30 outubro, 2024

Os Maias - de Eça de Queirós na Rádio Portimão

 https://www.youtube.com/watch?v=QMS-CQXniO4

Aqui está o vídeo do apontamento literário do Programa K'arranca às Quartas, uma ajuda preciosa de Ana Ana Quelhas (Anabela Quelhas), Os Maias de Eça de Queiroz na Rádio Portimão 106.5 FM.




28 outubro, 2024

AGRADECIMENTO

AGRADECIMENTO:

 

Foi com surpresa, que hoje ao participar numa atividade do Mês Internacional da Biblioteca Escolar, do Agrupamento de Escolas Morgado de Mateus, me vi envolvida numa acção de homenagem ao meu desempenho, como Professora Bibliotecária desde o ano 2000, neste ano em que se inicia a minha aposentação.

Recordo que entrei neste mundo pela mão de Maria da Glória Souto e registo o meu agradecimento a todos.

A qualidade do trabalho desenvolvido na promoção da leitura e do conhecimento, deve-se a várias equipas de professores de excelência, que trabalharam comigo e sempre confiaram no rumo que tracei. Para além das equipas, que se foram renovando, devo agradecer também a outros docentes que se disponibilizaram em articular com a biblioteca, aos assistentes operacionais que sempre ajudaram a missão da biblioteca, às várias direcções do Agrupamento e à ex-coordenadora da Rede de Bibliotecas Escolares, Rosário Caldeira, que nos apoiou em muitos momentos determinantes.

Devo salientar o trabalho da colega Maria Manuel Carvalhais, antiga professora bibliotecária ESMM e não posso esquecer o contributo do colega Pedro Hortas, que num momento sensível do início do agrupamento de escolas, ajudou a recolher todo o fundo documental espalhado por várias escolas do 1.º ciclo e Jardins de Infância e criar uma biblioteca itinerante organizada em apenas 1 mês.

Aprendi com todos, consegui converter colegas e assistentes em amigos para a vida e tenho a certeza de que as bibliotecas serão cada vez mais, estruturas inovadoras, criando oportunidades de leitura e acesso ao conhecimento, nas escolas e fora delas, para todos, com equipas dinâmicas e criativas.

Gratidão.

VR 28/10/2024

Anabela Quelhas











23 outubro, 2024

Encerramento do Douro Jazz 24


 Encerramento do Douro Jazz 24 

O Festival Internacional Douro Jazz decorreu entre 3 e 18 de Outubro e ofereceu-nos, mais uma vez, a oportunidade de assistir a vários espectáculos de jazz de grande qualidade, porém, infelizmente, alguns deles não tiveram os auditórios cheios - os vila-realenses andam distraídos.

Assisti a:

·      Demian Cabaud – mistura do jazz tradicional e a música folclórica da Argentina.

·      O excelente trio Kurt Rosenwinkel – uma das referências mais sólidas do jazz moderno (assim publicitava o cartaz).

·      Orquestra Jazz Douro + Maria João – encerrou o festival e esgotou a plateia do Grande Auditório.

Assumo que sou tendenciosa e é raro perder um concerto da Orquestra Jazz Douro, criada a partir do projecto Acrolat’in. A nossa cidade tem o privilégio de ter esta orquestra de grande qualidade, que dá visibilidade ao que se faz de bom por aqui, ao nível da música (deveríamos tê-la mais vezes neste auditório). Todos os anos é uma agradável surpresa a cantora convidada, e este ano não poderia ser melhor. Maria João Grancho, talvez seja a melhor cantora portuguesa de jazz, com extenso currículo, e é icónica a sua presença no palco, desde há 40 anos, nos mais diversos locais por esse mundo fora. De imediato conquistou o público, porque é simpática, versátil, delicada, charmosa, exuberante, empática e criativa, como deve ser tudo o que se relaciona com jazz.

