https://www.youtube.com/watch?v=QMS-CQXniO4
Aqui está o vídeo do apontamento literário do Programa K'arranca às Quartas, uma ajuda preciosa de Ana Ana Quelhas (Anabela Quelhas), Os Maias de Eça de Queiroz na Rádio Portimão 106.5 FM.
https://www.youtube.com/watch?v=QMS-CQXniO4
Aqui está o vídeo do apontamento literário do Programa K'arranca às Quartas, uma ajuda preciosa de Ana Ana Quelhas (Anabela Quelhas), Os Maias de Eça de Queiroz na Rádio Portimão 106.5 FM.
AGRADECIMENTO:
Foi com surpresa, que hoje ao participar numa atividade do
Mês Internacional da Biblioteca Escolar, do Agrupamento de Escolas Morgado de
Mateus, me vi envolvida numa acção de homenagem ao meu desempenho, como
Professora Bibliotecária desde o ano 2000, neste ano em que se inicia a minha
aposentação.
Recordo que entrei neste mundo pela mão de Maria da Glória
Souto e registo o meu agradecimento a todos.
A qualidade do trabalho desenvolvido na promoção da leitura
e do conhecimento, deve-se a várias equipas de professores de excelência, que
trabalharam comigo e sempre confiaram no rumo que tracei. Para além das
equipas, que se foram renovando, devo agradecer também a outros docentes que se
disponibilizaram em articular com a biblioteca, aos assistentes operacionais
que sempre ajudaram a missão da biblioteca, às várias direcções do Agrupamento
e à ex-coordenadora da Rede de Bibliotecas Escolares, Rosário Caldeira, que nos
apoiou em muitos momentos determinantes.
Devo salientar o trabalho da colega Maria Manuel Carvalhais,
antiga professora bibliotecária ESMM e não posso esquecer o contributo do
colega Pedro Hortas, que num momento sensível do início do agrupamento de
escolas, ajudou a recolher todo o fundo documental espalhado por várias escolas
do 1.º ciclo e Jardins de Infância e criar uma biblioteca itinerante organizada
em apenas 1 mês.
Aprendi com todos, consegui converter colegas e assistentes
em amigos para a vida e tenho a certeza de que as bibliotecas serão cada vez
mais, estruturas inovadoras, criando oportunidades de leitura e acesso ao
conhecimento, nas escolas e fora delas, para todos, com equipas dinâmicas e
criativas.
Gratidão.
VR 28/10/2024
Anabela Quelhas
O Festival
Internacional Douro Jazz decorreu entre 3 e 18 de Outubro e ofereceu-nos, mais
uma vez, a oportunidade de assistir a vários espectáculos de jazz de grande
qualidade, porém, infelizmente, alguns deles não tiveram os auditórios cheios -
os vila-realenses andam distraídos.
Assisti a:
· Demian Cabaud – mistura do jazz
tradicional e a música folclórica da Argentina.
· O excelente trio Kurt Rosenwinkel –
uma das referências mais sólidas do jazz moderno (assim publicitava o cartaz).
· Orquestra Jazz Douro + Maria João –
encerrou o festival e esgotou a plateia do Grande Auditório.
Assumo que sou
tendenciosa e é raro perder um concerto da Orquestra Jazz Douro, criada a
partir do projecto Acrolat’in. A nossa cidade tem o privilégio de ter esta
orquestra de grande qualidade, que dá visibilidade ao que se faz de bom por aqui,
ao nível da música (deveríamos tê-la mais vezes neste auditório). Todos os anos
é uma agradável surpresa a cantora convidada, e este ano não poderia ser
melhor. Maria João Grancho, talvez seja a melhor cantora portuguesa de jazz,
com extenso currículo, e é icónica a sua presença no palco, desde há 40 anos,
nos mais diversos locais por esse mundo fora. De imediato conquistou o público,
porque é simpática, versátil, delicada, charmosa, exuberante, empática e
criativa, como deve ser tudo o que se relaciona com jazz.
