Apaixonei-me por este edifício, casa,
moradia, habitação, o que lhe queiram chamar.
Olhava-a quando me levantava através
da janela do hotel, e o meu primeiro pensamento tinha esse destino.
Olhava-a quando estava na praia.
Olhava-a a passar para o restaurante
e despedia-me dela no regresso ao hotel no final da noite.
Observei-a na sua presença com alçado
principal e também exactamente do ponto de vista oposto, imaginando o resto.
Apaixonei-me.
Paixão de corações e suspiros.
Com a minha maturidade já não foi o
objecto em si, que me atraiu, os planos geométricos, a forma/função, a estética,
a inovação arquitectónica. Apaixonei-me pela simplicidade, escala, robustez combinada
com a fragilidade visível. Ao apaixonar-me por ela foi mais forte a sua essência
relacionada com o exterior, do que haveria no seu interior. O interior
desconhecia-o e adivinhava-o, como o mínimo essencial para habitar.
Apaixonei-me por aquilo que poderia ver daquele espaço para o exterior – o pôr
do sol diário, o maior espectáculo do mundo, o marulhar sereno do mar, o areal
como base morfológica e o céu imenso. Imaginei-me a espreguiçar-me logo de
manhã com a sensação do sítio do espaço marítimo. Imaginei-me à janela a olhar
para fora, para o espaço por onde andei a deambular. Imaginei-me a ouvir música
apreciando o vento do exterior ou a falta dele. Imaginei-me a ler um livro e levantar os olhos
até aos últimos raios de sol. Imaginei-me no degrau vinte dos afectos,
aconchegando o brilho e a geografia do lugar, através de uma lareira no
Inverno, como garantia infinita de felicidade.
Seria ali o meu porto seguro contigo,
provavelmente igualável a Cassiopeia.
Seria o espaço de meditação/reflexão
de mulher formada, autónoma, emancipada, que nunca dependeu de ninguém, com as
suas lutas pela liberdade.
Seria um espaço de relaxamento e
lazer, apreciando as boas sensações da vida.
Seria também o espaço para
desenvolver sentido critico sobre mim e o mundo acompanhada de granito e
fenestrações brancas, associadas a melodias que branqueiam velhos dissabores.
Trouxe estas emoções comigo, memórias
embrulhadas em alegria e coração cheio.
Voltarei.
in "Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado" Anabela Quelhas
1 comentário:
<3
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