Eduardo Lourenço
“Eduardo Lourenço (1923- 2020), professor, filósofo é
considerado um dos melhores pensadores sobre Portugal. Estudou na Universidade
de Coimbra e estagiou na Universidade de Bordéus. Vive muitos anos em França e
desde 1999 ocupa o cargo de administrador (não executivo) da Fundação Calouste
Gulbenkian, em Lisboa. Recebe diversos prémios e condecorações, incluindo o
Prémio Camões em 1996. De 2016 a 2020 é Conselheiro de Estado, por nomeação
presidencial.”
Nas minhas
navegações pela internet, descobri que nas redes sociais não existia nenhum grupo
dedicado a Eduardo Lourenço. Vários escritores e pensadores, possuem grupos de
seguidores que partilham leituras e curiosidades, que frequento, me agradam e ampliam
conhecimento.
Fui às
livrarias procurar os seus ensaios, apenas encontrei “O labirinto da saudade”
já na sua 15ª edição (Gradiva) e mais nada.
Em Agosto de
2020, decidi aproveitar as novas tecnologias e criar um grupo público aberto à
comunidade, “EDUARDO LOURENÇO, um pensador”,
onde permito a entrada de todos os que apreciam a sua obra. Até ao dia anterior
à sua morte, este grupo reuniu 170 membros – número reduzido em relação à
grandeza do seu pensamento. 3 dias após a morte o número de membros quase
duplicou e, certamente, cada vez seremos mais.
Confesso que
não o conheço desde sempre. A sua célebre frase sobre viagens "Mais importante que o destino é a
viagem", foi o meu despertar para o pensamento deste ensaísta. Já muitos
utilizaram esta frase para abrir conferências e encontros, porque esta simples
frase é de uma grandeza filosófica que nos leva a muitos caminhos, a muitos
destinos e a muitos pensamentos. É uma frase
generosa que se comporta como um novelo, que se vai desenrolando, desfiando e
produzindo muitos cenários e muitas reflexões. A nossa aprendizagem faz-se em
processo de contacto com os outros, em andamento crescente, e não no final da
jornada. É na viagem que descobrimos, que questionamos, que desistimos de
atalhos ou investimos neles, que filtramos o que nos interessa, fazendo
escolhas. Gerimos frustrações, alegrias, crescemos interiormente, relacionámo-nos
connosco e com os outros. É no caminho que construimos a nossa identidade,
falhando, claudicando e aperfeiçoando-a, numa dinâmica crescente e dialéctica,
porque o tempo serve para separar etapas e para nos mostrar sempre a diferença.
O destino é algo
estático, a viagem é esta dinâmica descrita. É na viagem que se dá a educação transformadora e o enriquecimento pessoal,
através da assimilação de tudo o que a viagem nos oferece e do que nós
procuramos. É na viagem que promovemos sensações e emoções, são os afectos que
nos guiam e é a criatividade que se manifesta... ê a viagem que nos liga ao passado e nos
antecipa o futuro.
Há outra frase
que considero pertinente mencionar.
“Hoje podemos estar uma vida inteira a ver cinema, televisão
ou um ecrã e morrer sem ter entrado na vida”.
Este é o
paradigma das gerações jovens, absolutamente obcecados e mergulhados nas novas
tecnologias, esquecendo-se de viver. Partindo daqui poderemos reflectir sobre o
supérfluo e o essencial. A essência da vida vai muito além da nossa
sobrevivência, a que nem todos acedem, por falta de tempo, de sensibilidade, de
altruísmo e por ignorância. Passar pela vida,
sem lhe prestar atenção e recolher dela as lições intemporais relacionadas com
os valores humanistas, é viver ficando à porta.
Registo aqui
a minha homenagem a Eduardo Lourenço, retomando sempre a sua obra para
reflexão.
Publicado em NVR 9/12/2020
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