TURISMO ESPACIAL, NÃO OBRIGADA
Nós terráqueos temos tantos problemas cuja solução depende de
investimentos a aplicar e o que fazemos? Aplaudimos o Turismo Espacial, todos
orgulhosos porque finalmente temos um português integrado nesse turismo. Somos
mesmo bacocos, jornalistas inclusive!
Vejam isto:
Em 2018, todos os voos de aeronaves
contribuíram com cerca de 918 milhões de toneladas de CO2, enquanto os
foguetões emitiram cerca de 22 780 toneladas de CO2, ou seja, 0,0025% de toda a
indústria aérea. Não parece mau, visto assim superficialmente, porém é
necessário mudar de perspectiva na respectiva análise. Os 918 milhões de
toneladas de CO2 alimentaram durante um ano, todos os voos, imprescindíveis
para as trocas comerciais e migração das populações, que se reflectem na
sobrevivência e no bem-estar da população mundial. Nós somos cerca de 7,3 mil
milhões de habitantes que gastaram 918 milhões de toneladas de CO2 – ora façam
contas.
Podemos divagar sobre a especificidade
de todas estas viagens, que mexem com todas as áreas da vida na Terra –
economia, ciência, política, social, lazer, etc. etc.
Quem faz turismo espacial? Humanos
excepcionalmente ricos, sem qualquer objectivo científico, que se prendem com a
própria experiência, para verem o planeta terra do espaço e a ausência de
gravidade. Ahh, levaram uma plantinha com eles para ver como resistia à falta
de gravidade e claro o nosso português foi testado com Vomidrine, contra o
enjoo e a náusea (brincadeira, nem isso). Voltando aos números e fazendo bem
contas sobre o custo e o benefício, talvez surja preocupação sobre as 22 780
toneladas de CO2.
A informação que nos chega é
desorganizada e dispare, e eu não estou lá para aferir: “O lançamento de um
foguetão produz cerca de 200 a 300 toneladas de dióxido de carbono, devido à
queima dos combustíveis, e pode ter implicações graves na proteção da camada de
ozono”.
“Em
2020, foram realizadas 114 tentativas de lançamento orbital no mundo, segundo a
Nasa, o que equivale a uma média de mais de 100 mil voos diários no setor da
aviação comercial. Mesmo que o número de lançamentos não aumente
significativamente, os seus efeitos negativos causarão impacto.” “quatro
turistas num voo espacial serão entre 50 e 100 vezes mais do que uma a três
toneladas por passageiro num voo de longa duração”.
“Cada viagem ao espaço emite 75
toneladas de carbono, um valor que a maioria das pessoas numa vida inteira não
atinge.” (pplware)
“um único passageiro emite mais poluição em poucos
minutos do que 1/8 da população mundial irão produzir em toda as suas vidas”.
(Luke Savage).
Cada fonte de informação indica valores
distintos, podendo concluir-se que isto anda sem controle, o que revela uma problemática
ainda pior. Quando a escala passa a toneladas e a milhões, deixamos de ter a
percepção racional para avaliar, tudo é possível e provavelmente aceitável,
sabemos lá!
Cada um faz o que quer ao seu dinheiro,
mas isto tangencia a imoralidade por não se pensar nos outros. US$ 6,6 bilhões,
segundo a ONU, acabaria com a fome no mundo.
Querem emoções fortes, querem ver o
planeta terra reforcem os drunfs e até conseguem ver o sistema solar
inteiro e é mais barato, menos poluente, menos arriscado, e com o resto do
dinheiro, resolvam a fome do nosso planeta.
Querem emoções ainda mais fortes, vão
limpar os oceanos, vão ao dentista e não usem anestesia e poderão ver galáxias.
Depois andamos
a dar destaque ao ano das cidades mais verdes, promovido pelo Parlamento
Europeu… e obriguem-me a mudar de viatura, para adquirir um híbrido!
Publicado em NVR em 10/08/2022
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