitetónica do edifício e o seu espólio, implicam
milhões de visitantes por ano; o seu acervo é de aproximadamente 38 mil objectos
artísticos realizados desde a pré-história até o século XIX.
Quanto tempo seria necessário
para ver todas as obras de arte do Museu do Louvre, com olhos de ver?
O Museu conhecendo esta
problemática, já possui diversos percursos para que o visitante possa seleccionar
o que mais lhe interessa e simplificar a sua visita.
Sabendo que nós, os
seres humanos, apenas temos até 90 minutos seguidos de concentração (estou a
ser optimista), o que nos restará depois de uma visita ao Louvre? Chegamos a um
ponto e esgotamos a nossa capacidade.
As obras de arte estão
nos museus, os livros nas bibliotecas…
Ninguém vai a uma
biblioteca e lê todos os livros, porque um livro demora horas ou dias para ser
lido. Para ver com olhos de ver uma obra de arte é algo semelhante. Reparem, quem
fez uma pintura ou uma escultura demorou dois meses, um ano, dois? E nós
demoramos menos de dois minutos para ver essa obra. Considero que é até ofensivo
para o autor, porque não nos damos tempo para observar e interpretar a mensagem
do mesmo, e muito menos elaborar a nossa interpretação. A superficialidade com
que, muitas vezes, observamos as obras de arte, contrasta com o tempo que
levamos para apreciá-las e com o tempo que os seus criadores dedicaram para
produzi-las.
Talvez isto explique a
nossa sensação de cansaço e frustração pela nossa falta de capacidade para absorver
tanta informação.
As entradas nos museus
raramente são gratuitas e a maioria das vezes, pretendemos aproveitar uma viagem,
um passeio para visitar vários museus em pouco tempo. O que fazer?
1 - Deve preparar-se em
casa, consultando informação sobre o que irá visitar. A internet é uma ajuda
preciosa.
2- Utilize o áudio
guia, para obter informação fidedigna e libertar o olhar durante a visita.
3 – Se for acompanhado,
tente realizar o seu percurso autónomamente, porque irá ser mais proveitosa, utilizando
o seu ritmo e tempo, consoante as suas preferências. Se tiver que ser
acompanhado, escolha o amigo certo.
4 - Se entrar preparado,
poderá considerar a hipótese de investir mais tempo nas obras mais
significativas ou naquelas que mais lhe interessam, atendendo sempre à sua limitação
em termos de concentração.
5 – Se tiver que dividir
a atenção entre as obras de arte expostas e as características do espaço, por
vezes peças de arquitectura únicas e muito especiais, e se permitirem recolha
de imagens, não hesite em fotografar, para mais tarde poder rever a visita,
activar a memória e melhorar a sua pesquisa posterior, se for necessária.
Na verdade, no final,
se lembrarmos 10% do que vimos, já é muito. Acredito que uma boa visita é
quando o impacto do trabalho que vimos permanece connosco por muito tempo. Ter
o tal amigo por perto pode ser muito útil para trocar opiniões. Quando podemos
mencionar algo para os amigos e conectá-lo com a nossa vida quotidiana,
interiorizamos melhor o conhecimento, tornando-o mais significativo. Esse é o
tipo de impacto que um artista quer ter.
Tente parar e reflectir
sobre o impacto do que viu, o que significa para a sua vida quotidiana e na sua
relação com o mundo – tenho o hábito de escrever sobre o que vi. O convite à
reflexão após a visita torna-se um ponto crucial, pois a arte não é apenas para
ser vista, mas para ser sentida e interiorizada.
Se lhe for possível, revisite
obras especiais – a emoção talvez seja ainda maior. Além disso, a sugestão de
revisitar obras especiais e reflectir sobre o impacto delas nas suas vidas é
fundamental para criar uma conexão mais profunda com a arte.
Já repeti diversas
vezes Vieira da Silva, Amadeo, Graça Morais, Batarda, Armanda Passos, Almada
Negreiros, Chichorro, Nadir Afonso, Aurélia de Sousa, Cruzeiro Seixas,… aqui no
nosso Portugal, enriquecendo-me cada vez mais nas novas visitas.
Partilho convosco uma
obra muito especial, que merece muito tempo para observação, porque as
mensagens e interpretações são inesgotáveis: “Tentações de Santo Antão” de
Bosch exposto no Museu de Arte Antiga em Lisboa - é uma obra complexa e cheia
de simbolismo, que realmente merece tempo e atenção para ser plenamente
apreciada.
