27 junho, 2025
"URGENTEMENTE" - Eugénio de Andrade
26 junho, 2025
25 junho, 2025
A indiferença de Siza Vieira
Umas vezes digo
que fui aluna do Siza durante 3 anos, outras vezes digo “carinhosamente” que
levei com o Siza durante 3 anos. Tivemos uma relação de agitação da minha parte
e indiferença da parte dele. Andei a fazer levantamentos de caixilharias no
Passeio das Virtudes à chuva, para a cadeira de Construção II, com trama de
milímetro a milímetro suada, com régua T e esquadro. Pendurei as peças
desenhadas na parede da sala de aula , no dia da avaliação, produto de muiiitas
horas de trabalho, poucas horas de sono e onde a minha vista começou a cansar.
O Siza entrou na sala a fumar e deitou um olhar de relance pelos trabalhos dos
alunos. Comecei a ferver em pouca água perante a indiferença dele. Tive assim
alguns conflitos silenciosos, que depois se resolviam à hora do almoço na
cantina, partilhando o café. Foi o prof mais teimoso que conheci, por vezes no
meu desespero de não arranjar argumentos capazes, eu pensava, “Ele faz-se de
burro! Este prof é impossível! Desesperante!”
Nunca esqueço a
sua voz monocórdica, nas sessões realizadas no anfiteatro, a explicar o
procêsso e o projêcto com o seu sotaque tripeiro.
A sua Bomba
Amarela (Casa Beires) foi a maior lição de arquitectura que ele partilhou com
todos os seus alunos. Tive a sorte de assistir a uma apresentação de uma obra
dele, que agora não lembro, e entender exactamente a sua forma de ler e
interpretar a malha urbana de uma cidade e abriu-se uma janelinha na minha
cabeça que provocou uma verdadeira revolução interior, alterando todos os
conceitos que habitavam o meu pensamento. De repente terminei o curso de
arquitectura com a melhor nota, um dezasseis e adquiri uma visão diferente
sobre os aglomerados urbanos, que me acompanha até hoje.
Visitei a Bomba
Amarela diversas vezes, e tanto a piscina de Leça como a Casa de Chá fizeram
parte dos meus momentos de lazer ao longo de alguns anos.
Obrigada Siza.
São 92 anos. Que contes muitos mais!
O LIVRO DE PONTO
O LIVRO DE PONTO
Aprecio investigar
sobre tipo de livros e chegou a vez dos famosos Livros de Ponto, que muitos de
nós já utilizámos, apreciando ou não, e que na maioria dos locais de trabalho
já foi substituído. As gerações mais jovens talvez nem conheçam.
O livro de ponto é um
documento, geralmente físico, como um caderno, onde os funcionários registam os
seus horários de entrada, saída e intervalos do trabalho. Ele serve como um
controlo de jornada de trabalho e é utilizado para fins de cálculo do salário,
horas extras e para cumprimento das obrigações legais de uma empresa,
associação ou grupo.
O registo é manual sobre
papel, e por vezes possibilita também a descrição da tarefa executada com
preenchimento de um denominado sumário.
Ao nível formal, utilizam-se
tabelas, ou grelhas com colunas, imprimidas antecipadamente, e devidamente
identificadas para facilitar o preenchimento, por parte do trabalhador, em que
a maioria das vezes só tem de colocar a sua assinatura no espaço certo.
No exterior, a capa e a
contra-capa, são rígidas, de cor escura - preto, cinzento ou azul escuro - para
não se notar marcas resultantes do manuseamento, onde se colava uma etiqueta
branca com esquadria vermelha, centrada na parte superior da capa, constando em
letra bem desenhada à mão, a identificação do livro. A lombada e as arestas do
livro (cantos) são frequentemente reforçadas com papel vermelho ou cinzento.
A necessidade de
registar surge com a revolução industrial. Na economia pré-industrial, o
artesão detinha o controle sobre o ciclo completo de produção, desde a
matéria-prima até o produto final e o lucro. A Revolução Industrial marcou uma
profunda mudança nas relações de produção, com os operários perdendo o controle
sobre o processo produtivo, com a divisão do trabalho e a produção em série,
tornando-se meros executores de tarefas repetitivas, sob a direcção do capital.
O trabalho concentrou-se
nas fábricas, onde máquinas pertencentes aos donos das empresas substituíram o
trabalho manual, os operários, antes artesãos, passaram a executar tarefas
específicas, controladas por máquinas e subordinadas aos interesses dos
proprietários.
No início o controle de
presença era feito por um operário que anotava os horários de entrada e saída
dos demais trabalhadores, mais tarde havendo confiança de ambas as partes, era
o próprio trabalhador que geria o seu registo.
O livro de ponto é
importante para a empresa e para os funcionários, evitando conflitos laborais:
Para a empresa, ajuda a
garantir a organização e o cumprimento das leis sobre o trabalho, além de
auxiliar no cálculo correto da folha de pagamento.
Para o funcionário,
garante que as suas horas trabalhadas sejam registadas correctamente,
permitindo o recebimento justo pelo seu trabalho, incluindo horas extras.
