24 dezembro, 2021


 

FELIZ NATAL

 

A neve é algodão, ´presépio só na igreja de S. Paulo, Pai Natal fica na esquina da Travassos, à sombra, a soar por baixo do fato quente e das barbas postiças, o sinaleiro vai bracejando para o transito fluir na rotunda da Alameda D. João II, debaixo do sol tórrido de dezembro, as rabanadas quanto mais fresquinhas melhor, dizem os mais velhos, eu nem gosto  das fatias de pão que me cheiram a canela, aroma que decide habitar o meu cabelo, estragando o cheiro de shampoo Sunsilk e sabonete Lux na pele, o sabonete das 9 em cada 10 estrelas. A mãe na cozinha pedindo ajuda, a salsa não chega -filha vai no Lugar comprar. Acabaram os ovos e ainda vou fazer o bolo de bolacha que tanto gostas, vai na mercearia do sr Manuel,  e agora vai no Correio falta enviar dois postais de Natal para a Metrópole e telegrama para avó.

O pai na varanda ajeitando cadeiras, a petiscar ginguba e caju, a beber cola com rum e muito gelo e limão, e eu resmungando, pela mãe não se lembrar de todos os esquecimentos de uma só vez. Quero ir na praia de S. Jorge na Ilha, meus amigos me esperam lá, para fazer shap shap, boiar no colchão, comprar baleizão, xingar todo o mundo e suspirar, usando olhar de ver ao longe, para te ver de bermudas verde sporting. E eu aqui nos mandiletes da mãe de dia de consoada, na avenida do bairro da CAOP. Pópilas!!!

(Escrevendo à canhota)


22 dezembro, 2021

O NATAL

 


NATAL
            O que posso dizer sobre o Natal que já não foi dito?

            Na minha família, temos a sorte de fazermos vários Natais ao longo do ano, por isso conheço o verdadeiro significado do Natal, porque é tão assumido e tão entranhado em nós, que nos impele a fazê-lo várias vezes ao longo do ano. Temos necessidade da presença de uns e de outros numa bolha de cumplicidade, amor fraternal, vivências e grande amizade.

             As pessoas vão faltando nos lugares à mesa, porque partiram, mas não gostariam de ver os seus lugares vazios, o seu espaço sem ninguém, ou então, cada um ficar na sua casa a curtir a tristeza da perda. É um dos avós, depois a avó que se vestia de preto, o tio mais velho, a prima que partiu antes do tempo... depois são os nossos pais que deixam os lugares vazios. Passamos a ser nós a comprar o bolo-rei e a fazer as rabanadas, recorrendo ao livro de receitas da mãe, procurando desesperadamente pelos mesmos sabores. Quando o espaço fica vazio, afastamo-nos um pouco à mesa para isso nunca se notar, o espaço dos pratos fica maior, os guardanapos e os talheres ficam a uma maior distância. Por vezes entra um convidado ou nasce gente nova, o que amplia o brilho da mesa.

            Todos somos cúmplices do disfarce da ausência, por vezes regista-se um silêncio, um olhar que passa para lá do tempo... O Natal é a festa dos vivos e da esperança, portanto é aos que estão cá, a quem nos devemos dedicar. Lembro um Natal especialmente difícil, porque um lugar ficou vazio a menos de 20 dias do Natal e este fez-se na mesma, menos exuberante, mas fez-se.

            Os nossos pais que tiveram também os seus vazios e também procuraram o livro de receitas da avó. Nunca deixaram de festejar o Natal passando a dedicá-lo aos filhos. Nós.

