30 outubro, 2022

Halloween


 Hoje é noite de sustos e cagaços, com ligação ao Além. A vassoura foi à revisão e está em ordem para eu poder saltar a janela e ir divertir-me.

Para os do contra, fiquem em casa e fiquem bem, porque o vosso preconceito é mesmo bom para se deitarem às 21h.

Descomplico a situação, relativizo, porque a origem desta folia é pagã, assumida de formas diferentes em cada local. O que me interessa é celebrar a vida e estar com os amigos, com ou sem abóboras, registar momentos únicos e irrepetíveis. Buhummm assombrações venham elas!

29 outubro, 2022

Justes


 Um pouco distante, mas em linha.

27 outubro, 2022

Anita pensa mudar de casa

 

Anita pensa mudar de casa

 Anita vivia no centro da cidade, num edifício com propriedade horizontal, boa paisagem, perto do comércio local, a dois passos do restaurante que servia optimas francesinhas, para apanhar o comboio era só atravessar a ponte, o sapateiro ali mesmo ao lado, passeava todos os dias a pé pelas ruas do centro histórico, conferindo-lhe alguma qualidade de vida.

Cansava-se a carregar as compras da garagem, da cave até ao rés-do--chão e depois ter que subir uma escada exterior até ao primeiro andar, para apanhar o elevador. Uma escada mal-parida projectada em noite de apneias nocturnas, que cansava todos os moradores. A força juvenil da Anita ultrapassava este constrangimento. Os foguetes da festa dos Lázaros estouravam a altura da sua janela, o Sto António balburdiava e entrava pelas janelas da traseira, o S. Pedro fechava a rua, nas corridas, a Anita punha uma mesa de iguarias, na sexta-feira de manhã e ficava posta até domingo à noite, com entrada livre para toda a família ficar à janela a ver os automóveis a passar; até que um dia nasceu um edifício-hotel, esmagando um parque cheio de árvores, e esse hotel permaneceu no seu mísero esqueleto de pilares e vigas, durante anos, com uma piscina cheia de água inquinada, produzindo mosquitos para todos os adjacentes.

Anita recebia poucos amigos, porque não era possível fazer barulho depois das 22 horas, e tinham que dar umas voltas para estacionar, o carteiro deixava o correio onde calhava, a vizinha de baixo, era daquelas senhoras que não rapam os sovacos e têm como companhia uma cobra e uma iguana, dando origem, a maus encontros no elevador e ao encerramento de todas as condutas de ventilação, não fosse a cobra querer ver a decoração do apartamento da Anita.

Um dia a Anita iludindo-se que numa moradia localizada numa zona residencial, fora do centro, iria aumentar a sua qualidade de vida, fez a mudança, para uma rua sem saída de bairro sossegado, no último lote existente, adivinhando alguma estabilidade urbanística, para evitar surpresas futuras. Ali parecia-lhe que estava quase no paraíso. Tinha uma habitação maior, sem escadas, sem foguetes, sem a nudez ignóbil de um hotel, sem iguanas. Podia receber a família e os amigos, poderia fazer mais barulho, todos estacionavam perto, na própria rua… Vivia numa rua com vizinhos discretos, que só passavam, para colocar o lixo na rua paralela. Nem o carro do lixo lá passava, e o carteiro passava silencioso apenas quando havia correio…

Uma paisagem fantástica, tudo parecia estar a correr bem, até que um dia, viu umas marcações na rua, depois na outra e rapidamente todo o bairro entrou em obras. Nunca ninguém reclamou por obras, mas impuseram-nas. Na sua rua, as obras demoraram quase um ano - lama, pó, charcos, blocos, paralelos de granito, carretas, camionetas, carrinhas, vistorias, piropos dos calceteiros, das 8h às 17h. À noite ir colocar o lixo era uma aventura, Anita fazia-o de galochas, sair, era de automóvel, sempre cheio de lama.

Os anos passaram, para pior, uma meia dúzia talvez... O tratamento que fizeram à sua rua foi realizado obedecendo a critério duvidoso e desconhecido… passou a não haver lugares para estacionar, os passeios alargaram sem haver pessoas para passear. No final de uma obra deveria haver um questionário para os moradores preencherem e dizerem se ficaram melhor ou pior. Se o fizessem certamente saberiam o impacto negativo que teve esta obra na vida destes habitantes. O problema da Anita é comum a todos os seus vizinhos.

A avó da Anita passa a vida a dizer:

- Arranjem-me uma “rebarbadeira” que resolvo o assunto numa noite.