Em 1888, Willard Bundy
construiu o primeiro relógio de ponto em Nova York, nos Estados Unidos, deixando
de haver o registo em papel e passando a ser mecânico, com um dispositivo que utilizava
cartões perfurados para registar a entrada e saída dos trabalhadores, substituindo
o registo manual feito por outro funcionário
O controle de ponto electrónico
é um modelo ainda mais moderno, que possibilita ao funcionário o registo da sua
presença através do relógio de ponto biométrico - tecnologia que regista a
localização do funcionário no momento em que ele marca o ponto (lá se vai a
privacidade!). Combina o registo laboral com a tecnologia GPS no ponto da sua
marcação.
A evolução do relógio
de ponto adaptou-se à era digital. Agora o registo de horas pode ser feito pelo
computador ou pelo telemóvel do funcionário, sendo ainda mais benéfico na
situação do teletrabalho.
Voltando ao livro de
ponto físico, um livro totalmente preenchido ou esgotado era substituído por
outro e outro e assim sucessivamente, o que exigia grandes arquivos para
guardar os livros esgotados, os denominados arquivos mortos, verdadeiros
cemitérios de uma organização ultrapassada.
Publicado em NVR 25|06|2025
"SER DOIDO-ALEGRE, QUE MAIOR VENTURA!" - António Aleixo
23 junho, 2025
"NUAMENTE TEMPO" - Maria Teresa Horta
"NUAMENTE TEMPO" - Maria Teresa Horta
Voz: Graça Vilela
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21 junho, 2025
MAGNA PLAZA - Amesterdão
Construído em 1899 como agência dos correios por CP Peters, foi convertido em shopping center em 1990 e renomeado por Magna Plaza.
20 junho, 2025
"MEU CÃO POETA" - Aurelino Costa
18 junho, 2025
"Por aqui ninguém tem sangue puro"
"Por aqui ninguém tem sangue
puro"
"Por aqui ninguém
tem sangue puro" disse Lídia Jorge no dia de Portugal, senhora de 78 anos,
membro do Conselho de Estado, escolhido pelo Presidente da República Marcelo
Rebelo de Sousa, para o período de 2021 a 2026.
Entendi o discurso de Lídia
Jorge tão impactante e tão importante que decidi lembrá-lo aqui, reforçando e
refrescando a memória dos mais esquecidos, condenando o racismo e a falta de cultura
sobre a nossa identidade. Este 10 de Junho teve um sabor entre o mel, a mostarda
e o limão, como se nos estivéssemos a despedir da democracia, o que me
entristeceu, mas isso é outro assunto.
No século XVII, cerca
de 10% da população portuguesa tinha origem africana, resultado do tráfico de
escravos trazidos pelos portugueses, não de invasões. Essa história de “sangue
puro” é falsa, pois todos somos um mix de diferentes origens: nativos,
migrantes, europeus, africanos, brancos, negros e outras cores. Somos
descendentes tanto de escravos quanto de senhores, de piratas e de vítimas de
roubos, de pessoas cruéis e de misericordiosos. A nossa identidade é uma
mistura complexa e diversa, fazer o quê? Resta-nos apostar na diversidade e na
riqueza multicultural de que somos feitos e sentir orgulho pela nossa história,
porque mesmo nos momentos mais sombrios do Império, estavam em sintonia com
mundo daquela época.
No dia 10 de Junho, em
Lagos, uma escritora destacou a importância de reconhecer a história e a
diversidade cultural de Portugal, interligando o centenário de Camões. Na sua
intervenção, abordou o passado esclavagista do país, lembrando que essa
história faz parte da nossa identidade colectiva. Também salientou a
miscigenação que caracteriza o povo português, afirmando que “aqui ninguém tem
sangue puro”. Claro que o seu discurso não foi bem acolhido por aqueles que
pensam diferente e nem conhecem bem a História de Portugal para poder rebatê-la
e alimentar a sua indignação e protesto. De imediato partes do seu discurso foram
manipuladas e divulgadas nas redes sociais, passando a ideia exactamente oposta
da intenção da escritora.
Cada um de nós é uma
soma de origens ao longo a da história. Lídia focou o seu discurso em Camões, e
toda a complexidade que se vivia na época de Camões, porém, a questão das
origens leva-nos ainda mais longe. Sabemos que muito antes dos Descobrimentos,
ainda Portugal não era Portugal e o nosso território já tinha sido ocupado por
romanos, visigodos, suevos, vândalos, alanos, e posteriormente pelos mouros
(árabes e berberes).
Ou seja, defender
qualquer teoria da diferença entre seres humanos que vivem actualmente em
Portugal é uma grande falácia, que não pode nem deve justificar manifestação de
ódios racistas actuais. Apenas somos uns
mais altos e outros mais baixos, uns mais magros e outros mais gordos, mas o
que nos corre nas veias é um fluido completamente misturado de cor vermelha,
chamado sangue policromático, que se divide apenas em tipo A, B, AB e O,
constituídos por plasma, hemácias, leucócitos e plaquetas. Isto é o que a
ciência nos diz. Mesmo aqueles que consideram ter sangue azul, é simplesmente
vermelho e não encarnado! (ironia)
Todos somos
descendentes dos invasores da Península Ibérica, e somos descendentes tanto dos
escravos como dos senhores que os escravizaram, somo feitos de emigrantes e
imigrados, de fortes e de fracos, de ignorantes e de sábios, de homens e
mulheres, de pobres e de ricos, o que nos deve levar a praticar a tolerância, a
inclusão e o respeito pelo outro.
"Por aqui ninguém
tem sangue puro" (e para que raio alguém quer o sangue puro?!) Nem todos
são portugueses, mas todos somos seres humanos.
Publicado em NVR 18|06|2025