18 setembro, 2024

Transportes públicos

Transportes públicos 

Como tenho manifestado críticas à organização e utilização do centro urbano, pode parecer que pertenço àquele grupo, que entregariam o centro da cidade à poluição e aos veículos privados, mas não corresponde à verdade, e hoje vou escrever sobre os transportes públicos desta cidade.

Parece-me que a cidade tem sido favorecida com uma rede de transporte pública razoável, 25 linhas que ligam não só vários pontos da cidade, assim como vários pontos do concelho.

Antes de 2002 isto não existia. Desde 1975, que a cidade cresce, mas o poder político esteve 25 anos inactivo nessa matéria.

Havia 2 ou 3 empresas privadas que faziam o seu negócio transportando pessoas da cidade para as aldeias, sem um plano estratégico a pensar nos cidadãos e nas suas necessidades de deslocação urbana. Cada um tinha que andar a pé, de carro de praça ou comprar um veículo automóvel pessoal, para poder deslocar-se. Cheguei a esta cidade em 1988, habituada a utilizar transporte público no Porto e em Coimbra, e aqui, fui trabalhar para Mateus e tive que utilizar viatura própria, para ir trabalhar porque não existia alternativa.

Estamos melhor, uma boa rede de transporte publico alivia a pressão nos centros urbanos e alivia a bolsa dos cidadãos. Estamos muito melhor! Temos cerca de 25 linhas estruturais em que algumas ainda se desdobram e cobrem grande parte do território.

Pelos dados que recolhi (desconheço se são fiáveis) teríamos em 2022 uma frota de 20 veículos – parece-me pouco para 25 linhas.

A minha experiência é positiva, como vivo relativamente perto do centro, tenho transporte quase à porta, utilizo-o fora das horas de ponta e constitui um recurso satisfatório para me ajudar na minha mobilidade urbana. Na verdade, se tiver que estacionar no centro, o dinheiro do estacionamento ultrapassa o custo de duas viagens em transporte publico. Devo elogiar também os profissionais que os conduzem, que manifestam simpatia e ajudam os utilizadores.

Tudo parece bem, mas não está.

Refiro o interior dos autocarros onde falta a visibilidade de um esquema da linha e um pequeno esquema de toda a rede, atendendo a que há utentes que têm de usar mais do que uma linha; falta também um monitor de informação com aviso antecipado da identificação das paragens. O desenho do interior dos autocarros está feito apenas para jovens; pretendendo-se rentabilizar o espaço do habitáculo, resultam bancos elevados com degraus ou plataformas tornando perigosa a sua utilização aos menos ágeis e menos novos.

Sobre as paragens de autocarro, têm desenho contemporâneo, formadas por painéis transparentes, com painel lateral direito com configuração de outdoor ou mupi[1] (tive dificuldade em seleccionar o termo correcto) e respectivo postalete. Usufruindo da sua forma de abrigo localiza-se um banco para os utentes se poderem sentar, protegidos das intempéries.

Tudo parece bem, mas não está.

O referido “postalete” possui informação reduzida e esquemática das linhas, que é insuficiente. Os horários, o esquema de toda a rede diurna e nocturna são inexistentes. O mupi está ocupado com publicidade, certamente paga, e não se dá prioridade às informações em falta. Como forma de ultrapassar este constrangimento veem-se folhas A4 coladas com fita-cola, sobre os painéis transparentes onde não deveria ter nada para facilitar a sua limpeza e transparência. Fica o contraste entre a modernidade e o desenrasque, com várias folhas A4, umas bem coladas e outras com parte da folha pendurada.

Isto merece reflexão, o mundo da publicidade é voraz. A publicidade exterior é o melhor investimento para marcas que procuram notoriedade e impacto. As paragens de autocarro são bons lugares para promover produtos ou serviços e influenciar decisões de compra. São locais de permanência obrigatória, de um público flutuante, diversificado com predominância de jovens. Assim, a colocação de publicidade não é uma atitude ingénua da autarquia, mas sim uma atitude que produz rendimento.

Aqui fica o reparo, a autarquia não pode ser ambiciosa e querer tudo, ou pretende ter munícipes bem servidos ou pretende rendimento publicitário fácil.

Um último apontamento: às onze horas no interior dos autocarros já não se reconhece qualquer aroma associado à higiene diária; as paragens requerem uma maior higienização, qualquer utente percebe nos elementos transparentes, restos de fita cola, e surro. Sim, escrevi surro e outras sujidades resultando da limpeza pouco cuidada.

Tudo parece bem, mas não está.

 



[1] Mobilier Urbain pour l'Information

Publicado em NVR 18/09/2024


Sem comentários: