Muitas cidades possuem
uma estátua, que personifica e dá imagem a um aglomerado urbano, já que este se
forma tal como os homens organizam as suas cidades, oscilando entre o desenho
orgânico das cidades medievais, ou planeado com desenho pensado relacionando
forma/função com racionalidade e exigências das cidades novas. Nos dois casos a
essência desse aglomerado é sempre algo abstracto e com dimensão gigante. Não
se pode abraçar, beijar, acariciar ou apunhalar as cidades, porque estas acções
implicam um interlocutor humanizado, e a disposição de ruas e edifícios, é algo
que existe numa grande escala e a sua história perde-se na espiral do tempo.
A
estatuária é algo imaginado pelo Homem como testemunha que pára o tempo e passa
a integrar a identidade de um grupo de pessoas, publicita eventos,
personalidades e preserva memórias, ou até emite sinais de engrandecimento por
forma a motivar o orgulho e a determinação do observador, para grandes feitos.
No século XVIII, Vila Real,
assim como noutras cidades, fez nascer o seu espaço público com alguma visibilidade,
refiro-me ao Campo do Tabulado - lugar público por excelência, passeio público,
de passagem obrigatória, com vida social activa, onde se realizavam os grandes
eventos da época, a feira de Santo António, corridas de cavalos e de touros e
os festejos nos dias das procissões – e o desejo de enriquecer esteticamente este
espaço, associou a arquitectura e a escultura, utilizando modelos clássicos
para esculpir na pedra e incluindo pormenores que ajudassem a contar uma
história.
Vila Real também possui
a sua estátua – tema a que me limito a partilhar informação, porque não
descobri nada de novo. (escarpasdocorgo.blogspot.com e revista TELLUS)
Seguindo a cronologia:
- “A Câmara de Vila Real deliberou
fazer esta estátua em 1749.”
- “A elaboração da escultura,
simbolizando Vila Real, foi arrematada em 3 de Setembro de 1755, por António de
Nogueira, mestre estatuário, do Minho.”
- “A 27 de Novembro de 1755, o mestre
Matias Lourenço de Matos arrematou a obra de decoração dos arcos da galeria, no
Campo do Tabulado, com a edificação de um soco e uma peanha sobre qual
colocaram uma estátua, com a imagem de uma mulher, vestida de guerreiro, com
elmo e empunhando uma lança e escudo.”
- “No pedestal da estátua havia uma
inscrição que dizia: "O nome de Vila Real que tenho conquistei-o com
grande esforço. Não queiras títulos reais obtidos de outra forma". Texto
original inscrito no pedestal da estátua: "QUOD REGALE NOMEN GERO MIHI
RUBORE PARTU EST REGIA NOM ALITER NOMINA PARTA GERAS"
- “Em Novembro de 1884, a estátua foi
apeada e demolidos os arcos para a construção do mercado fechado, inaugurado em
1885. As armas reais e a legenda, esculpidas no pedestal desapareceram, sendo
desfeitos para calcetamentos.” (cometem-se erros e destrói-se património em
todas as épocas)
- “No ano de 1894, transferiram-na
para a fonte, no Jardim da Carreira.”
- “Em 1916, foi retirada e levada
para os Paços do Concelho, sendo colocada sobre a fachada.”
Saber-se que foi
encomendada pela Câmara de Vila Real, e que se expôs em espaço urbano público,
de forma permanente ou efémera, com visibilidade para com os cidadãos,
confere-lhe um grau de representatividade dinâmica e interactiva com as pessoas
e um estatuto de escultura pública com significado. Esta escultura assume assim
um diálogo aberto entre o objecto artístico e o cidadão, e que esteve,
provavelmente, mais próximo das pessoas do que agora.
Hoje encima o edifício
da Câmara de Municipal, talvez não haja espaço mais nobre, mas quem olha para
ela? Sinto-a afastada dos vila-realenses, e a prova disso é a sua
secundarização relativamente ao Aleu ou ao Pelourinho. Seria motivo para um
investimento numa análise dessa peça, e a forma de a preservar, pois como
mencionei anteriormente, apenas nos chega a informação sobre o autor, como
característica “imagem de uma mulher, vestida de guerreiro, com elmo e
empunhando uma lança e escudo” e a ausência da inscrição do seu pedestal que
desapareceu “O nome de Vila Real que tenho conquistei-o com grande esforço. Não
queiras títulos reais obtidos de outra forma". Faltam elementos que a
liguem a esta cidade.
À vista desarmada
parece uma estátua em degradação pelos agentes atmosféricos e pelo maus tratos
sofridos anteriormente, não sendo possível visualizar pormenores. Penso que ao
fazer 270 anos, e em ano em que se comemora o centenário de Vila Real, como
cidade, chegou a hora de realizar 3 procedimentos;
1 – Retirá-la para o interior da
Câmara Municipal, conservá-la como peça museológica, protegida dos agentes
atmosféricos, para que as próximas gerações a possam contemplar.
2 – Fazer uma cópia substituta para
colocar no seu lugar (assim se faz nas outras cidades).
3 – Promover o conhecimento deste
símbolo de identidade e ousar em criar uma nova “Vila Real” com a linguagem
escultórica do século XXI, a localizar em espaço próximo dos utentes. E não receiem
as novas linguagens artísticas e materiais, não tenham medo da polémica: O amor
ou o odio, são sempre preferíveis à indiferença, e é bom que os cidadãos se
ocupem a dialogar sobre os seus símbolos, pois assim se promove a Educação
Cultural.
Publicado em NVR 15|01|2025
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