            Normalmente na noite da consoada ou no dia de Natal, vão desfilando na minha mente, momentos felizes somados ao longo de muitos anos e são esses que pretendo conservar sempre na minha memória:

            - Os natais passados numa aldeia transmontana, quando era criança, em que a minha ambição era chegar à corda do sino da igreja, para poder tocar depois das 12h do dia 24 e recolher musgo para construir o presépio na sala lá de casa. As minhas irmãs mais velhas não me deixavam tocar nas bolas da árvore de Natal, porque eram muito bem guardadas durante o ano. Eram de vidro e tão frágeis que bastava um toquezinho e desfaziam-se em mil pedacinhos. Jogava ao rapa e aos pinhões com os meus primos e íamos ver a grande fogueira de Natal. Os pequenos presentes apareciam no dia seguinte, no forno do fogão de lenha que, entretanto, ainda ninguém tinha utilizado e atribuía-se a surpresa ao Menino Jesus. O Pai Natal era figura ignorada. Os presentes eram simples e só para as crianças.

            - Os natais tropicais, vividos a sul, eu já na puberdade e adolescência, num ambiente urbano, com concursos de montras, iluminações de Natal, lojas abertas até às 23 horas e um calor de arrasar. A praia e os passeios nocturnos com roupa bem decotada e as hormonas aos saltos, faziam parte. As frituras da cultura gastronómica portuguesa, aguardavam para esfriarem e serem servidas com o camarão fresquérrimo e as bebidas geladérrimas. A mesa era decorada com mangas, caju, abacaxi, mamão e bananas

            - Os natais do nosso retorno. Todos juntos de novo, mas sempre recortados em alguma nostalgia que ninguém ousava verbalizar, um vazio diferente, mas de carência semelhante. Voltou a fogueira e eu já podia beber um pouco de vinho fino com o bolo-rei que a minha mãe confeccionava com mestria e sabor delicioso.

            - E o Natal do ano passado em circunstâncias COVID, com ceia a dois e o resto do Natal vivido na única pessoa, a ler, ver filmes sobre o Natal, a comer Ferreros e Raffaellos, a reflectir sobre o que, na verdade, interessa na vida, o que falhou na minha e os grandes sucessos que já vivi. Pensei obviamente naqueles amigos zangados com o Natal, que sempre o passam sozinhos por opção, vestindo o pijama dia 24 às 18h, desligam os telefone e telemóvel e reaparecem no dia 26, fingindo-se bem-dispostos, com as lágrimas embrulhadas em lenços de papel, guardados discretamente no bolso do pijama.

            Quando atingi a maior idade, decidi que eu construiria os presentes de Natal oferecendo-os a pessoas que considero muito especiais. Entre ir às compras e limitar-me a comprar aquilo que outro imaginou, e fazer prevalecer peças feitas com a minha imaginação, decidi por mim. O Natal passou a ter ainda mais significado. Demora mais tempo, dá mais trabalho, porém, enquanto trabalho penso na pessoa a quem se destina, fazendo um refresh da nossa relação, lembrando quando essa pessoa entrou na minha vida, o que vivemos juntas, as nossas lutas e as nossas diversões. Foram as casinhas de barro, os crochets minúsculos, os desenhos, as pinturas, os bordados e atualmente os poemas e os vidros.

            Que dia é hoje?...  Já só faltam dois dias e eu tenho tanto para fazer!

            Feliz Natal.

Publicado em NVR  22/12/2021

17 dezembro, 2021

Ourense


 Quando te achei

Me perdi

15 dezembro, 2021

BRASEIRA, MESA E CAMILHA

 

BRASEIRA, MESA E CAMILHA

            É aborrecido o Inverno ter vagas de frio, chuva, gelo, neve... se assim não fosse, o Inverno até seria suportável. Seria evitável sentirmos frio, ter frieiras e toda a panóplia de constipações, gripes e pneumonias, daí resultantes. Poderia estar frio só na rua dos meus vizinhos, nevar apenas na televisão, gelo só no frigorífico e granizar na preparação de bebidas, para ouvirmos o shlop, shlop, das pedras de gelo a bater no shaker e a chuva poderia cair entre as duas às seis da manhã. Chegaria muito bem.

            Qual é o encanto da neve, se lhe tocamos e até os ossos doem?

            Fazíamos de conta que seria apenas metade do ano, com outras paisagens, árvores sem folhas, o sol um pouco lixiviado e aguardaríamos que o tempo o passasse no seu ritmo normal ente os equinócios, sem estarmos sempre com saudades da Primavera e do Verão.

