O pessoal que não vai votar
O pessoal
está farto de votar?
Que raio de
democracia é esta em que um grande número de pessoas se demite do dever/direito
de votar?
Desde 1982 a
abstenção sobe como um balão.
É urgente
reflectir sobre isto. Como se pode
criticar as acções políticas, se depois cruzam os braços e não vão votar?
Antigamente
o aumento da abstenção justificava-se com a meteorologia – chovia, estava frio,
estava quente, um dia cheio de sol e a malta foi para a praia...
A meteorologia
esgotou-se, e actualmente é urgente avaliar esta situação que se revela um
pouco dramática. É evidente a tendência, para muitos preferem fazer parte dos
problemas e nunca tentarem ser parte das soluções. Ser parte da solução é de
facto ser activo, consequente, ir votar, escolher, selecionar, contribuir para
a melhor escolha possível sobre quem gere este país. Ser parte do problema é
criticar quem faz, é inventar e reinventar questões, é ligar o complicómetro
criando obstáculos e seguir teorias obscuras colhidas nas redes sociais, mas
permanecendo sempre do lado do problema, alimentando-o e engordando-o até à obesidade.
A abstenção
justifica-se também pelo foco da eleição, se é para eleger deputados ou se é
autárquica. No primeiro caso vale o distanciamento como justificação da ausência,
no segundo vale a menorização da importância das mesmas. O resultado é o mesmo.
Segundo os
politólogos “Há 3 tipos de abstencionistas: o estrutural (o que não vota há
muito tempo), o segundo que é o que sabe que o partido que está mais próximo
dele não vai ganhar e o terceiro que é o que hesita entre o partido que vai
ganhar e o que é mais próximo dele“. Será?
Os cidadãos
vão-se afastando progressivamente do acto eleitoral e o sinal de alarme começa
a soar. No ano passado o “bicho” serviu de justificação, agora já poucos ligam
ao “dito cujo”...
A malta vai
ver os ciclistas a passar na rua, vai ao shopping a toda a hora, vai aos
concertos, vai esticar o esqueleto ao fim da tarde,... a malta vai até à praia,
vai para a esplanada, vai para a fila do Mcdonald’s... a malta até está com
saudades de ir para a discoteca, aguarda
ansiosamente uma black friday, e até dá a volta dos tristes ao fim da tarde e
bebe umas bejecas num bar ranhoso....mas, a malta acha uma seca ir votar!!! A
preguiça fala mais alto e deixam-se ficar pelo sofá a ver a Netflix praguejando
“que chatice, hoje as televisões vão dar eleições toda a noite!”.
É mais fácil
deixar os outros escolher, assim se escapa da responsabilidade, possibilitando
a frase batida “nem sequer votei nele”, ou seja, a responsabilidade é toda
entregue e de bandeja, aos 50% que levantaram o rabo do sofá e foram até à
secção de voto e nem sequer esperaram muito tempo para votar.
Não há
desculpas. Há irresponsabilidade e falta de reconhecimento e valorização por
todos aqueles que organizam o processo eleitoral e passam o dia nas mesas a
receber os eleitores.
Custa tanto
mudar mentalidades!
Ainda há os
resilientes que no local de trabalho ou no seu círculo de amigos, perguntam bem-intencionados,
“então não vais votar?” os argumentos do não, convertem os resilientes em perfeitos
idiotas e néscios do seu grupo, como se eles é que estivessem errados.
O Presidente
da República fez o apelo ao voto e até referiu, "É um voto decisivo. Nos
fundos europeus, a parte mais significativa vai ser gasta durante os quatro
anos pelos autarcas que são escolhidos, hoje". Nem assim!
Publicado em NVR, 29/09/2021
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