27 janeiro, 2021

O conhecimento é recuperável, a vida não se recupera

 O conhecimento é recuperável, a vida não se recupera


            Fiquei muito admirada quando em 19 de janeiro, o primeiro-ministro se manifestou mais preocupado com o processo de aprendizagem dos alunos, do que com a saúde pública, face ao processo galopante de contágio da Covid19.

            Enfim, baralhou tudo e voltou a dar, desorientado, caindo-lhe uma parte das cartas ao chão, neste jogo perigoso chamado Covid19, evidenciando má argumentação e pouca habilidade política que o têm caracterizado, nesta roleta russa portuguesa.

·      Caiu a carta que representa os computadores que não entregou aos alunos ao longo dos últimos 10 meses, pelo menos aos alunos carenciados.

·      Caiu a carta da falta de assistentes operacionais para fazer as desinfecções regulares prometidas.

·      Caiu a carta ridícula da estirpe inglesa, como se a portuguesa já não nos chegasse.

·      Caiu a carta da não testagem com o termómetro à entrada da maioria das escolas.

·     Caiu a carta das 3 máscaras que cada aluno teve direito num período inteiro, reutilizáveis, que usam e reutilizam sem desinfecção.

·      Caiu a carta da porcaria daquela aplicação que nos andou a distrair durante meses e que era obrigatória instalar no telemóvel.

·     Caiu a carta do ensino à distância tão elogiado anteriormente – revolução feita à custa dos professores.

·      Caiu a carta das janelas abertas com os alunos a tiritar de frio.

·      Caiu a carta dos testes COVID  em massa que já deviam estar nas escolas há dois meses.

·      Caiu a carta das turmas grandes, onde não existe distância mínima.

·      Caiu a carta do desconhecimento do comportamento descontraído dos jovens.

·      Caiu a carta do abrandamento do confinamento do Natal.

·      Caiu a carta que representa o não controle e consequente punição dos idiotas que vão passear no shopping com a família, os que vão aos saldos, os atletas que tem que andar a correr, os que andam a passear o cão, os que têm que apanhar sol, os que têm que ir tomar café, os que têm que ir diáriamente comprar pão fresco,  os que vão para a rua sabendo que estão infectados. 

·      E caiu-lhe o joker, as eleições no meio desta fase da pandemia.

Para reflexão:

            O número diário de mortes em Portugal equivale à queda de uma avião com mais de uma centena de passageiros e sem sobreviventes.

            Na guerra colonial tivemos ao longo de 13 anos, 8.831 soldados portugueses mortos, facto que aterrorizava a sociedade portuguesa.

            Agora em 10 meses tivemos 9. 028 mortos COVID (19/01). Nos últimos 17 dias – 2056 mortos; e vem o primeiro-ministro dizer que ainda vai esperar para ver se será a estirpe inglesa, como se a portuguesa não lhe bastasse!

            Estamos a viver uma guerra biológica, pior do que qualquer outra guerra. Nas guerras que usam minas, metralhadoras e granadas, ninguém ousa sair de casa ou espreitar à janela, porque um balázio pode tracejar o céu e acertar-lhe, ninguém hesita em ficar sem aulas,  em viver com restrições, mesmo que tenha que passar fome.

            Em qualquer guerra o processo de aprendizagem é a sobrevivência.

            Mesmo assim, decidiram já tardiamente (21/01), fechar as escolas e em vez de rentabilizarem a mudança de paradigma que os professores conseguiram edificar, ao longo de 3 meses, no ano lectivo anterior e introduzir melhorias focadas nos alunos carenciados, decidiram mandar a malta de férias durante 15 dias. Tanto o Sr. Costa como a sr Tiago, tão preocupados com o processo de aprendizagem, desconhecem que na aprendizagem não se desaprende. Os professores sabem disso, continuaram a utilizar ferramentas digitais num ensino misto, potencializando toda a aprendizagem digital efectuada no ano anterior e ficaram estupefactos com esta paragem colectiva sem sentido. 

Dia 23 – 157.660 casos activos: 9.200 óbitos; 5.779 internados e 715 Internados nos UCI

Publicado em NVR 27/01/2021

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