            Lembro-me quando havia carvoarias em Vila Real. Acho que havia várias. No final da tarde, nas ruas com pouco movimento, viam-se pessoas a fazer a braseira para depois a transportar para dentro de casa, elevando um pouco a temperatura dos lares.

            Os recipientes circulares, uns de chapa, latão e outros em cobre, acolhiam os carvões que depois se incendiavam para entrar em atividade calorifica, cercados com um círculo de cinza e com uma prata (resto de uma tablete de chocolate) que protegia o cento da braseira para aguentar as brasas acesas, várias horas.

            Era obrigatório ter um estrado de madeira que permitia suspender uns centímetros a dita braseira, para evitar o contacto com o pavimento e simultaneamente criar uma plataforma de madeira hexagonal, para os friorentos apoiarem os seus pés calçados com grossas meias de lã para se aquecerem na beirinha da braseira.

            No final do dia era vulgar ver vários fuminhos a elevarem-se entre o casario, resultando da queima do carvão.

            Mais tarde apareceu a mesa redonda com estrado inferior, que permitia o uso de uma grande toalha denominada camilha, de origem espanhola, inicialmente comprada nas fronteiras com nuestros hermanos, com dimensão adequada a cobrir toda a mesa e descer até ao chão, contendo o calor daquela pequena fonte calorífera. Quando essa mesa apareceu, era um luxo, lembro-me que talvez a meio da década de 60 e comprava-se numa loja no largo de S. Pedro. As mesas eram baratas, feitas em pinho mal acabadas, porque o que interessava era a estrutura para cobrir com a tal camilha.

            A família utilizava-a para fazer as refeições e para continuar o serão até irem para a cama, acompanhadas por uma botija de barro ou metálica, cheia de água muito quente, ou aparelho de aquecimento artesanal para meter entre os lençóis.

            Eram estas trivialidades que nos confortavam há uns anos. O maldito do Inverno, do granizo, do gelo e da neve não tinham grandes opositores. Aquecimento central? Quem tinha? Pouquíssimos. Ar condicionado? Caldeiras   e recuperadores de calor? Eheheh eram pura ficção científica. As casas das aldeias tinham sítio nas cozinhas para fazer fogueira ou grandes lareiras que tornavam a vida mais confortável. Na cidade era a braseirita. Os compartimentos, quanto mais pequenos, melhor – menos ar e menos paredes para aquecer.

            Maldito inverno!

            O aparecimento da braseira eléctrica e da escalfeta já foi uma grande inovação tecnológica, mas as facturinhas da electricidade ao fim do mês, escaldavam.

            Um dos primeiros projetos de arquitectura que fiz para Vila Real, já no final dos anos oitenta, o meu cliente, um engenheiro, pediu para eu projectar uma saleta secundária, onde iriam passar o Inverno com mesa redonda e braseira. Em 1987 na Escola Diogo Cão era este sistema utilizado na sala de professores, acrescido de um vidro redondo pousado sobre a camilha, para os professores poderem escrever e para melhor se higienizar aquela superfície.   

            Porque é que o Grande Arquitecto projectou isto tão mal? A vida por semestres de Primavera e Verão seria muito mais fácil e divertida. Poderíamos atingir o dobro da nossa idade, mas as rugas avançariam num ritmo mais alongado e todos os dias acordaríamos cheios de energia, sem pensarmos em luvas, casacos, ceroulas, cachecóis e gorros. Não gastaríamos tanta energia, as casas seriam mais confortáveis e arejadas, os dióspiros poderiam ser substituídos por papaias e o chá, por refrescos. Haveria menos roupas nos roupeiros, diríamos adeus às botas, às pantufas, mantas, mantinhas e cobertores. As festas religiosas e pagãs poderiam comemorar-se na mesma, apenas com retoques de calendário... Neste fim de semana teria ido até à praia recolher um bronze brutal e na festa do Natal poderia recorrer a um leque e adoptar a modalidade de piquenique.

