Sto. António
Para desfazer
equívocos, Sto. António de Vila Real, de Lisboa e de Pádua são o mesmo Sto.
António, que nasceu e viveu em Lisboa e depois viveu e morreu em Pádua. Ao
longo de sete séculos, as duas últimas cidades argumentaram e competiram entre
si sobre a ligação a Sto. António, até que o Papa Leão XIII, para acabar com
competições e teimosias sem sentido, declarou-o “Santo de todo o mundo”; talvez
tenha sido o primeiro cidadão do mundo, reconhecido já morto e sem nunca saber
se o mundo (Terra) era redondo ou plano.
O facto de carregar uma
criança que dizem ser o Menino Jesus pode parecer que este santo terá sido
contemporâneo de Jesus Cristo, mas não é verdade. António, ou seja, Fernando de
Bulhões, o seu verdadeiro nome, nasceu em Lisboa, 1191 anos depois de Cristo:
Como currículo breve sabemos que nasceu numa família nobre, pertenceu à Ordem
Franciscana, buscava a simplicidade e a introspecção. Pregar sobre as
Escrituras era a sua especialidade, levando-o a Pádua. Homem de grande cultura,
deve ter sido um dos maiores intelectuais da Igreja Católica do seu tempo. Leccionou
em universidades italianas e francesas e foi o primeiro Doutor da Igreja Franciscana.
Faleceu em Pádua e foi canonizado, por ser considerado uma santidade. É curioso
que quando o seu corpo foi transladado, descobriu-se que tinha a língua
intacta, o que provaria que a sua pregação era inspirada por Deus.
Conhecemo-lo como um
dos santos populares, porém tinha uma cultura literária invulgar, referenciando,
para além da Bíblia, filósofos importantes da Antiguidade. Os seus sermões,
para além da vertente cristã e evangelizadora, documentam uma época com a sua
evolução social, económica, laboral e até urbanística; condenam a inveja, a
avareza, a exploração do outro, a inveja, a falta de ética e o egoísmo -
valores transversais a muitas épocas e sociedades, e sempre actuais. Os seus
sermões serviram de inspiração a Padre António Vieira, louvando as virtudes dos
seres humanos e censurando o que considerava ser o vício dos colonizadores
(século XVII).
É padroeiro dos amputados, animais, estéreis, barqueiros,
idosos, grávidas, pescadores, agricultores, viajantes e marinheiros, cavalos e
burros, pobres e oprimidos; é invocado para achar coisas perdidas (responso de
Santo António), para conceber filhos, para evitar naufrágios e casamenteiro.
Santo mais polivalente não há, não sei como pode tomar conta de tantas tarefas.
O homem culto e activo
apresenta-se com um menino de tenra idade ao colo. O que representa aquele
menino? Os crentes dizem ser o Menino Jesus, e quando este tem o menino do lado
direito está representado como casamenteiro e quanto tem o menino do lado
esquerdo como milagreiro.
Santo
António do mundo, de Lisboa ou de Vila Real
Também
tens fama de casamenteiro
Se o
casamento fosse coisa sensacional
Tu
próprio não ficavas solteiro.
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