O acaso nas deambulações por Paris
Passage des Panoramas (internet)
As passagens cobertas de Paris são conhecidas no mundo todo.
Elas foram construídas entre o final do século XVIII e metade do XIX, e durante
muito tempo serviram de ponto de encontro tanto da burguesia da cidade quanto
dos artistas e até de prostitutas. Muitas dessas galerias não existem mais, mas
várias resistiram ao tempo. Dentre elas, está a mais antiga, a Passage des
Panoramas, aberta em 1800.
O nome deve-se a um tipo de divertimento muito na moda na
época, chamado panorama. Em 1787, o pintor escocês John Barker cria uma espécie
de afresco que cobre toda a parede de uma torre redonda. Geralmente, essas
pinturas tinham como tema a vista de uma cidade, daí o nome panorama, e eram
mostradas na penumbra.
Em 1799, o empresário americano William Thayer compra os
direitos de utilizar esse tipo de atração na França. Assim, ele instala duas
dessas torres no lugar em que ficava o antigo hotel Montmorency, também
comprado por ele, perto dos Grands Boulevards – que, na época, nada mais eram
do que alamedas de terra, arborizadas, construídas segundo o traçado da antiga
muralha de Charles V.
Então, para criar um caminho entre essas duas torres, Thayer
manda construir uma passagem. Ela deveria ser coberta, para abrigar os
pedestres do mau tempo, e servir também de atalho para as pessoas que iam e
vinham do Palais Royal, que fica ali perto. Assim, o americano acabava atraindo
visitantes para ver seus panoramas.
O sucesso é imediato. Como a bolsa de Paris ficava ali
perto, o bairro atraía muitos investidores, e muitos deles acabaram abrindo
lojas de prestígio na galeria.
Em 1807, é o Théâtre de Variétés que se instala dentro da
passagem. Isso aumenta ainda mais movimento da Panoramas, pois, o teatro passa
a ser um dos mais importantes lugares de reuniões artísticas de Paris. Ele
ocupa o local até hoje.
O prestígio da Panoramas é tão grande, que, em 1816-1817,
ela é um dos primeiros lugares a receber iluminação a gás. E na obra Voyage
Descriptif et Historique de Paris (Viagem Descritiva e Histórica de Paris), de
1825, o escritor Louis-Marie Prud’homme chamava o lugar de « Petit Palais Royal
».
Mesmo com a demolição das torres com os panoramas, em 1831,
a passagem continua muito frequentada. Mas o prolongamento da rue Vivienne até
o Boulevard Montmartre e a concorrência de novas passagens, construídas na
época, como a Galerie Vivienne ou a Colbert, fazem com que a Panoramas tenha
que ser renovada para enfrentar a concorrência.
Uma das medidas é a construção, em 1834, de galerias
adjacentes à principal: as galeries des Variétés, de Saint-Marc, de Feydeau, de
la Bourse e de Montmartre. Assim, a passagem ganha várias entradas, ligando-a à
nova rua (Vivienne). Nessa época, as principais lojas que ficavam ali vendiam
leques, enxovais, bolsas, papeis, brinquedos, entre outras coisas.
Havia uma mais famosa e luxuosa, chamada Susse, onde em
1840, o escritor Alexandre Dumas, o pai, comprou o quadro La tasse dans la
Prision des Fous, de Eugène Delacroix, por 600 francos. Vinte e seis anos
depois, ele o venderia por 15 mil.
A passagem des Panoramas continua por todo o século XIX e
começo do XX muito apreciada pelos parisienses, atraindo um público de todo o
tipo. Mas, em 1929, a construção de um imóvel residencial faz com que a entrada
sul da passagem seja modificada. É dessa época a demolição da Galerie de la
Bourse, um das galerias adjacentes de 1834.
Em 1974, a Passagem é inscrita na lista de Monumentos
Históricos. Porém, ela está muito mal conservada, tendo sido desfigurada ao
longo de algumas transformações e sufocada por construções vizinhas. Até que,
em 1988, o sindicato dos co-proprietários resolve restaurar a Panoramas para
lhe devolver o brilho e a glória de origem.
Novas lojas são instaladas e a passagem atrai novos
públicos, incluindo os turistas. A parte principal é a mais animada. Cafés e
restaurantes de todos os tipos – francês, creperia, indiano e até orgânico –
dão vida ao lugar.
Hoje, a Passage des Panoramas é conhecida também por abrigar várias lojas de selos, cartões-postais e fotografias. Algumas partes estão precisando de restauro, mas, ainda assim, é um lugar bonito, charmoso e diferente. Quase uma viagem no tempo.
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