- Oh Vó já não estamos em Paris em Maio de 68!

Anita, hoje, quase não tem visitas, para poder fazer barulho até tarde.  Quando as tem, são raras, encontra-se com elas no estacionamento do Continente, vai almoçar com elas ao shopping, ou ao mc, tenta uma esplanada para passar a tarde e finalmente inventa um compromisso para as despachar, porque ninguém pode parar na sua rua.

Os familiares mais envelhecidos, telefonam-lhe, antes de a visitar. Anita vai buscá-los a casa e saem na garagem da sua moradia. Quando chegam visitas de fora, durante o dia, transportando malas, a Anita tira o seu carro da garagem, cede o espaço às visitas e vai estacionar, ao parque da avenida, ao Aldi ou ao estacionamento do teatro e regressa de táxi. É que o parque de estacionamento destinado ao seu bairro residencial está cheio de viaturas de médicos, professores e utentes, que trabalham na escola e no centro de saúde. No início todos pensavam que a Anita descartava as suas visitas, com tanto constrangimento e combinação por telemóvel, depois verificaram ser mesmo assim, esta desastrosa (des) organização urbana e deixaram de ir.

Anita pensa em mudar de casa, mas sente-se apreensiva, temendo que lhe aconteça o mesmo, porque esta epidemia da cidade verde para pessoas, tem um lado desumano e que tende a alastrar no território, porque as cabecinhas pensadoras, iludem-se que não envelhecem, que todas as cidades são iguais, que andarão a abraçar árvores toda a vida e não sabem distinguir, centro histórico, zonas comerciais e zonas residenciais.

Anita comprou uma bicicleta, mas a síndrome vertiginosa, ataca em todas as idades e não lhe permite, nem bicicleta, nem trotineta, nem bus. Anita está indecisa, se deve inscrever-se num lar da terceira idade, se muda para uma aldeia bem longe sem rotas de javalis para proteger, ou se tenta convencer um sargento para lhe deixar ocupar alguma caserna no interior do R13, em troca de fotografias nos juramentos de bandeira. Esta última opção é a que lhe parece mais viável, porque da sentinela para dentro, quem manda são eles e lugares para estacionar não faltam. No parque de campismo não aceitam vizinhos, o CIFOP, ora está lotado, ora esta vazio, o seminário cheira muito a incenso e não acolhe agnósticos,…

Sugeriram-lhe um contentor amovível ou uma autocaravana, que possa ficar no estacionamento do teatro e aí, receber as suas visitas com possibilidade de fazer um programa cultural, descer até ao rio para ginástica matinal, comer kebabs e fazer compras no shopping, sem grandes complicações. Quando lhe plantarem esculturas metálicas, cilíndricas, de 2 em 2 metros… Ála que se faz tarde, bora lá mudar de lugar e dar vazão ao seu lado nómada, que tem despertado com a evolução dos tempos.

Publicado em NVR 26/10/2022


20 outubro, 2022

AMIGOS DO BEM


Com Aristides

19 outubro, 2022

PASSADIÇOS

 


Passadiços

Não me apetece escrever sobre o Putin, porque já vi o filme todo, nem me apetece escrever sobre Marcelo, porque já me enjoa a sua retórica, abordo esta semana um tema que vai desagradar a muita gente, mas é obrigatório que o faça, porque nem sempre a maioria tem razão.

Passadiços e pontes suspensas são o que está a dar.  Enche o olho e agrada. Uma moda que não engulo. Parece epidemia contagiosa, que rapidamente se disseminou… num país que anda há 50 anos para se decidir sobre o novo aeroporto de Lisboa, os passadiços, parece fogo sobre restolho, rapidamente se ultrapassam problemas de morfologia, propriedade, legislação para a conservação da natureza, ideologia ecológica… num piscar de olhos, aparece um passadiço!

Já lhe chamam a eco-parolice do momento, que serve apenas o lazer daqueles que não gostam de andar pela montanha, mas gostam de “passadar”. Faz-me lembrar as crianças que não gostam de sopa, mas se for passada… Lá vão eles nos sábados e domingos de manhã, convencidos que estão em comunhão com a natureza e esquecem-se das árvores abatidas, da desmatificação da Amazónia, do impacto que estas estruturas têm na paisagem e nos eco-sistemas. Alerto que não basta serem de madeira para estarem bem.

Aquela ideia que os passadiços permitem a observação da natureza em estado puro, é uma grande falácia. Então só se olha para o lado? Não se olha para trás e para a frente? Os passadiços apenas permitem ver a intervenção agressiva do homem sobre a natureza, que avança pelos territórios alterando-os profundamente. Nasceu este paradoxo que a maioria parece não entender. O silêncio, a paz e organização natural e harmoniosa de certos refúgios da natureza foram absolutamente invadidos e destruídos.

O primeiro passadiço construído em Portugal serviu para proteger as dunas, na Reserva Natural das Dunas de São Jacinto, em Aveiro, na década de 80. Os de hoje só tem a finalidade lúdica e que se lixe o resto e quem grita é o ambiente, a economia e meia dúzia que remam contra a maré, como eu.

Os passadiços do Vale do Mondego custaram à Câmara Municipal da Guarda 2.733.710,94€. Aqui parece que ficou mais em conta, custaram 400.000€, mas não esqueçam, um passadiço exige reparações e uma manutenção permanente. Se economicamente é rentável para toda uma região, não sei, mas questiono-me:

-  Quantas árvores são necessárias abater para fazer um passadiço?

Gostei de uma frase da autoria dos Caminheiros da Gardunha publicada no Papa Léguas: [Em suma, e salvo algumas boas excepções, propor percursos em passadiços como percursos de valorização e promoção da natureza é como criar uma linha de refeições prontas ultra-congeladas com o rótulo de “comida caseira da avó”]

Depois venham-me com o degelo, o aquecimento global, a poluição dos mares e as palmas para a Breda.

Se querem a minha humilde opinião, as escarpas do Corgo ficaram todas danificadas! Vejam as várias fotos que existem na internet, acham aquilo bonito? As escarpas estão completamente fanicadas, perderam o aspecto agreste, selvagem e vestiram-lhe uma cinta… sei lá, um ligueiro

Publicado em NVR 19/10/2022

17 outubro, 2022

16 outubro, 2022

14 outubro, 2022

12 outubro, 2022

CENTENÁRIO AGUSTINA


 

Centenário de Agustina

As comemorações do centenário de José Saramago passaram o centenário de Agustina Bessa-Luís um pouco para segundo plano. O que vale é o mundo cultural do Porto e Norte que não a esquece.

Agustina nasceu em Vila Meã em Amarante, porém viveu a maior parte da sua vida na cidade do Porto, integrando a elite intelectual portuense. Escreveu muito e bem, focando o seu interesse nos sítios, nos lugares, nos espaços onde viveu e escreveu sobretudo sobre as mulheres.

Lembro-me sempre dela já idosa, usando penteados fora de moda, roupas por vezes com alguma exuberância, mas, uma exuberância antiga e mofada, nunca esquecendo um adorno coquete. Pouco elegante, eu diria mesmo com excesso de peso e pouco bonita, que poucos a imaginariam uma pessoa activa, atenta, inteligente, rigorosa, trabalhadora, criativa, moderna e profunda.

A escrita dela não é cosmopolita, é rural, delineada em espaços largos ou apertados, tradicionais, auto-portantes, com pouco ou nenhum betão – as quintas, os solares, as casas durienses, os casarões e os casebres, perdidos nos caminhos íngremes e apertados conquistados à natureza. As famílias e as mulheres possuem este enquadramento, as famílias com sucesso, as famílias arruinadas, as problemáticas que circunstanciam todo esta ambiência pouco moderna, mas real, localizada a poucos quilómetros do Porto, e a 4 horas de Lisboa. Agustina explora as ligações familiares que influenciam sempre a vida das personagens, o vínculo à terra e à tradição, com sentido crítico ou não. A abordagem do casamento como sendo a união de património, perspectiva tradicional, a virilidade, a cólera, a virgindade, a maternidade, o sofrimento, a fúria, a desigualdade… tudo isto podemos encontrar nesse legado ficcional que nos deixou. 

A descrição de lugares ora pitorescos, formosos, poéticos, secretos, encontrados no Douro, ora lugares menores, desenvolvem-se agora um pouco desformatados pela nova circunstância do turismo de massas. Ficará o registo de como foi, esse território provinciano e claustrofóbico, onde também eclodiam paixões complexas, porque a paixão e a sedução não escolhem dono, nem lugar…

Agustina retrata estas identidades femininas só possíveis nestes territórios, nestas casas de Douro no horizonte e que Manoel de Oliveira teve a astúcia e a perspicácia de explorar na 7ª arte.