O alinhamento desempenhado com forte articulação entre a Maria João, a orquestra e o maestro Valter Palma, foi o seguinte:

1. Groovin' Hard – Don Menza

2. Parrots and Lions – Mário Laginha

3. I’m Old Fashioned – Jerome Kern / Johnny Mercer Arr. César Cardoso

4. Canto de Ossanha – Baden Powell / Vinicius de Moraes Arr. de Telmo Marques

5.Lígia – Antônio Carlos Jobim Arr. de Paulo Perfeito

6. Spring Can Really Hang You Up the Most – Tommy Wolf / Fran Landesman Arr. Carlos Avezedo

7. Sete Facadas – Mário Laginha

8. A Lua Partida ao Meio – Maria João / Mário Laginha

9. Count Bubba – Gordon Goodwin

10. Summertime – George Gershwin / DuBose Heyward Arr. Dave Wolpe

Registo aqui felicitações para todos os músicos, porque sei quanto trabalho é necessário para chegar a este resultado final, a saber:

Pedro Miranda - Saxofone Alto; Alexandre Fraguito - Saxofone Alto/Clarinete; Virgílio Palma - Saxofone Tenor; Manuel Palma - Saxofone Tenor; Leonardo Afonso - Saxofone Barítono; João Carvalho - Trompete/Fliscorne; Afonso Cécio – Trompete; Manuel Oliveira – Trompete; Tiago Mendes – Trompete; Luís Marques – Trombone; Vítor Pinto – Trombone; Carlos Coelho – Trombone; Gonçalo Silva - Trombone Baixo; Rui Cardoso - Guitarra/Ukulele; Manuel Guerra - Piano e Sintetizador; Álvaro Anjos – Baixo; João Silva – Bateria; Paulo Pontes - Percussão/Vibrafone.

Publicado em NVR 23/10/2024

21 outubro, 2024

Hospederia Monasterio de Poio

 








Hospederia Monasterio de Poio

 Convento, 2, 36995 Poio, Espanha


Local austero e sóbrio, onde sabe bem voltar e recordar as muitas vezes anteriores.

Vai ser bom viver o Outono, neste mosteiro e no espaço envolvente. Mosteiro galego construído no século XV e XVI.  São momentos diferentes e muito enriquecedores.

Voltarei muitas outras vezes, espero, e sempre em boa companhia.😊


20 outubro, 2024

BAMBINO A ROMA

 


Mais um. Canta muito melhor do que escreve.



18 outubro, 2024

Jazz Douro 24


 


No arejo ao som do jazz 

JAZZ DOURO 24 - encerramento.



17 outubro, 2024

Mads Hack - concerto de orgão de tubos

 


Hoje foi aquele concerto simpático e exuberante, em boa companhia, num espaço com boa acústica e único. 

16 outubro, 2024

Quem é Han Kang


 Quem é Han Kang 

Han Kang é uma escritora da Coreia do Sul, nascida em 1970 e sobre a qual nada sei, o que não lhe retira valor.  

Ela nasceu em Gwangju e aos 10 anos, mudou-se para Seul com a família. O seu pai é um romancista de renome.

Possui formação literária e a sua carreira é recheada de prémios literários. A sua obra mais conhecida é “A Vegetariana” e parece ser tema central da sua obra, a relação da humanidade com a natureza, tão valorizada e publicitada actualmente.

Tem apenas quatro obras traduzidas para português: “Lições de Grego” (2023), “O livro branco” (2019), “Atos Humanos” (2017) e “A Vegetariana” (2013).

É a 18.ª mulher a receber o Prémio Nobel da Literatura. A Academia Sueca justificou a escolha de Han Kang pela “sua intensa prosa poética, que confronta traumas históricos e expõe as fragilidades da vida humana. A autora tem uma consciência única das ligações entre o corpo e a alma, os vivos e os mortos, e, com o seu estilo poético e experimental, tornou-se uma inovadora na prosa contemporânea".

“Despedidas impossíveis” o novo romance de Han Kang será publicado em Portugal ainda este ano.

Dediquei-me à pesquisa na internet, consultei cerca de 15 sites e apenas consegui recolher o que aqui partilho, o que é pouco. É curioso que todas as minhas fontes de informação repetem apenas a justificação da Academia, percebendo-se o desconhecimento ou a pouca valorização literária no mundo ocidental.