O alinhamento
desempenhado com forte articulação entre a Maria João, a orquestra e o maestro
Valter Palma, foi o seguinte:
1. Groovin' Hard –
Don Menza
2. Parrots and Lions –
Mário Laginha
3. I’m Old Fashioned –
Jerome Kern / Johnny Mercer Arr. César Cardoso
4. Canto de Ossanha – Baden Powell / Vinicius de Moraes Arr. de
Telmo Marques
5.Lígia – Antônio Carlos Jobim Arr. de Paulo Perfeito
6. Spring Can Really Hang You
Up the Most – Tommy Wolf / Fran Landesman Arr. Carlos Avezedo
7. Sete Facadas – Mário Laginha
8. A Lua Partida ao Meio – Maria João / Mário Laginha
9. Count Bubba –
Gordon Goodwin
10. Summertime –
George Gershwin / DuBose Heyward Arr. Dave Wolpe
Registo aqui
felicitações para todos os músicos, porque sei quanto trabalho é necessário
para chegar a este resultado final, a saber:
Pedro Miranda - Saxofone Alto; Alexandre Fraguito
- Saxofone Alto/Clarinete; Virgílio Palma - Saxofone Tenor; Manuel Palma - Saxofone
Tenor; Leonardo Afonso - Saxofone Barítono; João Carvalho - Trompete/Fliscorne;
Afonso Cécio – Trompete; Manuel Oliveira – Trompete; Tiago Mendes
– Trompete; Luís Marques – Trombone; Vítor Pinto – Trombone;
Carlos Coelho – Trombone; Gonçalo Silva - Trombone Baixo; Rui
Cardoso - Guitarra/Ukulele; Manuel Guerra - Piano e Sintetizador;
Álvaro Anjos – Baixo; João Silva – Bateria; Paulo Pontes - Percussão/Vibrafone.
Publicado em NVR 23/10/2024
Convento, 2, 36995 Poio, Espanha
Local austero e sóbrio, onde sabe bem voltar e recordar as muitas vezes anteriores.
Vai ser bom viver o Outono, neste mosteiro e no espaço envolvente. Mosteiro galego construído no século XV e XVI. São momentos diferentes e muito enriquecedores.
Voltarei muitas outras vezes, espero, e sempre em boa companhia.😊
Hoje foi aquele concerto simpático e exuberante, em boa companhia, num espaço com boa acústica e único.
Han Kang é uma
escritora da Coreia do Sul, nascida em 1970 e sobre a qual nada sei, o que não
lhe retira valor.
Ela nasceu em Gwangju e
aos 10 anos, mudou-se para Seul com a família. O seu pai é um romancista de
renome.
Possui formação
literária e a sua carreira é recheada de prémios literários. A sua obra mais
conhecida é “A Vegetariana” e parece ser tema central da sua obra, a relação da
humanidade com a natureza, tão valorizada e publicitada actualmente.
Tem apenas quatro obras
traduzidas para português: “Lições de Grego” (2023), “O livro branco” (2019),
“Atos Humanos” (2017) e “A Vegetariana” (2013).
É a 18.ª mulher a
receber o Prémio Nobel da Literatura. A Academia Sueca justificou a escolha de
Han Kang pela “sua intensa prosa poética, que confronta traumas históricos e
expõe as fragilidades da vida humana. A autora tem uma consciência única das
ligações entre o corpo e a alma, os vivos e os mortos, e, com o seu estilo
poético e experimental, tornou-se uma inovadora na prosa contemporânea".
“Despedidas
impossíveis” o novo romance de Han Kang será publicado em Portugal ainda este
ano.
Dediquei-me à pesquisa
na internet, consultei cerca de 15 sites e apenas consegui recolher o que aqui
partilho, o que é pouco. É curioso que todas as minhas fontes de informação
repetem apenas a justificação da Academia, percebendo-se o desconhecimento ou a
pouca valorização literária no mundo ocidental.
