Botero, Armanda Passos e Ada
Breedveld
Nós, mulheres estamos
sempre super-preocupadas com os quilos a mais, a celulite e badanas dos braços,
que se tornam mais visíveis no Verão e a cada ano que passa… andamos sempre a
fazer restrições alimentares, olhando para a balança regularmente… inventamos e
reinventamos dietas, para começar amanhã ou na segunda-feira, e não resistimos à
tentação de uma boa mousse de chocolate… praguejamos contra os
pasteleiros e contra as “gajas” magras que dizem que comem o que querem,…
percebemos todos os dias que a nossa roupa encolhe dentro do armário, e
tentamos disfarçar com roupa ergonomica, que faz crer que somos mais magras, e já
vestimos o tamanho S quando éramos adolescentes… receamos não agradar por causa
da barriga de avental e todos os elementos que cedem à força da gravidade…
Reparem, nem todos
pensam igual e quem representa com maior realismo e exuberância o corpo da
mulher, os artistas plásticos, raramente a desenha esquelética com 45 quilos de
fome.
Há uma linha de “gordura
é formosura” na pintura, que já está para lá dos anjinhos barrocos
rechonchudinhos e convivem lado a lado, nestes últimos anos, com o estereótipo
da mulher magra e elegante, que nos faz quase cortar os pulsos.
A obesidade é retratada
com rigor e graça por Fernando Botero (colombiano nascido em 1932), inspirado
sem dúvida no Renascimento, contraria toda a estética do século XX, com as suas
gordinhas conhecidas mundialmente, ousando até recriar a Mona Lisa, senhora
retratada por Leonardo e que não se excederia nas guloseimas. Botero sempre que
era questionado pela sua opção pelas gordas, respondia “Eu não pinto pessoas
gordas!” entendendo-se assim que seria uma opção estética que lhe agradava e onde
investia, conforme Modigliani as pintava magras e Picasso, decompostas. O Boterismo
(um nome a fixar, quando nos atirarem com a revista Vogue e com Kendall Jenner)
arredonda a forma em gordura, tamanho e refegos e está exibido nos melhores
museus do mundo.
Na mesma linha, considero
Armanda Passos (1944-1921), a nossa pintora duriense, convertia as suas gordas 5XL
em mulheres de grande candura e delicadeza, e a pintora holandesa que descobri
recentemente, Ada Breedveld (1944), escolhe exactamente o caminho das
rechonchudas, por considerar que representam o desfrutar das coisas boas da
vida.
Tanto Botero como Ada tornam visível nas pinturas um lado naif que não identifico em Armanda Passos, que nada fazia ao acaso.
Proponho este exercício
em pleno Verão, acabe com a gordofobia e aprecie o feminino sem estereótipo de
forma e volume, porque é muito mais interessante a beleza interior de cada um,
que não se exprime pela forma, mas sim pelo conteúdo.
Os padrões da estética como
se percebe vão-se alterando conforme a moda, e esta é tão efémera que muda de seis
em seis meses. Amem os seus corpos, independente da forma deles e permitam-se
apreciar um bom gelado de chocolate para combater estas horas de calor infernal.
E afinal o que distingue uma linha recta de uma curva? A linha curva é muito
mais dinâmica e flexível, menos monótona no seu traçado, e no máximo do
desespero a recta, no final das contas, é uma curva também. Lembre-se que toda
a linha recta sempre tem inveja da linha curva porque a vida não se faz de
rectas, mas de curvas.
Publicado em NVR em 17/08/2022
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