Escrita em roda livre começando pela pobreza
É pouco motivador
começar o ano a escrever sobre a pobreza, mas ouvi a mensagem de Ano Novo do
nosso presidente e foi aquilo em que pensei de imediato.
Para alimentar a guerra
vai faltar dinheiro na educação, na cultura, na saúde e noutras prestações
sociais. A pobreza irá aumentar. Preparem-se. Os pobres que já eram pobres,
irão ficar ainda mais pobres.
Num país com recursos
limitados como Portugal, nascer pobre é uma tragédia porque funciona como uma
sentença para a vida. Já não se acredita que haja possibilidade de sair da
pobreza, através da educação; os próprios jovens já não acreditam nisso e as
famílias fazem esforços inglórios. Desde que o Ensino foi substituído por Educação,
a formação e o conhecimento deixou de desempenhar o papel de elevador social.
Os jovens, cada vez
menos preparados para enfrentar os desafios do mundo do trabalho, remetem-se ao
ordenado mínimo, formando uma nova subclasse da pobreza.
O meu pai, que começou
a trabalhar aos 4 anos, e tinha uma visão muito racional sobre o mundo do
trabalho, dizia: Ser pobre é muito mau, mas ser pobre e ignorante é uma verdadeira
tragédia. E é verdade.
Em 50 anos de abril,
fizeram-se muitas conquistas, vivemos todos melhor, mas não conseguimos criar
estratégias para eliminar a pobreza e aumentar a literacia em diversas áreas. Quando
um jovem não quer aprender e desvaloriza o conhecimento, está tudo mal.
A política e a
sociedade portuguesa precisam de dar uma reviravolta, abandonar a verborreia e
arregaçar as mangas em diversas vertentes. Sofremos de um problema, no centrão
PS e PSD, que se vem a agravar, em relação a medidas na área da educação,
saúde, justiça. Sempre que se abordam áreas problemáticas em que é difícil
obter consensos, a oposição atira logo a cartada da democracia, que pode estar
em causa, o que tem asfixiado algumas reformas necessárias e urgentes, eliminando
a possibilidade de mudança para melhor das novas gerações, e contrariando a
pobreza e a ignorância.
Não posso ignorar a política, mas há momentos
que me decepciona e até me irrita. Os dois partidos referenciados são
absolutamente responsáveis pelo Portugal de hoje e é inútil fazer discursos redondos,
atirar responsabilidades e culpas de uns para os outros. Desagrada-me a
arrogância do Pedro Nuno dos Santos, desagrada-me também a incompetência visível
e a fanfarronice frustrada de Montenegro, os desvarios do BE e a visível
desconstrução do PCP. Sinto que as personalidades portuguesas mais competentes,
mais preparadas para resolver problemas estruturais, estão cada vez menos
interessadas em dar o corpo às balas e entrar nos caminhos “pouco transparentes”
da política. E isto é péssimo. Não temos líderes políticos competentes e
sérios. Eu, pelo menos, não os vejo. Os conhecidos possíveis candidatos a PR
até me fazem doer a paciência.
É urgente a mudança, e
não será fácil fazê-la.
Como há 30 anos a
criação de hospitais privados era algo muito positivo e até foram apoiados pelo
Estado e agora convertem-se em problemas, por que esvaziam os hospitais
públicos de médicos?
Era tão bom apoiar
colégios, fazer rankings e colocar diretores severos para acabar com os
professorecos calaceiros e baldas que só trabalhavam nove meses no ano e agora,
queixam-se de que as escolas públicas estão sem professores?
E a polícia? Afinal não
pode zelar pela segurança das pessoas sem ir parar ao tribunal? E a Justiça?
Também irão privatizar para resolver milhares de processos com resolução
atrasada?
Em que ficamos? Há
tanta coisa a mudar!!! É urgente que estes dois partidos definam linhas
estratégicas já testadas e avaliadas nos outros países europeus, para sair
rapidamente deste buraco. Nada faz sentido!
Entretanto, continua a
haver uma economia paralela, não controlada pelo Estado, que favorece a
formação de pequenas e grandes fortunas. O que falha? A fiscalização?
Fui escrevendo em roda
livre, mesmo sem ser analista política sinto este tema com geometria complexa e
multifacetada, que toca a todos. E voltando ao Presidente da República, agora
Trump já agrada? Passados quase três anos de guerra, vamos pagar a factura: em
vez de 1,6% do PIB, teremos 4% dedicado à defesa, parece pouco, mas 2,1 milhões
de pobres, parece muito e é insuportável.
Publicado em NVR 08|01|2025
1 comentário:
Bem analisado! Parabéns!
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