Ganhar o prémio Nobel é
abrir a porta do mundo, atraindo a atenção de muitos leitores, o que poderá
implicar num grande aumento de vendas dos seus livros. Veremos o que vai
acontecer, se ela terá “estofo para se aguentar às balas”.
Com muita pena minha, temos
atribuído mais um Prémio Nobel da Literatura, sem o nome de António Lobo Antunes,
escritor com uma obra literária, extensa, de grande qualidade e traduzida em
mais de vinte idiomas. Não sei se já sou eu, com esta birra tendenciosa, de o
avaliar sempre melhor do que aos outros, por gostar demais da sua obra e da sua
personalidade, ou se de facto é preciso uma grande “máquina” de publicitação e
pressão para quem está em Estocolmo, abrir a pestana. Falta uma Pilar na vida
de António. Estou triste, porque este seria um ano decisivo. Só comprarei o
livro “A vegetariana”, quando me passar esta telha… até o título não me atrai! Encontro-me
em dieta, em estado alucinatório, observo preocupada o vendaval da minha janela
e até já vejo as tripas aos molhos e as francesinhas a pairar ao nível da
mesma.
Publicado em NVR 16/10/2024
“Kurt Rosenwinkel é legitimamente mais celebrado por ser um
inovador da nova música do século XXI” (Ethan Iverson)
Ex-sideman das bandas de Gary Burton e Joe Henderson, ex-membro da Electric Bebop Band, de Paul Motian, bem como actual membro do Brian Blade Fellowship e co-leader do Human Feel (com Andrew D’Angelo, Chris Speed e Jim Black), produtor de “The Growing Season” de Rebecca Martin e coautor e sideman da banda ao vivo e das gravações da lenda do hip-hop Q-Tip, Rosenwinkel lançou algumas das gravações mais potentes e originais da última década.
Em “Standards Trio: Reflections”, o seu último álbum, Kurt mergulha na estrutura harmónica dos mais belos standards num ambiente íntimo de trio.
Talvez o projeto mais refinado e envolvente de Rosenwinkel
até hoje, “Reflections” revela um lado mais caloroso deste músico talentoso e
multidirecional.
Doug Weiss:
baixo
Greg Hutchinson: bateria
Antes que a loucura se contagie irremediavelmente, o melhor é fazer-lhe a mala e toca a andar! Fonix!
Realizador: John Maynard
DEMIAN CABAUD
"ARBOL ADENTRO"
Um projecto artisticamente ambicioso, que desafia os músicos
a moverem-se e criarem num contexto muito para além da esfera do Jazz
tradicional transitando entre o folclore da Argentina e a música de câmara. Sem
medo de explorar territórios abstractos e paisagens típicas do dodecafonismo. A
liberdade é o elemento primordial do grupo e o objectivo é imprimir a música
com as personalidades de cada músico.
Demian Cabaud: Contrabaixo
João Grilo: Piano
João Pedro Brandão: Saxofone
José Pedro Coelho: Saxofone
Marcos Cavaleiro: Bateria
Sobre a obra MORRO DA PENA VENTOSA
Já não sei se dediquei
algum “Revoltando” a um livro. Desta vez é obrigatório que o faça. Comprei o
livro “Morro da Pena Ventosa” de Rui Couceiro, sensibilizada pela publicidade e
atendendo à indicação da minha amiga Fátima P.
Esta obra é uma
declaração de amor à cidade do Porto, mais especificamente, ao morro da Pena
Ventosa, ou seja, a parte mais antiga da cidade, o morro onde se localiza a Sé
do Porto e a Muralha Sueva.
Eu, sendo órfã de
terra, converti-me em cidadã sem terra ou do mundo, como me queiram entender, e
perante tamanha carência, a cidade do Porto acolheu-me e adoptou-me há muitos anos
e por isso, a minha apreciação está carregada de afectos e de identidade com
aqueles espaços e com o perfil de muitos tripeiros.
