31 agosto, 2018

Ir ou não ir

Ir ou não ir

         Ir, ou não Ir de férias. Eis a questão que se coloca a muitos casais neste verão infernal. Todo o ano, cheios de rotinas, de horários sobrecarregados, sempre a correr, enfrentando filas de trânsito, tratar das crianças, exige umas férias, que serão o oásis desejado na vida das pessoas.
         - Môôor, vamos de férias para uma praia com os garotos, descansar, fugir desta vida citadina frenética, andamos tão cansados, ainda temos dois meses para arranjar alojamento…
         - Ok Krida, vou preparar tudo com tempo, alinhar a direcção e trocar dois pneus do carro… achas que faça depilação aos ombros?
         - Claro, caso contrário mostrarás o Carpélio que há em ti. Eu vou fazer laser e jet bronze para levar já uma corzinha e a partir de hoje, só como saladas.
         Tudo bem planeado pelos casais na expectativa de que irão viver uns dias românticos no Éden, pelo menos é com isso que sonham todas as noites - reservas pela net, unhas de gel, dieta, fato de banho novo, corte no barbeiro, madeixas no cabeleireiro…
         Chega o dia terão de atravessar Portugal para chegar a uma praia localizada bem a sul, para assegurar a água menos fria. O automóvel fica acanhado, com as malas, as tralhas da praia e a prancha gigante. A porta da mala consegue fechar-se e as crianças têm que levar o colchão de ar debaixo dos rabiotes apesar dos protestos.
         Os primeiros 20 km correm bem, depois o banco de trás revela-se insuficiente para as duas crianças que disputam o espaço ao milímetro, beliscando-se dando calduços, mordendo-se e proferindo constantemente, “chega pra lá”, transformando o habitáculo numa verdadeira batalha campal. Só se interessam pelo que vão comer e quanto tempo falta para chegar à área de serviço.
         Viva as férias!
         Relaxar, carregar baterias, viver uns dias fixes à beira-mar, sem stress, dormir muito, usufruir da família…
         Chegam finalmente. Saem de um edifício de apartamentos e entram num edifício de apartamentos, o que mudou foram apenas os vizinhos, que aqui são bem mais barulhentos e o espaço que é menor. Ou saem de uma moradia e entram num apartamento, o que de facto não se entende. Normalmente as férias têm menos conforto do que usufruem o resto do ano, o que é bizarro e faz pensar.
         Mas férias são férias!
         O que interessa é relaxar.
         -Oh diabo, primeiro dia de praia, chegámos tarde e com uma dor de cabeça do camandro por falta de cafeína logo às 7 horas da manhã. A praia está cheia, quase não sobra um sítio para estender a toalha! Teremos que vir mais cedo, toca a levantar de manhã, minha gente!
         -Hummm a barriga cresceu, afinal os abdominais não resistiram a tanta cerveja! - pensa o chefe de família.
         O passeio à beira-mar para admirar as garinas é feito com o sacrifício de um encolhimento de barriga permanente até faltar o ar.
         … e os putos continuam a chatear, atiram areia para todo o lado, sempre a guerrear e a querer bolas de berlim, gelados e línguas da sogra – estomagos sem fundo!
         Keep cool! Não stresses, pá! Vamos tirar umas fotos com o telemóvel, para mais tarde recordar. Um, dois, três, banana, um, dois, três, cheese,… o mesmo de sempre, um momento de fingimento de alegria e felicidade, agora também agrupada numa selfie.
         Este ano, vamos sempre jantar fora, para evitar a canseira da cozinha, compras, o cheiro de cebola frita…. Filas intermináveis e as ementas em inglês, tiram-nos do sério. Então a caldeirada, as iscas de fígado, a sardinha e a feijoada? Querem ver que o empregado de mesa insiste em falar connosco em inglês? Comer hambúrgueres e combinados, tudo bem, mas ter o azar de encontrar montes de pessoas que se cruzam connosco o resto do ano e ter que cumprimentar e falar do tempo, pendurar um sorriso de orelha a orelha, falar do alojamento e fingir que estamos no paraíso, as melhores férias de sempre. Fantásticas. É demais! Todos decidiram vir para este lugar, como se não houvesse outra praia no mundo. Que azar!
         -Môôôôr vamos pedir ao pintor para fazer o retrato das crianças? Que giro, oh são caricaturas, ai que engraçado!
         Lá vão as crianças fazer pose, uma delas insiste em por cornos à outra. O resultado é sempre o mesmo: uns primos afastados das crianças numa caricatura manhosa, que todos aplaudem e acham admirável.
         Para fortalecer as férias vamos comprar ricuerdos Ti Maria nas lojas ou nas barracas, enchemos um saco de pedras contra o mau-olhado, ímanes para o frigorífico, bangla dans, ray bans de 3 euros, grãos de arroz pintados que só os míopes veem e outros pechisbeques horrorosos, que não prestam para nada e que se compram por falta de alternativa e porque o sol nos põe a pensar devagar.
         E as férias terminam numa viagem de regresso ainda mais esgotante, com o sol a bater continuamente no braço esquerdo do condutor, uma odisseia com as áreas de serviço cheias, com fila para os WC e nós mais cansados e desiludidos com estas maravilhosas férias que desejámos e imaginámos ao longo do ano. O bronze nunca falha, valha-nos ao menos isso, porque as fotos,…  socorro, o cenário tinha sempre uma mama fora do soutien, um rabo com celulite, uma garrafa de plástico abandonada, umas pernas com varizes, uma pirisca ou uns pés com joanetes, dos nossos companheiros de infortúnio de praia lotada.   

Publicado em NVR em 29/08/2018    

26 agosto, 2018

9ª Bienal Internacional de Gravura do Douro 2018





 Gosto
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 Gosto


 Parece um Bosch, com centenas de histórias e promenores
 Gosto








 Gosto
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25 agosto, 2018

ANAXANA


Museu de Nadir Afonso - Chaves


 

16 agosto, 2018

Diário de viagem - Budapeste


     


(…) Tento lembrar Budapeste, obra de Chico Buarque de Hollanda, tentado recordar pormenores do livro para identificar na cidade.
         Mas já li esse livro há alguns anos, impossível.
      Atraem-me as ruas com edifícios lindíssimos escondidos na patine do tempo, escuros, sujos e degradados, mas arquitectónicamente belos… belíssimos. Desenhados a régua e esquadro por quem sabe combinar a geometria com a escultura. Olho-os de baixo para cima ao passar nas ruas, deslumbrada. Cada detalhe, cada cunhal, cada fenestração… as platibandas, os capitéis…
       Vagueio pelas ruas tentando sair dos roteiros pré-estabelecidos. Não percebo nada do que consta nas placas informativas que pontualmente aparecem junto aos edifícios. Disparo fotos para poder investigar no regresso.  
       Cada rua são diversas páginas de Vitrúvio, são diversas páginas da História do século XIX e XX. Respiro fundo… respiro arquitectura. Ridícula!‼ ok não interessa. Gosto de andar por aqui.
     Deparo com um edifício e meto na cabeça que era a base de The Grand Budapeste Hotel de Wes Anderson, já que o Hotel era uma maquete cinematográfica. Terei de confirmar. Recorro à net do telemóvel…. Mas perco tempo, quero aproveitar cada minuto. Este é o Buddha Bar Hotel. Conseguirei entrar?
Terei de voltar outras vezes.
(…)
(Diário de viagem – Budapeste AQ)