16 julho, 2025

Casa do Rio - Douro Wine Hotel by Vallado

 








ANTECIPANDO

Estrada Nacional 222, km 213,4 - Orgal - Vila Nova de Foz Côa


"JULGA-ME A GENTE TODA POR PERDIDO" - Luís Vaz de Camões

 



https://voca.ro/1kxC03FYLVT9

Voz: Anabela Quelhas

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"A PROCISSÃO" - António Lopes Ribeiro

 


"A PROCISSÃO" - António Lopes Ribeiro

https://voca.ro/1aTruWUhM8dJ

Voz: António Lopes Ribeiro

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Anita prepara-se para a guerra nuclear (humor negro)


 

Anita prepara-se para a guerra nuclear (humor negro)

Recebi um guião sobre o que fazer em caso de ataque com bomba nuclear e estou a preparar-me. Primeiro pensei que seria publicidade a alguma comédia a passar no teatro da Royal Village, depois pensei nos pés do Trump, ele calça o 48, há grande probabilidade em tropeçar em algum tapete e cair sobre o botão vermelho, ou a canalha do Musk, andar a brincar na Sala Oval e descobrir o botão à frente da secretária. Pensei em quantos botões vermelhos haverá no mundo e como eles podem estar tão bem disfarçados que qualquer incauto pode causar uma catástrofe. Passei a olhar os botões dos elevadores com outros olhos!

Sempre considerei que não haveria maneira de nos protegermos. Quando levássemos com o cogumelo nas ventas, o melhor seria encomendar a alma ao Criador e saltar de um sítio bem alto, para não contar a história. Afinal…

1 . NO MOMENTO DA EXPLOSÃO

– recolha-se numa cave.

[Ora a cave mais próxima aqui de casa será o piso menos 2 do centro comercial.]

- ou dirija-se ao prédio mais próximo, de preferência de tijolo ou cimento, coloque-se no centro do prédio, longe de janelas, telhados e paredes exteriores.

[O local aconselhado será o WC interior da maioria das casas dos portugueses]

- fique longe das janelas e saia do carro. Se estiver dirigindo, pare o veículo com segurança, cubra-se e procure um abrigo resistente o mais rápido possível.

[Esta parte não percebo, se estiver na rua, penso que o meu carro ficará em frangalhos, sem possibilidade de procurar abrigo, pois as portas trancarão, o airbag não me deixará sair do habitáculo de forma fácil, e ainda por cima com a minha prótese, esta certamente se colará à caixa de velocidades, tipo pastilha elástica.]

2 - PROTEÇÃO DIANTE DA CHUVA RADIOACTIVA

- as primeiras horas após a explosão são as mais perigosas devido à chuva radioativa. Você terá entre 10 e 15 minutos para se colocar em segurança antes que comece a cair.

[Como assim? Protegida de guarda-chuva, com impermeável? Devo andar sempre com a gabardina no carro ou sacos do lixo para me vestir com saco plástico? Em 15 minutos não terei tempo de descolar a prótese da caixa de velocidades, desembaraçar-me do airbag, vestir a gabardina e ainda descer até ao menos 2 do centro comercial! Eu não sou grande atleta, apenas fui uma vez aos antigos Jogos Sem Fronteiras e não correu bem.  Acho que ficarei ali pelo Hospital da Trofa… o que talvez não seja pior opção, fico logo em cima de uma maca para seguir para a dermatologia.]

- tire suas roupas poluídas se você esteve ao ar livre.

[Na cave terei que ficar nua? Nunca usei camisola interior, nem meia-calça… Eu com os meus pneus e celulite ficarei a olhar para outros que já têm tudo afectado pela força da gravidade? Fará alguma diferença usar protector solar?]

- lave bem a pele e o cabelo com água e sabão.

[Teremos uma booooommmmbaaaa ou uma bombinha? Ainda teremos água na torneira?  Para mim, por favor, morna e sabonete de glicerina! O piso menos 2, terá wc com duche?]

PERMANEÇA À COBERTA (pelo menos 24 horas)

- não saia até que as autoridades informem que é seguro fazê-lo.

[Esta será fácil de cumprir! Sair para onde?]

- fique longe de janelas e telhados.

[Eu tentarei, não sei é se as janelas e os telhados ficarão longe de mim…]

- use um rádio com bateria ou manivela para seguir as instruções oficiais.

[Isto terei de comprar antecipadamente, vou ver na TEMU]

PREPARE-SE COM ANTECEDÊNCIA

 - identifique abrigos próximos à sua casa, local de trabalho ou escola.

 [É o que estou a fazer agora]

- prepare um kit de emergência

[Deve servir o kit das outras tragédias, sismos, apagões, ciclones, cheias e arraiais. Ainda bem que não será necessário o papel higiénico… agora talvez seja mais toalhitas humedecidas e fraldas]

RISCOS DE UMA EXPLOSÃO NUCLEAR

- brilho inicial: pode provocar cegueira momentânea

[Ando sempre de óculos escuros, e em último caso tenho aqueles óculos da Disney, vermelhos e verdes]

- onda de choque: causa ferimentos e destruição de prédios

[Pois, vai ser difícil encontrar a entrada para a cave!]

- calor extremo: provoca queimaduras e incêndios

[A tela reflectora do sol dos veículos, talvez seja mais útil do que a gabardina.]

- radiação: danifica as células do corpo

[Por isso a outra anda a recolher aventais de chumbo e radiografias para revestir um compartimento lá em casa… rata sabidinha!]

- pulso eletromagnético (EMP): afeta dispositivos eletrónicos

[Ficaremos sem televisão, sem computador e sem telemóvel. Lá se vai o episódio de”Casados à primeira vista”!]