            Uns sonharão em sentido contrário. Não faz mal.

Publicado em NVR 15/12/2021

08 dezembro, 2021

Arte do Natal


Coordenando os duendes no Pólo Norte. Não há matrizes - pura criatividade e muitos anos sem ver telenovela,  ignorando limites, com a arte nas mãos... sem graças a Deus, Deus te abençoe, tenha fé que melhores dias virão, seu anjo da guarda lhe protegerá  e outros clichês e mimimis absolutamente out.

RED

RED

and RED


05 dezembro, 2021

COLISEU ROMA 2018


 Isolei-me, para enquadrar o espaço na História... a emoção das bancadas perante o sangue e a morte. Senti-me deprimida e incapaz de estar atenta aos pormenores arquitectónicos que são muitos e eu tinha listado anteriormente para observação presencial. Não voltarei.


GEOMETRIK XXI


 

ANTECIPANDO




 

02 dezembro, 2021

O comercial

 


Os imprevistos da vida levou-nos a jantar ao Comercial, no Porto.

Azul, o glamour e a óptima companhia.  Falamos bem e mal sobre tudo e todos. Gargalhadas foram bastantes e quase encerramos o sítio. Tchim, tchim, caríssimos. 

Voltaremos brevemente. 


01 dezembro, 2021

GEOMETRIK XXI - vídeo promocional


 VÍDEO PROMOCIONAL

Exposição GEOMETRIK XXI
Visite no Museu de Arqueologia e Numismática em Vila Real até 2 de janeiro de 2022.
(a exposição não tem sala, está espalhada por todo o museu criando confronto, e diálogo através de reflexos das peças expostas e dos espaços do museu e a linguagens pictóricas exploradas nas superfícies transparentes)
Aberto todos os dias.

Faltam profs

 


Faltam profs 

          Com a democratização do ensino em 1974, o regresso das ex-colónias e o progressivo aumento da escolaridade obrigatória foram necessários mais docentes. Um imprevisto criado com a Revolução obrigou a aplicar estratégias de recurso. Entraram para a profissão pessoas com o antigo 7º ano, ou com frequência na faculdade, ou outras instituições que forneciam formação científica mínima e passaram a ser identificados como os professores com habilitação suficiente. Conheço casos caricatos com formação em contabilidade que foram dar português, e conheço casos provenientes da Alliance Française colocados a dar ciências. Injectaram-lhes alguma formação e cada um desenrascou-se como pode. Tudo se tolerou, porque aquele foi um momento excepcional na vida dos portugueses. Horários em mini-concurso eram abundantes e já me estou a localizar na década de 80, quando entrei no sistema como licenciada e com habilitação própria de grau superior. Passou a existir a profissionalização em exercício e em serviço – 2 anos com cadeiras pedagógicas a sério, para enriquecer as licenciaturas na vertente pedagógica. 

          Os ministros sucederam-se, inventaram-se as Escolas Superiores de Educação e a Formação Continua.  Ah, inventaram Bolonha, os mestrados e as respectivas teses de final de curso que continuam a dissecar todos os temas educativos... reinventam-se teorias e estratégias, porque é chato fazer uma tese e não inventar nada, nem que seja mais do mesmo – método científico com roupagens segundo a moda da estação do ano. Inventaram-se as licenciaturas “a martelo” para os professores do 1º ciclo e educadores, inventaram-se professores polivalentes do 1º e 2º ciclos, minimizaram a duração dos estágios pedagógicos, aumentou-se a escolaridade obrigatória até ao secundário, inventou-se o ensino profissional, os Erasmus e agora a inteligência emocional e a filosofia ubuntu. Inventaram-se objectivos, descritores, competências, aprendizagens, rubricas, multiplicaram-se grelhas e reuniões de planificação, articulação, supervisão, inspecção, monitorização e avaliação. Dos vivos, inventaram-se o João de Deus Pinheiro, o Roberto Carneiro, a Carmo Seabra, a Maria de Lurdes, a Isabel Alçada, depois o Crato e agora Tiago Brandão, que se encarregaram ao longo destes anos, em massacrar a paciência e a sapiência dos docentes até à exaustão, com práticas e supostas pedagogias nem sempre assertivas, desgastantes, matando progressivamente o ensino público e privilegiando o ensino privado. Marçal Grilo e David Justino que também tiveram as suas contradições, agora são comentadores, e após tanta complicação, até parecem anjinhos.

          Já sou do tempo do Souto Mayor Cardia e já vi tudo, rapidamente tiro-lhes o azimute. Entre um ministro e outro, não se segue um plano educativo a longo prazo, existem sim, “golpes de estado” sucessivos, seguidos de pequenas revoluções vertidas na Escola, como se diariamente se descobrissem novas maneiras de ensinar conhecimento duradouro e rápido. Nunca se conclui a avaliação destas experiências pedagógicas. E quem paga tudo isto? Os docentes que integrados no Sistema, são obrigados a acolher e pôr em prática todos estes desvarios, com a maior paciência, pensando sempre nos seus alunos. Amou-se a Educação, as Áreas de Projecto eram as pérolas dessa paixão que rapidamente se extinguiu. Novas teorias, novos artifícios têm apenas a mira da economia e não a pedagogia, acreditando sempre que os profs são uns tótós e não entendem estas manobras. Considero até um insulto à clarividência desta classe, a classe profissional mais bem informada de um país.

          Renovou-se o Parque Escolar gastando-se fortunas, sem critério e com diversas derrapagens financeiras, enquanto muitas escolas lutavam para lhes colocarem aquecimento, ou taparem as infiltrações das coberturas, ou retirarem urgentemente o fibrocimento. Inventou-se trabalho para dar aos profs, na componente não letiva, para justificar que esta seria uma profissão igual às outras, porque muitos funcionários públicos se indignavam com os “calaceiros” dos profs que só tinham 22 horas de aulas, e muitas férias, esquecendo-se de que os profs, antes e depois das aulas, têm todos os dias trabalho de casa. Não descansaram enquanto não tentaram tornar igual, o que é desigual.

          Inventaram-se os magalhães... nem comento! 

          Os pais descobriram que os filhos estando na escola o dia todo, lhes facilita a vida, porque o mundo laboral, quanto mais informatizado, mais exigente se torna e nunca mais se reduzem os horários de trabalho, nesta euforia neo-liberal. Os profs e assistentes operacionais passaram a ter muitas valências para tentar ocupar o “buraco” familiar – fazem de animadores culturais, enfermeiros, conselheiros, assistentes sociais, psicólogos, tutores, vigilantes, amigos, parentes e até dão colinho.

          Inventou-se a avaliação na folha de excell e desaprendeu-se sobre a avaliação continua, progressiva e sistemática, apesar de estar na lei, já ninguém sabe o que significa. Os pais avançaram para dentro da Escola, eliminaram-se as gestões democráticas e inventaram-se os diretores e para economizar dinheiro, começou a dar-se destaque à articulação vertical, para melhor entrar a “bucha” dos agrupamentos – monstros despersonalizados em estado calamitoso.

          Há muitos anos, qualquer aluno avaliado entre 0 a 20, percebia que se tivesse 9 poderia chumbar. Assim, teria que se aplicar mais. Agora a folha de excell deve ter diversos registos, que numa escala de 0 a 100,  depois de muito ponderado e evidenciado,  resulta na avaliação do aluno, imediatamente acompanhada de planos de recuperação, tutorias, consulta no psicólogo, caso haja insucesso.  