Publicado em NVR em 12/10/2022

08 outubro, 2022

05 outubro, 2022

DIA DO PROFESSOR

 https://www.youtube.com/watch?v=roTYfQ4pCJc&t=431s

ANITA BRINCA AOS AEROPORTOS

 

Anita brinca aos aeroportos 

Anita gosta de criar os meus próprios jogos, daqueles que se lançam dados e se avança de casinha em casinha, denominados jogos de percurso, jogo cobra ou mesmo jogo de dados. Gosta de um em especial, denominado “À procura do aeroporto”, que cria um desafio constante aos jogadores, que se vão revezando e substituindo.

O percurso tem a casa da partida na data de 1969 e não tem fim. Anita adiciona uma casa por ano para o jogo estar sempre atualizado. Fazendo contas, tem 53 casas, e a “cobra” já está de bom tamanho, já não cabe em mesa de centro da sala de estar, necessitando de mesa de maior dimensão.

Há as casas normais e as especiais. As normais são aquelas em que não se passa nada, e as especiais são as que nada se passa, excepto estudos, projectos e promessas de mais estudos e mais projectos. O estímulo é conseguir encaixar num território tão pequeno, tantas ideias para a localização de um aeroporto.

Os jogadores em vez de ganharem pontos consoante avançam no jogo, é ao contrário, vão perdendo pontos, porque se os dados os remetem para as casas especiais, tem o azar de pagar projectos e estudos complexos. Os jogadores partem com mil pontos cada, e ganha aquele que chega ao fim com menos pontos perdidos.

As casas especiais designam-se por Rio Frio, Alcochete, Ota, Montijo, Portela, Sintra, Beja, Figo, Maduro, Santarém, Margem Sul… Quem estaciona nessas casas tem que justificar porque ali é um mau sítio para o aeroporto, mas mesmo assim, perde pontos para pagar os estudos e projetos. Se não souber justificar porque é um mau sítio, fica lá no “choco e pronto”, não sai de lá, mas pode argumentar contra os outros jogadores. Não joga, mas desabafa, como se fosse ao psicólogo.

Se calha na casa “Margem Sul Jamais” volta à casa da partida, mas não lhe adicionam mais pontos.

Este é um jogo de elevado risco, porque tem algumas saídas falsas, com casas que dizem, Porto, Coimbra, Faro e Viseu e penalizam os jogadores, obrigando-os a recuar casas. Tem ainda uma casa jóquer, dourada, que diz: eu sou um ponto equidistante de todas as capitais de distrito. Nesta casa, o jogador duplica a sua pontuação. E tem um lembrete que serve para reflectir: “El debate sobre las razones que llevaron al rey a trasladar de forma permanente su corte a Madrid ha llenado muchas páginas. Uno de los motivos más evidentes es la centralidad geográfica de Madrid respecto el resto de la península.(1561)”

Este jogo da Anita é activado na noite de S. Martinho, vivida em família, para preencher as horas de ruminação da castanha, evitando que jovens e menos jovens, adormeçam e façam más digestões. Abrem-se inscrições e começam a jogar. Os mais novos são mais entusiastas, os elementos mais velhos, cedem o lugar aos mais novos, pois já sabem como tudo isto termina, todos falidos, menos um, que também não chega em bom estado ao final do jogo, porque teve que esgotar todo o seu argumentário. Todos discutem e o que vale, é um favaios, uma jeropiga, uma água-pé ou um vinho fino para entorpecer os sentidos.

Este ano a Anita já está a desenhar uma nova casa especial, e prometeu que será a última…, talvez mais complexa, com tantos pontos fracos como todas as outras, mas a última.  Já disseram à Anita:

- Para lá com isso, já ninguém quer jogar esse jogo. Ou tu estendes o percurso para fora de Portugal, ou então já perdeu interesse. Está a ficar claustrofóbico e ultrapassado. Pensa mazé numa plataforma espacial numa zona entre Cáceres e Castelo Branco, para ser a casa BigBang!

Publicado em NVRem 05/10/2022 

Imagem - recriação

 https://www.fnac.pt/Anita-de-Aviao-Gilbert-Delahaye/a527959

04 outubro, 2022

STANLEY JORDAN

 

Dia grande cansativo, criativo, interactivo e terminou na excelência.

A oportunidade única de assistir a um concerto de um dos melhores guitarristas do mundo Stanley Jordan. Foi quase duas horas de ter o privilégio de estar ali a ouvir e ver em directo.  Deu para escutar, ouvir, sonhar, ritmar e aplaudir. No final senti-me mais eu. Livre, sem grandes compromisso e apaixonada pela vida, tal como o JAZZ.