Rui Couceiro consegue
escrever uma obra perfeita e bela, que fascina o leitor do princípio ao fim.
Para quem conhece bem a cidade do Porto este livro enche-nos as medidas. Para
quem não conhece, constitui um grande estímulo para o conhecer. A sua narrativa
leva-nos aos sítios, lugares e às gentes, mediante um realismo mágico, atento e
observador, forte em emoções. Senti-me personagem da obra, ora refrescando a
minha memória, ora consultando informação já esquecida. Os assuntos são
diversos e actuais: a morfologia da cidade, com os seus rios subterrâneos
invisíveis, a transformação urbana recente provocada pelo turismo, as
alterações dos imóveis, a transferência de população para a periferia, a
mudança de hábitos, os problemas ambientais que estão na ordem do dia, as
paixões, os afectos, os nossos fantasmas, as utopias e os recursos psicológicos
para podermos sobreviver num século XXI, por vezes agreste e desumanizado.
A história da cidade
está sempre presente, assim como ela se liga ao território e a quem o habita.
Há dois momentos que devo
destacar, o primeiro realista e chocante para os mais ingénuos, e o segundo
fantástico, mas premonitório.
O primeiro relaciona-se
com a descrição do sítio escondido e clandestino, onde as mulheres se dirigiam,
de qualquer classe social, para abortar, quando a interrupção voluntária da
gravidez era proibida. É uma descrição realista, sórdida e arrasadora, que
impressiona qualquer mente. O drama vivido por muitas mulheres e a solução tão
fria e desumana a que eram submetidas, localiza-se há menos de vinte anos. Merece
reflexão.
O segundo é a forma
fantasiosa que Rui Couceiro utiliza para descrever a absoluta dependência da
cidade, do rio Douro, transportando-nos para um dia, ficcionado, com situação
calamitosa, em que o rio seca, e apenas resta a fenda abrupta do seu leito em
que chega a ter quarenta metros de profundidade, com tudo o que ele arrasta. Evidência
para a entre-ajuda e resiliência, das suas gentes, que nunca se conformam com
injustiças, determinadas perante este novo desafio de voltar a encher o seu
rio, nem que seja com garrafões de água transportada de outros lugares.
Aconselho um ler sem
pressa e deixe-se levar pelas palavras, iniciando-se com um realismo
desconcertante e terminando com uma narrativa ficcionada que nos traz conforto
ao coração. Ao aproximar-se do fim, irá ler ainda mais devagar, para atrasar o
fim, e no final certamente olhará para a cidade do Porto com outro olhar.
Arquitecto Valverde,
s/n, 36300 Baiona, Espanha
😅😉😊 cama com dossel
Uma obra que merece a sua atenção, porque está cheia de pormenores ligados às brincadeiras das crianças.
"Jogos
Infantis"
(Children's
Games) (1560)
Pieter
Bruegel the Elder" (1526- 1569)
A obra encontra-se no Museu de História de Arte em Viena -
Pieter Bruegel, o Velho foi o artista mais importante da
pintura renascentista flamenga e brabantina, um pintor e gravurista da região
de Brabante, conhecido por suas retratações de paisagens e cenas camponesas;
foi também o primeiro pioneiro que optou em fazer as duas modalidades o foco em
suas pinturas de destaque.
Foi um pintor de multidões e de cenas populares,
representadas por vezes de forma burlesca.
Madame Lamy
Iniciava o curso liceal, com dez aninhos feitos em Março ia
para o liceu a pé com duas colegas. O percurso de 2km, aproximadamente, fazia-se
a pé, atravessando ruas e avenidas no meio da mancha urbana de Luanda, debaixo
de um calor tórrido. As aulas começavam a meio de Setembro, às 13h e eu saia de
casa por volta das 12h30, com uma bolsa a tiracolo cheia de livros e cadernos
das aulas do dia.
