09 dezembro, 2020

EDUARDO LOURENÇO

 


Eduardo Lourenço

“Eduardo Lourenço (1923- 2020), professor, filósofo é considerado um dos melhores pensadores sobre Portugal. Estudou na Universidade de Coimbra e estagiou na Universidade de Bordéus. Vive muitos anos em França e desde 1999 ocupa o cargo de administrador (não executivo) da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Recebe diversos prémios e condecorações, incluindo o Prémio Camões em 1996. De 2016 a 2020 é Conselheiro de Estado, por nomeação presidencial.”

            Nas minhas navegações pela internet, descobri que nas redes sociais não existia nenhum grupo dedicado a Eduardo Lourenço. Vários escritores e pensadores, possuem grupos de seguidores que partilham leituras e curiosidades, que frequento, me agradam e ampliam conhecimento.

            Fui às livrarias procurar os seus ensaios, apenas encontrei “O labirinto da saudade” já na sua 15ª edição (Gradiva) e mais nada.

            Em Agosto de 2020, decidi aproveitar as novas tecnologias e criar um grupo público aberto à comunidade, “EDUARDO LOURENÇO,  um pensador”, onde permito a entrada de todos os que apreciam a sua obra. Até ao dia anterior à sua morte, este grupo reuniu 170 membros – número reduzido em relação à grandeza do seu pensamento. 3 dias após a morte o número de membros quase duplicou e, certamente, cada vez seremos mais.

            Confesso que não o conheço desde sempre. A sua célebre frase sobre viagens  "Mais importante que o destino é a viagem", foi o meu despertar para o pensamento deste ensaísta. Já muitos utilizaram esta frase para abrir conferências e encontros, porque esta simples frase é de uma grandeza filosófica que nos leva a muitos caminhos, a muitos destinos e a muitos pensamentos.  É uma frase generosa que se comporta como um novelo, que se vai desenrolando, desfiando e produzindo muitos cenários e muitas reflexões. A nossa aprendizagem faz-se em processo de contacto com os outros, em andamento crescente, e não no final da jornada. É na viagem que descobrimos, que questionamos, que desistimos de atalhos ou investimos neles, que filtramos o que nos interessa, fazendo escolhas. Gerimos frustrações, alegrias, crescemos interiormente, relacionámo-nos connosco e com os outros. É no caminho que construimos a nossa identidade, falhando, claudicando e aperfeiçoando-a, numa dinâmica crescente e dialéctica, porque o tempo serve para separar etapas e para nos mostrar sempre a diferença.

            O destino é algo estático, a viagem é esta dinâmica descrita. É na viagem que se dá a educação  transformadora e o enriquecimento pessoal, através da assimilação de tudo o que a viagem nos oferece e do que nós procuramos. É na viagem que promovemos sensações e emoções, são os afectos que nos guiam e é a criatividade que se manifesta...  ê a viagem que nos liga ao passado e nos antecipa o futuro.

            Há outra frase que considero pertinente mencionar.

“Hoje podemos estar uma vida inteira a ver cinema, televisão ou um ecrã e morrer sem ter entrado na vida”.

            Este é o paradigma das gerações jovens, absolutamente obcecados e mergulhados nas novas tecnologias, esquecendo-se de viver. Partindo daqui poderemos reflectir sobre o supérfluo e o essencial. A essência da vida vai muito além da nossa sobrevivência, a que nem todos acedem, por falta de tempo, de sensibilidade, de altruísmo e por ignorância.  Passar pela vida, sem lhe prestar atenção e recolher dela as lições intemporais relacionadas com os valores humanistas, é viver ficando à porta.

            Registo aqui a minha homenagem a Eduardo Lourenço, retomando sempre a sua obra para reflexão.

Publicado em NVR 9/12/2020

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