Eleições à vista
Eleição
é um processo de escolha de alguém ou entidade, para ocupar um cargo, auscultando
a vontade de todos. Na organização das sociedades, desde que o homem optou pela
vida sedentária tornou-se necessário escolher os mais fortes e mais capazes
para desempenharem certas funções e que representassem a comunidade.
A
nossa sociedade está organizada assim e parece-me bem. A democracia
caracteriza-se exactamente pelas bases poderem eleger os seus governantes
através do voto. A eleição parece ser o ponto-alto de qualquer democracia.
O
voto quer dizer que a nossa sociedade, apesar dos conflitos, dos erros e da
corrupção, continua a permitir que cada cidadão tenha uma posição activa e
avaliativa, que se traduz no acto eleitoral.
É
importante termos vários partidos para podermos escolher uma das equipas.
Eleições com partido único, como era no tempo do “antigamente”, são estranhas e
monótonas porque já sabemos quem irá ganhar. Não é possível haver surpresas e
muito menos mudar.
Já
assisti a muitas campanhas eleitorais e estou sempre atenta às técnicas do marketing
utilizadas na publicidade de cada partido, onde tudo é importante. Sobre a imagem
do candidato, todos querem apresentar com rosto saudável, todos querem parecer
ter à volta de 40/50 anos, simpáticos, que transmitam confiança,
responsabilidade, inteligência e maturidade. Ninguém quer parecer um chato,
desmazelado e com mau hálito. O fatinho e a gravata foram substituídos pela
camisa simples de colarinho aberto. Antes, posar sem gravata, conotava-se a
bandalhice, agora pode significar que o candidato é homem activo que põe as
mãos na massa. Os modelos e padrões alteraram-se. A cor do fundo dos cartazes,
este ano domina o verde. É também importante a simbologia das cores, verde simboliza
esperança. As cores próprias de cada partido foram-se diluindo no sentido de
captar melhor algumas franjas de eleitorado pouco informadas. O texto deve ser
curto, criativo e marcante. As pessoas têm preguiça de ler. Fica difícil
arranjar texto criativo depois de tantas campanhas eleitorais. Alguns textos
podem ser alvo de piadas, de brejeirice que pode ensombrar a campanha eleitoral
– há muitos tesourinhos deprimentes por este país fora.
Todos
sabem que não sou filiada em nenhum partido e apesar de muitas e variadas vezes
não saber o que quero, sei sempre o que não quero. Por vezes sou irónica... o
humor permite-me digerir melhor os “sapos” da vida. Sempre tive esta opção de
saber o que não quero e até creio que Woody Allen deve-me ter lido em algum
lugar (brincadeira). Talvez tenha sido Friedrich
Nietzsche quem inventou “Eu não sei o que quero ser, mas sei muito bem o que
não me quero tornar.”
Saber
o que não se quer, significa que conhecemos o nosso interior, os nossos
labirintos mais profundos e rejeitamos tudo aquilo que contraria a nossa
natureza; permite-nos logo à partida em qualquer situação, eliminar uma parte
dos cenários que se nos apresentam, em que a maturidade nos dá a certeza que
nem vale a pena discutir, e em simultâneo confere-nos uma grande abertura para
o futuro, a inovação e a mudança.
Na
política, profissionalmente e no meu mundo afectivo sei o que não quero. Não
sou daquelas pessoas que dizem que não lhes interessa a política. Sou política,
preservo o meu sentido crítico e agrada-me votar. Se não votar sinto-me incapaz
de criticar. Nestas eleições autárquicas, irei votar como sempre fiz. Na minha
cabeça mistura-se o conhecimento, as minhas opções e sonhos e quando já estou
baralhada acciono o botão da emergência, que se chama ideologia. A ideologia
funciona como algo que permite aferir situações, quando os discursos e as práticas
são confusos e contraditórios. O desgaste político, a manipulação dos media,
por vezes torna necessário, regressar à História das Ideologias, para nos
sabermos reorientar. A ideologia é quase um “GPS” deste trilho cheio de
obstáculos, armadilhas e demagogias. Ligo o meu “GPS” algumas vezes, porque no
final, tem que prevalecer o humanismo. O humanismo é o meu partido político.
Se
forem contra o SNS, se forem indiferentes à violência doméstica, se criticarem
a liberdade da mulher em abortar, se contrariarem a eutanásia argumentando ingenuamente
com os cuidados paliativos, se confundirem
pobreza com falta de vontade de trabalhar, se apelarem ao lucro empresarial em
detrimento de salários dignos, se apoiarem o radicalismo de não aceitar o nosso
passado histórico, se forem homofóbicos, se tentarem criar teorias para
branquear a corrupção, se não defenderem a escola pública e o direito à
educação, quem fizer humor idiota sobre pedofilia e maus tratos, se não
respeitarem os direitos humanos – eu estou sempre do outro lado.
Um, diz que Vila Real à frente
Outro, diz que vamos juntos
Outro diz que mudar está nas nossas
mãos.
-
Credo, terei que votar com os cotovelos, sei lá!
Oublicado em NVR, 15/09/2021
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