          Ando nisto há 40 anos e dói-me a paciência. Estamos a formar indivíduos superprotegidos – não se pode usar tesoura de bicos, não se pode fazer picotagem, não se pode falar na fogueira da Santa Inquisição, não se pode falar da guerra colonial. Obviamente não temos censura, mas não podemos assustar as criancinhas, nem traumatizá-las, porém, em casa podem jogar vídeo-jogos cheios de violência. As suas vidas devem ser completamente kleens, sem recusas, sem contrariedades, sem risco, sem frustrações, sem doença, sem morte e sem desejos. Estamos a criar gerações de jovens amorfos e desumanizados, que só querem estar metidos no quarto conectados com o jogo da moda e gritando por vezes, “Roubaram os nossos sonhos”.

          Os profs tentam contrariar esta tendência, mas já estão cansados, com tanto trabalho inócuo e solicitações diárias para tudo e coisa nenhuma.

          Actualmente as instituições e empresas descobrem a Escola como filão publicitário, promovendo concursos, webinares, conferências, seminários e workshops, que contribuem bastante para o estado de saturação dos docentes. Estes, coitados, tiveram apenas duas vezes a sua profissão dignificada (gostem ou não, foi assim) – a primeira com Vasco Gonçalves que atualizou salários e com Guterres que transbordava amor, mas sempre um amor empedernido e canastrão. A opinião pública, manifesta-se contra toda uma classe, como se esta fosse responsável pelo Sistema e, porque às vezes têm a ousadia de lutar pelos seus direitos fazendo greve, com os sindicatos à frente e sempre zurzindo se as greves são à sexta-feira ou à segunda, manifestando uma grande iliteracia laboral, quando defendem que deveriam ser avisados ou, porque é uma pouca-vergonha uma classe de “milionários”, “incompetentes” e “calaceiros” lutarem por direitos. Comparar salários com o resto dos países europeus, não lhes interessa, queimar pestanas, também não e educar os filhos em casa para que usufruam de todo o conhecimento que a Escola lhes pode proporcionar, também dá muito trabalho.

          Faltam profs... atirem a vossa revolta contra a Maria de Lurdes, o Crato e o Tiago Brandão. Acham que alguém no seu juízo perfeito, vai querer desempenhar uma profissão nómada, mal paga e sem subsídio de risco (em qualquer momento podem levar um bufardo de um aluno ou dos pais), que é maltratada pela sociedade e pelos petizes que ouvem em casa, “o teu professor é um baldas”?   

          Faltam professores? Que novidade! Tanto racionalizaram e tanto apertaram o cinto... Porque, na verdade, quem manda na Educação é o Ministro das Finanças. Os últimos ministros esquecem-se, ou julgam-se esquecidos por nós que já estamos fartinhos desta comédia? E alguém acredita que alguns profs voltam ao Sistema? Aguardam-se futuros romances melodramáticos sobre a conclusão da municipalização e a contratação de profs por escola.

Publicado em NVR 01/11/2021

30 novembro, 2021

A VIOLA AMARANTINA


 Porque não fico em casa.

Com bilhetes comprados hã mais de um mês, de repente vejo-me no meio do nascimento de um grande projecto. Gostei e regostei. Nem sabia nada sobre a viola amarantina. Conheci através das poucas partilhas do Rui Fernandes aqui na rede social. Hoje tive o prazer de a ouvir inserida em melodias com mais 3 instrumentos.

Excelente, aguardo os cds para oferecer a alguns amigos que já se vão roer até aos cotovelos, por desconhecerem o grande momento musical que vivi hoje. A interioridade também tem o seu encanto. Força Rui e muito obrigada.

29 novembro, 2021

CANASTRO


Atalho para o infinito, pleno, com capacidade de me emocionar com a arquitectura popular e com estes gigantes celeiros.

SHUAK 

24 novembro, 2021

MONDRIANA


 Há traçados que me pertencem, que dançam comigo em tarde tropical, como se tivesse sido ontem.

Regresso ao traçado e retomo a energia que por vezes vou perdendo... recrio-me, renovo-me num gostar sem fronteiras como nós. 

A voz, a voz, a voz no meu silêncio eterno.  Uma paixão redesenhada em Cassiopeia. Até lá. 