Madame Lamy era a professora de Francês, senhora com mais de
50 anos, muito simpática, sempre cheia de calor, que transportava leques e
abanicos, e que se penteava à anos 60, com o cabelo apanhado em coque, mais conhecido por banana. A meio de Outubro, já andávamos a aprender o verbo être, je suis, tu es, il est, nous sommes, vous êtes,
ils sont… cruzámo-nos no mesmo elevador do edifício gigante onde vivíamos, sem sabermos
que eramos vizinhas.
- Vais para o liceu?
- Vou, Madame.
- A pé?
- Sim Madame.
- Então podes ir sempre comigo de carro, a esta hora. Não
precisas de apanhar todo este calor.
- Merci beaucoup Madame, mas tenho duas colegas à espera que
vão comigo. A Leo e a Graça.
- Do 1º C? Não tem problema, três ainda cabem no carro.
Fui chamar as minhas colegas e fomos para o estacionamento.
Não sabia qual era o carro da Madame Lamy, desconhecia que ela morava naquele
edifício. Ela esperava-nos junto a um Volkswagem preto, apenas de duas portas, que
tinha uma tabuleta com as iniciais MG (Ministério da Guerra), junto à matrícula,
e estava um “impedido” chofer fardado junto à viatura.
- Cabo Aloísio, estas meninas vão connosco.
Cabo Aloísio delicadamente abriu a porta da direita e descaiu
o banco da frente, entraram primeiro a Leo e a Graça, depois Madame Lamy para o
banco traseiro, Cabo Aloísio, ajustou o banco e eu sentei-me à frente. Fechou a
porta, fez um ligeiro sinal de bater de pés, sem continência, deu à volta ao
carro e sentou-se no banco ao volante.
- Pode seguir Cabo Aloísio, está tudo em ordem.
Seguimos confortáveis, a primeira vez um pouco intimidadas
com toda esta cerimónia, mas a Madame logo nos tranquilizou.
- Cabo Aloísio tem esta tarefa de me transportar para o Liceu. Quando o Sr. General está cá também o
transporta para as tarefas dele, que têm prioridade. Sintam-se à vontade o Cabo
Aloísio é muito prestável e homem de confiança do Sr. General, é um cavalheiro.
Não vos posso trazer no final das aulas, porque saio mais cedo, mas podemos
sempre ir juntas.
- Muito obrigada, Madame.
Cabo Aloísio era uma espécie de Ambrósio, ao serviço da
guerra colonial, sem Ferreros Rocher, mas com muita pinta.
Passado uns dias, já brincávamos com o Cabo Aloísio, enquanto
a Madame não descia, porque afinal ele só tinha mais 10 anos do que nós.
- Bonjour Madame- cumprimentávamos a Madame com um beijinho, e
depois o percurso era feito sempre com boa disposição.
Madame perguntava-nos sobre
os estudos e sobre as brincadeiras, e ria-se da nossa partilha genuína, por
vezes traçada com pormenores caricatos que a faziam rir.
- Contem-me outra vez aquela aventura com o picolé e o jacaré! E a revista Salut Les Coupins já está à venda? Sim... o Alain Delon é o mais bonito de todos!...
Madame Lamy, iniciou-me na língua francesa e semeou o
interesse e o conhecimento que ainda tenho hoje sobre a língua e cultura francesas, e por
Paris – Madame continua no meu coração, merci beaucoup.
Dia do professor, 5/10/2024
In “Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado” de Anabela
Quelhas
Volto ao tema da
floresta, porque é obrigatório e não se vêem soluções no terreno, efectivamente
eficazes.
Todos opinam, apuram-se
culpados e culpas, entretanto começou a chover e brevemente tudo se esquecerá
até ao próximo ano, exceptuando aqueles que foram muito afectados com perda de
familiares, amigos, colegas e propriedades.
Tenho observado ao
longo dos anos, uma pequena comunidade transmontana, anualmente com a sua
floresta ameaçada, e tenho uma visão completamente diferente da maioria.