Publicado em NVR, 26|03|2025
"O PECADO DO RIO" - Mia Couto
25 março, 2025
24 março, 2025
"TRISTEZA DO DESTERRO" - Alexandre Herculano
COMPACTO I A V DO PROGRAMA "DE POETA E DE LOUCO TODOS TEMOS UM POUCO"
António Lobo Antunes | Agustina Bessa-Luís | Miguel Torga | António Ramos Rosa | Mário Henrique de Leiria
Luís Vaz de Camões | José Jorge Letria | Poesia | Zeca Afonso | Pedro Strecht
Jorge de Sena | Reinaldo Ferreira | José Régio | Cancioneiro Popular Português |
David Mourão Ferreira
Maria Vaz de Carvalho | Sophia de Mello Breyner | Alda Lara
| Sueli Costa | Alberto Pimenta
Adília Lopes | Florbela Espanca| Poesia | Mário Cezariny | Teixeira de Pascoaes
Viriato da Cruz | Nuno Júdice | Tomás Lima Coelho | Miguel Torga | Martim Carvalho
Luís Vaz de Camões |
Carlos Té e Rui Veloso ! José Luís Peixoto | Alexandre O?Neil |Antero de
Quental
Ernesto Lara Filho | Luísa Fresta | José Mário Branco | Chico Buarque de Holanda | Adélia Prado
Alberto Fialho Janes | Natália Correia | José Régio | Camilo Castelo Branco | Regina Correia
21 março, 2025
"DESCALÇA VAI PARA A FONTE" - Luís Vaz de Camões
19 março, 2025
COMPACTO V DO PROGRAMA "DE POETA E DE LOUCO TODOS TEMOS UM POUCO"
José Carlos Ary dos Santos | Almeida Garrett | Zére | Reynaldo
ferreira | Maria Teresa Horta
Alberto Fialho Janes | Natália Correia | José Régio | Camilo
Castelo Branco | Regina Correia
Por Camilo
Por Camilo
Em ano de comemoração
do segundo centenário do nascimento de Camilo Castelo Branco, deixo o meu
registo de homenagem.
Antes de ler qualquer
obra de Camilo, já via a peça de teatro adaptada da obra “Amor de perdição”.
Tinha apenas dez anos e aquilo pareceu-me tão dramático, tão pesado, que ganhei
alguns anti-corpos em relação à leitura da sua obra.
Em 1977, conheci a cela
onde esteve Camilo, detido na Casa da Relação do Porto, ocupada por retornados.
Espaço lúgubre, degradado, dividido por cortinas para abrigar desalojados,
acentuou este reflexo obscuro deste escritor, com Ana Plácido à mistura - só
mais tarde soube que Camilo se fez acompanhar da sua biblioteca e Ana Plácido
do seu piano.
Depois conheci também a
habitação onde viveu Camilo com Joaquina de França, em Ribeira de Pena,
completamente degradada e miserável.
Estes momentos Camilianos
deprimentes construíram em mim um Camilo escritor, em relação ao qual seria
necessário desenvolver o sentimento de compaixão, porque era tudo tão mau!!!!
Só mais tarde, com a
minha maturidade, consegui integrar no meu percurso de leitora, o verdadeiro
Camilo Castelo Branco e a sua escrita.
Camilo foi o primeiro
escritor português que fez da escrita uma profissão exclusiva. Escreveu mais de
duzentas e sessenta obras, ou seja, mais de seis livros por ano.
É verdade que Camilo,
com a sua produção prolífica, não apenas se destacou como um dos primeiros
escritores a fazer da literatura uma profissão, mas também capturou nas suas
obras as tensões sociais e culturais de uma época em transformação. Ele
conseguiu articular, com mestria, as tradições do mundo rural e as influências
urbanas, criando narrativas que exploram o amor, o sofrimento, e as
complexidades da condição humana.
Talvez o que mais
merece destaque é expor o contraste das tradições vetustas do mundo rural e as
influências dos ventos europeus da modernidade. A sua criatividade como
romancista está presente em todas as obras. A literatura tem o poder de
explorar a complexidade das relações humanas e os dilemas sociais de forma
profunda e envolvente. Ao abordar temas como amores contrariados, podemos
mergulhar nas emoções intensas dos personagens, desvendando as barreiras que os
separam, sejam elas sociais, familiares ou internas.
No cárcere, Camilo
conhece Zé do Telhado, famoso salteador, de quem acaba por ficar amigo e ao
qual se refere na sua obra “Memórias do Cárcere”. Camilo acabará por apoiar “Zé
do Telhado” durante o seu processo judicial. Esta obra é um retrato duro,
realista, sobre as severas condições de vida no histórico estabelecimento, onde
se vivia a pesada justiça oitocentista.
Entre 1862 e 1863, na
Casa da Relação, Camilo publicou onze novelas e romances, atingindo uma
notoriedade dificilmente igualável. É deste período “Amor de Perdição”, escrito
na cadeia em quinze dias, inspirado numa história familiar. Isto revela uma
capacidade de trabalho invulgar.
Para finalizar, a
última estátua de Camilo, localizada na cidade do Porto, parece um “torpedo”,
apenas se salva pela delicadeza feminina e pode ser vista como um reflexo da
dualidade presente na sua obra - a dureza da realidade e a fragilidade dos
sentimentos humanos.
Camilo Castelo Branco
merece ser celebrado não apenas como um autor, mas como um símbolo da
resiliência e da luta pela expressão artística em tempos difíceis. A sua
homenagem é um convite para que todos nós revisitemos e redescubramos as suas
obras, compreendendo melhor a sua relevância na literatura portuguesa e na
nossa cultura.
Publicado por NVR 19|03|2025
Partilha com Rádio Portimão no programa Karranca às quartas.
PAI
Tive a sorte de ter um pai que nunca me descartou em nenhum momento. Nunca me adiou, nunca me ignorou, nunca passou a responsabilidade para os outros, esteve sempre presente nos meus maus momentos, para que eu me sentisse segura e apoiada. Foi um exemplo para mim em tudo. Aprendi tanto!
Hoje pertences ao Universo porém, continua a ser o teu dia..