Pousada de Viseu

 Antecipando com spa e aqui tão perto








21 novembro, 2021

FLORENÇA


 Hoje a rede social lembrou-me de uma foto que publiquei em 2013. Uma fotografia obtida através de janela do Palácio Vechio, onde se vê a cúpula da catedral.

Florença é uma cidade para voltar. Já estive lá 3 vezes e ainda tenho que ir à última, porque ainda não visitei a galeria Uffizi.  

Esta visita de 2013 foi inesquecível, visitei o palácio Vechio ao som de uma orquestra que por acaso tocava numa das salas. 

Florença é bom, mas Roma é melhor.

17 novembro, 2021

A ZONA DE CONFORTO

 

 A ZONA DE CONFORTO

            Numa conversa em vão de escadas de um museu, à saída de uma exposição de pintura, acabamos por falar sobre a nossa zona de conforto e a preocupação com a avaliação dos outros sobre nós.

            Não ter medo, não nos auto-bloquearmos de tal forma que nos impeça de fazer aquilo que nos agrada e que nos emociona, é algo que nos engrandece.

            A arte só acontece quando saímos da nossa zona de conforto, quando nos aventuramos fora da “caverna” e nos tornamos disponíveis para partilhar o que pensamos e o que vai no nosso mundo interior. Essa abertura confere-nos vulnerabilidades, porque se tornam visíveis as nossas fragilidades e podem traduzir-se em pintura, literatura, poesia, fotografia, cinema, teatro... A Alegoria da Caverna de Platão explica como poderemos deixar de ser prisioneiros de nós próprios. Se permanecermos na caverna, observando eventualmente apenas a sombra de nós, teremos uma perspectiva rudimentar de nós e do mundo.

            Júlio Pomar dizia que a vida nos despe no momento de escrever ou de pintar.

            A vida envolve-nos e arrasta-nos com ela, como simples passageiros do tempo. Repetimos rotinas, hábitos, comportamentos, sufocados ou enquadrados pela crença ou fé religiosa, sem percebermos que poderemos mudar ou alterar algo. E os dias sucedem-se. Ter a noção que, ou continuamos na mesma, ou teremos que nos aventurar a mudar, já é bom, mas não chega. E o que fazemos? Acomodamo-nos no sofá, favorecemos a nossa insatisfação, aceleramos a frustração e experimentamos o acre do silêncio que nos grita aos ouvidos para sairmos do conforto e da segurança. A azia e a angústia convertem-se em sentir crónico, não havendo kompensan que nos salve!

            Criatividade não se desenvolve em zonas de conforto – a criatividade, aquilo que nos entusiasma e surpreende, as borboletas na barriga ou as hormonas aos saltos, exigem aquele passo em frente, mesmo que o risco seja cairmos num precipício... Poderemos cair, ou não. Teremos que lidar sempre com essa incerteza, mas não permitindo que ela nos engula.

            Na zona de conforto não é necessário pensar, questionar, avaliar, nem tomar decisões. A decisão é algo de grande responsabilidade. É mais fácil optar pelo igual, do que pelo diferente. Parece que tudo está bem, que estamos seguros, porém, é exactamente o contrário. Permanecer na zona de conforto, é não viver, é mirrar diariamente. Os governantes governam mais facilmente com a população situada em zona de conforto – ligam o piloto automático e pronto.

            Viver é enfrentar desafios, eliminar medos, construir coragem, acreditar mais em nós e confiar. É desenvolver a capacidade de resolver problemas, apostando na criatividade em autonomia e elevando auto-estima, respeitando o nosso espaço e o dos outros.

            Depois de saírem da caverna, experimentem regressar. Não é qualquer sombra que vos encantará ou vos aterrorizará, porque irão observar não só a sombra como a envolvente da mesma, sentindo sempre que, fora da caverna é onde se encontra o vosso EU mais autêntico. Verão que cada um será já outra pessoa, mais segura, mais conhecedora do mundo e melhor. Sempre melhor, mesmo que tenham caído no precipício. Se isso acontecer, terão pelo menos essa aventura para contar.

Publicado em NVR 17|11|2021

13 novembro, 2021