Ganhar o prémio Nobel é abrir a porta do mundo, atraindo a atenção de muitos leitores, o que poderá implicar num grande aumento de vendas dos seus livros. Veremos o que vai acontecer, se ela terá “estofo para se aguentar às balas”. 

Com muita pena minha, temos atribuído mais um Prémio Nobel da Literatura, sem o nome de António Lobo Antunes, escritor com uma obra literária, extensa, de grande qualidade e traduzida em mais de vinte idiomas. Não sei se já sou eu, com esta birra tendenciosa, de o avaliar sempre melhor do que aos outros, por gostar demais da sua obra e da sua personalidade, ou se de facto é preciso uma grande “máquina” de publicitação e pressão para quem está em Estocolmo, abrir a pestana. Falta uma Pilar na vida de António. Estou triste, porque este seria um ano decisivo. Só comprarei o livro “A vegetariana”, quando me passar esta telha… até o título não me atrai! Encontro-me em dieta, em estado alucinatório, observo preocupada o vendaval da minha janela e até já vejo as tripas aos molhos e as francesinhas a pairar ao nível da mesma.

Publicado em NVR 16/10/2024

13 outubro, 2024

12 outubro, 2024

Kurt Rosenwinkel

 

“Kurt Rosenwinkel é legitimamente mais celebrado por ser um inovador da nova música do século XXI” (Ethan Iverson)

Ex-sideman das bandas de Gary Burton e Joe Henderson, ex-membro da Electric Bebop Band, de Paul Motian, bem como actual membro do Brian Blade Fellowship e co-leader do Human Feel (com Andrew D’Angelo, Chris Speed e Jim Black), produtor de “The Growing Season” de Rebecca Martin e coautor e sideman da banda ao vivo e das gravações da lenda do hip-hop Q-Tip, Rosenwinkel lançou algumas das gravações mais potentes e originais da última década.

Em “Standards Trio: Reflections”, o seu último álbum, Kurt mergulha na estrutura harmónica dos mais belos standards num ambiente íntimo de trio.

Talvez o projeto mais refinado e envolvente de Rosenwinkel até hoje, “Reflections” revela um lado mais caloroso deste músico talentoso e multidirecional.

 Kurt Rosenwinkel: guitarra

Doug Weiss: baixo

Greg Hutchinson: bateria



SWEETIE

 Antes que a loucura se contagie irremediavelmente, o melhor é fazer-lhe a mala e toca a andar! Fonix!


***

Realizador: John Maynard


09 outubro, 2024

DEMIAN CABAUD

 

DEMIAN CABAUD

"ARBOL ADENTRO"

Um projecto artisticamente ambicioso, que desafia os músicos a moverem-se e criarem num contexto muito para além da esfera do Jazz tradicional transitando entre o folclore da Argentina e a música de câmara. Sem medo de explorar territórios abstractos e paisagens típicas do dodecafonismo. A liberdade é o elemento primordial do grupo e o objectivo é imprimir a música com as personalidades de cada músico.

Demian Cabaud: Contrabaixo

João Grilo: Piano

João Pedro Brandão: Saxofone

José Pedro Coelho: Saxofone

Marcos Cavaleiro: Bateria

Douro Jazz em boa companhia

Sobre a obra MORRO DA PENA VENTOSA

 Sobre a obra MORRO DA PENA VENTOSA


 

Já não sei se dediquei algum “Revoltando” a um livro. Desta vez é obrigatório que o faça. Comprei o livro “Morro da Pena Ventosa” de Rui Couceiro, sensibilizada pela publicidade e atendendo à indicação da minha amiga Fátima P.

Esta obra é uma declaração de amor à cidade do Porto, mais especificamente, ao morro da Pena Ventosa, ou seja, a parte mais antiga da cidade, o morro onde se localiza a Sé do Porto e a Muralha Sueva.

Eu, sendo órfã de terra, converti-me em cidadã sem terra ou do mundo, como me queiram entender, e perante tamanha carência, a cidade do Porto acolheu-me e adoptou-me há muitos anos e por isso, a minha apreciação está carregada de afectos e de identidade com aqueles espaços e com o perfil de muitos tripeiros.

