21 julho, 1990

Hera Akraia


Diário de Viagem: (há duas décadas atrás)

Saí logo pela manhã de Vouliagmen.
Atravessei Atenas e tomei rumo, na direcção de Epidauro.
Informaram-me que iríamos utilizar o único troço de auto-estrada que existe por estas paragens.
Os gregos…
… isto por aqui, nesta terra do alfa e dos gamas é estrada nacional, camarária ou equivalente e pronto!
Isto foi-me dito, com um ar, misto de desapontado e conformado, de residente em país subdesenvolvido, mas que não me impressionou.
Esqueci as auto-estradas e pensei na escolaridade mínima e no salário mínimo, bem mais interessantes do que em Portugal. …e na preocupação de todos em poupar água, que já faz parte da sua cultura.
Passamos o Piréu, e fizemos a primeira paragem no Istmo de Corinto.
Continuo grega para entender ps gregos!
Ou seja não os entendo! Assim é que é!
Nikolas é o que nos safa no seu castelhano. Mas é estranho aqui no oriente do mediterrâneo, porta com porta com a Turquia, charneira entre os dois mundos, onde se sente mais o lado de lá do que o de cá, chegar-me toda a informação em Castelhano.
Centrei a minha atenção no canal com cerca de 6 km. Uma verdadeira fenda de grandes dimensões a rasgar o território. Apanhei um barco a fazer a travessia, mas não consegui chegar perto.
Aquilo por ali chama-se Peloponeso. Lembra-me as aulas bafientas de História, isto no tempo em que achava que a História era uma seca... as batalhas de Salamina devem ter sido por aqui.
Visitamos o templo de Apolo.
Não consegui registar referências em relação à sua localização, pois distraí-me com o canal. Este templo é formado por colunas dóricas.
Rudes e dóricas!
Parecem uns menhires um pouquinho mais aprumadas e arrumadas. Sempre gostei do dórico, mas não imaginava que era tão grosseiro, tão rude, aqui nas suas origens. Eram pedreiros sem grande paciência (sorrio). Identifico-me com eles na minha falta de paciência arquitectónica para niquices.
Colunas feitas de uma só peça de mármore com 7m de altura.
E eu a pensar que em Corinto iria ver colunas coríntias…
De seguida visitamos outro espaço de homenagem a Hera Akraia (adoro o nome Herakaria como se diz), um santuário, que posteriormente foi convertido em termas pelos romanos.
Hera, era deusa que?
Grega ou romana?
Tenho que investigar quando regressar.




Desenho da reconstrução conjectural do primeiro templo de Hera Akraia em Peracora, perto de Corinto. Data: c. -800. Atenal, National Archaeological Museum. Desenho: Humfry Payne, 1940.


19 julho, 1990

Túmulo de Agaménon

Portal dos leões de Micenas
Túmulo de AgaménonNão sabia que o iria visitar, nem nunca tinha visto nenhuma foto deste túmulo.
Foi uma grande surpresa.
A aproximação ao sítio pareceu-me estranha, pouco tratada… diria mesmo quase tudo abandonado, uma cidade em ruínas, muralhas enormes, pedras soltas desorganizadas e depois a entrada para a cidade, um vão geométrico, encimado por uma escultura que dizem ser a mais antiga da Europa - portal dos leões de Micenas. O portal data de 1250 aC
Afinal Agaménon, o da máscara fúnebre em ouro, foi 1º rei de Micenas, relacionado com Helena, Páris, deusa Arthemis, Áquiles, Cassandra, no tempo do mundo antigo onde o real se confunde com a mitologia, e que para nós, seres do final do século vinte se torna difícil entender, e visualizar o emaranhado de relações nesse mundo.
Nikolas se esforçou, garanto.
Mas eu sou má seguidora de guia turístico. Dirijo a cada momento a minha atenção para aquilo que mais me interessa, e esqueço…. Está bem!!!! ignoro mesmo o planeamento feito por Nikolas, ou oiço apenas o que mais me interessa.
Agaménon terá sido rei da cidade e líder na guerra contra os troianos.
Esta tumba será a maior das nove tumbas descobertas na região.
A porta mede 5,4 metros de altura. A câmara funerária tem cerca de 14 metros de altura e de diâmetro. A sensação é de magnitude, grandiosidade e mistério.


……… (chamaram-me para eu mostrar as filmagens de hoje,… perdi o fio da escrita)
…………………………………

Achei que aquele momento de hoje de manhã, seria um momento especial na minha vida, reflecti sobre a possibilidade ser 1ª e última vez, que entraria naquela tumba. Fiquei arrepiada, comecei a fazer contas de somar, desde a antiguidade, somando séculos, uns atrás dos outros, num desfiar mágico, daqueles que acontecem quando estamos sob pressão ou a experimentar um estado de grande ansiedade.
Estes dias tem sido férteis em cronologias e cálculos rápidos de 100 em 100 anos.
Parei no exterior, no caminho de acesso e respirei fundo, ciclópicamente, mesmo! E voltei a focar e fazer o controle de brancos da máquina de filmar, preparando tudo para o grande momento.
Entrei. Entrei por um vão, rematado por um triângulo isósceles, vazado, perfeitamente geométrico.
A tumba é um sítio escuro, como convém, em que a claridade entra apenas pelo tal vão que utilizei como entrada. Passei de uma claridade feroz, das onze da manha do mês de Julho, sol ardente e entrei para o escuro que ficou mais escuro ainda.
.
Demorei uns minutos para me adaptar á pouca luminosidade.
Cheirava a fechado a mofo de tumba, apesar de ser um espaço vazio e não restar absolutamente nada do tal Agaménon (ingenuidade minha em pensar…).
Câmara circular e afunilada para cima ou seja um cone funerário de grandes dimensões – uma escala grandiosa, espaço sem qualquer ornamento, sóbrio, oco, mas poderoso!
À escala de um rei!
Quem vê de fora, repara que por cima do vão tem uma pequena elevação do terreno tipo pequena colina, pensa-se num relevo natural e é exactamente a cobertura da tumba que abriga em toda a sua altura o interior da tumba cónica. Foi aqui que foi encontrada a conhecida máscara mortuária em folha de Ouro, que está no principal museu daqui de Atenas. Jóias também.
Sítio pouco visitado, esquecido talvez, mas genuinamente antigo, e que passará a ser inesquecível para mim. Amadureci e cresci. Talvez o sitio mais emblemático de toda a Grécia. Espero rever a história dentro de dias, pois não me preparei para explorar isso.
Permaneci em silêncio e tentei abstrair-me dos outros visitantes, embrenhar-me de antiguidade. A sensação
é de magnitude, grandiosidade e mistério de um vazio que leva a caminhos simbólicos, distantes mas presentes.
Interior
(diário de viagem)