-chuva radioativa: partículas contaminadas que caem após a explosão.

[Ok teremos os 15 minutos referidos atrás para pensar se iremos ou não dançar “Sing in the rain”]

Com coisas sérias não se brinca, Anita!

Pois não! Olhem, finalmente irão acabar com as baratas cá de casa, porque rápidas são elas, mas não usarão óculos escuros, garanto porque estarão comigo!

Publicado em NVR 16|07|2025

11 julho, 2025

09 julho, 2025

"O VENTO" - Manuel de Barros



https://voca.ro/1k0cFQb0sFlC

Voz: Luísa Frestas

O sisudo do Siza

 


O sisudo do Siza

Umas vezes digo que fui aluna do Siza durante 3 anos, outras vezes digo “carinhosamente” que levei com o Siza durante 3 anos em Construção II, III e V. Tivemos uma relação de agitação da minha parte e indiferença da parte dele. Andei à chuva, a fazer levantamentos de caixilharias no Passeio das Virtudes, para a cadeira de Construção II, com trama de milímetro a milímetro, suada, com régua T e esquadro. Foi necessário trabalhar em pares, incomodar pessoas para me permitirem o acesso ao interior das habitações, usar cadeiras e escadotes, medir tudo, esquissar, batalhar contra as inseguranças da primeira vez, a indecisão de milímetros, se são 6,40 cm ou 6,50 cm, confirmar tudo, corrigir erros, trabalhar pelo exterior em dias frios com chuva.

Eu e o meu colega e amigo Rui Nogueira, ambos vestíamos impermeáveis, com capuz, porque não sobravam mãos para o guarda-chuva, ocupadas com 2 fitas métricas, caderno de desenho, esferográfica e máquina fotográfica. As pingas da chuva amoleciam o papel. Tocámos à campainha de uma habitação qualquer, para tentarmos fazer o levantamento pelo interior, o intercomunicador abriu a porta de entrada, subimos ao 2º andar, e encontrámos um homem ensonado, em pijama, de cabelo desgrenhado… Era o conhecido Jorge Lima Barreto, [JLB (1947- 2011) - músico, escritor, conferencista, improvisador, musicólogo e professor na Faculdade de Letras do Porto e na Escola Superior de Belas Artes do Porto], que por vezes parava pelo Bar da Escola de Belas Artes, de rosto remelento e mal acordado já a puxar um cigarro para fumar.

- f---ds a tocar a esta hora!!!! (eram 10h30m)

Pedimos desculpa, explicámos ao que íamos,… alunos do Siza,… intervenção no Passeio das Virtudes... se fosse possível…

- Entrem, nem estou com paciência para vos aturar, façam o que quiserem, não molhem o chão e fechem bem a porta quando saírem! – retirou-se cambaleante a resmungar e voltou para cama.

Hoje, sinto que o JLB deve ter pensado: “mais uns idiotas a querer medir a cidade do Porto ao milímetro. Alunos do Siza, puf!!!“

Seguiu-se a fase do desenho rigoroso, plantas, alçados, cortes, pormenores à escala 1:2 das malditas janelas. Ingénua, pensava eu que o Siza iria ver detalhadamente o trabalho em curso. Pendurei as peças desenhadas na parede da sala de aula, no dia da avaliação, produto de muiiitas horas de trabalho, poucas horas de sono e onde a minha vista começou a cansar. O Siza entrou na minha sala a fumar, taciturno, sisudo e deitou um olhar de relance pelos trabalhos dos alunos, anotou qualquer coisa, passou à sala seguinte e saiu. Comecei a ferver em pouca água perante a indiferença dele. Tive assim alguns conflitos silenciosos, que depois se resolviam à hora do almoço na cantina, partilhando o café. Foi o prof mais teimoso que conheci, por vezes no meu desespero de não arranjar argumentos capazes, eu pensava, “Ele faz-se de burro! Este prof é impossível e intragável! Desesperante!”.

Nunca esqueço a sua voz monocórdica, nas sessões realizadas no anfiteatro, a explicar o “processo” e o “projêcto” com o seu sotaque de Matosinhos; com ele vivemos um pouco dos seus projectos -  Casas sociais SAAL, Bouça, Porto, Casas do Barredo, Porto, Casa azul de Sto Tirso, Bairro habitacional da Malagueira, Évora, Banco de Vila do Conde, edifício Bonjour Tristesse, e outros projectos para Berlim. A sua Bomba Amarela (Casa Beires) foi a maior lição de arquitectura que ele partilhou com todos os seus alunos. A sua experiência como arquitecto/professor e os seus projectos ficavam a “fermentar” na nossa cabeça, favorecendo e enriquecendo o nosso processo de mudança interior e criativo – ser aluno do Siza era isto, ter a oportunidade para acompanhar e seguir o seu caminho. Era a Escola do Porto! Tive a sorte de assistir a uma apresentação de uma obra dele, que já não lembro qual, e entender exactamente a sua forma de ler e interpretar a malha urbana de uma cidade e abriu-se uma janelinha na minha cabeça, que provocou uma verdadeira revolução interior, alterando todos os conceitos que habitavam o meu pensamento. De repente concluí o curso de arquitectura com a melhor nota, um dezasseis e adquiri uma visão diferente sobre os aglomerados urbanos, que me acompanha até hoje.

Visitei a Bomba Amarela diversas vezes, e tanto a piscina de Leça, como a Casa de Chá fizeram parte dos meus momentos de lazer ao longo de alguns anos.

Se soubesse o que sei hoje não andaria à chuva a medir caixilharias, mas era preciso saber o que sei hoje! Obrigada Siza! São 92 anos. Que contes muitos mais! (25|06|2025)