Rui Couceiro consegue escrever uma obra perfeita e bela, que fascina o leitor do princípio ao fim. Para quem conhece bem a cidade do Porto este livro enche-nos as medidas. Para quem não conhece, constitui um grande estímulo para o conhecer. A sua narrativa leva-nos aos sítios, lugares e às gentes, mediante um realismo mágico, atento e observador, forte em emoções. Senti-me personagem da obra, ora refrescando a minha memória, ora consultando informação já esquecida. Os assuntos são diversos e actuais: a morfologia da cidade, com os seus rios subterrâneos invisíveis, a transformação urbana recente provocada pelo turismo, as alterações dos imóveis, a transferência de população para a periferia, a mudança de hábitos, os problemas ambientais que estão na ordem do dia, as paixões, os afectos, os nossos fantasmas, as utopias e os recursos psicológicos para podermos sobreviver num século XXI, por vezes agreste e desumanizado.

A história da cidade está sempre presente, assim como ela se liga ao território e a quem o habita.

Há dois momentos que devo destacar, o primeiro realista e chocante para os mais ingénuos, e o segundo fantástico, mas premonitório.

O primeiro relaciona-se com a descrição do sítio escondido e clandestino, onde as mulheres se dirigiam, de qualquer classe social, para abortar, quando a interrupção voluntária da gravidez era proibida. É uma descrição realista, sórdida e arrasadora, que impressiona qualquer mente. O drama vivido por muitas mulheres e a solução tão fria e desumana a que eram submetidas, localiza-se há menos de vinte anos. Merece reflexão.

O segundo é a forma fantasiosa que Rui Couceiro utiliza para descrever a absoluta dependência da cidade, do rio Douro, transportando-nos para um dia, ficcionado, com situação calamitosa, em que o rio seca, e apenas resta a fenda abrupta do seu leito em que chega a ter quarenta metros de profundidade, com tudo o que ele arrasta. Evidência para a entre-ajuda e resiliência, das suas gentes, que nunca se conformam com injustiças, determinadas perante este novo desafio de voltar a encher o seu rio, nem que seja com garrafões de água transportada de outros lugares.

Aconselho um ler sem pressa e deixe-se levar pelas palavras, iniciando-se com um realismo desconcertante e terminando com uma narrativa ficcionada que nos traz conforto ao coração. Ao aproximar-se do fim, irá ler ainda mais devagar, para atrasar o fim, e no final certamente olhará para a cidade do Porto com outro olhar.

Transcrevo um minúsculo excerto, entre muitos, que me pôs a sorrir: ”(…) dizia-se que namorava com um feijão-verde, ou seja com um militar do exército, que tinha a cara em obras e andava sempre sem cheta, razão pela qual a velha Cacilda lhe dizia que o rapaz não valia um chavelho.(…)”  

08 outubro, 2024

PARADOR DE BAIONA

ANTECIPANDO
PARADOR DE BAIONA - de novo

Arquitecto Valverde, s/n, 36300 Baiona, Espanha


😅😉😊 cama com dossel






 

O OUTRO LADO DA ESPERANÇA

 


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07 outubro, 2024

Pieter Bruegel the Elder

 


Uma obra que merece a sua atenção, porque está cheia de pormenores ligados às brincadeiras das crianças.  

"Jogos Infantis"

(Children's Games) (1560)

Pieter Bruegel the Elder" (1526- 1569)

A obra encontra-se no Museu de História de Arte em Viena -

Pieter Bruegel, o Velho foi o artista mais importante da pintura renascentista flamenga e brabantina, um pintor e gravurista da região de Brabante, conhecido por suas retratações de paisagens e cenas camponesas; foi também o primeiro pioneiro que optou em fazer as duas modalidades o foco em suas pinturas de destaque.

Foi um pintor de multidões e de cenas populares, representadas por vezes de forma burlesca.

