O conhecimento é recuperável, a vida não se recupera
Fiquei
muito admirada quando em 19 de janeiro, o primeiro-ministro se manifestou mais
preocupado com o processo de aprendizagem dos alunos, do que com a saúde pública,
face ao processo galopante de contágio da Covid19.
Enfim,
baralhou tudo e voltou a dar, desorientado, caindo-lhe uma parte das cartas ao
chão, neste jogo perigoso chamado Covid19, evidenciando má argumentação e pouca
habilidade política que o têm caracterizado, nesta roleta russa portuguesa.
· Caiu a carta que representa os
computadores que não entregou aos alunos ao longo dos últimos 10 meses, pelo
menos aos alunos carenciados.
· Caiu a carta da falta de assistentes
operacionais para fazer as desinfecções regulares prometidas.
· Caiu a carta ridícula da estirpe
inglesa, como se a portuguesa já não nos chegasse.
· Caiu a carta da não testagem com o
termómetro à entrada da maioria das escolas.
· Caiu a carta das 3 máscaras que cada
aluno teve direito num período inteiro, reutilizáveis, que usam e reutilizam
sem desinfecção.
· Caiu a carta da porcaria daquela
aplicação que nos andou a distrair durante meses e que era obrigatória instalar
no telemóvel.
· Caiu a carta do ensino à distância
tão elogiado anteriormente – revolução feita à custa dos professores.
· Caiu a carta das janelas abertas com
os alunos a tiritar de frio.
· Caiu a carta dos testes COVID em massa que já deviam estar nas escolas há
dois meses.
· Caiu a carta das turmas grandes, onde
não existe distância mínima.
· Caiu a carta do desconhecimento do
comportamento descontraído dos jovens.
· Caiu a carta do abrandamento do
confinamento do Natal.
· Caiu a carta que representa o não
controle e consequente punição dos idiotas que vão passear no shopping
com a família, os que vão aos saldos, os atletas que tem que andar a correr, os
que andam a passear o cão, os que têm que apanhar sol, os que têm que ir tomar
café, os que têm que ir diáriamente comprar pão fresco, os que vão para a rua sabendo que estão
infectados.
· E caiu-lhe o joker, as eleições no
meio desta fase da pandemia.
Para reflexão:
O
número diário de mortes em Portugal equivale à queda de uma avião com mais de
uma centena de passageiros e sem sobreviventes.
Na
guerra colonial tivemos ao longo de 13 anos, 8.831 soldados portugueses mortos,
facto que aterrorizava a sociedade portuguesa.
Agora
em 10 meses tivemos 9. 028 mortos COVID (19/01). Nos últimos 17 dias – 2056
mortos; e vem o primeiro-ministro dizer que ainda vai esperar para ver se será a
estirpe inglesa, como se a portuguesa não lhe bastasse!
Estamos a
viver uma guerra biológica, pior do que qualquer outra guerra. Nas guerras que
usam minas, metralhadoras e granadas, ninguém ousa sair de casa ou espreitar à
janela, porque um balázio pode tracejar o céu e acertar-lhe, ninguém hesita em
ficar sem aulas, em viver com restrições,
mesmo que tenha que passar fome.
Em qualquer
guerra o processo de aprendizagem é a sobrevivência.
Mesmo assim,
decidiram já tardiamente (21/01), fechar as escolas e em vez de rentabilizarem
a mudança de paradigma que os professores conseguiram edificar, ao longo de 3
meses, no ano lectivo anterior e introduzir melhorias focadas nos alunos
carenciados, decidiram mandar a malta de férias durante 15 dias. Tanto o Sr.
Costa como a sr Tiago, tão preocupados com o processo de aprendizagem,
desconhecem que na aprendizagem não se desaprende. Os professores sabem disso,
continuaram a utilizar ferramentas digitais num ensino misto, potencializando
toda a aprendizagem digital efectuada no ano anterior e ficaram estupefactos com
esta paragem colectiva sem sentido.
Dia 23 – 157.660 casos activos: 9.200 óbitos; 5.779
internados e 715 Internados nos UCI
Publicado em NVR 27/01/2021
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