08 janeiro, 2025

Escrita em roda livre começando pela pobreza

 


Escrita em roda livre começando pela pobreza

É pouco motivador começar o ano a escrever sobre a pobreza, mas ouvi a mensagem de Ano Novo do nosso presidente e foi aquilo em que pensei de imediato.

Para alimentar a guerra vai faltar dinheiro na educação, na cultura, na saúde e noutras prestações sociais. A pobreza irá aumentar. Preparem-se. Os pobres que já eram pobres, irão ficar ainda mais pobres.

Num país com recursos limitados como Portugal, nascer pobre é uma tragédia porque funciona como uma sentença para a vida. Já não se acredita que haja possibilidade de sair da pobreza, através da educação; os próprios jovens já não acreditam nisso e as famílias fazem esforços inglórios. Desde que o Ensino foi substituído por Educação, a formação e o conhecimento deixou de desempenhar o papel de elevador social.

Os jovens, cada vez menos preparados para enfrentar os desafios do mundo do trabalho, remetem-se ao ordenado mínimo, formando uma nova subclasse da pobreza.

O meu pai, que começou a trabalhar aos 4 anos, e tinha uma visão muito racional sobre o mundo do trabalho, dizia: Ser pobre é muito mau, mas ser pobre e ignorante é uma verdadeira tragédia. E é verdade.

Em 50 anos de abril, fizeram-se muitas conquistas, vivemos todos melhor, mas não conseguimos criar estratégias para eliminar a pobreza e aumentar a literacia em diversas áreas. Quando um jovem não quer aprender e desvaloriza o conhecimento, está tudo mal.

A política e a sociedade portuguesa precisam de dar uma reviravolta, abandonar a verborreia e arregaçar as mangas em diversas vertentes. Sofremos de um problema, no centrão PS e PSD, que se vem a agravar, em relação a medidas na área da educação, saúde, justiça. Sempre que se abordam áreas problemáticas em que é difícil obter consensos, a oposição atira logo a cartada da democracia, que pode estar em causa, o que tem asfixiado algumas reformas necessárias e urgentes, eliminando a possibilidade de mudança para melhor das novas gerações, e contrariando a pobreza e a ignorância.

 Não posso ignorar a política, mas há momentos que me decepciona e até me irrita. Os dois partidos referenciados são absolutamente responsáveis pelo Portugal de hoje e é inútil fazer discursos redondos, atirar responsabilidades e culpas de uns para os outros. Desagrada-me a arrogância do Pedro Nuno dos Santos, desagrada-me também a incompetência visível e a fanfarronice frustrada de Montenegro, os desvarios do BE e a visível desconstrução do PCP. Sinto que as personalidades portuguesas mais competentes, mais preparadas para resolver problemas estruturais, estão cada vez menos interessadas em dar o corpo às balas e entrar nos caminhos “pouco transparentes” da política. E isto é péssimo. Não temos líderes políticos competentes e sérios. Eu, pelo menos, não os vejo. Os conhecidos possíveis candidatos a PR até me fazem doer a paciência.

É urgente a mudança, e não será fácil fazê-la.

Como há 30 anos a criação de hospitais privados era algo muito positivo e até foram apoiados pelo Estado e agora convertem-se em problemas, por que esvaziam os hospitais públicos de médicos?

Era tão bom apoiar colégios, fazer rankings e colocar diretores severos para acabar com os professorecos calaceiros e baldas que só trabalhavam nove meses no ano e agora, queixam-se de que as escolas públicas estão sem professores?

E a polícia? Afinal não pode zelar pela segurança das pessoas sem ir parar ao tribunal? E a Justiça? Também irão privatizar para resolver milhares de processos com resolução atrasada?

Em que ficamos? Há tanta coisa a mudar!!! É urgente que estes dois partidos definam linhas estratégicas já testadas e avaliadas nos outros países europeus, para sair rapidamente deste buraco. Nada faz sentido!

Entretanto, continua a haver uma economia paralela, não controlada pelo Estado, que favorece a formação de pequenas e grandes fortunas. O que falha? A fiscalização?

Fui escrevendo em roda livre, mesmo sem ser analista política sinto este tema com geometria complexa e multifacetada, que toca a todos. E voltando ao Presidente da República, agora Trump já agrada? Passados quase três anos de guerra, vamos pagar a factura: em vez de 1,6% do PIB, teremos 4% dedicado à defesa, parece pouco, mas 2,1 milhões de pobres, parece muito e é insuportável.

Publicado em NVR 08|01|2025