06 outubro, 2024

05 outubro, 2024

Madame Lamy

 




Madame Lamy

Iniciava o curso liceal, com dez aninhos feitos em Março ia para o liceu a pé com duas colegas. O percurso de 2km, aproximadamente, fazia-se a pé, atravessando ruas e avenidas no meio da mancha urbana de Luanda, debaixo de um calor tórrido. As aulas começavam a meio de Setembro, às 13h e eu saia de casa por volta das 12h30, com uma bolsa a tiracolo cheia de livros e cadernos das aulas do dia.

Madame Lamy era a professora de Francês, senhora com mais de 50 anos, muito simpática, sempre cheia de calor, que transportava leques e abanicos, e que se penteava à anos 60, com o cabelo apanhado em coque, mais conhecido por banana. A meio de Outubro, já andávamos a aprender o verbo être,  je suis, tu es, il est, nous sommes, vous êtes, ils sont… cruzámo-nos no mesmo elevador do edifício gigante onde vivíamos, sem sabermos que eramos vizinhas.

- Vais para o liceu?

- Vou, Madame.

- A pé?

- Sim Madame.

- Então podes ir sempre comigo de carro, a esta hora. Não precisas de apanhar todo este calor.

- Merci beaucoup Madame, mas tenho duas colegas à espera que vão comigo. A Leo e a Graça.

- Do 1º C? Não tem problema, três ainda cabem no carro.

Fui chamar as minhas colegas e fomos para o estacionamento. Não sabia qual era o carro da Madame Lamy, desconhecia que ela morava naquele edifício. Ela esperava-nos junto a um Volkswagem preto, apenas de duas portas, que tinha uma tabuleta com as iniciais MG (Ministério da Guerra), junto à matrícula, e estava um “impedido” chofer fardado junto à viatura.

- Cabo Aloísio, estas meninas vão connosco.

Cabo Aloísio delicadamente abriu a porta da direita e descaiu o banco da frente, entraram primeiro a Leo e a Graça, depois Madame Lamy para o banco traseiro, Cabo Aloísio, ajustou o banco e eu sentei-me à frente. Fechou a porta, fez um ligeiro sinal de bater de pés, sem continência, deu à volta ao carro e sentou-se no banco ao volante.

- Pode seguir Cabo Aloísio, está tudo em ordem.

Seguimos confortáveis, a primeira vez um pouco intimidadas com toda esta cerimónia, mas a Madame logo nos tranquilizou.

- Cabo Aloísio tem esta tarefa de me transportar para  o Liceu. Quando o Sr. General está cá também o transporta para as tarefas dele, que têm prioridade. Sintam-se à vontade o Cabo Aloísio é muito prestável e homem de confiança do Sr. General, é um cavalheiro. Não vos posso trazer no final das aulas, porque saio mais cedo, mas podemos sempre ir juntas.

- Muito obrigada, Madame.

Cabo Aloísio era uma espécie de Ambrósio, ao serviço da guerra colonial, sem Ferreros Rocher, mas com muita pinta.

Passado uns dias, já brincávamos com o Cabo Aloísio, enquanto a Madame não descia, porque afinal ele só tinha mais 10 anos do que nós.

- Bonjour Madame- cumprimentávamos a Madame com um beijinho, e depois o percurso era feito sempre com boa disposição.

 Madame perguntava-nos sobre os estudos e sobre as brincadeiras, e ria-se da nossa partilha genuína, por vezes traçada com pormenores caricatos que a faziam rir.

- Contem-me outra vez aquela aventura com o picolé e o jacaré! E a revista Salut Les Coupins já está à venda? Sim... o Alain Delon é o mais bonito de todos!...

Madame Lamy, iniciou-me na língua francesa e semeou o interesse e o conhecimento que ainda tenho hoje sobre a língua e cultura francesas, e por Paris – Madame continua no meu coração, merci beaucoup.

Dia do professor, 5/10/2024

In “Ensaios de escrita, um projecto sempre adiado” de Anabela Quelhas

02 outubro, 2024

Mudar de paradigma


Mudar de paradigma 

Volto ao tema da floresta, porque é obrigatório e não se vêem soluções no terreno, efectivamente eficazes.

Todos opinam, apuram-se culpados e culpas, entretanto começou a chover e brevemente tudo se esquecerá até ao próximo ano, exceptuando aqueles que foram muito afectados com perda de familiares, amigos, colegas e propriedades.