Acredito que a maioria dos incêndios tem origem criminosa. Teorias do caco de
vidro, da faísca das roçadoras são pouco prováveis, acrescentem-lhe os
eucaliptos e os pinheiros bravos, e andamos nisto há dezenas de anos.
Quanto a mim, teremos
que resolver o problema de outra forma, que passa pela organização e gestão do
território. Estamos no século XXI e não podemos analisar o problema à século
XIX. Hoje não se recolhem todos os resíduos florestais, porque as pessoas, felizmente,
vivem melhor e de forma diferente e não precisam desses resíduos para consumo
doméstico – já ninguém tem as lojas das vacas por baixo das habitações, então
não se recolhe a caruma para transformar em estrume, a maioria não queima lenha
para aquecimento, e assim não se recolhem pinhas, nem giestas. Quem tem
floresta é uma dor de cabeça fazer a sua limpeza, é uma despesa sem retorno e
nem sempre se encontra quem faça essa limpeza. Condenar os proprietários é
fácil, mas não é justo, e nem todos os proprietários vivem cá ou têm dinheiro
para a limpeza regular.
É urgente alterar o
paradigma. Creio que a solução terá que seguir esta dinâmica:
1 Inventariar todas as propriedades
(está a ser realizado o registo digital).
2 Converter as propriedades, que não
constam neste inventário, em propriedade do Estado. Há propriedades cujo
registo não é actualizado há quatro gerações – população que imigrou no início
do século XX para o Brasil ou África, não regressou e as partilhas são
inexistentes, ou bloqueadas pela ausência, impossibilidade ou desinteresse em
regularizar situações.
3 Criar estruturas locais capazes de
gerir estas propriedades. Mapear o seu território, juntar todas as florestas
publicas e privadas, onde cada um é proprietário de uma percentagem, consoante
os documentos que possuem, mas sem sítio específico. Essas estruturas poderiam
ser divididas por freguesias e fariam a gestão global dessa mancha territorial,
da limpeza ao reflorestamento, seguindo as orientações nacionais e regionais,
possibilitando a rentabilização dos resíduos, do abate e apostando na
vigilância e na prevenção dos incêndios – esta situação eliminaria barreiras no
território, eliminaria a divisão da propriedade, valorizaria os terrenos,
controlaria a limpeza, asseguraria o combate aos incêndios e protegeria espécies
animais.
4 Criar legislação adequada a este
novo conceito sobre a propriedade - área
sem sítio.
Seria isto uma
nacionalização? Não, é uma gestão colectiva equilibrada da floresta, com
sistema sustentável, que terá uma maior probabilidade de ser rentável, e torna tudo
mais fácil, mais coordenado e controlado, conciliando os interesses das
populações com o ordenamento do território e eliminando o abandono e a inércia
incapacitante de muitos, protegendo eco-sistemas e a regeneração natural.
Rendimentos e prejuízos seriam distribuídos segundo a percentagem que cada
proprietário possui. Solução que poderia gerar novos empregos, racionalização
de recursos mecânicos, facilitaria a aplicação de apoios financeiros,
fiscalização e obviamente exigiria uma gestão transparente, para ninguém
enganar ninguém. Também poderia ser denominada gestão activa e agrupada.
Antecipo o problema
cultural dos proprietários, habituados a ter o seu quadradinho murado e o
sentimento de posse, que parcela o território, e que será obrigado a pensar
maior e colectivamente, porque o fogo não respeita os princípios dos humanos,
nem quer saber desse sentimento.
Com penalizações não
chegaremos lá, excepto a detenção dos incendiários. E tudo fica na mesma, e
cada vez teremos menos floresta e mais prejuízos. O Estado disponibiliza este ano 6 milhões de
euros para compensar os prejuízos; nos anos anteriores o Estado disponibilizou
outras verbas para prevenção e combate a incêndios… não será melhor pensar isto
ao contrário, investir em programas que apoiem a mudança do paradigma?
Publicado em NVR, 2/10/2024