Tenho observado ao longo dos anos, uma pequena comunidade transmontana, anualmente com a sua floresta ameaçada, e tenho uma visão completamente diferente da maioria. Acredito que a maioria dos incêndios tem origem criminosa. Teorias do caco de vidro, da faísca das roçadoras são pouco prováveis, acrescentem-lhe os eucaliptos e os pinheiros bravos, e andamos nisto há dezenas de anos.

Quanto a mim, teremos que resolver o problema de outra forma, que passa pela organização e gestão do território. Estamos no século XXI e não podemos analisar o problema à século XIX. Hoje não se recolhem todos os resíduos florestais, porque as pessoas, felizmente, vivem melhor e de forma diferente e não precisam desses resíduos para consumo doméstico – já ninguém tem as lojas das vacas por baixo das habitações, então não se recolhe a caruma para transformar em estrume, a maioria não queima lenha para aquecimento, e assim não se recolhem pinhas, nem giestas. Quem tem floresta é uma dor de cabeça fazer a sua limpeza, é uma despesa sem retorno e nem sempre se encontra quem faça essa limpeza. Condenar os proprietários é fácil, mas não é justo, e nem todos os proprietários vivem cá ou têm dinheiro para a limpeza regular.

É urgente alterar o paradigma. Creio que a solução terá que seguir esta dinâmica:

1 Inventariar todas as propriedades (está a ser realizado o registo digital).

2 Converter as propriedades, que não constam neste inventário, em propriedade do Estado. Há propriedades cujo registo não é actualizado há quatro gerações – população que imigrou no início do século XX para o Brasil ou África, não regressou e as partilhas são inexistentes, ou bloqueadas pela ausência, impossibilidade ou desinteresse em regularizar situações.

3 Criar estruturas locais capazes de gerir estas propriedades. Mapear o seu território, juntar todas as florestas publicas e privadas, onde cada um é proprietário de uma percentagem, consoante os documentos que possuem, mas sem sítio específico. Essas estruturas poderiam ser divididas por freguesias e fariam a gestão global dessa mancha territorial, da limpeza ao reflorestamento, seguindo as orientações nacionais e regionais, possibilitando a rentabilização dos resíduos, do abate e apostando na vigilância e na prevenção dos incêndios – esta situação eliminaria barreiras no território, eliminaria a divisão da propriedade, valorizaria os terrenos, controlaria a limpeza, asseguraria o combate aos incêndios e protegeria espécies animais.

4 Criar legislação adequada a este novo conceito sobre a propriedade -  área sem sítio.

Seria isto uma nacionalização? Não, é uma gestão colectiva equilibrada da floresta, com sistema sustentável, que terá uma maior probabilidade de ser rentável, e torna tudo mais fácil, mais coordenado e controlado, conciliando os interesses das populações com o ordenamento do território e eliminando o abandono e a inércia incapacitante de muitos, protegendo eco-sistemas e a regeneração natural. Rendimentos e prejuízos seriam distribuídos segundo a percentagem que cada proprietário possui. Solução que poderia gerar novos empregos, racionalização de recursos mecânicos, facilitaria a aplicação de apoios financeiros, fiscalização e obviamente exigiria uma gestão transparente, para ninguém enganar ninguém. Também poderia ser denominada gestão activa e agrupada.

Antecipo o problema cultural dos proprietários, habituados a ter o seu quadradinho murado e o sentimento de posse, que parcela o território, e que será obrigado a pensar maior e colectivamente, porque o fogo não respeita os princípios dos humanos, nem quer saber desse sentimento.

Com penalizações não chegaremos lá, excepto a detenção dos incendiários. E tudo fica na mesma, e cada vez teremos menos floresta e mais prejuízos.  O Estado disponibiliza este ano 6 milhões de euros para compensar os prejuízos; nos anos anteriores o Estado disponibilizou outras verbas para prevenção e combate a incêndios… não será melhor pensar isto ao contrário, investir em programas que apoiem a mudança do paradigma?

Publicado em NVR, 2/10/2024